Considerações a partir do Discurso "O espiritismo é uma religião?" de Allan Kardec, por Brutus Abel e Luís Jorge Lira Neto




Uma revista científica, dirigida por uma universidade declaradamente de cunho católico, publicou um interessante artigo a respeito da questão — bastante controversa, segundo muitos pensadores — sobre o aspecto religioso da Doutrina Espírita, atendendo à velha pergunta dentro e fora do movimento espírita: afinal, o Espiritismo é ou não é uma religião?

O artigo foi publicado pela Horizonte - Revisa de Estudos de Teologia e Ciências da Religião da PUC/Minas, vol. 22, nº 67, referente ao período jan./abr. deste 2024, sob o título Considerações a partir do Discurso "O espiritismo é uma religião?" de Allan Kardec, assinado por Brutus Abel e Luís Jorge Lira Neto.


Sobre os autores:

Brutus Abel
Doutor em filosofia pela FFLCH-USP. Professor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), São José dos Campos. São Paulo, Brasil. País de origem: Brasil. E-mail: brutus@ita.br.

Luís Jorge Lira Neto
Doutorando em Ciência da Religião. Mestre em Economia pela Universidade Federal de  Pernambuco. Graduado em Engenharia Elétrica pela Universidade de Pernambuco (1982). País de origem: Brasil. E-mail: luis.lira.al@gmail.com.

O resumo do artigo apresenta com clareza os objetivos dos dois confrades nesse trabalho de primeira qualidade:

Este artigo é o resultado de uma análise estrutural do Discurso intitulado O espiritismo é uma religião?, proferido por Allan Kardec, em primeiro de dezembro de 1868, e publicado na Revista espírita - Jornal de estudos psicológicos, em dezembro do mesmo ano. Analisa o que um dos principais teóricos da mediunidade compreende por comunhão de pensamento e por religião, assim como os motivos que o conduziram a identificar o espiritismo — doutrina que ele editou a partir das supostas e diversas mensagens que recebeu do mundo espiritual — como uma religião no sentido filosófico, sendo que antes o identificava, quase exclusivamente, como uma ciência e doutrina filosófica e não como uma religião. Conclui que, para Kardec, o espiritismo poderia ser aceito  por  qualquer  pessoa, independente de sua filiação religiosa, devendo sempre se manter coerente com o desenvolvimento científico.

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A referida dissertação aborda com maturidade a ambiguidade presente na obra kardequiana, ora negando e ora evidenciando a face religiosa de sua doutrina; para isso, os autores analisam o contexto da época, convencidos de que forças externas implicavam nessa dubiedade, considerando sobretudo a situação política, social e religiosa daquela França governada por Luís Napoleão III — a quem Victor Hugo reputou de "o pequeno", em tom de ironia, posto que Napoleão "O grande" havia sido o Bonaparte, tio daquele Luís. Faz bem lembrarmos que Luís Napoleão foi democraticamente eleito presidente da república francesa e em pouco tempo deu um autogolpe e se proclamou imperador; em seu governo ditatorial, fraco de inovações e repressivo, por vezes se viu forçado a alianças para se sustentar, não ignorando nesse desiderato o apoio das lideranças religiosas, notadamente as da igreja católica.

Foi nesse terreno de areia movediça que Allan Kardec codificou a Doutrina Espírita, atento às exigências governamentais; logo, a discussão livre e franca acerca das definições de uma religião espírita não era nada aconselhável em face da melhor estratégia de solidificação do seu movimento doutrinário. E nunca é demais frisar que Kardec não era tão somente o codificador, o teórico do Espiritismo, mas era também o líder do movimento espírita: necessário se fazia ser prudente e não alimentar polêmicas.

Hoje, porém, cumpre-nos estudar a fundo todas as circunstâncias envolvendo essa questão tão crucial para a compreensão de um todo espírita, tal como o mencionado artigo se oferece como subsídio para nossas considerações.

Portanto, convidamos todos os confrades a lerem o artigo e meditarem a respeito. Num momento oportuno, retomaremos o tema para mais apreciações sobre as conclusões publicadas por Brutus Abel e Luís Jorge Lira Neto.

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