Médium: senhorita Chedeaux
20 de novembro de 1863
As Artes
Falemos das artes que elevam o espírito e os pensamentos das pessoas em direção ao belo e ao bem, pois a arte em si é a expressão e a reprodução de toda intuição bela e sempre divina, o belo que emana de Deus.
A pintura, que é a representação da natureza, deve ter sempre uma nitidez, um colorido perfeitamente exato, pois, representando a realidade, ela deve ser verdadeira e real!
Essa reflexão deu início à escola realista, que parece estar crescendo muito atualmente; mas vejam como o espírito humano não sabe ser ele mesmo, e como cede às influências inferiores que o arrastam.
Por que extrair da realidade apenas seu lado bruto e trivial? Por que não escolher temas elevados e reproduzi-los de maneira verídica? O belo não está ao seu redor, pobres humanos? No entanto, vários pintores estão começando a compreender melhor essa ideia realista, e isso ocorrerá com esta escola como acontece com toda ciência verdadeira. Após ter sido ignorada, exposta ao ridículo e mesmo zombada pela estupidez e pela ignorância de seus fiéis adeptos, ela sairá grande e bela da luta e dará à arte um aspecto novo e grandioso; admiraremos, então, o belo verdadeiro, e não o belo por convenção.
Isso também acontecerá com o Espiritismo, que, dando um passo imenso rumo à inteligência e à moral, levará os homens a admirarem a verdadeira moral e sua prática, e não a moral por convenção e sua aplicação hipócrita.
O que acabei de dizer sobre a pintura aplica-se à escultura, que é uma das representações da forma. Hoje, mais do que nunca, devemos buscar a perfeição no verdadeiro, pois apenas o verdadeiro é admirável. Aliás, a escultura é intimamente ligada à pintura, de modo que o que é dito para uma também o é para a outra, ambas irmãs.
A música, arte deliciosa e suave aos sentidos, é sem dúvida aquela que propicia os maiores devaneios da alma; é ela que eleva as pessoas às esferas celestes e as faz esquecer a terra; por meio dela, vocês se sentem mais leves, não tocam mais o chão, têm asas, voam ao infinito! Ela os faz provar sensivelmente o que o pensamento espiritual os faz provar espiritualmente: o desprendimento da terra.
A harmonia está em tudo, e a música propriamente dita é somente uma das formas da harmonia. Nas esferas mais etéreas, essa harmonia se generaliza, e os espíritos a experimentam por meio de todas suas faculdades.
/2/ O pensamento musical é uma espécie de elevação do pensamento humano. O compositor que traduz em música suas sensações, ou aquelas que ele atribui aos personagens cujas emoções ele representa, está sob uma influência espiritual, seja a sua própria, se ele estiver em estado de espiritualização, seja a dos espíritos mais avançados que ele. Vocês julgarão facilmente, de acordo com as obras dos compositores, o estado de avanço de seu espírito, pela beleza, pela clareza e pela elevação de sua interpretação musical.
Um compositor que esteja bem inspirado e que possua um espírito brilhante, feliz, sensato e decidido fará melodias brilhantes, felizes, claras e equilibradas ao mesmo tempo. Aquele que for terno, amoroso, gracioso e doce com todos transcreverá pensamentos encantadores de graça e de sentimentos. O sonhador, o nebuloso, o homem incompreendido oferecerá uma composição vaga, sem objetivo e pouco compreensível à massa de ouvintes. O espírito pretensioso, em busca de efeitos, fará bastante barulho, em meio ao qual vocês procurarão, sem sucesso, um pensamento expressivo. O espírito trabalhador e pouco avançado mostrará um trabalho bem-feito segundo as regras musicais, mas sem sentimentos, sem pensamentos, sem espiritualidade, se assim posso dizer, pois o sentimento musical é uma das faculdades particulares do espírito.
Já foi dito por outros espíritos a respeito da pintura, e aqui o repito para a música: o Espiritismo causará uma revolução nessas artes, pois ele, revolucionando o homem, dar-lhe-á um desenvolvimento maior, elevará todas as faculdades e lhe fornecerá uma direção verdadeira e simples, mas infinitamente mais pura e mais bela do que a que lhe foi dada até o presente.
O Espiritismo, espiritualizando o homem, espiritualizará todas as suas faculdades e o fará produzir obras superiores, e até mesmo espiritualizadas, eu diria, pois o espírito encarnado, representando e reproduzindo suas sensações e visões, só poderá reproduzir impressões celestiais.
Infelizmente, ainda não chegou o momento em que isso ocorrerá de modo generalizado, mas está chegando; muitos, sobretudo aqueles que sabem, estão trabalhando com ardor; estão iniciando seu estudo pessoal, buscando se tornar mestres de si mesmos, o primeiro estudo e a primeira vitória a ser conquistada, e então tudo virá em seguida.
Retomo meu tema para afirmar que a arte é um progresso, o qual não terá outros limites senão aqueles das faculdades do homem, pois a arte se detém na representação da forma e das sensações humanas.
O espírito liberto dos laços do corpo, vendo e sentindo com outras faculdades, compreenderá e trabalhará com outros instrumentos além dos que possui na Terra. Haverá, então, outros estudos e outra ordem de progresso.