Essa retração é mais evidente em estados com forte tradição espírita como Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal, que concentram o maior número absoluto de espíritas no país. Dos 27 estados, 16 apresentaram decréscimo na proporção de espíritas. Paralelamente, o perfil demográfico da população espírita vem envelhecendo: a idade média dos adeptos, que era de 53 anos nas nossas pesquisas, chegou a 55 anos em 2025. A participação de jovens continua em queda, e muitos Centros Espíritas ainda não encontraram caminhos efetivos para acolhê-los, compreendê-los e envolvê-los.
Os dados do IBGE, no entanto, também revelam forças expressivas do movimento: o Espiritismo é o grupo religioso com maior nível de escolaridade (48% dos espíritas possuem ensino superior completo), a menor proporção de indivíduos sem instrução ou com ensino fundamental incompleto (11,3%) e o maior acesso à internet (96,6%). Isso significa que temos um público altamente capacitado, com acesso à tecnologia e capaz de produzir conteúdo e ações de grande alcance — mas ainda não conseguimos transformar isso em impacto coletivo efetivo.
A impressão que tenho — embora careça de confirmação estatística — é que a participação dos espíritas nas redes sociais é, proporcionalmente ao seu número, talvez uma das mais expressivas entre os grupos religiosos. Isso representa uma nova trilha, um outro modo de fazer Espiritismo: mais conectado, mais aberto, mais humanizado e mais voltado à formação de consciências, não necessariamente à filiação religiosa. O Espiritismo, afinal, não precisa converter, mas sim convidar à reflexão, ao autoaperfeiçoamento e à reforma íntima.
A estagnação dos católicos e o crescimento mais lento dos evangélicos também indicam que o cenário religioso brasileiro está em mutação. Os evangélicos continuam crescendo (especialmente entre os jovens), mas em ritmo menor. Já os que se declaram “sem religião” passaram de 8,2% para 9,3%. Esse grupo — diverso, aberto, muitas vezes espiritualizado, mas desconectado das religiões tradicionais — pode representar uma grande oportunidade. Kardec foi claro: não se deve oferecer o Espiritismo àqueles que já estão satisfeitos em sua fé. Mas há muitos que buscam sentido, consolo, ética e coerência — e o Espiritismo pode ser uma luz acolhedora para esses corações inquietos.
Os espíritas possuem a maior participação feminina
Religião - Mulheres | 2010 | 2022 |
Católica Apostólica Romana | 50,4% | 51,0% |
Evangélicas | 55,6% | 55,4% |
Espírita | 58,9% | 60,6% |
Umbanda e Candomblé | 55,3% | 56,7% |
Sem religião | 40,8% | 43,8% |
Além disso, é urgente ampliar as ações voltadas às populações com menor renda e escolaridade. O Espiritismo, embora historicamente associado a camadas mais instruídas da sociedade, precisa cumprir seu papel social com mais coragem. Falar simples não é falar menos; é alcançar mais. Transmitir a beleza da vida espiritual, a justiça da reencarnação e a esperança da continuidade da existência exige empatia, linguagem acessível e escuta sensível.
Ser a religião com a maior participação do sexo feminino (60,6%) nos remete à conclusão que a falta do público masculino deva ser fruto de uma ausência de ações de engajamento.
Por tudo isso, é hora de deixar claro: continuar fazendo o mesmo de sempre não nos levará a um futuro melhor. Precisamos de um planejamento estratégico do movimento espírita nacional — com foco na juventude, na comunicação digital, na atuação social e na formação doutrinária séria, porém viva e contextualizada. Precisamos resgatar a essência da mensagem espírita: uma doutrina de amor, esperança e responsabilidade, capaz de iluminar consciências mesmo sem necessariamente atrair novos “adeptos”.
Se não nos mexermos agora, a tendência é que o Espiritismo se torne cada vez mais um reduto de poucos, envelhecido e alheio às dores e buscas do mundo moderno. Mas se tivermos vontade de mudar — de ousar o novo sem perder a essência — o futuro ainda pode ser promissor.
Distribuição dos espíritas nos estados
Os estados que mais reduziram o número de espíritas foram aqueles que mais espíritas possuem: RJ, DF, SP, RS e GO. Destaque para Rio de Janeiro que tem mais do dobro de espíritas do que a média Brasil (1,8%).
Chama a atenção os estados que tradicionalmente possuem menos espíritas e ainda assim, reduziram: TO, AC, RO, AM e PA. Maranhão é o estado com menor número de espíritas e se mantem em 0,19%.
Em resumo, temos 11 estados com resultado igual ou superior ao ano passado e 16 com decréscimo.
Estados / Censos | 1991 | 2000 | 2010 | 2022 | Cresc. |
Rio de Janeiro | 1,99% | 2,76% | 4,05% | 3,53% | -0,52% |
Distrito Federal | 2,81% | 2,80% | 3,50% | 3,27% | -0,23% |
São Paulo | 1,78% | 2,05% | 3,29% | 2,90% | -0,39% |
Rio Grande do Sul | 1,48% | 2,14% | 3,21% | 2,86% | -0,35% |
Minas Gerais | 1,38% | 1,35% | 2,14% | 2,16% | 0,02% |
Goiás | 2,53% | 2,81% | 2,46% | 2,10% | -0,36% |
Mato Grosso do Sul | 1,36% | 1,20% | 1,90% | 1,68% | -0,22% |
Santa Catarina | 0,53% | 0,85% | 1,58% | 1,62% | 0,04% |
Paraná | 0,55% | 0,66% | 1,04% | 1,50% | 0,46% |
Pernambuco | 0,88% | 1,16% | 1,41% | 1,23% | -0,18% |
Sergipe | 0,50% | 0,87% | 1,08% | 1,12% | 0,04% |
Mato Grosso | 0,77% | 1,33% | 1,25% | 1,09% | -0,16% |
Bahia | 0,54% | 0,74% | 1,13% | 1,00% | -0,13% |
Rio Grande do Norte | 0,33% | 0,28% | 0,78% | 0,92% | 0,14% |
Espírito Santo | 0,65% | 0,56% | 1,04% | 0,90% | -0,14% |
Alagoas | 0,23% | 0,40% | 0,55% | 0,65% | 0,10% |
Roraima | 0,38% | 0,31% | 0,91% | 0,64% | -0,27% |
Paraíba | 0,24% | 0,37% | 0,62% | 0,64% | 0,02% |
Ceará | 0,21% | 0,44% | 0,55% | 0,57% | 0,02% |
Tocantins | 0,42% | 0,45% | 0,65% | 0,55% | -0,10% |
Acre | 0,35% | 0,19% | 0,57% | 0,55% | -0,02% |
Rondônia | 0,29% | 0,53% | 0,57% | 0,55% | -0,02% |
Amapá | 0,18% | 0,08% | 0,42% | 0,51% | 0,09% |
Piauí | 0,09% | 0,11% | 0,32% | 0,43% | 0,11% |
Amazonas | 0,17% | 0,46% | 0,42% | 0,38% | -0,04% |
Pará | 0,31% | 0,54% | 0,45% | 0,37% | -0,08% |
Maranhão | 0,07% | 0,08% | 0,19% | 0,19% | 0,00% |
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