Viciação em jogos de azar: uma reflexão espírita
Circula no Congresso Nacional — a passos largos, aliás — um projeto de lei para a legalização geral da jogatina no Brasil, incluindo os típicos bingos, cassinos e até o mafioso "jogo do bicho". A real intenção dos parlamentares não é outra senão aumentar a receita do Estado através da tributação em cima das apostas; o que pouco tem sido considerado é a consequência dessa abertura, seja para a saúde mental das pessoas, seja mesmo para a economia no todo. Além disso, parece que ninguém se atenta para os perigos da viciação nos jogos de azar — que certamente aumentará, em se confirmando a aprovação de tal lei (o que é dado como certo) — especialmente em prejuízo da nossa evolução espiritual. Enfim, a sociedade brasileira está dando mais um passo para o abismo. Como diria Roberto Carlos: "Estão todos surdos". E como se não bastasse, a pressa dos nossos políticos em geral, para a formalização desse projeto, reflete ainda outra terrível realidade: uma flagrante desconexão com as necessidades da nação em meio a acontecimentos que estão ilustrando escancaradamente que a liberalização da jogatina é contrária ao bom senso, conforme demonstraremos adiante, acrescentando nosso entendimento — de acordo com os princípios doutrinários do Espiritismo — a respeito de tudo isso.
Contexto atual
No dizer dos que defendem a liberalização da jogatina, o projeto em tramitação é bom porque "regulariza" o que já é fato, isto é, o que já está em vigor na prática comum do país; supostamente, espera-se que essa legalização ajude a controlar a coisa, por exemplo, evitando fraudes. Além do mais — dizem — o Brasil teria a ganhar com a arrecadação de impostos.
Todas essas justificativas — em nossa opinião — são absolutamente falsas. Em primeiro lugar, já falando do aspecto da tributação, a História tem provado que a maior captação de recursos para o nosso Estado é sempre prejudicial à própria economia nacional, porque os governos em geral não sabem gastar bem a riqueza e normalmente transformam a arrecadação em mais benefícios para a classe política. E isso, sem falar da corrupção generalizada. Basta ver os indicadores econômicos e sociais: inflação em alta, perda do poder de compra salarial, queda na qualidade da educação, aumento da criminalidade etc. Isso vindo já de vários governos, com alternância de siglas partidárias inclusive — o que demonstra que a culpa não é um ou outro partido isoladamente; o problema é crônico.
O outro aspecto cruel da apologia que se faz ao projeto em questão é a admissão da falência das nossas autoridades em enfrentar os problemas que envolvem a criminalidade: procura-se normatizar aquilo que não consegue combater "para não passar a vergonha de ser julgado incompetente". Por isso, há décadas, vem-se falando em legalizar o "jogo do bicho". Um absurdo!
Ainda tem aqueles que dizem que, "uma vez normatizada a coisa, ela perde o estímulo", porque "as pessoas supostamente gostam do que é ilegal". Esse argumento também tem sido usado para abrir as portas para as drogas ilícitas. Quanto a isso, não temos dúvidas de que o efeito esperado é exatamente o oposto: com a normatização, maior será a publicidade e a publicidade em massa é preponderante para conduzir a boiada. Um caso exemplar é o da proibição da publicidade de cigarros: desde que entrou em vigar essa lei, o consumo diminuiu consideravelmente. Ora, tudo mundo sabe que "a propaganda é a alma do negócio".
No final, a tendência desse projeto pleiteado é uma maior viciação — então apoiada pelo Estado.
Vitimização
Assim como no caso dos usuários de drogas, a liberação das coisas ilícitas muitas vezes tem sido justificada pelo pretexto de "preocupação" com os usuários; para tanto, muitos artistas e celebridades não se cansam de mostrar seu "humanismo" para com as "vítimas" dos vícios. De nossa parte, não somos insensíveis em relação ao sofrimento dessas pessoas — que são igualmente nossos irmãos, tanto quanto os não viciados —, entretanto, não vemos razão para colocá-los em prioridade, visto que de alguma forma toda a nossa população sofre de algum mal. Nesse particular, não vemos os mesmos artistas e celebridades que vitimizam os narcóticos se solidarizando com o mesmo ímpeto com os carentes adoentados de câncer e de outras doenças orgânicas, que penam nas filas do sistema público de saúde mendigando um atendimento médico.
Consequências da viciação
O vício do jogo de azar é catastrófico para o viciado e para os seus entes queridos, especialmente os que lhe são dependentes — afetiva e financeiramente. Como o próprio gênero da atividade diz, o jogo é sempre de azar para quem joga, com raríssimas exceções de uma ou outra pessoa que se deu bem com uma aposta arriscada. A regra é clara: a vantagem deve ser do dono da banca de jogo, e daí alguém vai ter que sustentar a mamata desses aproveitadores; e eles querem muito, não se contentam com pouco.
Imagine o sentimento de vergonha e de decepção dos filhos de um viciado! Imagine os prejuízos materiais para a sua família! Enquanto isso, o dono do negócio ganha a vida sem produzir nada real, além de deixar um péssimo exemplo para a sua prole — naturalmente educada a querer viver dessa vida fácil.
Mas, principalmente, devemos ter em mente os prejuízos espirituais: quantos recursos desperdiçados numa reencarnação, dos quais cada qual prestará contas no retorno à Pátria maior, pelo atraso evolutivo em que a viciação resulta — sem falar das ligações obsessivas que se cria com Espíritos inferiores: é uma bola de neve com potencial para se transformar numa avalanche.
Causas da viciação
Não há vítima entre os viciados: de qualquer maneira, o vício denota uma fraqueza moral, uma inferioridade espiritual. É claro que há o incentivo da mídia, dos "amigos"; evidente que Espíritos obsessores também se aproveitam dessas inclinações para afogar suas presas num atraso espiritual; onde há um mau pensamento, há sempre más influências se consorciando com os envolvidos, mas nada que exime o viciado de sua baixeza espiritual, cujas raízes podem ser bem profundas.
Uma das raízes do vício do jogo é a ambição material e o desejo do lucro fácil e imediato; a ganância tem arrastado muita gente para o campo das apostas na esperança de um "tirar a sorte grande". E os planos comuns para uma "vida sortuda" são basicamente: luxo, farra e ostentação. Esse pensamento medíocre dá azo à ideia de que o trabalho é um farto, um castigo e uma humilhação; nesse contexto, o "bem-sucedido" é aquele que não precisa trabalhar e pode ser um "bon vivant", um "playboy" ou algo do tipo que, no fundo e num português bem claro, se alinha com a vagabundagem.
Outra raiz profunda liga a jogatina ao gosto pela promiscuidade, pela diversão banal em suas tantas nuances, enfim, a farra social degradante, típica das pessoas inconsequentes, irresponsáveis. Não à toa, Las Vegas (EUA) é conhecida como "a cidade do pecado". Esta a causa que explique provavelmente por que os idosos estejam entre os mais propensos à jogatina: a ociosidade faz com que eles procurem "preencher um vazio" e o "tempo de sobra" para se divertir nas casas de apostas — como se não houvesse nenhuma ocupação nobre para a qual uma pessoa com tempo livre possa se dedicar.
Uma postura sensata
Não condenamos os jogos em absoluto; nem oito, nem oitenta: reconhecemos que é possível haver uma diversão razoável em certas loterias, nos bingos comunitários e competições outros do gênero. A questão é traçar os limites do bom senso, delimitar o terreno da diversão e o campo aberto à exploração.
A lei pretendida provavelmente será sancionada e então veremos as possíveis consequências — e até pode ser que nosso julgamento prévio seja exagerado. Agora, independentemente dos fatores externos, pensamos que seja oportuno cada qual fazer uma reflexão profunda a respeito, conversar com pessoas sensatas a respeito e trocar ideias e, principalmente, procurarmos desenvolver em nós e nos nossos dependentes (filhos, netos, apadrinhados etc.) uma consciência acerca das virtudes espirituais, para que saibamos empreender bem os talentos que Deus nos concedeu nesta reencarnação, "apostando nossas fichas" no que realmente tem valor.
No trato direto com os indivíduos que estão passando por essa provação, ao invés de olhar de preconceito e condenação, cabe-nos acima de tudo o espírito de caridade, companheirismo e encorajamento para que a pessoa possa encontrar em si mesma a força espiritual para superar a tentação; mas é preciso esclarecer que isso não vem do nada; brota da uma instrução e do comprometimento que se contrói progressivamente, o que não é da noite para o dia.
Noutras palavras, uma verdadeira educação moral, espiritualização. E nesse sentido, nenhuma doutrina faz melhor que o Espiritismo; por isso, divulguemos essa bendita causa.
Muita luz pra todos nós!
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