quarta-feira, 30 de junho de 2021

Calendário Histórico Espirita: 19° aniversário de desencarnação de Chico Xavier

Neste 30 de junho de 2021, mais uma vez, somos convidados a exaltar a biografia extraordinária de Francisco Cândido Xavier, o nosso inesquecível Chico Xavier, que há exatos 19 anos completava mais uma honrada missão para retornar ao plano espiritual, de onde poderia continuar colhendo os frutos de sua jornada triunfante, depois de uma vida inteira de exemplo de abnegação e dedicação à causa humanitária, especialmente contribuindo com a disseminação da Doutrina Espírita, que abraçou com amor, dela sendo um dos maiores expoentes em todos os tempos, inclusive pelo seu vocacionato mediúnico.

Receba, Chico, nosso reconhecimento, gratidão por tudo que fizeste por nós, votos de mais realizações e um abraço fraterno dos confrades da Luz Espírita.

A propósito, já estamos editando o verbete Chico Xavier para a Enciclopédia Espírita Online. Aguardem para apreciar este lançamento.


terça-feira, 29 de junho de 2021

Lampadário Espírita e a opinião de Herculano Pires sobre a relação entre Espiritismo e Religião


O já tradicional jornal Lampadário Espírita, dirigido pelo nosso confrade Dâmocles, (Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco) chega ao seu número 178, ano XVI, edição de julho deste 2021, com uma matéria muito interessante e por demais apropriada para a ocasião: "A opinião de Herculano Pires sobre o aspecto religioso do Espiritismo", articulada por Leonardo Marmo Moreira.

José Herculano Pires, como se sabe, foi um grande filósofo espírita — para muitos, o maior deles de sua geração — que primou pela assertividade (opiniões claras e firmes) e absoluta devoção à obra kardequiana (saiba mais sobre Herculano Pires na Enciclopédia Espírita Online).

Diante do tão acirrado debate sobre as relações entre Espiritismo e Religião, o referido artigo nos remete, portanto, ao perspicaz pensamento do filósofo Herculano, revelando-lhe a posição intrépida que bem pode ser sintetizada com esta citação: “Aqueles, portanto, que não compreendem a natureza tríplice do Espiritismo, ou tentam reduzi-la apenas a um dos seus aspectos, praticam uma violência contra a Doutrina”.

E a partir daí, temos o desenvolvimento das considerações do ilustre confrade e filósofo, amostradas no artigo de Leonardo, pelo que, convidamos todos a conferir a edição atual do Lampadário Espírita, que está disponível nesta página. Apenas para realçar o contexto, acrescentamos uma indagação proposta na matéria: "O Espiritismo sem Deus, sem Jesus, sem o Evangelho e sem a prece estaria em uma situação melhor?"

A propósito, em breve traremos uma matéria especial com o comparativo entre as proposta de um "Espiritismo cientificista e filosofista" (que reduz ou mesmo rechaça o aspecto religioso da nossa doutrina) e o que entendemos pelo verdadeiro Espiritismo codificado por Allan Kardec, o qual vemos, sim, sustentado pelo triângulo de forças formado pelos aspectos da Ciência, Filosofia e Religião.

domingo, 27 de junho de 2021

O Céu e o Inferno da FEAL e a prorrogação de uma campanha esdrúxula

Como já havia sido anunciado, a FEAL - Fundação Espírita André Luiz realizou esta semana e está promovendo com força o lançamento da pré-venda de uma publicação de sua editora: O Céu e o Inferno, de Allan Kardec, que está sendo vendida com a ideia de "Primeira publicação brasileira da obra original", pois que se trata da tradução da primeira edição da obra lançada pelo codificador espírita, em 1 de agosto de 1865; lançamento este, com efeito, que é a continuação de uma campanha absurda amarrada à tese de uma conspiração contra as obras de Kardec arquitetada por Pierre-Gaëtan Leymarie, iniciada com a acusação requentada de adulteração do livro A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo; na verdade, mais do que uma continuação, trata-se de uma prorrogação insensata de tal tese, dado que todas as evidências — muito fartas, por sinal — contrariam essa ideia, ora estendida com a sugestão de que também O Céu e o Inferno foi adulterada.

Saiba mais sobre a tese de adulterações pelo nosso artigo Céu, inferno e autonomia em pauta em novo livro da FEAL e o nosso contraponto.

A propaganda da nova obra da FEAL destaca que ela vem enriquecida com "apresentação, contextualização histórica e 230 notas explicativas". Na página de divulgação desta publicação no site da Mundo Maior Editora (https://editoramundomaior.com.br/livros/o-ceu-e-o-inferno, consultado neste 27) de junho) lê-se:

"Nesta edição de O Céu e o Inferno ou a justiça divina segundo o Espiritismo você encontra o resgate dos estudos e as conclusões finais sobre a teoria moral espírita original de Allan Kardec..."

E acrescenta:

"Documentos oficiais guardados nos Arquivos Nacionais e na Biblioteca Nacional da França comprovam que a quarta edição da obra, publicada após o falecimento de Allan Kardec, não é fiel ao conteúdo depositado legalmente pelo autor, contrariando assim o direito autoral aceito internacionalmente. O mesmo havia ocorrido com o livro A Gênese, cuja quinta edição foi publicada mais de três anos após o falecimento do autor."

Ora, como já é bem sabido, essa tese de adulteração está substancialmente refutada. O "tiro de misericórdia" pode ser representado pelo episódio em que Henri Sausse (o personagem que originariamente deu vida a essa tese) "faz as pazes com a nova edição de A Gênese". Ver O caso A Gênese.

A FEAL, contudo, prorroga essa peleja, sustentando  a tiracolo  uma errônea interpretação da liberdade espiritual praticamente absoluta, sob a bonita roupagem de "autonomia", idealizada pelo filósofo Kant, numa espécie de "emancipação total", inclusive da vontade divina; é então "a vontade do homem como medida de todas as coisas", enquanto temos a Doutrina Espírita codificada por Kardec completamente alicerçada sobre o elemento Deus e vinculada aos valores cristãos, cujo mandamento primeiro é a nossa subordinação á divindade ("Amar a Deus sobre todas as coisas...") e o segundo — que complementa o primeiro — de estar fraternalmente ligado aos semelhantes, que Kardec interpreta como a essência mesmo da religião; essa tese de autonomia, portanto, não é mais do que a sujeição às ideias mais próximas da subversão, do anarquismo e da campanha antirreligião (toda e qualquer manifestação religiosa) promovida pelo ateísmo e, principalmente, pelos materialistas — aqueles que o Mestre espírita definiu como os verdadeiros inimigos do Espiritismo.

Recusamo-nos a crer que os idealizadores desta esdrúxula campanha — que esta nova obra vem engrossar — estejam motivados diretamente a fomentar ideias materialistas, mas, ainda que inconscientemente, o resultado se encaminha para tal, o efeito é o mesmo. Daí, é de se perguntar quais os verdadeiros interesses deste lançamento? Não basta a FEAL dizer que a responsabilidade pelo conteúdo de um livro publicado sob o selo de sua editora seja expressamente dos autores; ela, FEAL, tem de assumir a sua responsabilidade, inclusive porque ela é o carro-chefe da divulgação e a instituição que lucra com tais obras. Em sendo uma instituição dita espírita, deve primar por direcionar-se conforme a coerência doutrinária que ela prega.

Seria muito aceitável que ela lançasse uma edição especial da primeira edição de O Céu e o Inferno, bem como de qualquer das obras de Kardec, a fim de que o leitor pudesse fazer um estudo comparativo da evolução da obra; o que ela está fazendo, por sua vez, é negar a continuação do trabalho de Kardec, rejeitando a atualização feita por ele. Isto sim é adulterar uma obra.

Por fim, queremos trazer aqui que a equipe do site Obras de Kardec tem trabalhado na publicação de obras comparativas da codificação espírita, dispondo lado a lado das páginas o conteúdo da primeira edição e o da edição com a última revisão kardequiana, facilitando assim o estudo e a pesquisa dos interessados em conhecer a evolução do pensamento do autor com relação ao texto trabalhado. E dentre essas obras, inclui-se O Céu e o Inferno (veja aqui); o seu volume I (com os textos originais em francês) já está à disposição para download, e o volume II, com as versões traduzidas, está sendo finalizada e em breve ficará ao alcance de todos — gratuitamente, diga-se.

Já a edição final do livro O Céu e o Inferno, traduzida por Louis Neilmoris, numa linguagem simplificada, pode ser obtiva também sem nenhum custo na Sala de Leitura do Portal Luz Espírita, disponível em PDF e EPUB.

Baixar gratuitamente O Céu e o Inferno de Allan Kardec.

O site da Federação Espírita Brasileira também oferece o download gratuito desta obra, conforme este link.

Nota: tentamos contato com a FEAL sobre a responsabilidade doutrinárias das publicações de sua editora, mas não obtivemos resposta.


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quinta-feira, 17 de junho de 2021

Pesquisa espírita: "Henri Sausse fez as pazes com a 5ª edição de A Gênese"

Mais um extraordinário trabalho colaborativo dos pesquisadores espíritas para "o caso a Gênese": um achado histórico que mostra Henri Sausse reconhecendo a autenticidade da edição revisada e aumentada do livro A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, edição essa que outrora o mesmo Henri Sausse havia colocado em questão e então desencadeado uma série de teorias centralizadas numa hipótese de adulteração, e cujo mentor teria sido Pierre-Gaëtan Leymarie. As evidências que desmentem todas essas teorias já eram abundantes, no entanto, estão sendo enriquecidas por novos registros, tais como esta que foi compartilhada ao mesmo tempo pelas fanpages CSI do Espiritismo e AllanKardec.Online, no Facebook, e, o site Obras de Kardec, que ora reproduzimos aqui.

Para uma melhor contextualização, ver antes a página especial de pesquisa O caso a Gênese.


Henri Sausse fez as pazes com a 5ª edição de A Gênese

"Mas vamos continuar nossas pesquisas e abrir a Gênese, a última obra publicada, revista e corrigida por Allan Kardec; ela deve nos dar o último pensamento do mestre sobre o assunto da alma humana."

Encontramos esta afirmação no relatório Em busca das origens da alma humana escrito por Henri Sausse e apresentado no Congresso Espírita Internacional, em 1925 (Figura 1, Figura 2a e Figura 2b) [1, pp. 196-204 na versão em Francês (pp. 203-211 do pdf) e pp. 192-200 na versão em Inglês (pp. 483-491 do pdf)] .

Figura 1


Figura 2a


Figura 2b

Neste relatório, Sausse investiga se a alma humana passa ou não pela do animal, consultando todos os trechos das obras de Kardec que tocam no assunto: a Revista Espírita, O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O que é o Espiritismo, O Espiritismo em sua expressão mais simples, A Gênese e Obras póstumas

Em A Gênese, ele selecionou como referência e transcreveu os seguintes trechos da 7ª edição (idêntica à 5ª edição) - conforme ele mesmo informa no artigo - todos do Capítulo XI - 'Gênese Espiritual': Item 14 (p. 230), Item 15 (p. 231), Item 16 (p. 232), Item 23 (p. 236) e Item 29 (p. 240).

E concluiu:

"Em sua última obra, A Gênese, Allan Kardec apenas confirmou e acentuou a visão da Doutrina sobre o tema da origem dos Espíritos: Questão ainda insolúvel."

Há diferença nos itens citados entre as edições?

Como podemos observar no comparativo entre as edições [2], os itens 14, 15 e 16 do Capítulo XI são idênticos, o item 23 possui uma alteração pontual e o item 29 foi praticamente reescrito (Figura 3 e Figura 4).

Figura 3


Figura 4

Porque essa afirmação de Henri Sausse é relevante?

Sendo o autor da denúncia de que a 5ª edição de A Gênese teria sido alterada por terceiros, Sausse afirmou, em 1884, que todas as partes do livro haviam sido submetidas a mutilações mais ou menos graves. 

Essa denúncia levou a uma réplica de Leymarie (administrador da Sociedade Anônima), Rousset (galvanista que fez as matrizes da edição), Rouge (tipógrafo de todas as edições de A Gênese) e Desliens (secretário de Kardec) e a uma tréplica de Sausse, que fundamentou suas suspeitas em função de um lionês, amigo de Pierre-Gaëtan Leymarie, que confidenciou que este "foi obrigado a fazer correções" em A Gênese. A partir de então, houve um silêncio sobre o assunto.

Assim, ao dizer, em 1925, que A Gênese foi "revista e corrigida por Allan Kardec", Sausse reconhece a legítima autoria do mestre e, portanto, volta atrás em sua denúncia.

Sausse já havia usado a 5ª edição como referência do pensamento de Kardec em outro artigo da Revue Spirite de 1914 (A Doutrina Espírita - Os ensinamentos de Allan Kardec), no qual constam citações ao texto completo do Capítulo XI - 'Gênese Espiritual' e do Capítulo XIV - 'Os Fluidos', ambos com diversas alterações entre as edições [3].


Sobre o Congresso Espírita

O Congresso Espírita Internacional ocorreu em Paris, em setembro de 1925. O trabalho de Sausse fez parte dos relatórios da segunda comissão, cujo tema era "Doutrina - Teoria". Dentre os participantes do evento, destacamos Gabriel Delanne, presidente do Congresso, e Léon Denis, representante da Federação Espírita Brasileira (na delegação do Brasil) e presidente da segunda comissão.

O relatório, publicado por Éditions Jean Meyer, em 1927, é em si um achado (Figura 5), por descrever o evento (programação, participantes, discursos, palestras,…) e nos dar a oportunidade de conhecer o pensamento dos espíritas daquela época (Figura 6).

Figura 5

Figura 6

Conclusão

Está claro que Henri Sausse reconheceu que a revisão no texto foi feita por Kardec (como afirmou em seu artigo) e, mesmo não assumindo explicitamente em outras ocasiões, mudou de ideia quanto à acusação de adulteração da 5ª edição de A Gênese por Leymarie.

Gabriel Delanne também já havia reconhecido a autoria da 5ª edição como sendo de Kardec, em um artigo, ao afirmar que anos depois o pensamento do codificador e suas obras continuavam atuais, e transcrever um trecho alterado do capítulo XVIII como exemplo desse pensamento, e ao validar, em outro artigo, a teoria da fotografia do pensamento, proposta por Kardec na 5ª edição [4].

De fato, sua denúncia não teve maiores repercussões à época, já que outros personagens relevantes continuaram adotando a 5ª edição em seus escritos e o assunto foi deixado de lado, sem qualquer menção posterior no Le Spiritisme nem em outros periódicos.

Constatamos assim que a dúvida sobre a autoria da 5ª edição, levantada no final do século XIX por Sausse, já não existia mais na França no início do século XX. Trazemos os acontecimentos posteriores à denúncia para que o movimento espírita do século XXI possa tomar conhecimento deles e tirar suas próprias conclusões.

Recomendamos, como complemento à leitura, os posts anteriores em que tratamos sobre este tema, contendo os detalhes sobre a denúncia, réplicas e tréplica, e o uso da 5ª edição por diversos continuadores do Espiritismo:

28/11/2020:
https://www.facebook.com/allankardec.online/posts/200740638206494

04/12/2020:
https://www.facebook.com/allankardec.online/posts/204959941117897

07/12/2020:
https://www.facebook.com/HistoriaDoEspiritismo/posts/854430815320702

08/12/2020:
https://www.facebook.com/allankardec.online/posts/207683604178864

25/04/2021:
https://www.facebook.com/allankardec.online/posts/293941372219753

16/05/2021:
https://www.facebook.com/allankardec.online/posts/306781274269096

Esta pesquisa foi uma realização conjunta pelo museu AKOL - AllanKardec.online, o CSI do Espiritismo e www.ObrasdeKardec.com.br.

Agradecimentos ao portal Autores Espíritas Clássicos pela disponibilização do relatório do Congresso Espírita em pdf.

Referências:

[1] http://www.autoresespiritasclassicos.com - Download em:

https://drive.google.com/.../1-Te582Oiw2bJDIyEoob2r.../view

[2] https://leanpub.com/asedicoesdeagenese-volumeII

[3] https://www.facebook.com/allankardec.online/posts/306781274269096

[4] https://www.facebook.com/allankardec.online/posts/200740638206494


Para saber mais, ver antes a página especial de pesquisa O caso a Gênese.


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Espetáculo espiritualista "O Vendedor de Sonhos".



Em tempos de cultura extremamente materialista, exaltamos trabalhos que inspire espiritualidade, como este espetáculo O Vendedor de Sonhos, em cartaz no Teatro Liberdade em São Paulo:

Sinopse: Baseado no best-seller homônimo de Augusto Cury. Na trama, o personagem Júlio César tenta o suicídio, e é impedido de cometer o ato final por intermédio de um mendigo, o “Mestre”, que lhe vende uma vírgula, para que continue a escrever a sua história. Juntos encontram Bartolomeu, um bêbado boa-praça que decide unir-se a eles na missão de vender sonhos e de despertar a sociedade doente. A revelação de um passado conflituoso do Mestre pode destroçar a grande missão do Vendedor de Sonhos.

Informações e reservas de ingressos neste link.


terça-feira, 15 de junho de 2021

Lançamento: "As edições de O Livro dos Espíritos - Volume I"

Os espíritas normalmente proclamam que o 18 de abril de 1857 é o marco inaugural do Espiritismo, ou seja, a Doutrina Espírita. A razão para a classificação desta data é bem simples: aquele foi o dia em que o codificador da doutrina, Allan Kardec, publicou a primeira edição de O Livro dos Espíritos, obra cujo propósito principal era exatamente o de fazer uma apresentação dos conceitos fundamentais da síntese kardequiana acerca do movimento que havia virado febre nos principais centros sociais sobretudo da Europa e Estados Unidos, mas também presentes em todos os continentes do globo terreno.

Data bem ajustada, não?

E quando hoje as pessoas minimamente sensatas estudam este livro, dizem consigo mesmas algo do tipo: "Que obra magistral!"

Bem, mas o que muita gente não sabe é que O Livro dos Espíritos lido atualmente é um tanto diferente daquela primeira edição, no sentido de ter sido ampliado: enquanto a edição final conta com 1019 questões, a edição lançada em 18 de abril de 1857 continha cerca de metade desse número. Tanto é que, ao publicar a sua segunda edição, revisada e ampliada (1860), Kardec anunciou:

"Na primeira edição desta obra, anunciamos uma parte suplementar. Devia compor-se de todas as questões que ali não puderam entrar, ou que circunstâncias ulteriores e novos estudos deveriam originar. Mas como todas se referem a alguma das partes já tratadas, e das quais são o desenvolvimento, sua publicação isolada não teria apresentado nenhuma continuidade. Preferimos aguardar a reimpressão do livro para incorporar todo o conjunto, e aproveitamos para dar à distribuição das matérias uma ordem muito mais metódica, suprimindo ao mesmo tempo tudo quanto tivesse duplo sentido. Esta reimpressão pode, pois, ser considerada como obra nova, embora os princípios não tenham sofrido nenhuma alteração, salvo pouquíssimas exceções, que são antes complementos e esclarecimentos do que verdadeiras modificações."
Revista Espírita, março de 1860 - 'O Livro dos Espíritos, 2ª edição'

Para um bom estudioso espírita, portanto, convém fazer uma apreciação comparativa entre a edição inaugural e a edição definitiva, já que são, de certo modo, "duas composições" — conquanto mantenham a coerência com todos os fundamentos doutrinários do Espiritismo.

Saiba mais sobre O Livro dos Espíritos na Enciclopédia Espírita Online.

Uma razão bastante óbvia para fazer esse estudo comparativo é para se observar a evolução do pensamento e das ideias do autor nesses dois momentos. Ora, tudo era novo no segundo momento: ao lançar a primeira edição, por exemplo, o autor era um total desconhecido, se comparado com a fama de que desfrutava quando da publicação da edição revisada e ampliada, ao lado já do sucesso da Revista Espírita e do prestigio da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas; o próprio Kardec já estava mais maduro, melhor ciente da natureza dos fenômenos mediúnicos e do manejo mesmo do movimento espírita do qual era o líder — "o Mestre", como diziam seus confrades.

Pois então, para facilitar essa empreitada, a do estudo comparativo entre a primeira edição e a versão final editada por Kardec, a equipe do site Obras de Kardec está produzindo uma série de obras com esta finalidade, sendo que pôs à disposição de todos o PDF do volume I de As Edições de O Livro dos Espíritos, correspondente à transcrição dos textos originais em francês (veja aqui) já se preparando para lançar o volume II, então com a tradução das duas versões.


Os textos das duas versões estão dispostos lado a lado, mantendo a correspondência do conteúdo, inclusive destacando com cores específicas os trechos modificados (o que foi excluído, resumido, corrigido e acrescentado) tronando mais fácil a comparação entre as edições. Veja a imagem demonstrativa abaixo:


Bom lembrar que a mesma equipe do site Obras de Kardec também trabalha na produção de publicações semelhantes das demais obras da codificação espírita, tendo já lançado:
  • As Edições de A Gênese - vol. I (textos originais em francês)
  • As Edições de A Gênese - vol. II (traduções para o português
  • As Edições de O Céu e o Inferno - vol. I (textos originais em francês)

    Saiba mais em: Obras de Kardec.

    Nós do Portal Luz Espírita apoiamos esta realização, parabeniza os idealizadores do projeto e convida todos os confrades a compartilhar essa publicação.

    segunda-feira, 14 de junho de 2021

    Informe Luz Espírita edição n° 200


    N° 200 do Informe Luz Espírita

    Mais uma edição especial do nosso newsletter


    Nossa revista digital Informe Luz Espírita chega ao ducentésimo número, o que nos alegra bastante, especialmente pela receptividade esboçada pelos nossos confrades que acompanham esse trabalho dedicado. As mensagens que temos recebido são muito positivas, reconhecendo a importância da divulgação do Espiritismo, respeitando os princípios fundamentais da doutrina e a diversidade dos entendimentos.

    E se chegamos a tal número, é porque contamos com essa generosa recepção dos irmãos espíritas e simpatizantes, a quem agradecemos a confiança em nosso newsletter.

    E vamos rumo à marca da próxima edição centenária.

    Acesse o Informe Luz Espírita
    https://www.luzespirita.org.br/informe/informe.html

    Cadastre seu Email para receber o Informe Luz Espírita
    https://www.luzespirita.org.br/index.php?lisPage=atendimento


    quinta-feira, 10 de junho de 2021

    "Kardec e a divergência na forma de escrever o seu nome civil - atualização", por Paulo Neto


    Nosso confrade e pesquisador espírita Paulo Neto (Minas Gerais) já há um bom tempo tem se dedicado, dentre outras coisas interessantes, ao estudo das diversas maneiras como tem sido escrito o nome civil de Allan Kardec, então Professor Rivail. Inclusive, já havíamos publicado uma duas versões de sua monografia acerca dessas pesquisas: a primeira em agosto de 2017 (veja aqui) e a segunda em setembro de 2018 (veja aqui). Eis, porém, que ora compartilhamos sua atualização, a partir de novos elementos históricos que vieram enriquecer o trabalho do nosso confrade. E é assim mesmo o ofício do bom pesquisador: sempre atualizar-se e deixar ser atualizado.

    Desde já agradecemos ao pesquisador por nos compartilhar suas conclusões e, com satisfação, oferecemos aos nossos leitores esse valoroso trabalho atualizado:


    Kardec e a divergência na forma de escrever o seu nome civil

    “[…] quem quer esclarecer-se não deve colher ensinos de uma só fonte, porque só pelo exame e pela comparação se pode firmar um juízo.”
    (ALLAN KARDEC, O que é o Espiritismo)

    Ao longo do tempo, vínhamos observando que o nome civil de Allan Kardec (1804-1869) apresentava, para nossa surpresa, variações na ordem das palavras que o compõem. Até então, não havíamos nos preocupado muito com isso, entretanto, ao preparar a palestra Terceira Revelação – Espiritismo e Kardec, para ser apresentada no Grupo Espírita de Fraternidade Albino Teixeira, em Belo Horizonte, MG, voltamos a perceber essa divergência, daí resolvemos pesquisar para, se possível, conhecer as causas disso, porquanto intrigou-nos demais tal fato.

    Estaremos apenas levantando a questão da ordem das palavras, portanto, não tentaremos buscar as informações sobre usar “z” em vez de “s” em Denisard, um “p” ou dois “pp” e “i” em vez de “y” em Hypolite, fatos que estamos registrando para que você leitor tome ciência disso.

    Quando formos referenciar os documentos oficiais e não oficiais usaremos a numeração que colocamos em cada fonte, conforme constam nas Referências bibliográficas. Vamos denominar de “Documentos oficiais”, aqueles produzidos por órgão público ou particular encarregado de algum tipo de registro e de “Documentos não oficiais” os provenientes de outras fontes, incluindo, aí algumas produzidas pelo próprio Allan Kardec.

    Nos documentos oficiais temos:


    Então, aqui os termos “Denisard” e “Léon” não são mantidos na mesma ordem, sendo que a posição de Denisard em primeiro lugar aparece em 36% das ocorrências. Via de regra, dar-se-ia preferência ao que se utilizou na certidão de nascimento, caso na França seguisse, nesse particular, o que ocorre aqui no Brasil. Porém, acreditamos que a ordem estabelecida pela decisão judicial é que dará o norte do que se deve fazer.

    Mais à frente apresentaremos as imagens constante na obra, da qual foram tomados a maioria das ocorrências; porém, algo já nos chamou a atenção na certidão de nascimento: qual é a razão da vírgula depois de Denisard?

    Constata-se, também, que nas duas cópias da Certidão de Casamento há divergência na ordem do nome o que, a nosso ver, é algo bem estranho.

    Novamente, apenas para registro, observe que na certidão de óbito de Allan Kardec lê-se Denisart e não Denisard, ou seja, em lugar do “d”, apareceu-nos um “t”.

    Vejamos agora como consta o nome de Allan Kardec nos documentos não oficiais:


    Nos documentos em que assina todo o nome – Carta a Amélie Boudet e Testamento – Allan Kardec mantém a ordem, porém, no primeiro ele apõe Denizard entre vírgulas, cuja razão para isso não entendemos.

    Nas três ocorrências, onde Allan Kardec não assinou o nome todo, ele coloca as iniciais exatamente na ordem que utilizou nos dois documentos em que assina o nome completo. Sendo que o do Testamento, é, por sua vez, quase idêntica à que consta do Novo Dicionário Universal, publicado por Maurice Lachâtre (1814-1900), a não ser pela troca do “y” pelo “i” e o uso de dois “pp”.

    Vejamos como alguns autores das fontes, que foram por nós utilizadas, tratam dessa questão.

    Jorge Damas Martins e Stenio Monteiro de Barros se limitaram a apresentar o nome conforme consta da certidão de nascimento, da qual apresentam um fac-símile, que mostraremos mais à frente.

    Przemyslaw Grzybowski também menciona a diferença na ordem e opta por aquela utilizada por Allan Kardec, justifica dizendo que foi ela que o Codificador assinou em suas obras.

    Zêus Wantuil (1924-2011) e Francisco Thiesen (1927-1990), em nota explicativa sobre primeiro livro de Allan Kardec – Cours Pratique e Theórique d'Arithmétique, d'apres la méthode de Pestalozzi, informam:

    Tanto nesta quanto em todas as demais obras pedagógicas do mesmo autor, seu nome está sempre estampado abreviadamente, como se segue: H. L. D. Rivail, o que vem patentear, a olhos vistos, a maneira por que ele dispunha o seu nome, ou seja: Hippolyte Léon Denizard Rivail, fato para o qual o Dr. Canuto Abreu, ilustre espírita brasileiro, já chamava a atenção na revista “Metapsíquica” de 1936, p. 112, dizendo que Hippolyte aparecia ainda como prenome nos registros de batismo e de casamento, bem assim nos documentos públicos em que ele lançava o seu nome por extenso ou abreviado. (WANTUIL e THIESEN, vol. I, 2004, p. 96)

    E mais à frente, no capítulo “Kardec e o seu nome civil”, Wantuil e Thiessen apresentam várias considerações pelas quais justificam optar por Hippolyte Léon Denizard Rivail, que será bem interessante ao presente estudo, porquanto elenca a lista, objeto de sua consulta, razão pela qual transcrevemos o seguinte trecho:

    […] importa fazer algumas observações preliminares:
    a) Tanto a certidão de nascimento (sic) quanto o registro de batismo do futuro Allan Kardec inscrevem Denizard(124) e cremos que também assim o faz o contrato de casamento(125). 
    b) Por ocasião do passamento de Kardec, a "Revue Spirite" de 1869 publicou a páginas 130 um artigo da Redação intitulado -"Biographie de M. Allan Kardec", Aí aparece escrito, em grifo - Léon-Hippolyte-Denizart Rivail
    Dois grandes discípulos de Kardec - Camilo Flammarion e Léon Denis - escreveram de maneira diferente o nome do mestre lionês. 
    O primeiro, no seu “Discours prononcé sur la tombe d'Allan Kardec”, brochura editorada em 1869, apôs, em nota, ao pé da pág. 7: “Léon-Hippolyte-Denisart-Rivail”
    O segundo, no “Prefácio” da 4ª edição da obra de Henri Sausse citada na nota (1), escreveu este período, à p. 8: Remarquons que mon nom est enchâssé dans celui d'Allan Kardec qui s'appelait en réalité: Hippolyte, Léon, Denisard Rivail”. 
    c) A velha, mas sempre consultada obra de J.-M. Quérard - “La France Littéraire ou Dictionnaire Bibliographique (...)”, Paris, tomo VIII (1836), p. 58, registou: “Rivail (H. L. D.)”; o tomo XII (1859-64), p. 450, escreveu: “RIVAIL (Hippolyte-Léon Deriízart)”.
    d) o famoso "Dictionnaire Universel des Contemporains, contenant toutes les personnes notables de la France et des pays étrangers”. de G. Vapereau, Paris, regista em sua 3ª edição (1865), inteiramente refundida e consideravelmente aumentada, pp. 31/2, e na 4ª edição (1870), p. 30: “Allan-Kardec (Hippolyte-Léon-Denizard Rivail, dit)”... 
    O pseudônimo Allan-Kardec, conforme se lê no Prefácio datado de 1/12/1861, só entrou para o Dicionário de Vapereau a partir de sua 2ª edição, dada a público provavelmente entre 1861 e 1863. 
    A quinta edição desta obra (1880) não inscreveu o nome Allan Kardec, mas a sexta edição (1893) traz, no pé da p. 26, a mesma grafia que demos acima para o nome de Kardec. 
    e) O “Catalogue Général de la Librairie Française”, redigido por Otto Lorenz, Livreiro, escreve no tomo I, Paris, 1867, p. 27: “Allan Kardec, nom fantastique adopté par M. H.L.D. Rivail”; no tomo IV, Paris, 1871, p. 240: RIVAIL (Léon Hippolyte Denisart); no tomo V (tome premier du Catalogue de 1866-1875), Paris, 1876, p. 15: ALLAN KARDEC. Pseudonyme de H. L. D. Rivail
    f) “Les Supercheries Littéraires dévoilécs”, par J. M. Quérard, segunda edição, consideravelmente aumentada, publicada pelos Srs. Guslave Brunet e Pierre Jannet, seguida (…), assim regista no tomo I, primeira parte (1869), a pp. 266: “Allan Kardec (Hipp.-Léon Denizart RIVAIL), ancien chef d'institution, à Paris (…)” 
    g) O “Nouveau Dictionnaire Universel”, por Maurice Lachâtre, s. d.126, Paris, tomo primeiro, p. 199, regista: “Allan Kardec (Hippolyte-Leon-Denizard Rivail)”, fazendo a seguir longa biografia do Codificador. 
    h) O “Orand Dictiormaire Universel du XIXe Siecle”, por M. Pierre Larousse, Paris, tomo nono (1873), regista: "Kardec (Hippolyte-Léon-Denizard Rivail, plus connu sous le pseudonyme d'Allan)”... 
    i) Faz exatamente o mesmo o “Nouveau Larousse Illustré” (1897-1904), publicado sob a direção de Claude Augé, tom V. 
    j) O “Dictionnaire Biographique et Bibliographique”, por Alfredo Dantès, Paris, 1875, p. 26, escreve: “Allan Kardec (Hipp. Léon Denizard Rivail)... 
    k) O “Manuel Bibliographique des Sciences Psychiques ou Occultcs”, por Albert L. Caillet L C., Paris, 1912, regista: 
    Tomo I, p. 28: “RIVAIL (Hippolyte-Léon-Denizard)”... 
    Tomo II, p. 487: “Hippolyte Léon Denizard Rivail”... 
    Tomo III, p. 407: “RIVAIL (Hippolyte-Léon-Denizard) dit Allan Kardec”...
    l) O “Dictionnaire de Biographie Française", Paris, inclui no tomo segundo (Alíénor-Antlup), 1936. sob a direção de J. Balteau (Agrégé d'Htstoire), de M. Barroux (Archiviste paléographe, directeur honoraire des Architves de la Seine) e M. Prevost (Archiviste paléographe. conservateur adjoint à la Bibliotheque Nationale), com o concurso de numerosos e cultos colaboradores, inclui, como dissemos, na p. 98, o pseudônimo Allan Kardec, escrevendo-lhe assim o nome, de acordo com o registro de nascimento: “Denizard, Hippolyte, Léon Rivail”... 
    m) O “Nouveau Dictionnaire Encyclopédique Universel Illustré”, sob a direção de Jules Trousset (3º vol.), escreve: "KARDEC (Hippolyle-Léon-Denizard RIVAIL)”...
    n) “La Grande Encyclopédie”, por uma "Société de Savants et de Gens de Lettres" (1885-1902), escreve no volume 28: "RIVAIL. (Hippolyte-LéonDenizard)”... 
    o) O tomo II (1900), coluna 319, do "Cataloque Général des livres imprimés de la Bibliothèque Nationale”, Paris, regista assim o nome de Allan Kardec: Hippolyte-Léon-Denizard Rivail. Nas colunas seguintes, o mesmo "Catálogo", ao relacionar-lhe as obras pedagógicas, põe sempre: H.-L.-D. Rivail
    Apenas por essa amostra, incompleta. podem os leitores verificar haver uma quase unanimidade na maneira de se grafar a palavra principal em estudo.
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    (124) Henri Sausse - “Biographie d'Allan Kardec” (Nouvelle Édition), 1910, p. 12; 4me édition (1927), pp. 18 e 19.
    (125) idem, ibidem, p. 14; id. ib., p. 22. 
    (126) O Dicionário não traz a data de publicação, nem no primeiro nem no segundo e último tomo. Ramiz Galvão coloca-lhe o aparecimento em 1865-1870. 
    (WANTUIL e THIESEN, vol. I, 2004, p. 228-231) (grifo nosso).

    O escritor Jorge Rizzini (1924-2008), mantém-se firme na escolha do nome que consta da certidão de nascimento, alegando que é esse que vale, por originar de documento oficial. Além disso, ele tece as seguintes considerações sobre a pesquisa de Wantuil:

    Quer Zeus Wantuil que o nome civil de Kardec seja “Hippolyte León Denizard Rivail”. Entre seus argumentos destaca o registro de batismo e o de casamento. O primeiro nada representa, afirmemos logo. A certidão de nascimento, sim, pois é expedida pelas autoridades do país. Ninguém pode provar a filiação e a autenticidade de seu nome senão através da certidão de nascimento; com ela é que se obtêm os demais documentos.

    Resta a certidão de casamento, na qual, muito estranhamente, se apoia Zeus Wantuil – estranhamente, repetimos, porque ninguém, que no Brasil quer no
    estrangeiro, divulgou-a. Mas, é óbvio, Allan Kardec não poderia casar-se no civil sem antes apresentar sua certidão de nascimento; mesmo que se casasse na igreja teria que fazê-lo. Assim, na certidão de casamento de Kardec há de constar, também, seu verdadeiro nome: Denizard Hippolyte León Rivail. (RIZZINI, 1995, p. 11)

    Jorge Rizzini restringiu demais a base de Zêus Wantuil, que, como vimos logo acima, é bem mais extensa do que aquela que nos quer fazer crer Rizzini, inclusive, nela se vê que a grande maioria das fontes citadas por Wantuil utiliza Hippolyte Léon Denizard Rivail.

    Quanto à certidão de casamento, que Rizzini alega que nela deve constar o nome da certidão de nascimento, que supõe que teria sido apresentada, parece-nos que se deu justamente o contrário, pois observa-se que, na certidão de casamento, consta exatamente a grafia não aceita por Rizzini; mas aquela defendida por Wantuil, ou seja, Hippolyte Léon Denizard Rivail.

    Oportuno, também, ressaltar que não é só Wantuil que cita a certidão de casamento, podemos encontrá-la em Jorge Damas e Stenio Monteiro, que, inclusive, apresentam um fac-símile dela (MARTINS e BARROS, 1999, encarte entre as páginas 50 e 51).

    Na revista Reformador encontramos o texto “Allan Kardec e o seu Nome Civil” (p. 24-28) de autoria de Washington Luiz Nogueira Fernandes, do qual transcreveremos e, conforme o caso, comentar alguns trechos:

    Nossa visão destes assuntos sempre foi mais documental, e não literária.

    Assim, de posse de cópias dos documentos civis e certidões, isto é, de Fontes Primárias de informação, tudo seria esclarecido, não importando debates linguísticos, ou o que consta em livros de terceiros, que já seriam Fontes Secundárias, portanto, de valor menor, no tocante a esse assunto. (FERNANDES, 2000, p. 24)

    Concordamos plenamente com o autor, e reconhecemos a nossa dificuldade em não ter as fontes originais. Entretanto, a coisa não é tão tranquila assim, pois mesmo naqueles que dizem ter essas fontes, encontramos problemas como ver-se-á mais à frente ao apresentarmos fac-símile da certidão de nascimento de Allan Kardec.

    Com relação ao nome civil, positivamente, o que vale é o registro de nascimento, que justamente atribui nome e personalidade civil a alguém. O Código Napoleônico francês (1804) somente fez breves referências a esta matéria, sendo depois completada pelos textos das leis intermediárias e pela jurisprudência.

    Se, por acaso, o nome no registro de nascimento fosse feito com algum erro linguístico, semântico, etc., o seu dono teria que carregar este nome até o fim da vida, em qualquer lugar do mundo, ressalvado o caso de alterá-lo.

    Foi o Ato de Nascimento que atribuiu existência civil a Rivail, e através do qual ele recebeu um nome e identidade. Citações em dicionários, enciclopédias e catálogos referentes a este nome, ainda que publicados no decorrer da vida de Rivail, valeriam apenas como um registro cultural ou filológico, sem nenhum alcance para o registro civil. (FERNANDES, 2000, p. 25)

    Está coberto de razão, porém, devemos conhecer melhor a certos detalhes que podem mudar aquilo que julgamos ser correto. No caso da certidão de nascimento, inclusive, o próprio autor constata isso neste texto, após Denizard há uma vírgula, e esse pequeno sinal gráfico não poderia mudar tudo? Sobre esse detalhe, argumenta Washington Luiz, em sua conclusão:

    – Definitivamente, o verdadeiro nome, e o registro civil de Allan Kardec é: Denisard Hypolite Léon Rivail; observamos que a vírgula após o prenome Denisard é um procedimento usado ainda hoje nas certidões de nascimento francesas, que colocam, aliás, vírgula após cada termo do nome; se ele nascesse hoje, seria registrado como Denisard, Hypolite, Léon, Rivail, aparecendo uma vírgula após cada termo; não podemos confundir isto com citações bibliográficas, que colocam primeiro o sobrenome e depois a vírgula (Ex: Kardec, Allan), porque são coisas totalmente diferentes. Portanto, para efeito de saber o nome correto de alguém, à vista de sua certidão de nascimento francesa, pode-se ignorar a vírgula em sua certidão; (FERNANDES, 2000, p. 27, grifo nosso)

    Estaria tudo certo não fosse o que nos traz Júlio Abreu Filho (1893-1971), quanto à questão da vírgula:

    Há entre os espíritas uma certa confusão quanto ao nome do Codificador, por falta
    de acomodação entre o sistema francês e o nosso de citar o nome das pessoas. Para uns o menino em questão era Léon, para outros Denizard e, ainda para um terceiro grupo, Hippolyte. É que, de um modo geral, nós ignoramos que:

    I – na França é comum acrescentar-se ao prenome do menino o de um ou dois avós;
    II – nas famílias nobres esse acréscimo se torna abusivo;
    III – por vezes adiciona-se ao prenome do ascendente masculino o do padrinho;
    IV – nos documentos oficiais é praxe escrever em primeiro lugar o nome da família e depois os prenomes.

    Assim, no caso vertente, o prenome é Hippolyte; os prenomes adicionais, Léon e Denizard e o nome de família, Rivail. Comumente se escreve Hippolyte-Léon-Denizard Rivail, enquanto que nos documentos oficiais escrever-se-ia Rivail Hippolyte-Léon-Denizard.

    E, escrevendo certo, justo é se exija a pronúncia correta.

    Perdoem-nos os espíritas a exigência: é que não compreendemos não se saiba grafar e, menos ainda, pronunciar nome tão respeitável e que nos é sobremaneira caro. Seria uma falta de respeito. (ABREU FILHO, 1995, p. 9-10, grifo nosso)

    Nota-se que não são concordantes as opiniões de Washington Luiz e Júlio Abreu, quanto à questão da vírgula, embora, a deste último ter uma aparência de mais coerente, apesar de a forma proposta não ser exatamente a que consta da certidão de nascimento.

    Um pouco atrás falamos da dificuldade dos que se lançam a pesquisar os fatos em ter em mãos as fontes originais, o que hoje já não se justifica, porquanto, com todos os recursos de informática disponíveis, esses documentos já deveriam estar disponibilizados em algum site de alguma das Instituições que dizem representar o Movimento Espírita.

    Para se ter uma boa ideia, dessa dificuldade, vejamos, por exemplo, a certidão de nascimento de Allan Kardec. Apresentamos estes dois fac-símiles, constantes dessas obras que utilizamos:

    Embora os autores de Allan Kardec – Análise de Documentos Biográficos, Martins e Barros, não tenham mencionada a fonte da qual tomaram essa imagem, ao que descobrimos por gentil informação de um amigo, ela corresponde a arquivada nos Archives Municipales de Lyon ( iv ), apenas apresentam os caracteres mais “fortes”, provavelmente, por edição da imagem original, conforme se poderá ver no fac-símile, um pouco mais à frente.

    Em Allan Kardec – o educador e o codificador, vol. I, em “Adendo Esclarecedor (Novos detalhes históricos)”, os autores Wantuil e Thiesen, que a fonte utilizada foi a pesquisa realizada pela Srª Teresinha Rey, de Genebra Suíça.

    Comparando-se as duas imagens, vemos claramente que a fonte não pode ter sido a mesma, pois há diferença entre elas, especialmente, quanto à letra, que, embora seja muito semelhante não é a mesma. Fora a questão do local onde consta os selos. Fato que você, caro leitor, poderá pessoalmente constatar.

    O problema é que todos são utilizados como se fossem o original, o que nos fez lembrarmos da frase atribuída a S. Jerônimo: “A verdade não pode existir em coisas que divergem”.

    Apenas para que se possa comparar com o documento arquivado no Archives Municipales de Lyon, e aqui aproveitamos para agradecer ao amigo Carlos Seth Bastos, de Jacareí, SP, que nos informou sobre ele, trazemos o fac-símile dessa fonte (v). A página com a Certidão de Nascimento de Allan Kardec é a da sua direita:


    Certamente, que nem temos condições técnicas para apontar qual é a ordem correta; porém, mesmo assim arriscaríamos a dizer que, em princípio, seria a ordem utilizada pelo próprio Allan Kardec no seu testamento, por razões, bem simples, não acreditamos que escrevesse seu nome errado, porquanto, portador de uma considerável cultura, isso, segundo pensamos, o impediria de utilizar uma ordem diferente da real, porém… Ah!, sempre aparece um porém, o que apresentaremos a seguir demostrará, exatamente, o contrário.

    No apagar das luzes do ano de 2017, encontramos algo importante relacionado ao assunto, pois ele vem, inapelavelmente, definir qual o verdadeiro nome civil de Allan Kardec que devemos utilizar.

    A diplomata brasileira Simoni Privato Goidanich, escritora e expositora espírita, publicou a obra El legado de Allan Kardec, em espanhol (vi), que informa ter sido resultado de pesquisa na Biblioteca Nacional da França, nos Arquivos Nacionais da França, na Confederação Espiritista Argentina e na Associação Espiritista Constância, de Buenos Aires.

    Em 3 de outubro de 2018, Simoni Privato realizou a apresentação do livro na Confederação Espiritista da Argentina, cujo vídeo se encontra disponível no site do YouTube (9). A partir dos 39’’, ela aborda a questão do nome civil de Allan Kardec, informando que a divergência na forma de escrevê-lo, resultou num processo judicial, no qual, em 1º de maio de 1869, o Poder Judiciário Francês decidiu ser o seguinte: Denisard Hippolyte Léon Rivail. Isso pode ser muito bem ser confirmado nesta imagem apresentada pela Simoni Privato (9) na sua palestra (vii):


    Observamos que essa forma de escrever seu nome civil é bem próxima da que consta na Certidão de Nascimento e na Certidão de Casamento – extrato, mas que ainda permaneceu a divergência no segundo nome, que aqui é grafado “Hippolyte” e na certidão como “Hypolite”, portanto, estavam “quase” certos todos os confrades que citamos que defendiam ser esse o documento que deveria decidir a questão. Entretanto, não obedecem a ordem dos dois documentos assinados por Allan Kardec – Carta a Amélie Boudet e Testamento, onde o Hypolite aparece em primeiro lugar, e divergente em relação ao “y” e “pp”.

    E, para finalizar, gostaríamos de agradecer aos amigos que nos indicaram essa obra da Simoni Privato. Conforme suspeitávamos, em março de 2018 ela foi publicada pela USE – SP e CCEPD-ECM, na língua pátria.

    Nosso objetivo ao tratar do tema não foi o de contestar ninguém que já tenha escrito algo sobre esse assunto, estamos apenas juntando o resultado de 13 várias pesquisas realizadas, para que o leitor, ávido de conhecimento, possa tê-las reunidas num só lugar.

    Paulo da Silva Neto Sobrinho
    Mar/2012.
    Revisado em março de 2021

    Referência bibliográfica:

    (1) ABREU FILHO, J. O principiante espírita. São Paulo: Pensamento, 1995.
    (2) FERNANDES, W. L. N. Allan Kardec e o seu nome civil. in. Reformador, ano 118, nº 2052. Rio de Janeiro: FEB, março 2000, p. 24-28.
    (3) INCONTRI, D. e GRZYBOWSKI, P. (org) Kardec Educador. Bragança Paulista, SP: Ed. Comenius, 2005.
    (4) KEMPF, C. Nome Civil de Allan Kardec, informação enviada por Email na data de 14 mar. 2021.
    (5) LACHÂTRE, M. Allan Kardec in. COSTA NUNES, B. H et al. Em torno do Rivail.
    Bragança Paulista, SP: Lachâtre, 2004.
    (6) MARTINS, J. D. e BARROS, S. M. Allan Kardec: análise de documentos biográficos. São Paulo: Lachâtre, 1999.
    (7) RIZZINI, J. Kardec, irmãs Fox e outros. Capivari, SP: EME, 1995.
    (8) SETH, C. De Rivail a Kardec. (sites) Autores Espíritas Clássicos e Luz Espírita,
    disponível em: https://www.luzespirita.org.br/leitura/pdf/L180.pdf, Acesso em; 17 mar. 2021.
    (9) WANTUIL, Z. e THIESEN, F. Allan Kardec: o educador e o codificador, vol. I. Rio de Janeiro: FEB, 2004.
    (10) WANTUIL, Z. e THIESEN, F. Allan Kardec: o educador e o codificador, vol. II. Rio de Janeiro: FEB, 2004.
    (11) GOIDANICH, S. P. El legado de Allan Kardec – presentación en la Confederación Espiritista Argentina, https://www.youtube.com/watch?v=SddznxO66zE&t=823s. Acesso em 20 dez. 2017.
    (12) Archives Municipales de Lyon, Certidão de nascimento de Allan Kardec: http://www.fondsenligne.archives-lyon.fr/ac69v2/genealogie.php?mode=1, acesso em: 12 ago. 2018.

    Este texto foi publicado, numa versão anterior:
    Revista Espírita Histórica e Filosófica nº 28. Porto Alegre: Maria Carolina Gurgacz, set/2012, p. 4-15.
    Luz Espírita, disponível em:

    i Nota da Transcrição (N.T.): Henri Sausse - “Biographie d'Allan Kardec” (Nouvelle Édition), 1910, p. 12; 4me édition (1927), pp. 18 e 19.
    ii N.T.: idem, ibidem, p. 14; id. ib., p. 22.
    iii N.T.: O Dicionário não traz a data de publicação, nem no primeiro nem no segundo e último tomo. Ramiz Galvão coloca-lhe o aparecimento em 1865-1870.
    iv http://www.fondsenligne.archives-lyon.fr/ac69v2/genealogie.php?mode=1
    Passo a passo: Entrar no link: http://www.fondsenligne.archiveslyon.fr/ac69v2/genealogie.php?mode=1; Preencher formulário: Commune: Lyon; Type d’acte: Baptêmes ou Naîssances; Registre ou table: Registre; Année/Période: 1804 à 1804. Na janela que abrir, escolha o último registro: “Lyon – Division du Midi – Naissance – Registre – 1 vendémiaire an XIII
    (23/09/1804)-5è jour complémentaire an XIII (22/09/1805) – 2E110”, depois de aberta escolha a página 9.
    vi Em São Paulo, a 04.03.2018, no Seminário “150 anos de A Gênese – o resgate histórico” promovido pela União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo (USE-SP), em parceria com o Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo – Eduardo Carvalho Monteiro, Liga de Pesquisadores do Espiritismo (LIHPE) e Site Autores Clássicos Espíritas foi lançada a versão em português da obra (GOIDANICH, S. P. O Legado de Allan Kardec. São Paulo: Edição U.S.E./CCDP-ECM, 2018). Esse tema é tratado no capítulo 8, “A sucessão e a questão do nome civil de Allan Kardec”, p. 115-123.
    vii Na edição brasileira da obra, está na p. 125.