terça-feira, 28 de setembro de 2021

Documentos inéditos desmentem suposta trama de Leymarie para adulteração dos livros de Kardec

Continuando as pesquisas acerca dos desdobramentos do movimento espírita logo após a desencarnação de Allan Kardec em 31 de março de 1869, a fanpage CSI do Espiritismo anunciou mais uma leva de documentos históricos inéditos que vêm ajudar a redesenhar a interpretação daquele cenário da nascente do Espiritismo; são cartas de personagens diretamente envolvidos em questões em voga nesse processo de compreensão da Historiografia da nossa doutrina, incluso Pierre-Gaëtan Leymarie (1827-1901) — que mais tarde viria a ser o principal responsável pela condição do legado do codificador espirita, cuja gestão seria bastante questionada. Esses documentos já estão sendo profundamente estudados, a fim de serem melhor contextualizados, mas num primeiro aspecto eles já podem referidos como mais uma substancial evidência para desmontar a recorrente tese de que os livros A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo e O Céu e o Inferno, ambos de Kardec, teriam sido adulterados e que justamente Leymarie seria o mentor desse possível crime. Em suma, Leymarie estava afastado de Paris (onde se encontrava o núcleo espírita) e bastante ocupado para poder tramar a dita adulteração.

"O que Leymarie e Bittard estariam fazendo entre 1869 e 1870? Podemos assegurar que estavam bem longe da polêmica questão levantada atualmente sobre as últimas edições de A Gênese e de O céu e o inferno, atualizadas por Allan Kardec." — resume a postagem do CSI do Espiritismo, dirigida por Carlos Seth, que também trabalha em parceira com a fanpage AKOL, de responsabilidade de Adair Ribeiro, e o site Obras de Kardec, de Luciana Farias.

Saiba mais em O caso a Gênese.

Por indicação dos pesquisadores brasileiros, o nosso confrade francês Charles Kempf foi em busca e então teve acesso a uma série de documentos guardados na sede dos Arquivos Municipais de Paris, na França, documentos esses desconhecidos de nossa geração, mas que agora vêm à lume corroborar com a ideia já levantada sobre o envolvimento de Leymarie com campanhas políticas, exílios e, por conseguinte, seu afastamento temporário das atividades do movimento espírita. Leymarie havia sido membro e médium da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas (o centro espírita fundado em 1 de abril de 1858 por Allan Kardec), mas também era um ativista político que lutava em prol das ideias republicanas, pelo que foi expulso do seu país bem em seguida ao golpe de estado de 1851, em que Napoleão III se autoproclamou imperador francês; de retorno à pátria é que conheceu a nova doutrina, descobriu-se médium e se tornou espírita.

Saiba mais sobre Leymarie na Enciclopédia Espírita Online.

Lote de documentos dos Arquivos Municipais de Paris

O primeiro documento publicado pelos pesquisadores foi uma carta de Leymarie ao Sr. Prévost, de Cempuis (comuna situada ao Norte da França) que aqui transcrevemos a tradução de alguns fragmentos. A apresentação deste documento foi feita assim pelos pesquisadores:

"Havíamos prometido em pelo menos três ocasiões [1, p. 80] [2-3] nos aprofundar no período pós-desencarne de Kardec [a]. Analisemo-lo, em alguns aspectos, até o início da comuna de Paris [b]. Comentaremos agora a primeira de quatro cartas de Leymarie ao Sr. Prévost [c]. Apresentaremos apenas alguns fragmentos em tradução livre, a partir da transcrição feita pelo colega Charles Kempf. A propriedade dos manuscritos é dos Arquivos Municipais de Paris."

Agora, os trechos que mais nos interessa dessa carta:

"Paris, 18 de agosto de 1870

"Senhor Prévost,

"Compartilhamos as mesmas ideias, tanto para o espiritismo quanto para as ideias patrióticas (...)

"Amigo, que progressão para a queda [d], e desde o plebiscito [e], que lição - eles votaram como cegos e Deus nos pune a todos conjuntamente (...)

"Venho, pois, de Pimprez, onde reside a minha pequena família (...)

"Queria explicar-lhes que o imperador, pelo plebiscito, pediu o direito de comandar os exércitos de terra e mar, além do direito de fazer guerra e que, votando sim, lhe haviam concedido o seu pedido (...)

"Enquanto isso, os prussianos marcham sobre Paris e nosso exército está recuando. Grandes cidades como Metz se curvam a 4 homens e um cabo (...)

"Nesse ínterim, vejo com pesar todos aqueles que não são retidos pela idade e pela família, e pensando nesta França nervosa, irritável e orgulhosa em sua essência, recupero a confiança e saberemos como expulsar os despotismos da Prússia e ao mesmo tempo do Império (...)

"Espalhar a educação abundantemente, habituar o campo à vida política, é a grande obra daqui para a frente, temos que ir trabalhar com rigor, os Espíritos já nos disseram muitas vezes (...) os arquivos do Sr. Kardec estão cheios dessas comunicações.

"Se por medo da passagem de tropas você precisa de algumas pessoas enérgicas, por favor, considere-me. Já que não temos armas em Paris, posso ser de alguma utilidade para você.

"Sr. Guilbert escreveu-me esta manhã de Rouen (...)

"Fiz um trabalho muito longo para a Revista Espírita sobre a relação do homem com a vida animal e sobre a inteligência originária das espécies mais humildes, subindo de degrau em degrau até o homem e depois ir além dele para ir como um Espírito para a erraticidade [4].

"Adeus, Sr. Prevost, em nome de minha família, do Sr. Bittard e nossos amigos em comum (...)

"P. G. Leymarie."

Fotografia da carta de Leymarie ao Sr. Prevost

Sobre essa correspondência, o comentário dos pesquisadores é este:

"Leymarie era de fato um republicano, envolvido em temas políticos e disposto à luta pelas suas ideias. Ainda visitava Paris, embora já em meados de 1870 não vivesse lá, mas em Pimprez [g], a mais de 100 km da capital, e a aproximadamente à mesma distância de Cempuis, onde morava o Sr. Prévost. Estava também envolvido com educação [f], conhecia os arquivos de Kardec, bem como o Sr. Guilbert e o Sr. Bittard, fundadores da Sociedade Anônima [para a continuação das obras espíritas de Allan Kardec]. Estava longe da administração, mas submeteu uma série de artigos à Revista Espírita, publicados entre setembro de 1870 e janeiro de 1871".

Notas:

[a] 31 de março de 1869
[b] 18 de março de 1871
[c] foram encontradas 4 cartas de 1870, além de uma de 1874 e outra de 1875
[d] queda do imperador, que aconteceria em 02/09/1870
[e] plebiscito que aprovou o 2º império
[f] já sabíamos da sua participação na Liga do Ensino, fundada por Jean Macé em 1866
[g] todas as demais cartas de 1870 são de Pimprez

Referências:

[1] https://www.luzespirita.org.br/index.php?lisPage=livro&livroID=57&fbclid=IwAR0k_SrPA8mjxuRucAyj8T75kj2JOfyZtcuZK4mYz7cOBVv6YYZEOv4Lu9s
[2] https://www.facebook.com/HistoriaDoEspiritismo/posts/1031803410916774
[3] https://www.facebook.com/HistoriaDoEspiritismo/posts/1032678604162588
[4] https://www.retronews.fr/.../1-septembre.../1829/3285371/17

Fonte:

CSI do Espiritismo
AKOL - Allan Kardec Online 

Obviamente que continua o mesmo questionamento em relação à gestão de Pierre-Gaëtan Leymarie à frente da Sociedade Anônima para a continuação das obras espíritas de Allan Kardec, na qual vemos um desvirtuamento doutrinário para acolher ideias estranhas ao Espiritismo (dentre as quais concepções místicas vindos do Roustainguismo e da Teosofia), além das apropriações indevidas da própria família Leymarie do que deveria compor um patrimônio espírita; no entanto, temos que salientar que estes novos documentos só são mais e mais evidências de que as acusações que lhe foram dirigidas na tese de adulteração dos livros de Kardec são infundadas e, mediante tal esclarecimento, o prolongamento dessas acusações saem do terreno das hipóteses para o de calúnia e difamação.

Saiba mais em O caso a Gênese.

Continua...


sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Eventos espíritas: programe-se e participe!

 

Sala de Leitura: lançamento do livro "Espiritismo: Religião Espírita sem dúvida" de Paulo Neto


A Sala de Leitura do Portal Luz Espírita acaba de receber mais uma contribuição para compartilhar gratuitamente com nossos amigos leitores. Trata-se do livro Espiritismo: Religião Espírita sem dúvida de Paulo Neto (Belo Horizonte, MG).

Esta obra vem bem em tempo de uma discussão, até de certo ponto muito acirrada, sobre a relação entre Espiritismo e Religião, quando algumas vozes dentro do movimento espírita se levantam em posição contrária à ideia de religiosidade na nossa prática doutrinária, inclusive algumas opiniões colocando a "tendência religiosa" do Espiritismo no Brasil como um fator de degradação da própria Doutrina Espírita. Basta ver a repercussão que gerou o livro Religião e Espiritismo: análise de novas fontes de informação, conforme ficou mais ou menos sintetizada na Live promovida pela ABRAPE com os autores daquela obra (Carlos Luiz, César S. Santos, Ery Lopes, Luís Jorge Lira Neto e Wanderlei dos Santos).

Consideramos a questão muito séria, pois, não devendo haver qualquer relação entre Espiritismo e Religião como alguns propõe, e pelo fato de que é público e notório que quase todos os espíritas conservam e manifestam uma forte religiosidade na sua prática espírita, então toda essa religiosidade seria, no mínimo, um desperdício de energia e, de alguma maneira, um deturpação doutrinária. Por outro lado, se é cabível, produtivo e até essencial que haja uma religiosidade dentro da prática espírita, então a falta disso resulta numa imperfeição gravíssima na própria conduta espírita. Ficamos com esta segunda opção.

Em acordo com ela, temos então a síntese do novo livro que oferecemos aos nossos confrades:


Espiritismo: Religião Espírita sem dúvida
Paulo Neto

Um apanhado geral de uma minuciosa pesquisa sobre a relação entre Espiritismo e Religião, pela qual o autor expõe claramente, ao mesmo tempo em que justifica essa conclusão, a ideia de justeza em se dizer que então temos bem definida a Religião Espírita dentro da Codificação da doutrina kardecista.

Além de explorar citações da obra de Allan Kardec, o livro reúne a opinião de vários estudiosos espíritas de notável reconhecimento para corroborar essa ideia de que do conjunto de caracteres da Doutrina Espírita encontra-se o melhor que se poderia pensar de uma religião natural, que, enfim, bem podemos chamar de Religião Espírita.

Clique aqui e baixe agora mesmo o PDF do livro Espiritismo: Religião Espírita sem dúvida de Paulo Neto.


quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Editorial Luz Espírita

Temos recebido muitas mensagens acerca da postagem contendo o artigo "Detestar o Espiritismo: Marx contra Kardec" (veja aqui), algumas dessas mensagens são elogiosas, outras nem tanto, algumas inclusive com um teor até ofensivo, contra o portal Luz Espírita e contra o articulista Carlos Luiz, que assinou aquela postagem e em quem reafirmamos nossa confiança. Dentre as críticas levantadas por alguns, a principal é a de que tanto o Portal quando o autor do artigo estariam fazendo politicagem, inclinados à apologia ao segmento do conservadorismo de direita, em franca oposição à esquerda. Outros, criticaram a nossa postagem sob a alegação que estamos contaminando a doutrina com um assunto que não lhe pertence, pois que não devemos misturar Espiritismo com Política. Sobre todas essas questões, oferecemos aqui a nossa explicação, contando com a bondade dos confrades para que leiam com atenção e espírito de isenção, porque enquanto motivados mais pela paixão (ainda mais do tipo de rancor) do que pela razão, é difícil um bom entendimento sobre as coisas.



Atual dicotomia política

Vivemos tempos de acirrada dicotomia, um espírito de divisão e adversidade sob traços de uma batalha fatal entre o bem e o mal, cada qual colocando suas ideologias no primeiro time (o time do bem) e quanto ao outro, o diferente, o inimigo, aquele que não compartilha das mesmas ideias, colocando-o no outro lado (o do mal) — o que julgamos de uma infantilidade impressionante; qualquer principiante em Política sabe que definições como direita e esquerda e outros rótulos não passam de joguetes do reino da politicagem para arrebanhar fanáticos e estabelecer dissenções de interesses somente para os que são cegos pelo poder. Em suma, segundo o espírito cristão adotado pela Doutrina Espírita, somos todos irmãos e de igual valor para Deus, que é o único acima de tudo e de todos.

Sobre a relação entre Espiritismo e Política — que nós pensamos não apenas  ser cabível, mas também absolutamente necessária e urgente  convidamos nossos leitores a observarem nosso posicionamento, explicitamente expressos em outros artigos, tais como: O Espiritismo e os protestos atuais"Eleições 2018: uma opinião espírita" por Ery Lopes"Espíritas na Política" em uma nova polêmica e "O espírita e a política" por Rogério Miguez. Diremos aqui apenas que a vida em sociedade é uma lei natural, que a Política é indispensável para a organização dessa vida social e que todos nós somos agentes políticos e cada qual tem, ao lado dos seus direitos de cidadão, suas obrigações no exercício de sua cidadania sob pena de omissão. Isso não implicar em efetivamente tomarmos partido, mas formarmos nossa consciência politica fundamentada nos valores espirituais (e não pensando tão somente nas urgências materiais).

Em suma, antes de definirmos a posição partidária, nossas opiniões sobre as questões políticas e o destino do nosso voto, devemos estabelecer os valores ético-morais e então submeter as opções políticas a esses valores — sem a fantasia de acreditar que, dado o nível evolutivo de nossa gente, haja um partido ou candidato que represente esses valores.


Nosso posicionamento político

Não temos paixão política por nenhum partido ou personalidade política, não somos nem de direita nem de esquerda: somos espíritas e tomamos para nós os valores espirituais em acordo com os ensinamentos da doutrina e com a nossa consciência.

Tomamos Deus como a causa primária, a referência para tudo em nossa vida, o que difere frontalmente de qualquer ideologia e comportamento baseados no materialismo, ateísmo e na urgência do bem-estar físico em detrimento dos compromissos espirituais (como é recorrente do positivismo, do marxismo e da dita corrente esquerdista), da mesma forma como difere completamente da hipocrisia de tomar o nome de Deus como bandeira politiqueira (como é recorrente da dita corrente direitista, conservadora).

Adotamos o espírito da fraternidade universal, que Jesus trouxe de maneira tão sublime, em oposição às ideologias separatistas, que rotulam pessoas e as colocam sob lados opostos, seja pela sua condição social, cultural, etc. Somos todos Espíritos, cada qual encarnados em certas condições para representar determinados papeis, quer por expiação, quer por prova, quer por missão, sendo esses papéis bastante voláteis.

Guiamo-nos pelo valor da vida e pelo respeito à dignidade humana, o que não coaduna com ideias do tipo justiça com as próprias mãos, tortura, pena de morte — bandeiras típicas dos que se dizem conservadores, direitistas  assim como não coaduna com a eutanásia e aborto (salvo na condição de iminente risco de vida à gestante) — campanhas dos ditos esquerdistas, progressistas e afins.

Somos a favor da liberdade de expressão e do questionamento racional Porém, somos absolutamente contrários à ofensa pessoal e ainda mais contrários à violência, qualquer que seja o pretexto.

Acreditamos no princípio da honestidade e da justiça como fundamentos essenciais para a gestão da coisa pública, sem privilégio para ninguém.

Então, como indivíduos e cidadãos, cada qual da Fraternidade Luz Espírita tem o livre direito de procurar um partido ou candidato que mais se aproxime com esses valores, mas a ninguém aqui é permitido fazer apologia desse ou daquele partido ou político ou, em nome da Luz Espírita, fazer campanha para qualquer chapa política.

A explícita rejeição ao comunismo marxista e doutrina afins demonstrada neste artigo de Carlos Luiz e em outros que publicamos não diz respeito diretamente à questão política ou econômica; não estamos tratando se o sistema econômico a ser adotado deva ser capitalismo, socialismo, comunismo ou qualquer outro; a rejeição se dá por conta da cultura materialista intrínseca nessa linha doutrinária, baseada em Karl Marx e simpatizantes. Em Marx, a questão é puramente material e o elemento espiritual é a pura alienação; sua doutrina naturalmente exclui Deus, mundo espiritual, Espiritismo e tudo quanto for espiritual; sua preocupação é o agora e já, pelo que vale todos os sacrifícios — inclusive a guerra e o extermínio dos "inimigos da revolução". A educação (verdadeira deseducação) dessa cultura (que, conforme a cartilha marxista, precisa ser imposta ao mundo mesmo à força) impõe a exclusão da espiritualidade e a urgência das necessidades revolucionárias. É, enfim, a semeadura do materialismo tanto alertado por Allan Kardec como o grande inimigo do progresso da humanidade. O verdadeiro bem-estar do homem e o progresso do nosso mundo não se dará pela riqueza material (inclusive, nada mais tentador e perigoso para o Espírito do que a bonança material) mas pela sua espiritualização, sua aproximação a Deus e a solidariedade para com todos os semelhantes, pois que quando estes valores estiverem norteando nossa sociedade, ela progredirá seja qual for a forma de Estado, o sistema de governo, o sistema econômico.

Não acreditamos em nenhuma revolução senão aquela completamente condizente com o preceito máximo da nossa doutrina: caridade. A propósito disto, confiamos na sabedoria, bondade e justiça divina e estamos convictos que todas as mazelas pelas quais passa nosso mundo nada mais são do que instrumentos para o nosso crescimento espiritual, convidando-nos a um paulatino aprimoramento intelectual e moral.

Lembremo-nos que o Espiritismo veio inaugurar a aurora da Nova Era, de regeneração do nosso planeta, e que os tempos são chegados para a separação do joio e do trigo; e ainda: que os discípulos de Jesus — o diretor planetário, que dirige esse processo de renovação — serão reconhecidos pela capacidade amar; que nós, espíritas, "os trabalhadores da última hora" na fala de Kardec, e falando mais especificamente dos espíritas de hoje, para nós, "os trabalhadores do último minuto", fica o convite desafiador de seguir o Cristo, com testemunho vívido em tudo o que fazemos.

Em nome de toda a Fraternidade Luz Espírita,

Ery Lopes


Calendário Histórico Espírita: aniversário de nascimento de Cairbar Schutel

 


Comemoramos hoje mais uma aniversário de nascimento de Cairbar Schutel, um dos mais notáveis vultos da História do Espiritismo, no Brasil e no mundo.

Veja o a sinopse de Cairbar Schutel na Enciclopédia Espírita Online:
Cairbar Schutel (Rio de Janeiro, 22 de setembro de 1868 - Matão, SP. 30 de janeiro de 1938) foi um farmacêutico, político e renomado jornalista, lembrado pelo Movimento Espírita como um dos grandes divulgadores do Espiritismo do começo do século XX. Escreveu reconhecidos livros espíritas e foi fundador de dois importantes veículos de comunicação doutrinária: o jornal O Clarim e a Revista Internacional de Espiritismo, pelo que é conhecido como "O bandeirante do Espiritismo".
Clique a aqui para acessar o verbete completo.

Saiba mais sobre o "Bandeirante do Espiritismo" pelo documentário a seguir:


Conheça uma das obras de Cairbar Schutel disponível em nossa Sala de LeituraA Vida no Outro Mundo, um clássico da literatura espírita publicado pela Editora O Clarim, aliás, editora fundada pelo próprio Schutel exclusivamente para propagar as luzes da codificação kardequiana.

A VIDA NO OUTRO MUNDOA VIDA NO OUTRO MUNDO
Cairbar Schutel
Como é a vida no além?
O senso comum, entre os que creem na sobrevivência espiritual pós-morte, julga um cotidiano abstrato, vago, como que nada houvesse que fazer no infinito que não contemplar as maravilhas dos céus e louvar ao Criador.
O nobre escritor Caibar Schutel foi pesquisar sobre esse tema e fez um apanhado de seu trabalho nesse livro, citando dados interessantes colhidos em diversas fontes.
Eis aqui a síntese dessa pesquisa e uma aula prévia de como poderemos encontrar a vida no outro mundo.



Clique aqui para baixar o livro em PDF.

Cairbar Schutel é, portanto, um nome de uma biografia extraordinária que merece ser lembrado com todo o carinho.

Ver mais datas históricas e eventos comemorativos relacionados ao Espiritismo na página Calendário Histórico Espírita.

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Setembro Amarelo: Suicídio de jovens e uma dose de "choque de realidade"


Se você é bem próximo de um adolescente (seu filho, sobrinho, neto etc.) e este apresenta ou já apresentou alguma manifestação minimamente favorável à ideia de suicídio, este recado é para você: é hora de uma boa reflexão sobre a possibilidade de uma dose de "choque de realidade".

Sim, é crescente o número de suicídio entre jovens, adolescentes e até crianças. Esta é uma terrível realidade de nossos dias e precisa ser encarada com muita seriedade e competência. Quanto à seriedade, diremos que envolve uma conscientização de que é preciso fazer algo, muito mais do que rezar, inclusive; sobre competência, enfatizamos que nenhuma terapia puramente psicológica ou psicanalista é suficiente: está é uma questão claramente espiritual e requer ser tratada com espiritualidade. E para tal fim, ignoramos outra doutrina que ofereça as ferramentas mais adequadas que o Espiritismo.

Lancemos então nosso olhar sobre o estilo de vida atual.


Realidade atual: materialismo prático

Salvo raríssimas exceções, os lares estão revestidos de um materialismo prático — embora muitos se declarem espiritualistas, crentes em Deus, cristãos até; tudo aí gira em torno das necessidades da vida atual, sob a ilusão da matéria, no ideário de que se é o corpo, que seu status social neste classifica seu verdadeiro valor e todas as decisões do cotidiano miram basicamente o bem-estar físico e material; quando se vai à missa, culto ou se pratica qualquer tipo de religiosidade, faz-se isso normalmente sob a perspectiva de estar cumprindo um "dever burocrático", como "bater o ponto", julgando-se ficar quite com suas "obrigações espirituais" e com Deus. Materialismo puro! O resultado disso é ausência de espiritualidade e, dessa forma, vazio existencial ou, pelo menos, grande fragilidade psíquica e emocional. Daí, qualquer probleminha é suscetível de se tornar uma desgraça — uma porta para o suicídio.

Crescendo num lar como este, que será das crianças?

Muitos teólogos — incluso "pensadores espíritas" — têm se preocupado de modo demasiado com o número cada vez mais alto de pessoas que se declaram ateias e, mais explicitamente, materialistas (materialistas no sentido clássico de materialismo = ideia de que tudo o que existe é tão somente originário da matéria e de seus efeitos fisioquímicos e, por exclusão, a negação de qualquer espiritual.). Esses teólogos e demais espiritualistas, portanto, têm se incomodado muito com estes índices, muito em função da crença de que a negação daqueles ditos ateus e materialistas seja uma "ofensa a Deus", uma "blasfêmia". Não é difícil imaginar haver aí certo rancor — ou coisa pior, tipo ódio mesmo — dos "tementes a Deus" contra os "hereges"; na Idade Média, algo assim era facilmente resolvido com uma fogueira em uma praça pública de um país dito cristão. Na cabeça destes, é preciso combater o ateísmo, é preciso combater o materialismo. Neste caso, o materialismo teórico.

De nossa parte, porém, pensamos que tão grave quanto o materialismo teórico é materialismo prático, pois, de que vale dizer-se espiritualista, deísta, cristão e comportar-se como um materialista?

Mas, voltemos a olhar as crianças e jovens.


Sofisticação intelectual, mas esvaziamento da vivência

Pergunte a qualquer criança, adolescente ou jovem de hoje sobre o que ela realmente gostaria de ser, em termos de ocupação, profissão; fora os que gostariam de simplesmente serem ricos para não precisarem fazer nada, nossa aposta é a de que quase todos dirão que gostariam de ser um dos chamados "influensers", ou "influenciadores digitais", como os blogueiros, youtubers e controladores de mídias de internet. No caso dos meninos, mais voltados para o mundo dos games, os jogos eletrônicos; já entre as meninas, para o universo da estética e da "azaração", do comportamento das relações amorosas e coisas afins.

Fonte: G1

Não vamos desprezar a utilidade do mundo game, nem beleza e tampouco das experimentações sociais, contudo, tudo isso não é muito pouco em relação aos nosso compromissos espirituais?

Sim, porque, em geral, são valores de bem pouco valor, pautados em uma virtualização da vivência, alicerçados em uma realidade fictícia, ilusória e alienatória — além de efetivamente viciante. De repente, com o advento da internet e massificação das mídias sociais, a vida dos jovens — principalmente estes, mas não apenas  passou a ser centralizada no que está "rolando" online.

Mas o ponto capital no qual almejamos tocar é este: qualquer destas opções supracitadas requer uma mínima perícia que as gerações anteriores ao mundo digital sequer faziam ideia, enquanto que as crianças comuns de hoje, desde a fase pré-adolescente já dominam com medonha disposição. Os games que os meninos de hoje em dia jogam são extraordinariamente realistas, sofisticados, requerendo dos jogadores habilidades excepcionais, tais como atenção, agilidade física, estratégia, memória e capacidade de escolhas efetivas e bem rápidas. Enquanto isso, no reino encantado das meninas, a coisa também não é menos avançada não: é todo um cabedal de recursos intelectuais impressionantes, porque é preciso lidar com várias combinações de formas, cores, tamanhos, ramificações de possibilidades e etc. Ou seja: os menininhos e menininhas de hoje têm um desenvolvimento consciencial já bem avançado em relação mesmo ao padrão que era a fase juvenil da geração de seus pais.


Alguns vão dizer que é um desenvolvimento precoce demais, uma "forçação de barra" e até extremamente prejudicial. Mas, em Espiritismo, nós aprendemos que à medida que os mundos evoluem, o período da infância de seus habitantes vai diminuindo e o despertar consciencial se desabrocha cada vez mais rapidamente. Este é um fenômeno normal. E a nossa sociologia já está registrando isso na Terra de forma muito palpável. Então, já dá para cobrarmos mais responsabilidades dos jovens sim! Um menino que sabe "zerar um jogo" (vencer todas as fases do jogo) de nosso tempo também já está habilitado a muitas tarefas da vida real, incluso tarefas domésticas; as meninas que já sabem teorizar métodos e métodos de embelezamento corporal e tão consultoria amorosa pela internet também já podem assumir maiores responsabilidades na convivência real.


Filhos novos, Espíritos velhos

Esse cenário nos remete a uma obra clássica da literatura espírita brasileira: o livro Nosso Filhos são Espíritos, do saudoso Hermínio C. Miranda. Ora, nossas crianças não têm nada de "anjinhos inocentes" e puros de coração; eles são Espíritos velhos, de muitas vivências, muitos deles trazendo de forma latente bastante malícia, artimanhas e inclinação para o acomodamento à boa-vida material. Se os pais lhes derem essa folgam, eles deitam e rolam mesmo! Nas palavras de Hermínio:

"Esses espíritos ou almas que nos são confiados, já embalados em corpos físicos, que nós mesmos lhes proporcionamos, através do processo gerador, não são criados novinhos, sem passado e sem história! Eles já existiam antes, em algum lugar, têm uma biografia pessoal, trazem vivências e experiências e aqui aportam para reviver e não para viver. Estão, portanto, renascendo e não apenas nascendo."
Nossos Filhos são Espíritos, Hermínio Miranda - cap. 2


Contudo, o que temos visto muito é os pais alimentarem o mito de que seus filhos sejam "exemplares novinhos em folha" vindo a este mundo e então os deixarem "brincar com a realidade virtual", tratando-os como criancinhas bobinhas e ainda se matando para atender aos caprichos dos pequeninos. E a moda agora é a chantagem emocional: filhos que não têm seus desejos satisfeitos pelos pais rebelam-se e se negam viver, não raro, ameaçando "punir o resto mundo" com o próprio suicídio.

Ah bom, e não só precisam ser satisfeitos pelos pais, precisam ser aceitos e reconhecidos dentro do mundo fictício em que vivem: o mundo digital. Daí, diante de qualquer infortúnio no reino virtual (o que ocorre com frequência, porque o bullyng é uma tônica da fase juvenil em nossa sociedade), esse mundo desaba — e de novo vem a negação em viver a vida real e, por conseguinte, o perigo do suicídio. Tudo isso porque são mentalidades, embora de sofisticado conhecimento, bastante frágeis emocionalmente, facilmente traumatizáveis.


Educação espiritual e choque de realidade

Está claramente faltando educação espiritual em nosso mundo atual. O materialismo — como já dissemos aqui — domina nossa sociedade. E as estatísticas mostram que cada vez menos os jovens se interessam por espiritualidade, e por com isso se afundam cada vez mais num vazio existencial.

Diante desse cenário, cumpre a todos os mais conscientes se esforçarem mais na semeadura das virtudes eternas e, especialmente nós espíritas, cuidarmos com maior atenção ainda das nossas crianças, sem forçar a barra, mas também sem subestimar suas capacidades. É preciso lhes falar da essência da vida, de onde viemos e para onde vamos, da realidade da morte e da reencarnação, dos verdadeiros super-heróis (as pessoas que dão a vida para uma causa justa) e dos compromissos que temos como Espíritos que somos aqui reencarnados para evoluir etc.

E para os que apresentam quaisquer tendências para o suicídio — especialmente aqueles que o fazem como chantagem emocional — aplicar uma boa dose de choque de realidade, falando-lhes das consequências desse ato, inclusive traçando-lhes o quadro fantástico — e terrível — do despertar daquele que fugiu da arena das provas físicas, do sofrimento perispiritual, da angústia causada pelo remorso, da possibilidade do ataque de Espíritos obsessores e zombeteiros, que não perdoam os suicidas; é bom lhes falar ainda das gravíssimas consequências do suicídio para as futuras reencarnações, notadamente na incidência de deformidades físicas de nascença etc. Por mais assustador que possa parecer tal quadro, não é menos monstruoso do que seria para os pais assistirem aos mesmos filmes e séries a que a turminha mais nova já está acostumada.

Em contrapartida, faz bem repensarmos toda a nossa forma de viver, de interagirmos familiarmente, estabelecendo uma melhor convivência com as crianças e jovens e participando mais de perto da vida deles. Vale também compartilhar com eles um pouco de game, um pouco de experimentações estéticas, um pouco de interação online etc. Ou seja, um pouco de tudo que seja bom; mas trazer também as crianças e jovens um pouquinho mais para o mundo real. Compartilhar serviços domésticos, experimentar juntos novas receitas de culinária, fazer pequenos reparos e melhorias na casa também conta; visitas externas (museus, monumentos e parques) são boas pedidas, sempre com boa troca de ideias, aproveitando para comentar com eles notícias e assuntos mais sérios, colocando em debate as opiniões de cada um etc., jamais perdendo a oportunidade de lhes lembrar que somos todos Espíritos e que aqui estamos para tocar nossa obra evolutiva pessoal.

Numa palavra: é preciso espiritualizar, fortificar a consciência com base nos valores eternos da espiritualidade  virtudes morais.


Quem sabe, possa ser uma boa hora para a leitura de outro clássico espírita: Memórias de um Suicida, ditado pelo Espírito Camilo Cândido Botelho, pela psicografia de Yvonne A. Pereira. Senão, talvez ainda melhor a família toda se reunir para ouvir a radionovela dessa obra disponível em vários canais da internet.



Enfim, pouco importa o que já fizemos contra o materialismo e o contra o suicídio: é preciso fazer mais — e melhor. Sejamos todos inspirados pelos bons Espíritos e motivados pela necessidade gritante de nossa realidade.

Se você concorda com essas sugestões, deixe seu comentário; se descorda, deixe sua versão também. Faz parte da dialética da vida.

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A propósito, aproveitamos para convidar a todos para um evento especial para o próximo domingo (26 deste setembro) exatamente a respeito do tema tratado aqui:

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"O que é mesmo Espiritismo", videopalestra com Ery Lopes


Por mais didático que tenha sido Allan Kardec ao formatar o Espiritismo, ainda paira no ar várias dúvidas acerca da própria definição dessa doutrina, questões essas que em certos casos até são motivações para polêmicas e acirradas frentes de ideias, por exemplo: se a Doutrina Espírita é ou não uma religião, se um umbandista ou qualquer praticante de uma outra corrente religiosa pode ou não se dizer também "espírita", etc. A respeito de tudo isso, compartilhamos com todos o vídeo da palestra "O que é mesmo Espiritismo?", proferida por Ery Lopes e transmitida ontem pelas mídias sociais do Centro Espírita Divino Mestre, de São José dos Campos - SP.

Então, para quem não viu e para quem viu e quer rever, segue a palestra:
"O que é mesmo Espiritismo?", com Ery Lopes:



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segunda-feira, 13 de setembro de 2021

"Detestar o Espiritismo: Marx contra Kardec", por Carlos Luiz



Recebemos e compartilhamos com todos o artigo seguinte, assinado pelo nosso confrade Carlos Luiz (Fortaleza, Ceará), diretor do Grupo Marcos.


Detestar o Espiritismo: Marx contra Kardec

Karl Marx, conforme documento histórico registrado (MANUSCRITO, 2020), afirma detestar o Espiritismo. Mas, estaria certo Allan Kardec em ter atraído o ódio marxista por alertar a Humanidade dos perigos que ela corria ao adotar suas ideias? Afinal, as denúncias do codificador atraíram o ódio e o desprezo dos revolucionários materialistas.

Primeiro vejamos as duras críticas de Allan Kardec às doutrinas materialistas, inclusive as marxistas e positivistas. Pois, apesar das mentirosas promessas que essas doutrinas sempre fizeram de implantar o paraíso na Terra, são doutrinas geradoras do caos e da desordem social. Essa advertência foi realizada para uma assembleia, em 1862, composta por membros de todas as classes sociais. Para Kardec, marxismo, o positivismo (fundamentado no kantismo) e as outras crenças materialistas embrutecem o ser humano.

Em suma, a ideia materialista é eminentemente favorável à satisfação de todos os apetites brutais. Na incerteza do futuro, o homem se diz: Gozemos sempre o presente; que me importam os semelhantes? Por que me sacrificar por eles? Dizem que são meus irmãos; mas de que me servem irmãos que não verei mais? que talvez amanhã estejam mortos e eu também? Que seremos, então, uns para com os outros? Nada, se uma vez mortos nada resta de nós. De que serviria impor-me privações? que compensação resultaria para mim, se tudo acaba comigo?
[…] O materialismo veio minar toda crença, subverter toda base, toda razão de ser da moral e solapar os próprios fundamentos da sociedade, proclamando o reino do egoísmo. Então os homens sérios se perguntaram para onde um tal estado de coisas nos conduziria; viram um abismo, e eis que o Espiritismo veio preenchê-lo, dizendo ao materialismo: Não irás mais longe, pois aqui estão fatos que provam a falsidade de teus raciocínios. O materialismo ameaçava fazer a sociedade mergulhar em trevas, dizendo aos homens: O presente é tudo, porquanto o futuro não existe. O Espiritismo vem restabelecer a verdade, afirmando: O presente nada é, o futuro é tudo, e o prova.” (KARDEC, 2005, p. 23-24, grifo nosso)

Teria sido falta de caridade prevenir a humanidade dos enganos do kantismo, do positivismo e do marxismo? Não. Na verdade, Kardec teria negado seus valores cristãos se tivesse, por um instante, apoiado ou sido conivente com a doutrina marxista ou suas similares, pois os males por elas causado a Humanidade — previstos por Allan Kardec e Léon Denis  são assombrosos.

Infelizmente, foi necessária uma destruição inimaginável ao longo do século XX para que não restassem dúvidas. Kardec agiu caridosamente ao nos alertar: o marxismo e similares podem levar a sociedade mergulhar em densas trevas e hoje, mais do nunca, as sentimos em nossa volta.

Em uma das pesquisas das mais sérias já realizadas sobre a destruição provocada pelo comunismo no século XX, publicada na obra, Livro Negro do Comunismo, contatamos ainda na introdução, algumas informações que assombrariam até um aprendiz de demônio:

“O comunismo cometeu inúmeros [crimes]: inicialmente, crimes contra o espírito, mas também crimes contra a cultura universal e contra as culturas nacionais. Stalin ordenou a demolição de centenas de igrejas em Moscou; Ceaucescu [ditador comunista romeno que esteve no poder entre 1965 a 1989] destruiu o coração histórico de Bucareste para construir edifícios e traçar perspectivas megalomaníacas; Pol Pot [ditador comunista no Camboja entre 1975 -1979] fez com que fosse desmontada pedra por pedra a Catedral de Phnom Penh e abandonou à selva os templos de Angkor; durante a revolução cultural maoísta [movimento revolucionário entre 1966-1976], tesouros inestimáveis foram quebrados ou queimados pelas Guardas Vermelhas. Entretanto, por mais graves que tenham sido essas destruições, a longo prazo, para as nações envolvidas e para a humanidade inteira, em que medida elas pesam em face do assassinato em massa de pessoas, de homens, de mulheres, de crianças?” (COURTOIS, 1999, p. 7)

Em seguida, o organizador do estudo apresenta os números dos assassinatos cometidos pelos regimes comunistas, acredita-se que eles podem ser ainda maiores:

- URSS, 20 milhões de mortos,
- China, 65 milhões de mortos,
- Vietnã, 1 milhão de mortos,
- Coreia do Norte, 2 milhões de mortos,
- Camboja, 2 milhões de mortos,
- Leste Europeu, 1 milhão de mortos,
- América Latina, 150.000 mortos,
- África, 1,7 milhão de mortos,
- Afeganistão, 1,5 milhão de mortos,
- Movimento comunista internacional e partidos comunistas fora do poder, uma dezena de milhões de mortos.
O total se aproxima da faixa dos cem milhões de mortos. (COURTOIS, 1999, p. 7-8)

Tais crimes nos fazem pensar na seriedade do trabalho de Allan Kardec e indagar o quanto ainda precisaremos sofrer para considerar com toda a seriedade os ensinos espíritas. Caso tivéssemos, nós, Humanidade, compreendido o capítulo dois de O Evangelho Segundo o Espiritismo, mais de 100 milhões de mortes, causados propositalmente, por meio da fome, da tortura física e emocional teriam sido evitadas no século XX. Será que entendemos que os princípios espíritas não são meros temas para debates supostamente intelectuais? Existem impactos reais na mensagem do Cristo: "Meu Reino ainda não é deste mundo". Essa é a fórmula anticomunista por excelência.


A vida futura

Para Kardec, diferindo dos que valorizam o “ser feliz agora”, o futuro deve estar entre as principais ocupações do ser humano na Terra. Esse é o ponto central do Cristianismo e do Espiritismo: a continuidade da vida e a justiça de Deus.

Apenas quando definimos nossa realidade atual como uma breve etapa de um processo sem fim, poderemos valorizar a oportunidade da existência para conquistar da verdadeira felicidade — que será no futuro. Amadurecer espiritualmente é avaliar a existência, diariamente, do ponto de vista da vida futura. Sem entender o sentido espiritual da vida, confundiremos os valores do Evangelho e as teses comunistas que, sem sabermos, já dominam parte do movimento espírita e que, possivelmente, continuarão a causar outros tantos milhões de assassinatos, porque, para os seguidores de Karl Marx, como afirma o aplaudido historiador comunista Eric Hobsbawm, em entrevista ao escritor e intelectual canadense Michael Ignatieff, os milhões de assassinatos se justificariam, se o projeto comunista fosse bem sucedido. Uma doutrina que cogita justificar milhões de assassinatos brutais pode ser considerada anticristã e antiespírita.

Segue trecho de entrevista:

Ignatieff: Em 1934, milhões de pessoas estavam morrendo na experiência (comunista) na União Soviética. Se você soubesse disso, na época, teria fez a diferença para você ? Para seu compromisso de ser comunista?
Hobsbawm: ... Provavelmente não.

Ignatieff: Porquê?
Hobsbawm: Porque em um período no qual, como você poderia imaginar, assassinato em massa e sofrimento em massa são absolutamente universal, a chance de um novo mundo nascer em grande sofrimento ainda teria sido que vale a pena apoiar... Os sacrifícios foram enormes; eram excessivos por quase todos os padrões e excessivamente grande. Mas agora estou olhando para trás, o que digo é que a União Soviética não foi o começo da revolução mundial.

Ignatieff: O que você em síntese está dizendo é que se um radiante amanhã tivesse sido realmente criado, a perda de quinze, vinte milhões de pessoas seria uma justificativa válida?
Hobsbawm: Sim.
(EVANS, 2019, p. 590-591. grifo nosso, tradução nossa) [1]

Não nos iludamos, muitos brasileiros conseguem ser marxistas e espíritas e vinculam-se espiritualmente a esses assassinos. Mas, sabemos, conforme ensina o Cristo, é que não é possível servir a dois senhores… A verdade é que em nosso mundo inferior temos uma extraordinária habilidade em trair o Cristo, utilizando as mais “nobres” desculpas. A pergunta que devemos fazer, ensina Kardec, é simples: qual será a consequência para minha futura vida se eu adotar a moral marxista disfarçada da moral do Cristo? Posso adotar a moral marxista ou qualquer variação dela e na vida futura ser considerado discípulo da Verdade? Kardec, após explicar a que a vida futura é o verdadeiro parâmetro, nos apresenta uma referência moral verdadeira e, como você pode imaginar, não é Karl Marx. É alguém que ele chama de Rei.


A realeza de Jesus

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no item "A realeza de Jesus", cita Kardec uma frese do Cristo: "Eu sou Rei, mas meu reino não é deste mundo." O que isso significa? Primeiro Kardec explica: "o mais importante é a vida futura"; depois mostra: "Jesus é o rei da vida futura". A conclusão: é mais inteligente ser servo do Rei da vida futura. Mas, alguns preferem, para parecer inteligentes, servirem os reizinhos da Terra, como Marx e os movimentos sociais que o seguem.

Temos nesse capítulo um mapa mental, ou melhor, o mapa da mina. O querido educador tira o véu e nos faz ver a verdadeira estrutura social e em seu ápice está o Cristo. Isso não é mera teoria especulativa, são dados reais para que orientemos nossa atual existência.

Permita-me um exemplo. Imagine chegar em uma cidade estranha e muito diferente da sua… Pode ser perigoso você agir de uma forma inapropriada, ofender alguém, tentar ajudar e fazer o mal… É indispensável entender como aquela cidade se organiza, o que ali se considera importante, o que é nobre, o que é inadequado, quais são seus reais problemas, quais são os falsos problemas, quem mente, quem é confiável… Assim é nossa situação em um mundo confuso. Alguns dizem querer fazer o bem e geram 100 milhões de assassinatos… Outros defendem a liberdade, mas impõe suas opiniões… Kardec, de forma honesta diz: estes mentem. Os que divulgam o materialismo, o apego as paixões embrutecidas mentem ao dizer que querem melhorar o mundo. Por que Kardec diz isso? Porque ele entendeu a verdadeira organização da sociedade, sua hierarquia e suas leis. Portanto, dizer: Jesus é o verdadeiro rei do mundo, é esclarecer que quem ensina algo diferente, ainda que se disfarce com propostas aparentemente elevadas, é mentiroso. É profeta falso.


Infantilismo materialista

Os materialistas são classificados por Kardec, no item "O Ponto de Vista", no capítulo que estudamos, como seres de mentalidade infantil. Essa é uma verdade maior do que se pode imaginar e, muitas vezes, trata-se de um infantilismo perverso e destrutivo:

“Pela simples dúvida sobre a vida futura, o homem concentra todos os seus pensamentos na vida terrena. Incerto do porvir, dedica-se inteiramente ao presente. Não entrevendo bens mais preciosos que os da terra, ele se porta como a criança que nada vê além dos seus brinquedos e tudo faz para os obter.” (KARDEC, 2003, p. 48)

Como vimos no início, o “tudo faz para obter os bens da terra” inclui mentiras, intrigas, torturas e milhões de assassinatos de homens, mulheres e crianças… Por maior que seja a cultura ou inteligência destes indivíduos, eles agem como seres demoníacos, isto é, revoltados. São manipuladores hipócritas que ora destroem impiedosamente o próximo, ora apresentam-se com vítimas do mundo. Para eles, o que importa é obterem os bens da Terra.

No movimento espírita, as ideais originárias do marxismo e seus disfarces têm ganhado espaço. Muitos incautos não entendem as artimanhas dos lobos disfarçados de cordeiros que “caridosamente” querem corrigir Kardec, torná-lo mais “atual”, alinhado com o comunismo cultural, sempre, motivados pela bondade e pela ternura. Lembremos o dramático depoimento de uma Realeza Terrena.

“Para preparar um lugar nesse reino são necessárias a abnegação, a humildade, a caridade, a benevolência para com todos. Não se pergunta o que fostes, que posição ocupastes, mas o bem que fizestes, as lágrimas que enxugastes.” (KARDEC, 2003, p. 50-51)

Enxugar lágrimas, é preciso dizer, é totalmente diferente de assassinar milhões de pessoas em nome do bem. Um marxista não pode, por definição, ter benevolência para com todos, pois sua doutrina — semelhante a das seitas religiosas fanáticas — o manda odiar a tudo que o contraria. É necessário odiar a classe burguesa, o ‘preconceituoso”, o machista… A lista é quase infinita e aumenta sempre, enfim, é obrigatório odiar a quase todos. Além disso, há algo mais sutil, muitas vezes ignorado no movimento espírita: a benevolência para com todos.

Aqueles que pregam a construção de um mundo feliz a ser conquistado por meio de métodos desumanos como calúnias, mentiras, desprezo e assassinatos cruéis, ainda que camuflados de bondade, são opositores de Kardec e do Cristo, ainda que se digam espíritas.

Por isso, é importante repetir a advertência de Kardec a todos os seguidores e simpatizantes do marxismo e suas variações: vocês estão proclamando o reino do egoísmo e trabalhando para fazer sociedade mergulhar em trevas. Ainda que ajam disfarçadamente, serão responsabilizados. O Cristo é o verdadeiro rei deste mundo e ele sempre condenou a sensibilidade hipócrita dos saduceus e fariseus, senhores da pureza ritual, que hoje usam o manto do politicamente correto, versão moderna da hipocrisia antiga, para ‘ressignificar’ a verdade e destruir outros tantos milhões de vidas. A maldade, que pode gerar recompensas terrenas, mas nunca é recompensada no Reino.
Carlos Luiz


Bibliografia

COURTOIS, Stéphane e outros. O Livro Negro do Comunismo: crimes, terror e repressão. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999. Tradução: Caio Meira.
EVANS, Richard J. Eric Hobsbawm: A Life in History. Nova York: Oxford University Press, 2019.

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. São Paulo: Editora LAKE, 2003. Tradução: José Herculano Pires.

KARDEC, Allan. Viagem Espírita em 1862 e Outras Viagens. Brasília: Editora FEB, 2005. Tradução Evandro Noleto Bezerra.

MANUSCRITO de Karl Marx e o que ele pensava do Espiritismo. Luz Espírita, 2020. Disponível em: https://espiritismoemmovimento.blogspot.com/search?q=marx. Acesso em: 5 de junho de 2021.


[1] Ignatieff: In 1934, millions of people are dying in the Soviet experiment. If you had known that, would it have made a difference to you at that time? To your commitment? To being a Communist? Hobsbawm: . . . Probably not. Ignatieff: Why? Hobsbawm: Because in a period in which, as you might imagine, mass murder and mass suffering are absolutely universal, the chance of a new world being born in great suffering would still have been worth backing . . . The sacrifices were enormous; they were excessive by almost any standard and excessively great. But I’m looking back at it now and I’m saying that because it turns out that the Soviet Union was not the beginning of the world revolution. Had it been, I’m not sure. Ignatieff: What that comes down to is saying that had the radiant tomorrow actually been created, the loss of fifteen, twenty million people might have been justified? Hobsbawm: Yes.

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