terça-feira, 27 de abril de 2021

"Em busca de Kardec" - TV Cultura mostra documentário sobre as origens do Espiritismo


Animados com esta notícia, reproduzimos aqui a chamada publicada no site da TV Cultura para o documentário que a emissora vai levar ao ar em forma de minissérie:


Inédita na TV aberta, série sobre Allan Kardec estreia na Cultura

Em Busca de Kardec, do cineasta francês Karim Akadiri Soumaila, vai ao ar na próxima quinta-feira (29), às 23h

A TV Cultura estreia, pela primeira vez na TV aberta, a série Em Busca de Kardec. Com oito episódios, a experiência documentada por Karim Akadiri Soumaïla, cineasta francês radicado no Brasil, vai ao ar nesta quinta (29), a partir das 23h.

O cineasta francês e também protagonista, diretor e roteirista do seriado ressignifica o luto pela perda repentina de sua filha, Ifa, buscando um caminho espiritual. Em sua viagem, Soumaila traz uma abordagem filosófica em relação às pesquisas do ilustre educador francês, que foram divulgadas na França no século XIX e influenciaram o pensamento da época antes de se tornarem circunscritas à religião espírita.

A história do personagem-narrador percorre a França, Suíça e Brasil e se entrelaça com entrevistados, historiadores, sociólogos, antropólogos, adeptos, lideranças e médiuns.


França

Em Paris, ele descobre o interesse do poeta Victor Hugo pelas mesas girantes no século XIX, após a morte da filha Léopoldine. Inicia sua caminhada no cemitério parisiense Père Lachaise, e vai conhecendo a fisionomia do fundador do espiritismo e de sua personalidade de educador, cujo nome de fato era Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869). Em Lyon, sua cidade Natal, Karim entrevista adeptos e pesquisadores.


Suíça

Karim visita o Castelo de Yverdon onde o menino Rivail estudou com o educador Johann Heinrich Pestalozzi. O cineasta descobre que o próprio Allan Kardec se aproximou do espiritismo depois de lutos pessoais. Ele que foi contemporâneo do terceiro surto mundial de cólera (1846-1860), que ceifou milhares de vidas, e viveu cercado de tensões políticas, das Revoluções de 1830 e de 1848, numa época em que se dava o avanço do pensamento científico e o declínio da religião.

A investigação é embasada na pesquisa de Dora Incontri, uma das mais consultadas fontes acadêmicas sobre o espiritismo. A corroteirista da série imprime narrativa imparcial e não proselitista, mas respeitosa, sobre essa que é a terceira mais populosa religião no Brasil (Censo Demográfico - IBGE) e maior movimento espírita do mundo. Contrapondo-se ao adormecimento precoce na França, onde floresceu no século XIX, depois de ter nascido nos Estados Unidos.

Em Busca de Kardec retoma o contexto histórico e a ascensão das filosofias materialistas e niilistas no século XIX, por meio da análise de obras originais, inclusive a primeira edição do Livro dos Espíritos e de entrevistas com estudiosos.


Brasil

Em território brasileiro, o viajante conhece o legado dos guardiões kardecistas, dentre eles o médium Chico Xavier. Constata divergências entre diferentes correntes no país. Como discernir o verdadeiro do falso, como evidenciar a fraude? Dialoga com estudiosos do sincretismo afro-brasileiro, do Candomblé e da Umbanda, para entender o enraizamento das filosofias pós-morte no Brasil.

De descendência afro-caribenha, com raiz Yorubá de Benin, o cineasta nascido em Paris se aproxima das tradições religiosas de Salvador. É também na capital baiana que recebe mensagem perturbadora em uma pintura da fisionomia de sua filha falecida em acidente quando adolescente, transmitida por Florêncio Anton. O médium é o fundador-dirigente do Grupo Espírita Scheilla e acumula a produção de mais de 27 mil telas pintadas, incorporado por 105 pintores desencarnados. A lista abrange Rembrandt, Picasso, Renoir, Van Gogh, Monet, Da Vinci, Lautrec e Chagall.


Episódio final

Karim Akadiri Soumaïla se depara com cartas e manuscritos de Allan Kardec, localizados em São Paulo, onde é radicado. O acervo, que lançará luzes sobre os primórdios do espiritismo, passa por digitalização e tradução para o português. O pesquisador paulista Silvino Canuto de Abreu (1892-1980) adquiriu esses manuscritos antes da Segunda Guerra Mundial, salvando-os dos nazistas que invadiram Paris. Os materiais estão sob tutela da Fundação Espírita André Luiz (Feal).


A série e seu diretor

Em Busca de Kardec é uma série original da LightHouse Produções Cinematográficas, com produção de Ricardo Fadel Rihan. O portfólio do profissional inclui os longas-metragens Bezerra de Menezes - O Diário de um Espírito, As Mães de Chico Xavier e O Filme dos Espíritos, além do trailer político Real - O Plano por trás da História.

Diretor e roteirista, cuja filmografia em seu país de origem inclui o documentário sobre o cineasta norte-americano Brian de Palma, L’incorruptible (Canal Plus) e o longa-metragem Villa Belle France (France Televisions), assistido por mais de quatro milhões de espectadores. No Brasil, dirigiu o documentário sobre o cinema nacional A Retomada (Canal Brasil) e o seriado documental sobre fotografia de moda Fashion Click (FashionTV). Ao longo da carreira audiovisual, já conquistou o Prêmio da Casa dos Escritores Franceses e Prêmio Villa Medicis.


Sobre Dora Incontri

Paulistana, doutora e pós-doutorada em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), jornalista e educadora. É autora de mais de 40 livros, entre obras didáticas e psicografadas, e obras sobre filosofia, espiritismo, espiritualidade e educação. Coordena um projeto de ensino alternativo, a Universidade Livre Pampédia, localizada em Bragança Paulista, no interior de São Paulo.

Fonte TV Cultura.

Abaixo, o trailer do documentário:



segunda-feira, 26 de abril de 2021

O caso A Gênese: "Henri Sausse utilizando a nova edição é nova evidência contra tese de adulteração"


Já não se fala tanto sobre a polêmica quanto à autenticidade da 5ª edição da obra A Gênese, os Milagres as Predições segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, quinta edição essa dita "revisada, corrigida e aumentada", (saiba mais na página especial de pesquisa O caso A Gênese). A razão mais óbvia para isso é que as últimas evidências apresentadas seriam suficientemente fortes para que se conclua que a "tese de adulteração" (originalmente levantada por Henri Sausse e esporadicamente reascendida por certos estudiosos espíritas) não mais se sustenta.

Contudo, apesar do farto material probatório já disposto para invalidar as suspeitas da legitimidade desta obra atualizada, as pesquisas não param e com isso, novas e novas pistas vão sendo ajuntadas ao caso; e eis que mais uma evidência se apresenta, qual seja a que replicamos da fanpage CSI do Espiritismo, publicada ontem, 25 de abril.


Henri Sausse utiliza a 5ª edição de A Gênese em artigo da Revue Spirite de 1914

Considerando a seriedade e comprometimento que levaram Sausse a fazer a denúncia, seria esperado ele, em estando convicto, se mantivesse fiel à 1ª edição de A Gênese, certo?

Na Revue Spirite de 1914, encontramos o artigo "A Doutrina Espírita – Os ensinamentos de Allan Kardec (La Doctrine Spirite – Les Enseignements d’Allan Kardec)" de autoria de Henri Sausse [1], que visou contrapor explicações estranhas ao pensamento do Espiritismo sobre alguns temas. Para tal, ele utilizou como argumento trechos das obras de Allan Kardec que contém os ensinamentos destes temas conforme a doutrina. Este artigo foi publicado em seis partes, em março (p. 164-166), abril (p. 220-225), maio (p. 274-278); junho (p. 346-351), julho (p. 423-428) e agosto/setembro (p. 466-471).

Acontece que na quinta e na sexta parte, Sausse utiliza como referência capítulos e respectivas páginas que correspondem à 5ª edição de A Gênese:

• Na quinta parte (p. 427), encontramos a menção ao capítulo Genèse spirituelle, indicando a página 224 de A Gênese. Esta é página na qual inicia, na 5ª edição, o Capítulo XI – Genèse spirituelle, enquanto nas edições anteriores tal capítulo se inicia na página 220 (vide fotos).

• Na quinta parte (p. 427), encontramos a referência à página 301 do capítulo Les Fluides de A Gênese. Este capítulo é o XIV que, na 5ª edição, se inicia na página referenciada, enquanto nas edições anteriores, tal capítulo se inicia na página 292 (vide fotos).

• Na sexta parte (p. 470), encontramos novamente a referência ao Capítulo XIV – Les Fluides, recomendando a leitura do capítulo completo, nas páginas 301 a 341(vide fotos). Esse capítulo, na 5ª edição, inicia e termina exatamente nas páginas indicadas, enquanto nas edições anteriores ele está localizado nas páginas 292 a 328. [2] e [3]

Assim, ao usar a 5ª edição para dar voz ao pensamento de Kardec, pode-se considerar que Sausse a adotou em seus estudos e reflexões e a admitiu como sendo do mestre, desmentindo então sua própria denúncia, que, como vimos em posts anteriores - https://www.facebook.com/groups/547784192467249/permalink/793584021220597 - https://www.facebook.com/HistoriaDoEspiritismo/posts/854430815320702 - https://www.facebook.com/allankardec.online/posts/204959941117897 e https://www.facebook.com/allankardec.online/posts/207683604178864, não parece ter sido dado qualquer prosseguimento à época.

Face a essa postura de Sausse, qual teria sido a dos continuadores do espiritismo em relação à 5ª edição?

Esta pesquisa foi efetuada em parceria com o CSI do Espiritismo e www.ObrasdeKardec.com.br.

Referências:



domingo, 18 de abril de 2021

O 18 de abril e a questão "O que é mesmo Espiritismo?"

Há exatos 164 anos uma obra monumental era publicada em Paris de maneira oficial, já que — como recentemente descoberto — uma espécie de protótipo seu encontrava-se em circulação há pelo menos alguns meses desta data marcante de 18 de abril de 1857 (saiba mais sobre "a Edição zero" de O Livro dos Espíritos clicando aqui).

Sim, estamos falando de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, a obra que é, como se costuma dizer, o marco do Espiritismo, ou Doutrina Espírita. Mas, a questão que propomos, inclusive aproveitando a ocasião de mais um aniversário deste acontecimento extraordinário, é especialmente essa: de que Espiritismo estamos falando? Ou, melhor ainda: que doutrina é essa?

A questão é muito válida porque, até mesmo dentre os mais conceituados estudiosos do nosso movimento espírita, vê-se muitas controvérsias a seu respeito, a começar pela maneira de defini-la: é ciência? É uma escola filosófica? É, afinal, ou não é uma religião? Ora, as respostas são variadas e cada qual defendidas por vezes com muito zelo, eloquência e, não raro, também paixão.

Tudo poderia ser resolvido simplesmente partindo da ideia de que, tendo sido Allan Kardec o dito "codificador" da doutrina, bastaria então consultarmos a definição que ele tenha feito. Sim, poderia, mas a coisa não é tão simples assim, pois o próprio Kardec deixou várias definições diferentes para o Espiritismo — algumas delas um tanto controversas entre si, donde cada confrade ou pensador não-espírita se dá o direito de fazer o recorte que bem pretende para justificar suas conclusões particulares.

A coisa é complexa mesmo. Por isso, de nossa parte, oferecemos a todos um estudo bem aprofundado sobre essa questão e disponível livremente na nossa Plataforma de Estudos Avançados da Doutrina Espírita - PEADE; falamos do curso ECE - Estudo do Conceito de Espiritismo.

Inscreva-se agora mesmo na PEADE: é online, é prático e completamente grátis.

Obviamente que o curso oferecido não esgota a questão, mas acreditamos que ele contém subsídios importantíssimos para a discussão a respeito; se não "resolve" as controvérsias, pelo menos oferece meios para compreendermos a razão de ser ou não de cada postulado levantado. Então, não deixe de ver.

Também recomendamos a consulta ao verbete "O Livro dos Espíritos" na Enciclopédia Espírita Online.

terça-feira, 13 de abril de 2021

Artigo "Por que temos medo da morte?", por Luís Jorge Lira Neto


Em tempos de pandemia de Covid-19, extraordinariamente agravada no Brasil, a ocasião é muito propícia para refletirmos e debatermos sobre este tema crucial para as novas vidas: a morte. Por isso, temos a satisfação de reproduzir aqui o artigo originalmente publicado no site Correio News, no último dia 7, assinado pelo grande pesquisador espírita Luís Jorge Lira Neto.


"Por que temos medo da morte?"

Nasci, logo comecei a morrer.
Como recém-nato, me aproximo da morte.
No bem-viver, o temor de morrer.
Ao fim, segui com a morte.

O temor da morte permeia a existência de todo sobrevivente. Medo da finitude? Receio da extinção? Incertezas sobre o futuro? Crise existencial? Muitos questionamentos surgem diante dessa certeza do fim da vida material, inspirando o mestre das palavras, Shakespeare, que sintetizou esse temor numa frase: “Ser ou não ser, eis a questão”, induzindo à dicotomia entre o existir ou não existir, ou de viver ou morrer, característico do pensamento humano. Assim se pensa a vida, essa unicidade do existir que leva a temer a morte, juntamente com a força instintiva de sobrevivência, que tanto nos une ao mundo animal.

Povos de todas as épocas têm-se defrontado com esse fenômeno natural, desenvolvendo ao longo do tempo sistemas de convivência e sobrevivência, surgido assim, no espaço cultural, os mitos, ritos, espaços e palavras sagradas, traduzidos em religiosidade. Manter contato com o sobrenatural é a forma de desmitificar a morte e com ela se vai o temor, transformando os simples mortais em seres superiores, deuses, semideuses e heróis. À frente dessa realidade da imortalidade, surgem as religiões, institucionalizadas, com seus séquitos e cânones sagrados, dominando o espaço cultural, outrora de livre manifestação, em clausuras que de tempos em tempos tem-se suas rupturas, pois estruturas que primem o livre-arbítrio levam a convulsões.


A morte e os pensadores

No campo filosófico o tema morte é suporte para o próprio exercício de filosofar. Vejam Sócrates, que definiu a filosofia como "preparação para a morte": Sem a morte, seria mesmo difícil filosofar. Vários filósofos citaram célebres frases sobre a morte. Epicuro: "A morte é uma quimera: porque enquanto eu existo, ela não existe; e quando ela existe, eu já não existo"; Michel de Montaigne: "Meditar sobre a morte é meditar sobre a liberdade"; Arthur Schopenhauer: “A morte é a musa da filosofia"; Sören Kierkegaard: “O morrer à própria morte significa viver"; Friedrich Nietzsche: "Tudo perece, tudo, portanto, merece perecer!"; Martin Heidegger: “O ser do homem é um ser que caminha para a morte", Paul Satre: A morte é “nadificação de todas as minhas possibilidades, nadificação essa que já não mais faz parte de minhas possibilidades”. Da visão filosófica otimista, na qual o ser continua numa vida futura, ao niilismo em que a morte é a extinção do indivíduo, a morte é algo definido como essencial ao ser.


A morte não é o fim 

Para fazer contraposição a isso, surge na França do século 21 o espiritismo, doutrina elaborada pelo francês Allan Kardec e os espíritos, que tem por finalidade o estudo da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal. A publicação de O livro dos espíritos, em 1857, marcou o início da doutrina espírita classificada como uma filosofia espiritualista. Com várias outras obras publicadas, destacamos O céu e o inferno ou A justiça divina segundo o espiritismo, de 1865. Este livro é composto em duas partes, a primeira é um exame comparado das doutrinas sobre o processo da morte, a vida espiritual e a segunda tem exemplos da situação real dos Espíritos durante e depois da morte. Portanto, um duplo estudo comparativo, um conceitual entre as doutrinas pagãs, cristãs de matriz católica e o espiritismo, o outro vivencial, tomando como base as entrevistas com os Espíritos, seguindo a classificação da Escala Espírita.

Kardec inseriu nesse livro um texto sobre temor da morte no capítulo II da 1ª parte, subdividido em dois assuntos: “Causas do temor da morte” e “Por que os espíritas não temem a morte”, que passamos a analisá-los.


Causas do temor da morte

O autor, ao abordar as causas do temor da morte, parte da premissa (Kardec, 2002, p.33) que “o homem, em qualquer situação social, desde o estado de selvageria, tem o pressentimento inato do futuro. Sua intuição lhe diz que a morte não é a última fase da existência e que aqueles que choramos não estão perdidos para sempre”, propondo que é inato na humanidade o sentimento do futuro pós-morte, sendo uma crença intuitiva em que a morte não é o último termo da existência. No entanto, observou que entre os que acreditam na imortalidade da alma, tantos ainda se apegam às coisas terrenas e sentem o temor pela morte.  Em busca de uma resposta plausível, Kardec a encontra nessa assertiva (Kardec, 2002, p.33): “A preocupação com a morte é determinada pela sabedoria da Providência e uma consequência do instinto de conservação comum a todos os seres vivos.” Assim, o temor da morte é efeito da Providência Divina e uma consequência do instinto de conservação, e complementa: “É necessária, enquanto o homem não estiver esclarecido a respeito da vida futura”


As dúvidas sobre a vida futura

Com isso, é possível perceber duas constatações: a primeira é que esse temor decorre da noção insuficiente sobre as condições da vida futura, a segunda é que o temor surge da necessidade de viver e do receio de que a destruição do corpo seja a destruição total da individualidade. E conclui que é preciso conhecer o mundo espiritual tanto quanto possível através do pensamento, para ter uma ideia mais assertiva possível deste. Mas, pondera que é providencial não o apresentar sob uma perspectiva muito positiva, pois o levaria a negligenciar o presente.

A argumentação continua com a apresentação de quatro causas para a existência do temor da morte.

  • A primeira trata do aspecto sobre o qual se apresenta a vida futura, que não satisfaz às exigências racionais de “homens de reflexão”, verdades absolutas e princípios que subvertem a lógica, e aos dados positivos da ciência, que só poderiam resultar em incredulidade para alguns e em crença duvidosa para muitos.
  • A segunda, liga-se ao quadro horrendo da vida futura apresentado pela religião, principalmente as denominações judaico-cristãs, com condenados em torturas infindáveis, almas aguardando orações dos humanos para se libertarem e, para os eleitos, um gozo eterno de beatitude contemplativa. 
  • A terceira, diz respeito às cerimônias nos funerais, que mais aterrorizam, infundem desespero e desesperança. Tudo concorre para inspirar o pavor da morte em lugar de despertar a esperança. 
  • Por último, a imposição de barreiras insuperáveis de relacionamento e de comunicação das pessoas com seus entes queridos que já morreram, colocando entre os mortos e os vivos uma distância imensa, que faz considerar a separação como definitiva e eterna. Por isso, nos leva a preferir uma vida de sofrimento, com as pessoas que amamos, do que viver num céu isolado do convívio delas. 


Por que o espírita não teme a morte

O segundo assunto do capítulo demonstra a percepção dos que assimilam a mensagem do espiritismo sobre a vida futura e, portanto, não se preocupam com a morte do corpo físico. Kardec parte do fato de que a doutrina espírita muda completamente a forma de ver o futuro. A vida futura deixa de ser uma hipótese e torna-se uma realidade, ou seja, os princípios espíritas no porvir transformam a incerteza no futuro pós-morte em certeza da continuidade da vida. Modifica um sistema arraigado em crenças de desesperança em um sistema de observação da vida espiritual.


A realidade espiritual

O autor, aqui também, faz duas constatações: de início que a situação das almas após a morte não se explica por meio de um sistema de crenças, mas pelo resultado da observação, que permite conhecer a realidade do mundo espiritual, e que esse conhecimento lhe traz confiança baseada (KARDEC, 2002, p.45) “nos fatos que testemunharam e na concordância com a lógica, com a justiça e a bondade de Deus e com as aspirações mais profundas do homem”, concluindo que o temor da morte para o espírita perde a razão de ser, porque ele não tem dúvida sobre o futuro. Então encara a morte com tranquilidade, aguarda-a como uma libertação.


Mundo corpóreo e espiritual: perpétuas relações de apoio

Kardec extrai dessas informações duas causas que levam o espírita a não temer a morte. Primeiro que ele aprendeu que a alma não é uma abstração, tem um corpo que a faz um ser definido, uma forma concreta, seres viventes, que estão à nossa volta e, segundo, que o mundo corpóreo e o espiritual identificam-se em perpétuas relações de apoio mútuo. 

O espiritismo detém um conhecimento que mitiga medos e fobias, que consola pelo conhecimento e sentimento. Dele pode-se absorver a confiança e atitude altruísta diante das calamidades e problemas humanos, convictos pelas informações que demonstram a justiça e bondade divina a nos cercar de garantias de uma vida futura de paz e harmonia.

O espiritismo venceu a morte!

Oh morte! donde estás?
Agora cala-te diante dos fatos irrefutáveis.
Transformastes em liberdade,
porque conhecemos a Verdade!

Luís Jorge Lira Neto
Escritor, pesquisador e colaborador da Associação Espírita Casa dos Humildes, no Recife, e da Associação Brasileira dos Divulgadores do Espiritismo. 

KARDEC, Allan. O céu e o inferno ou A justiça divina segundo o espiritismo. Tradução J. Herculano Pires e João Teixeira de Paula. 10. ed. São Paulo: Lake, 2002.

Fonte: Correio News