Religiões no Brasil pelo Censo 2022: 'Seria coincidência a redução de espíritas no censo após o desencarne de Chico Xavier?', por Vladimir Alexei
Publicamos na semana passada uma primeira apreciação sobre os dados do Censo 2022 do IBGE a respeito do quadro religioso no Brasil (veja aqui) e na ocasião nós prometemos trazer novas opiniões a respeito, com atenções especiais voltadas para a redução percentual do indicador de espíritas.
Pois então, aqui estamos de volta ao assunto, trazendo agora uma reflexão interessante que nos foi enviada pelo nosso confrade Vladimir Alexei, de Belo Horizonte - MG, de onde coopera para a divulgação do Espiritismo em instituições como a Fraternidade Espírita Irmão Glacus - FEIG, na capital mineira, e o Grupo Espírita da Bênção, em Mário Campos - MG; é o criador e administrador do blog www.salakardec.blogspot.com, assim como do canal no YouTube 'SEAK - Sala De Estudos Allan Kardec'; também articulista do site www.oconsolador.com.br, além de escrever para outros sites e jornais espíritas.
Eis as suas ponderações, para nossa análise:
Seria coincidência a redução de espíritas no censo após o desencarne de Chico Xavier?
Vladimir Alexei
No país em que nasceu o Mineiro do Século XX, o Espírita Chico Xavier, observamos no censo de 2022, um movimento que já era sentido nas Casas Espíritas.
Muita coisa mudou após 23 anos do desencarne de Chico Xavier, a começar pela desunião entre Espíritas. Parece que o Chico Xavier não apenas era um médium missionário, como também um aglutinador capaz de agregar pessoas de diversas crenças em torno dos ensinamentos do Evangelho de Jesus à luz da Doutrina Espírita. O poder de arregimentar recursos era, sobretudo, espiritual. Chico Xavier foi e continua sendo a maior referência da divulgação doutrinária no Brasil. Desculpem-nos os "anti-Chico Xavier". Acho até melhor esses não lerem o texto, que não é "chiquista", mas que reconhece a grandeza do trabalho desse missionário.
Não se trata de uma “ode” ao Chico e sim uma reflexão em torno de uma possível “debandada” de simpatizantes das fieiras espíritas. Possível debandada que estamos conectando com o desencarne de Chico Xavier em 2002, ou seja, não é uma “debandada” que se iniciou agora. É um processo que vem acontecendo gradativamente. Não obstante, é só observar a “rotatividade” de tarefeiros nas Casas Espíritas.
Nas Casas Espíritas menores, os tarefeiros são os mesmos há décadas. É possível até interpretar que existe a Casa Espírita apenas para esses trabalhadores porque não agregam novos e o número de frequentadores diminuiu consideravelmente, embora haja alguma reação em alguns dias da semana em que ocorrem reuniões públicas – sobretudo em Casas Espíritas maiores.
A ausência do Chico Xavier no movimento espírita, deflagrou uma percepção que só não enxerga quem se sente confortável com o que está acontecendo: o movimento espírita perdeu sua doçura. O Amor quase não é percebido em meio a linguagens técnicas, exóticas e adaptadas de outras áreas do conhecimento que não permitem que o frequentador aprofunde na essência doutrinária (que é educadora e consoladora) e seja obrigado a manter-se por mais de uma hora ouvindo a acidez daqueles que assumem a tribuna fazendo do Espiritismo “profissão de fé”.
Palestrantes arrogantes (travestidos de "humildes"), ilustrando conteúdos doutrinários de forma personalista, tentando impor o Evangelho da maneira dele, com tons imperativos quando, na realidade, o convite do Evangelho à luz da Doutrina Espírita é para esclarecer, fazer luz para iluminar os caminhos daqueles que, assim como nós outros, tateia na escuridão da ignorância.
Não se trata apenas de carisma. Existem pessoas conhecidas e desconhecidas, tão carismáticas quanto o Chico. Mas o Chico exalava um amor maduro. O perfume do carisma toca a face, o amor maduro do Chico penetra corações.
Em meio a pandemia de Covid-19 e uma campanha eleitoral desastrosa no Brasil (para ficar apenas aqui), a desunião dos Espíritas talvez tenha atingido o ápice, ou, como dizemos aqui em Minas, “a coisa escancarou de vez" foi nessa época. (Mineiro tem um vocabulário próprio. Quando faltam adjetivos e outros recursos, palavras como “trem”, “coisa”, “negócio” e “uai” ocupam espaço de forma a que quase todos compreendam do que se trata...!)
Diversos trabalhadores espíritas assumiram posturas separatistas, extremistas (independente do viés político) e isso foi notado pelos frequentadores, seja por meio dos buchichos, pelos corredores, ou até mesmo por meio de campanhas urdidas por palestrantes famosos.
Para toda ação há uma reação. Para todo efeito há uma causa. O resultado está aí: o “coração do mundo e a pátria do Evangelho” perdeu o coração há 23 anos e não conseguiu se recuperar.
A máxima que se divulgou durante muito tempo no movimento espírita organizado, é tão atual quanto necessária, contudo, parece que era movida pelo dinheiro porque, uma vez sem o “vil metal”, as campanhas perderam poder: a justiça foi personalizada em Moisés; o Amor foi personalizado em Jesus; a Doutrina Espírita é resultado de um trabalho em conjunto, onde as lideranças são servidoras, ou seja, elas não existem para serem capas de revistas e jornais e sim para estarem na base promovendo a assistência e o desenvolvimento da equipe e daqueles que buscam a Casa Espírita.
Todavia, o que se vê é o contrário, salvo honrosas e queridas exceções em que nem se conhece o presidente, diretores e essas pessoas se misturam conosco nas atividades cotidianas da Casa Espírita sem que se perceba um visgo de vaidade e prepotência.
Quer dizer então que o Movimento Espírita nunca mais será o mesmo? “Nunca” é muito forte, entretanto, se houver algo tão sublime quanto conviver no mesmo orbe com um Espírito como o Chico Xavier, penso que deve demorar a acontecer novamente.
O que precisa ser feito? Bom, se tivéssemos a resposta, como alguns ousados espíritas, seria provável que não estivéssemos “amassando barro” na atualidade, contudo, ousamos dizer que é preciso amadurecer o movimento de divulgação do Espiritismo de forma a conseguirmos colocar o archote para o alto e unir os pontos de luz para que haja harmonia na diversidade; respeito nas diferenças; e amor. Muito amor, que é o que o Evangelho de Jesus nos convida a sentir: o amor genuíno.
Nossos comentários
A opinião do nosso confrade é forte e sem rodeios, e infelizmente somos obrigados a concordar com ele, lamentando profundamente a "desunião" no nosso movimento e a ausência de pessoas mais ativas que possam agregar valores. Não é certo que uma atividade tão complexa quanto a do Espiritismo deva ficar na dependência de um ou de outro — muito embora, alguém com o magnetismo natural qual o de Chico Xavier é mesmo capaz de mover montanhas —, mas é evidente que em toda grande ação sempre há por trás, ou bem à frente, aqueles que coordenam e lideram os demais, inclusive como parte educativa e preparatória para novas lideranças. Nesse sentido, aquele inesquecível médium nos faz muita, mas muita falta mesmo!
E você, concorda com o Vladimir Alexei?
O que você acha que poderíamos fazer para potencializar nosso movimento espírita?
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