quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

10 anos do Portal Luz Espírita


Começamos este mês de março comemorando a primeira década de atividade do Portal Luz Espírita - www.luzespirita.org.br. São 10 anos de dedicação em prol da promoção do estudo e reflexão acerca de todos os temas inerentes à Doutrina Espírita, além de esforço para a divulgação e propagação do Espiritismo.

Quando publicado, em 1 de março de 2008, nosso site já vinha com inovações ousadas, por exemplo, o anúncio da formatação de curso doutrinário espírita fornecido online — de fato, não havia desse gênero nada parecido. Entre os canais de interação com os nossos audientes, dispúnhamos do — até certo ponto, saudoso  Orkut, a primeira rede social de larga escala no Brasil.


Era uma época em que a Internet apenas engatinhava em nosso país, especialmente pelo custo de acesso  tanto do equipamento (basicamente, computadores) quanto da assinatura da linha telefônica e dos provedores de acesso.

Além disso, os serviços online úteis até então eram muito reduzidos. Compras em lojas virtuais e acesso a contas bancárias eram mínimos, devido à desconfiança dos usuários quanto à segurança da conexão. Por isso, de certa maneira, a Internet era vista com certo receio e até preconceito pelas "pessoas mais conservadoras". A impressão que se tinha era a de que a rede mundial de computadores não passava de um grande catálogo de jogos e programinhas para a molecada "trocar figurinhas". Desta maneira, apostar nesse veículo de comunicação para um assunto tão sério quanto Espiritismo era um risco, pois a ideia corrente era a de que a doutrina deveria ficar circunscrita à proteção das paredes das casas espíritas.



A Fraternidade Luz Espírita apostou na Internet e, pelo feedback que recebemos, o site Luz Espírita foi mesmo um portal de iniciação à nossa amada filosofia para muita, muita gente. Eram pessoas que tinham verdadeiro "pavor" de assuntos espíritas (dado o folclore e a falsa propaganda que propositalmente se fazia — e ainda se faz — dos conceitos espíritas); pessoas que moravam em lugares mais remotos e distantes de algum centro espírita (especialmente no exterior); pessoas que tinham interesse em conhecer a doutrina, mas temiam sofrer constrangimentos de familiares, amigos etc.



Enfim, era um público todo carente que precisava de um Portal para informar-se e interagir a respeito de assuntos de interesse ao Espiritismo. Para estes, portanto, a Luz Espírita inaugurou uma nova era e nos sentimos felizes por isso, com o desejo de continuarmos sendo úteis à Doutrina Espírita e a consciência da responsabilidade que temos em servir à causa da fraternidade humana.



Enfatizamos que todos os colaboradores do Portal Luz Espírita são voluntários; nossa fraternidade é absolutamente sem fins lucrativos, não comercializa nenhum produto, não temos conta bancária, nem arrecadamos qualquer tipo de fundo e tampouco fazemos qualquer movimentação financeira. Todos os integrantes da Equipe Luz Espírita têm consciência e o prazer de fazer parte desse trabalho a título de servir à causa espírita, sem almejar qualquer recompensa senão a nossa própria satisfação de ser útil.

Visite a página Institucional do nosso site para saber mais sobre o nosso trabalho.

E não deixe de contribuir com o Portal Luz Espírita: começando pela sua audiência, você também pode nos ajudar compartilhando nossos materiais doutrinários e de divulgação do Movimento Espírita.

Agradecemos a sua confiança e colaboração.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Calendário Histórico Espírita: Aniversário de desencarnação de Lammenais


Nesta data, lembramos o aniversário de número 164 da desencarnação de Lammenais (lê-se lamené) que foi um célebre filósofo religioso francês no século XIX, e, tão logo desencarnado, passou a ser um dos Espíritos contribuintes da codificação do Espiritismo, quem, inclusive, assina a resposta à questão 1009 de O Livro dos Espíritos e a ainda participa do conteúdo do livro O Evangelho segundo o Espiritismo, no capítulo XI, item 15.

Conheça a biografia de Lammenais na Enciclopédia Espírita Online.

Confira mais datas festivas e de eventos de interesse à História do Espiritismo na página Calendário Histórico Espírita.

Calendário Histórico Espírita: Aniversário de Camille Flammarion


Lembremos hoje do 176° aniversário de nascimento de Camille Flammarion, astrônomo francês, amigo de Allan Kardec e defensor das ideias espíritas.

Confira mais datas festivas e de eventos de interesse à História do Espiritismo na página Calendário Histórico Espírita.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

A polêmica no Movimento Espírita sobre ideologia de gênero e outros temas palpitantes


Recentemente postamos aqui o vídeo com a chamada "Espiritismo e assuntos contemporâneos por Divaldo Franco e Haroldo Dutra Dias" (clique aqui para ver), sobre um bate-papo com os jovens ocorrido durante a programação do Congresso Espírita de Goiânia neste mês de fevereiro.



Aconteceu que, através desse vídeo, alguns apontamentos levantados por Divaldo Franco e Haroldo Dutra Dias suscitaram em alguns seguimentos, ditos "progressistas", dos Movimento Espírita controvérsias e até mesmo revoltas. Há, inclusive, campanha de abaixo assinado com repúdio especialmente contra duas argumentações levantadas por aqueles ativistas espíritas, a saber: a definição dada sobre a polêmica questão da chamada "ideologia de gênero'; e a defesa da FEB - Federação Espírita Brasileira como entidade legítima para guiar o Movimento Espírita.

É uma pena que o vídeo original que divulgamos naquela postagem foi removido pelo YouTube a pedido do Centro Espírita Caminho da Redenção a pretexto de reivindicação de direitos autorais.



Logo em seguida conseguimos um novo link com uma cópia do vídeo desse evento, que aqui repassamos a todos:



Sobre a pergunta relacionada à ideologia de gênero, destacamos o trecho num novo título foi postado e aqui compartilhamos:


A propósito, o vídeo citado por Divaldo, pelo qual Haroldo explana sua opinião sobre a mesma questão do conceito de ideologia de gênero, pode ser assistido a seguir:




Outro ponto que também é passível de muita discussão é quanto ao trabalho do juiz Sérgio Moro na série de processos da Operação Lava Jato, que Divaldo Franco fez questão de ressaltar como "presidente da República de Curitiba". O médium espírita defende claramente o esforço do judiciário contra a lama da corrupção que assola nosso país e convida o público a um voto mais consciente, e, portanto, menos fisiológico.


Nossa opinião

Pensamos que seja bom que o debate franco e democrático acerca das interpretações espíritas, afinal, é assim que uma doutrina progressista se desenvolve, além do que, o confronto de ideias, dentro dos limites da racionalidade e do respeito  no mínimo  com o próximo sempre é salutar para todos nós e até mesmo para o fortalecimento do Movimento Espírita. Contudo, é preciso salientar a granel os critérios da racionalidade e do respeitoO grau desta polêmica, no entanto, tem se elevado ao nível do exagero — como, aliás, muitos debates em voga em nossa sociedade atual, farta de extremismo.

Dentro do critério da racionalidade, sobretudo queremos destacar as controvérsias levantadas em relação à definição que Divaldo deu: "Alucinação psicológica da sociedade"; Divaldo então faz uma contextualização histórica da referida tese e dá sua opinião — que comunga com a do colega Haroldo — conforme seu entendimento colhido à luz do Espiritismo, expondo a problemática de se admitir o desdém à natureza sexual do organismo humano; ora, este é um tema muitíssimo complexo, que envolve conhecimentos profundos de diversas áreas científicas, a começar por biologia e psicologia, além de um domínio conceitual da própria Doutrina Espírita, para se comparar a questão com os valores propostos pela espiritualidade. Isso exige total racionalidade e domínio sobre as ideologias particulares de cada, ainda mais que se trata de um problema saturado de paixão. Não que supomos Divaldo infalível, mas é preciso convir que ele tem, por si mesmo, estudioso que é, uma enorme bagagem intelectual e mostra bastante dedicado em não ceder a interesses particulares. Afinal, são 90 anos de experiência. Para se questionar sua opinião — o que é direito de todos, e é louvável mesmo que se faça —, porém, devemos nos acercar de fundamentos e isenção de palpites apaixonados.

Infelizmente, vemos muitos "segmentos" enraizando-se dentro do Movimento Espírita para tomar o Espiritismo como suporta para suas campanhas ideológicas particulares, propondo uma interpretação customizada da doutrina para defender suas opiniões. E isso sob a bandeira de um suposto "progresso". Ora, se o Espiritismo se fundamente nas leis naturais — perfeitas, e portanto imutáveis —, então cabe a cada qual se adequar logicamente a seus conceitos, não de desfigurar a doutrina para satisfazer as necessidades de cada um.

Dessa maneira, somos da opinião que, sob a condição humana, que distingue fisicamente os gêneros masculinos e femininos, o Espirito mais equilibrado é aquele que se adapta melhor a esse organismo. Num futuro longínquo, mediante o longo processo evolutivo, é notório que a própria natureza orgânica irá cuidar de descaracterizar as diferenças sexuais. Até lá, todavia, forjar tal circunstância é antinatural.

Quando Divaldo diz que a FEB é de "origem divina" e nos convida á busca pela união dos espíritas no entorna desta federação, pensamos que ele não o fez no sentido de a seguirmos cegamente. Haroldo, por exemplo, admite que, sendo a instituição efetivada por homens — muito falhos que somos —, mas não deixa de exaltar o espírito, ou seja, o objetivo primordial da FEB que é o de propagar o Espiritismo. Não o faz com perfeição, enfatizamos, mas procura fazê-lo e para que tal se dê é que Divaldo e Haroldo convoca a todos a contribuir com os homens mandatários lá. Concordamos então com eles no ponto em que queremos enxergar a FEB, não como a dona absoluta do Movimento Espírita, mas como um núcleo respeitável, até pela sua experiência histórica, ao qual todos nós podemos nos aproximar e procurar contribuir para o seu melhoramento prático. Para isso, como o próprio Haroldo menciona, faz bem os diretores da FEB se abrirem a ouvir mais os confrades — o que não implica que deva ceder a toda e qualquer petição particular. Somos favoráveis à soma de forças, pois só assim faremos o Espiritismo ganhar espaço na sociedade a fim de influenciá-la quanto aos conceitos da espiritualidade.

Já com relação à defesa de Divaldo ao trabalho do Juiz Sérgio Moro, como já temos tratado aqui por diversas vezes, consideramos acertada e temos mesmo muitas esperanças de que ele faça escola no judiciário e demais órgãos públicos encarregados de cuidar da justiça brasileira, no sentido de que um novo espírito de inconformidade com a corrupção se perpetue no nosso Brasil. É lógico que não o tomamos como um homem perfeito, infalível, e nem podemos ser condescendentes com qualquer abuso cometido por ele, pela Polícia Federal, pelo Ministério Público e por ninguém, mas estamos convictos de que a Operação Lava Jato representa um marco positivo na História da nossa Nação.

Por fim, sempre convidamos a todos para o compartilhamento das ideias e opiniões, mas não podemos deixar de fazer o apelo para a racionalidade e o respeito para com todos. Devemos nos esforçar para buscar a verdade, e não nos esforçar para moldar a verdade conforme o que buscamos. Ainda que possamos discordar num ou outro ponto com o pensamento de Divaldo, Haroldo ou qualquer outro, devemos ter a complacência para com todos e, mais, nunca perder o foco dos verdadeiros valores espíritas. Que as discordâncias sejam ensejo para uma conversação fraterna e produtiva, e nunca pretexto para desrespeito ao próximo e escândalos.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Calendário Histórico Espírita: Aniversário de desencarnação de Gabriel Delanne


Aniversário de desencarnação de Gabriel Delanne (23-3-1857 - 15-2-1926), pesquisador e escritor espírita, presidente-fundador da União Espírita Francesa e fiel discípulo de Allan Kardec na divulgação do Espiritismo.

Confira mais datas festivas e de eventos de interesse à História do Espiritismo na página Calendário Histórico Espírita.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Espiritismo e assuntos contemporâneos por Divaldo Franco e Haroldo Dutra Dias


Bate-papo com os ativistas espíritas Divaldo Pereira Franco e Haroldo Dutra Dias, durante o 34º Congresso Espírita de Goiás, realizado ontem 13 deste fevereiro de 2018.

Cercados pelos jovens, Divaldo e Haroldo respondem a questões de interesse da juventude, por exemplo: homossexualidade e adoção de crianças por casais homoafetivos, ideologia de gênero, psicoespiritual das criaturas, promiscuidade e prostituição ante a banalização do divórcio.

Vale a pena. Confira:


Como o vídeo original foi removido pelo YouTube a pedido do Centro Espírita Caminho da Redenção a pretexto de reivindicação de direitos autorais, trazemos aqui uma cópia:



Curta e compartilhe.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

"O nome oficial do Professor Rivail (Allan Kardec)" por Paulo Neto


Revisão do estudo apresentado em Março de 2012 (ver aqui), pelo pesquisador espírita Paulo Neto (visite o site oficial).

Kardec e a divergência na forma de escrever o seu nome civil
“[…] quem quer esclarecer-se não deve colher ensinos de uma só fonte, porque só pelo exame e pela comparação se pode firmar um juízo.” (KARDEC, O que é o Espiritismo)
Ao longo do tempo, vínhamos observando que o nome civil de Allan Kardec apresentava, para nossa surpresa, variações na ordem das palavras que o compõem. Até então, não havíamos nos preocupado muito com isso, entretanto, ao preparar a palestra Terceira Revelação – Espiritismo e Kardecpara ser apresentada no Grupo Espírita de Fraternidade Albino Teixeira, em Belo Horizonte, MG, voltamos a perceber essa divergência, daí resolvemos pesquisar para, se possível, conhecer as causas disso, porquanto intrigou-nos demais tal fato.

Estaremos apenas levantando a questão da ordem das palavras, portanto, não tentaremos buscar as informações sobre usar “z” ao invés de “s” em Denisard, um “p” ou dois “pp” e “i” ao invés de “y” em Hypolite, fatos que estamos registrando para que você leitor tome ciência disso.

Quando formos referenciar os documentos usaremos a numeração que colocamos em cada fonte, conforme constam nas Referências bibliográficas.

Vamos denominar de “Documentos oficiais”, aqueles produzidos por órgão público ou particular encarregado de algum tipo de registro e de “Documentos não oficiais” os provenientes de outras fontes, incluindo, aí algumas produzidas pelo próprio Kardec.

Nos documentos oficiais temos:


Então, aqui os termos “Denisard” e “Léon” não são mantidos na mesma ordem, sendo que o primeiro a variação dá-se na metade das ocorrências. Via de regra, dar-se-ia preferência ao que se utilizou na certidão de nascimento, caso na França seguisse, nesse particular, o que ocorre aqui no Brasil.

Mais à frente apresentaremos as imagens constante na obra, da qual foram tomados todas as ocorrências; porém, algo já nos chamou a atenção na certidão de nascimento: qual é a razão da vírgula depois de Denisard?

Novamente, apenas para registro, observe que na certidão de óbito de Kardec lê-se Denisart e não Denisard, ou seja, em lugar do “d”, apareceu-nos um “t”.

Vejamos agora como consta o nome de Kardec nos documentos não oficiais:


Nas três ocorrências, onde Kardec não assinou o nome todo, ele coloca as 3 iniciais exatamente na ordem que utilizou em seu testamento, que, por sua vez, é quase idêntica à que consta do Novo Dicionário Universal, publicado por Maurice Lachâtre (1814-1900), a não ser pela troca do “y” pelo “i” e o uso de dois “pp”.

Vejamos como alguns autores das fontes, que foram por nós utilizadas, tratam dessa questão.

Jorge Damas Martins (1957- ) e Stenio Monteiro de Barros (1945- ) se limitaram a apresentar o nome conforme consta da certidão de nascimento, da qual apresentam um fac-símile, que mostraremos mais à frente.

Przemyslaw Grzybowski (1968- ) também menciona a diferença na ordem e opta por aquela utilizada por Kardec, justifica dizendo que foi ela que o Codificador assinou em suas obras.

Zêus Wantuil (1924-2011) e Francisco Thiesen (1927-1990), em nota explicativa sobre primeiro livro de Kardec – Cours Pratique e Theórique d'Arithmétique, d'apres la méthode de Pestalozzi, informam:
Tanto nesta quanto em todas as demais obras pedagógicas do mesmo autor, seu nome está sempre estampado abreviadamente, como se segue: H. L. D. Rivail, o que vem patentear, a olhos vistos, a maneira por que ele dispunha o seu nome, ou seja: Hippolyte Léon Denizard Rivail, fato para o qual o Dr. Canuto Abreu, ilustre espírita brasileiro, já chamava a atenção na revista “Metapsíquica” de 1936, p. 112, dizendo que Hippolyte aparecia ainda como prenome nos registros de batismo e de casamento, bem assim nos documentos públicos em que ele lançava o seu nome por extenso ou abreviado. (WANTUIL e THIESEN, vol. I, 2004, p. 96)
E mais à frente, no capítulo “Kardec e o seu nome civil”, apresentam várias considerações pelas quais justificam optar por Hippolyte Léon Denizard Rivail, que será bem interessante ao presente estudo, porquanto elenca a lista, objeto de sua consulta, razão pela qual transcrevemos o seguinte trecho:
[…] importa fazer algumas observações preliminares: 
a) Tanto a certidão de nascimento (sic) quanto o registro de batismo do futuro Allan Kardec inscrevem Denizard(124) e cremos que também assim o faz o contrato de casamento(125). 
b) Por ocasião do passamento de Kardec, a "Revue Spirite" de 1869 publicou a páginas 130 um artigo da Redação intitulado -"Biographie de M. Allan Kardec", Aí aparece escrito, em grifo - Léon-Hippolyte-Denizart Rivail. 
Dois grandes discípulos de Kardec - Camilo Flammarion e Léon Denis - escreveram de maneira diferente o nome do mestre lionês. 
O primeiro, no seu “Discours prononcé sur la tombe d'Allan Kardec”, brochura editorada em 1869, apôs, em nota, ao pé da pág. 7: “Léon-Hippolyte-Denisart-Rivail”. 
O segundo, no “Prefácio” da 4ª edição da obra de Henri Sausse citada na nota (1), escreveu este período, à p. 8: Remarquons que mon nom est enchâssé dans celui d'Allan Kardec qui s'appelait en réalité: Hippolyte, Léon, Denisard Rivail”. 
c) A velha, mas sempre consultada obra de J.-M. Quérard - “La France Littéraire ou Dictionnaire Bibliographique (...)”, Paris, tomo VIII (1836), p. 58, registou: “Rivail (H. L. D.)”; o tomo XII (1859-64), p. 450, escreveu: “RIVAIL (Hippolyte-Léon Deriízart)”.
d) o famoso "Dictionnaire Universel des Contemporains, contenant toutes les personnes notables de la France et des pays étrangers”. de G. Vapereau, Paris, regista em sua 3ª edição (1865), inteiramente refundida e consideravelmente aumentada, pp. 31/2, e na 4ª edição (1870), p. 30: “Allan-Kardec (Hippolyte-Léon-Denizard Rivail, dit)”... 
O pseudônimo Allan-Kardec, conforme se lê no Prefácio datado de 1/12/1861, só entrou para o Dicionário de Vapereau a partir de sua 2ª edição, dada a público provavelmente entre 1861 e 1863. 
A quinta edição desta obra (1880) não inscreveu o nome Allan Kardec, mas a sexta edição (1893) traz, no pé da p. 26, a mesma grafia que demos acima para o nome de Kardec. 
e) O “Catalogue Général de la Librairie Française”, redigido por Otto Lorenz, Livreiro, escreve no tomo I, Paris, 1867, p. 27: “Allan Kardec, nom fantastique adopté par M. H.L.D. Rivail”; no tomo IV, Paris, 1871, p. 240: RIVAIL (Léon Hippolyte Denisart); no tomo V (tome premier du Catalogue de 1866-1875), Paris, 1876, p. 15: ALLAN KARDEC. Pseudonyme de H. L. D. Rivail. 
f) “Les Supercheries Littéraires dévoilécs”, par J. M. Quérard, segunda edição, consideravelmente aumentada, publicada pelos Srs. Guslave Brunet e Pierre Jannet, seguida (…), assim regista no tomo I, primeira parte (1869), a pp. 266: “Allan Kardec (Hipp.-Léon Denizart RIVAIL), ancien chef d'institution, à Paris (…)” 
g) O “Nouveau Dictionnaire Universel”, por Maurice Lachâtre, s. d.126, Paris, tomo primeiro, p. 199, regista: “Allan Kardec (Hippolyte-Leon-Denizard Rivail)”, fazendo a seguir longa biografia do Codificador. 
h) O “Orand Dictiormaire Universel du XIXe Siecle”, por M. Pierre Larousse, Paris, tomo nono (1873), regista: "Kardec (Hippolyte-Léon-Denizard Rivailplus connu sous le pseudonyme d'Allan)”... 
i) Faz exatamente o mesmo o “Nouveau Larousse Illustré” (1897-1904), publicado sob a direção de Claude Augé, tom V. 
j) O “Dictionnaire Biographique et Bibliographique”, por Alfredo Dantès, Paris, 1875, p. 26, escreve: “Allan Kardec (Hipp. Léon Denizard Rivail)... 
k) O “Manuel Bibliographique des Sciences Psychiques ou Occultcs”, por Albert L. Caillet L C., Paris, 1912, regista: 
Tomo I, p. 28: “RIVAIL (Hippolyte-Léon-Denizard)”... 
Tomo II, p. 487: “Hippolyte Léon Denizard Rivail”... 
Tomo III, p. 407: “RIVAIL (Hippolyte-Léon-Denizard) dit Allan Kardec”...
l) O “Dictionnaire de Biographie Française", Paris, inclui no tomo segundo (Alíénor-Antlup), 1936. sob a direção de J. Balteau (Agrégé d'Htstoire), de M. Barroux (Archiviste paléographe, directeur honoraire des Architves de la Seine) e M. Prevost (Archiviste paléographe. conservateur adjoint à la Bibliotheque Nationale), com o concurso de numerosos e cultos colaboradores, inclui, como dissemos, na p. 98, o pseudônimo Allan Kardec, escrevendo-lhe assim o nome, de acordo com o registro de nascimento: “Denizard, Hippolyte, Léon Rivail”... 
m) O “Nouveau Dictionnaire Encyclopédique Universel Illustré”, sob a direção de Jules Trousset (3º vol.), escreve: "KARDEC (Hippolyle-Léon-Denizard RIVAIL)”...
n) “La Grande Encyclopédie”, por uma "Société de Savants et de Gens de Lettres" (1885-1902), escreve no volume 28: "RIVAIL. (Hippolyte-LéonDenizard)”... 
o) O tomo II (1900), coluna 319, do "Cataloque Général des livres imprimés de la Bibliothèque Nationale”, Paris, regista assim o nome de Allan Kardec: Hippolyte-Léon-Denizard Rivail. Nas colunas seguintes, o mesmo "Catálogo", ao relacionar-lhe as obras pedagógicas, põe sempre: H.-L.-D. Rivail. 
Apenas por essa amostra, incompleta. podem os leitores verificar haver uma quase unanimidade na maneira de se grafar a palavra principal em estudo. 
--------------------
(124) Henri Sausse - “Biographie d'Allan Kardec” (Nouvelle Édition), 1910, p. 12; 4me édition (1927), pp. 18 e 19.
(125) idem, ibidem, p. 14; id. ib., p. 22. 
(126) O Dicionário não traz a data de publicação, nem no primeiro nem no segundo e último tomo. Ramiz Galvão coloca-lhe o aparecimento em 1865-1870. 
(WANTUIL e THIESEN, vol. I, 2004, p. 228-231) (grifo nosso).



O escritor Jorge Rizzini (1924-2008), mantém-se firme na escolha do nome que consta da certidão de nascimento, alegando que é esse que vale, por originar de documento oficial. Além disso, ele tece as seguintes considerações sobre a pesquisa de Wantuil:
Quer Zeus Wantuil que o nome civil de Kardec seja “Hippolyte León Denizard Rivail”. Entre seus argumentos destaca o registro de batismo e o de casamento. O primeiro nada representa, afirmemos logo. A certidão de nascimento, sim, pois é expedida pelas autoridades do país. Ninguém pode provar a filiação e a autenticidade de seu nome senão através da certidão de nascimento; com ela é que se obtêm os demais documentos. 
Resta a certidão de casamento, na qual, muito estranhamente, se apoia Zeus Wantuil – estranhamente, repetimos, porque ninguém, que no Brasil quer no estrangeiro, divulgou-a. Mas, é óbvio, Allan Kardec não poderia casar-se no civil sem antes apresentar sua certidão de nascimento; mesmo que se casasse na igreja teria que fazê-lo. Assim, na certidão de casamento de Kardec há de constar, também, seu verdadeiro nome: Denizard Hippolyte León Rivail. (RIZZINI, 1995, p. 11).

Jorge Rizzini restringiu demais a base de Zêus Wantuil, que, como vimos logo acima, é bem mais extensa do que aquela que nos quer fazer crer Rizzini, inclusive, nela se vê que a grande maioria das fontes citadas por Wantuil utiliza 6 Hippolyte Léon Denizard Rivail.

Quanto à certidão de casamento, que Rizzini alega que nela deve constar o nome da certidão de nascimento, que supõe que teria sido apresentada, parece-nos que se deu justamente o contrário, pois observa-se que, na certidão de casamento, consta exatamente a grafa não aceita por Rizzini; mas aquela defendida por Wantuil, ou seja, Hippolyte Léon Denizard Rivail.

Oportuno, também, ressaltar que não é só Wantuil que cita a certidão de casamento, podemos encontrá-la em Jorge Damas e Stenio Monteiro, que, inclusive, apresentam um fac-símile dela (MARTINS e BARROS, 1999, encarte entre as páginas 50 e 51).

Na revista Reformador encontramos o texto “Allan Kardec e o seu Nome Civil” (p. 24-28) de autoria de Washington Luiz Nogueira Fernandes (?-), do qual transcreveremos e, conforme o caso, comentar alguns trechos:
Nossa visão destes assuntos sempre foi mais documental, e não literária.
Assim, de posse de cópias dos documentos civis e certidões, isto é, de Fontes Primárias de informação, tudo seria esclarecido, não importando debates linguísticos, ou o que consta em livros de terceiros, que já seriam Fontes Secundárias, portanto, de valor menor, no tocante a esse assunto. (FERNANDES, 2000, p. 24).
Concordamos plenamente com o autor, e reconhecemos a nossa dificuldade em não ter as fontes originais. Entretanto, a coisa não é tão tranquila assim, pois mesmo naqueles que dizem ter as essas fontes, encontramos problemas como ver-se-á mais à frente ao apresentarmos fac-símile da certidão de nascimento de Kardec.
Com relação ao nome civil, positivamente, o que vale é o registro de nascimento, que justamente atribui nome e personalidade civil a alguém. O Código Napoleônico francês (1804) somente fez breves referências a esta matéria, sendo depois completada pelos textos das leis intermediárias e pela jurisprudência. 
Se, por acaso, o nome no registro de nascimento fosse feito com algum erro linguístico, semântico, etc., o seu dono teria que carregar este nome até o fim da vida, em qualquer lugar do mundo, ressalvado o caso de alterá-lo. 
Foi o Ato de Nascimento que atribuiu existência civil a Rivail, e através do qual ele recebeu um nome e identidade. Citações em dicionários, enciclopédias e catálogos referentes a este nome, ainda que publicados no decorrer da vida de Rivail, valeriam apenas como um registro cultural ou filológico, sem nenhum alcance para o registro civil. (FERNANDES, 2000, p. 25).
Está coberto de razão, porém, devemos conhecer melhor certos detalhes que podem mudar aquilo que julgamos ser correto. No caso da certidão de nascimento, inclusive, o próprio autor constata isso neste texto, após Denizard há uma vírgula, e esse pequeno sinal gráfico não poderia mudar tudo? Sobre esse detalhe, argumenta Washington Luiz, em sua conclusão:
— Definitivamente, o verdadeiro nome, e o registro civil de Allan Kardec é: 
Denisard Hypolite Léon Rivail; observamos que a vírgula após o prenome Denisard é um procedimento usado ainda hoje nas certidões de nascimento francesas, que colocam, aliás, vírgula após cada termo do nome; se ele nascesse hoje, seria registrado como Denisard, Hypolite, Léon, Rivail, aparecendo uma vírgula após cada termo; não podemos confundir isto com citações bibliográficas, que colocam primeiro o sobrenome e depois a vírgula (Ex: Kardec, Allan), porque são coisas totalmente diferentes. Portanto, para efeito de saber o nome correto de alguém, à vista de sua certidão de nascimento francesa, pode-se ignorar a vírgula em sua certidão; (FERNANDES, 2000, p. 27, grifo nosso).
Estaria tudo certo não fosse o que nos traz Júlio Abreu Filho (1893-1971), quanto à questão da vírgula:
Há entre os espíritas uma certa confusão quanto ao nome do Codificador, por falta de acomodação entre o sistema francês e o nosso de citar o nome das pessoas. Para uns o menino em questão era Léon, para outros Denizard e, ainda para um terceiro grupo, Hippolyte. É que, de um modo geral, nós ignoramos que:
I – na França é comum acrescentar-se ao prenome do menino o de um ou dois avós; 
II – nas famílias nobres esse acréscimo se torna abusivo; 
III – por vezes adiciona-se ao prenome do ascendente masculino o do padrinho; 
IV – nos documentos oficiais é praxe escrever em primeiro lugar o nome da família e depois os prenomes. 
Assim, no caso vertente, o prenome é Hippolyte; os prenomes adicionais, Léon e Denizard e o nome de família, Rivail. Comumente se escreve Hippolyte-LéonDenizard Rivail, enquanto que nos documentos oficiais escrever-se-ia Rivail Hippolyte-Léon-Denizard. 
E, escrevendo certo, justo é se exija a pronúncia correta. 
Perdoem-nos os espíritas a exigência: é que não compreendemos não se saiba grafar e, menos ainda, pronunciar nome tão respeitável e que nos é sobremaneira caro. Seria uma falta de respeito. (ABREU FILHO, 1995, p. 9-10, grifo nosso).
Nota-se que não são concordantes as opiniões de Washington Luiz e Júlio Abreu, quanto à questão da vírgula, embora, a deste último ter uma aparência de mais coerente, apesar de a forma proposta não ser exatamente a que consta da certidão de nascimento.

Um pouco atrás falamos da dificuldade dos que se lançam a pesquisar os fatos em ter em mãos as fontes originais, o que hoje já não se justifca, porquanto, com todos os recursos de informática disponíveis, esses documentos já deveriam estar disponibilizados em algum site de alguma das Instituições que dizem representar o Movimento Espírita.

Para se ter uma boa ideia, dessa dificuldade, vejamos, por exemplo, a certidão de nascimento de Kardec. Conseguimos três fac-símiles; dois nas obras que utilizamos e um na Internet [ver aqui], aqui estão:


Comparando-se as duas primeiras, vemos claramente que a fonte não pode ter sido a mesma, pois há diferença entre elas, especialmente, quanto à letra, que, embora seja muito semelhante não é a mesma. Fora a questão do local onde consta os selos. A segunda e a terceira, também, bem semelhantes não têm o nome de Kardec da mesma forma e disposição. Fato que você, caro leitor, poderá pessoalmente constatar. O problema é que todos são tidos como originais, o que nos fez lembrarmos da frase atribuída a S. Jerônimo: “A verdade não pode existir em coisas que divergem”.

Certamente, que nem temos condições técnicas para apontar qual é a ordem correta; porém, mesmo assim arriscaríamos em dizer que, em princípio, seria a ordem utilizada pelo próprio Kardec no seu testamento, por razões, bem simples, não acreditamos que escrevesse seu nome errado, porquanto, portador de uma considerável cultura, isso, segundo pensamos, o impediria de utilizar uma ordem diferente da real, porém… Ah!, sempre aparece um porém, o que apresentaremos a seguir demostrará, exatamente, o contrário.

No apagar das luzes do ano de 2017, encontramos algo importante relacionado ao assunto, pois ele vem, inapelavelmente, definir qual o verdadeiro nome civil de Kardec que devemos utilizar

Simoni Privato Goidanich (1969- ), escritora e oradora espírita, publicou a obra El legado de Allan Kardec, em espanhol, que informa ter sido resultado de pesquisa na Biblioteca Nacional da França, nos Arquivos Nacionais da França, na Confederação Espiritista Argentina e na Associação Espiritista Constância, de Buenos Aires.

Em 3 de outubro, Simoni Privato realizou a apresentação do livro na Confederação Espiritista da Argentina, cujo vídeo se encontra disponível no site do YouTube (9). A partir dos 39’’, ela aborda a questão do nome civil de Kardec, informando que a divergência na forma de escrevê-lo, resultou num processo judicial, no qual, após batida do malhete, definiu-se como: Denisard Hippolyte Léon Rivail. Isso pode ser muito bem ser confirmado nesta imagem apresentada pela Simoni Privato (9) na sua palestra:


Observamos que essa forma de escrever seu nome civil é bem próxima da que consta da Certidão de Nascimento, mas que ainda permaneceu a divergência no segundo nome, que aqui é grafado “Hippolyte” e na certidão como “Hypolite”, portanto, estavam “quase” certos todos os confrades que citamos que defendiam ser esse o documento que deveria decidir a questão.

E, para finalizar, gostaríamos de agradecer aos amigos que nos indicaram essa obra. Parece-nos que será, oportunamente, publicada em português.

Nosso objetivo ao tratar do tema não foi o de contestar ninguém que já tenha escrito algo sobre esse assunto, estamos apenas juntando o resultado de várias pesquisas realizadas, para que o leitor, ávido de conhecimento, possa tê-las reunidas num só lugar.

Paulo da Silva Neto Sobrinho
Mar/2012.
(revisado dez/2017)


Referência bibliográfica:
(1) ABREU FILHO, J. O principiante espírita. São Paulo: Pensamento, 1995.
(2) FERNANDES, W. L. N. Allan Kardec e o seu nome civil. in. Reformador, ano 118, nº 2052. Rio de Janeiro: FEB, março 2000, p. 24-28.
(3) INCONTRI, D. e GRZYBOWSKI, P. (org) Kardec Educador. Bragança Paulista, SP: Ed. 12 Comenius, 2005.
(4) LACHÂTRE, M. Allan Kardec in. COSTA NUNES, B. H et al. Em torno do Rivail. Bragança Paulista, SP: Lachâtre, 2004.
(5) MARTINS, J. D. e BARROS, S. M. Allan Kardec: análise de documentos biográficos. São Paulo: Lachâtre, 1999.
(6) RIZZINI, J. Kardec, irmãs Fox e outros. Capivari, SP: EME, 1995.
(7) WANTUIL, Z. e THIESEN, F. Allan Kardec: o educador e o codifcador, vol. I. Rio de Janeiro: FEB, 2004.
(8) WANTUIL, Z. e THIESEN, F. Allan Kardec: o educador e o codifcador, vol. II. Rio de Janeiro: FEB, 2004.
(9) GOIDANICH, S. P. El legado de Allan Kardec – presentación en la Confederación Espiritista Argentina, https://www.youtube.com/watch?v=SddznxO66zE&t=823s. Acesso em 20 dez. 2017.


sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

"A indigesta psicosfera do Carnaval" por Jorge Hessen


Nos períodos de folia os carnavalescos surgem de todos os lados na  busca do nutrimento de suas devassidões. Para tais são longas as estações de dias e noites para as preparações do delírio demente dos três dias de miragens. Os incautos esfolam as finanças familiares para experimentar o encanto efêmero de curtir dias de completa paranoia. Adolescentes e marmanjos se abandonam nas arapucas pegajosas das drogas lícitas e ilícitas. Não compreendem que bandos de malfeitores do além (obsessores) igualmente colonizam as avenidas das escolas de samba num lúgubre show de bizarrices. Celerados das escuridões espirituais se acoplam aos bobalhões fantasiados pelos condutores invisíveis do pensamento, em face dos entulhos concupiscentes que trazem no mundo íntimo.

Sobrevém uma permuta vibratória em todos e em tudo. Os espíritos das brumas umbralinas se conectam aos escravos de momo descuidados, desvirtuando-os a devassidões deprimentes e jeitos grotescos de deploráveis implicações morais. Tramas tétricas são armadas no além-tumba e levadas a efeito nessas oportunidades em que momo impera dominador sobre as pessoas que se consentem despenhar na festa medonha.

Enquanto olhos embaciados dos foliões abrangem o fulgor dos refletores e das fantasias brilhantes (inspirações ridículas impostas pelos malfeitores habitantes das províncias lamacentas do além-túmulo), nas avenidas onde percorrem carros alegóricos (que, pasmem! Já até transportou a efígie do Chico Xavier sob aplausos de omissos líderes espíritas), a visão dos espíritos observa o recinto espiritual envolto em carregadas e sombrias nuvens cunhadas pelas oscilações de baixo teor mental.


Os três dias de folia, assim, poderão se transformar em três séculos de penosas reparações. É bom pensarmos um pouco nisso: o que o carnaval traz ao nosso Espírito? Alegria? Divertimento? Cultura? É de se perguntar: será que vale a pena pagar preço tão elevado por uns dias de desvario grupal?

Quando se pretende alcançar essa alegria, através do prazer desregrado e dos excessos de toda ordem, o resultado é a insatisfação íntima, o vazio interior provocado pelo desequilíbrio moral e espiritual. Portanto, não fossem os exageros, o Carnaval, como festa de integração sócio racial, poderia se tornar um acontecimento compreensível, até porque não admitir isso é incorrer em erro de intolerância. Porém, para os espíritas merece reflexão a advertência de André Luiz: “Afastar-se de festas lamentáveis, como aquelas que assinalam a passagem do carnaval, inclusive as que se destaquem pelos excessos de gula, desregramento ou manifestações exteriores espetaculares. A verdadeira alegria não foge da temperança. ” (1)

A efervescência momesca é episódio que satura, em si, a carga da barbárie e do primitivismo que ainda reina entre nós, os encarnados, distinguidos pelas paixões do prazer violento. Costuma ser chamado de folia, que vem do francês folle, que significa loucura ou extravagância.


Nos dias conturbados de hoje, sabe-se que “(…) de cada dez casais que caem juntos na folia, sete terminam a noite brigados (cenas de ciúme etc); que, desses mesmos dez casais, posteriormente, seis se transformam em adultério, cabendo uma média de três para os homens e três para as mulheres (por exemplo); que, de cada dez pessoas (homens e mulheres) no carnaval, pelo menos sete se submetem espontaneamente a coisas que normalmente abominam no seu dia a dia, como álcool, entorpecente etc. Dizem, ainda, que tudo isso decorre do êxtase atingido na Grande Festa, quando o símbolo da liberdade, da igualdade, mas, também, da orgia e depravação, somadas ao abuso do álcool, levam as pessoas a se comportarem fora do seu normal (…)” (2)

O Espírito Emmanuel adverte: “Ao lado dos mascarados da pseudo-alegria, passam os leprosos, os cegos, as crianças abandonadas, as mães aflitas e sofredoras. (…) Enquanto há miseráveis que estendem as mãos súplices, cheios de necessidades e de fome, sobram as fartas contribuições para que os salões se enfeitem.”(3)

Como proferi supra, nesse panorama, os obsessores “influenciam os incautos que se deixam arrastar pelas paixões de Momo, impelindo-os a excessos lamentáveis, comuns por essa época do ano, e através dos quais eles próprios, os Espíritos, se locupletam de todos os gozos e desmandos materiais, valendo-se, para tanto, das vibrações viciadas e contaminadas de impurezas dos mesmos adeptos de Momo, aos quais se agarram.” (4)


Portanto, além da companhia de encarnados, vincula-se a nós uma inumerável legião de seres invisíveis, recebendo deles boas e más influências a depender da faixa de sintonia em que nos encontremos. As tendências ao transtorno comportamental de cada um, e a correspondente impotência ou apatia em vencê-las, são qual imã que atrai os espíritos desequilibrados e fomentadores do descaso à dignidade humana, que, em suma, não existiriam se vivêssemos no firme propósito de educar as paixões instintivas que nos animalizam.

Será racional fechar as portas dos centros espíritas nos dias de Carnaval, ou mudar o procedimento das reuniões? Existem alguns centros que fecham suas portas nos feriados do carnaval por vários motivos não razoáveis. Repensemos: uma pessoa com necessidades imediatas de atendimento fraterno, ou dos recursos espirituais urgentes em caso de obsessão, seria fraterno fazê-la esperar para ser atendida após as “cinzas”, uma vez ocorrendo essa infelicidade em dia de feriado momesco?

Os foliões crônicos declaram que o carnaval é um extravasador de tensões, “liberando as energias”… Entretanto, no carnaval não são serenadas as taxas de agressividade e as neuroses. O que se observa é um somatório da bestialidade urbana e de desventura doméstica. Aparecem após os funestos três dias as gravidezes indesejadas e a consequente proliferação de assassinatos de intrusos bebês nos ventres, incidem acidentes automobilísticos, ampliação da criminalidade, estupros, suicídios, aumento do consumo de várias substâncias estupefacientes e de alcoólicos, assim como o aparecimento de novos viciados, dispersão das moléstias sexualmente transmissíveis (inclusive a AIDS) e as chagas morais, assinalando, densamente, certas almas desavisadas e imprevidentes.


O carnaval edifica o nosso Espírito? Muitos espíritas, ingenuamente, julgam que a participação nas festas de Carnaval, tão do agrado dos brasileiros, nenhum mal acarreta à nossa integridade fisiopsicoespiritual. No entanto, por detrás da aparente alegria e transitória felicidade, revela-se o verdadeiro atraso espiritual em que ainda vivemos pela explosão de animalidade que ainda impera em nosso ser. É importante lembrá-los de que há muitas outras formas de diversão, recreação ou entretenimento disponíveis ao homem contemporâneo, alguns verdadeiros meios de alegria salutar e aprimoramento (individual e coletivo), para nossa escolha.

Não vemos, por fim, outro caminho que não seja o da “abstinência sincera dos folguedos”, do controle das sensações e dos instintos, da canalização das energias, empregando o tempo de feriado do carnaval para a descoberta de si mesmo; o entrosamento com os familiares, o aprendizado através de livros e filmes instrutivos ou pela frequência a reuniões espíritas, eventos educacionais, culturais ou mesmo o descanso, já que o ritmo frenético do dia a dia exige, cada vez mais, preparo e estrutura físico-psicológica para os embates pela sobrevivência.

Somente poderemos garantir a vitória do Espírito sobre a matéria se fortalecermos a nossa fé, renovando-nos mentalmente, praticando o bem nos moldes dos códigos evangélicos, propostos por Jesus Cristo.
Jorge Hessen

Referências bibliográficas:
(1) Vieira, Waldo. Conduta Espírita, ditado pelo Espirito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001, cap.37 “Perante As Fórmulas Sociais”.
(2) São José Carlos Augusto. Carnaval: Grande Festa…De enganos! , Artigo publicado na Revista Reformador/FEB-Fev. 1983.
(3) Xavier , Francisco Cândido. Sobre o Carnaval, mensagem ditada pelo Espírito Emmanuel, fonte: Revista Reformador, Publicação da FEB fevereiro/1987.
(4)  Pereira, Ivone. Devassando o Invisível, Rio de Janeiro: cap. V, edição da FEB, 1998.

Reproduzido do Blog do Bruno Tavares