quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

"Vida Após a Morte" nova série documentário da Netflix


A plataforma de filmes e séries Netflix publicou um trailer da série documentário que ela está anunciando para estrear dia 6 de janeiro: ‘A Vida Após a Morte‘ (versão aportuguesada do original em inglês Surviving Death), série baseada no best-seller da jornalista Leslie Kean, focado em depoimentos de pessoas que morreram e voltaram à vida.

Ao longo de seis episódios, a série investigativa explora a possibilidade de vida além-túmulo a partir de relatos de pessoas que se envolveram em fenômenos como Experiência de Quase-Morte (EQM), transe mediúnico e reminiscências de vidas passadas, contendo comentários de cientistas, médiuns, especialistas em paranormalidade e psiquiatras infantis.

Veja a seguir o trailer divulgado:


A Vida Após a Morte na Netflix.

Lembrando que a estreia será dia 6 de janeiro de 2021.

Luz Espírita em pauta na entrevista com Ery Lopes por Bruno Tavares

No último sábado (dia 26 de dezembro) o canal no YouTube do comunicador espírita Bruno Tavares, de Recife, Estado de Pernambuco), promoveu a derradeira entrevista do ano de 2020, tendo como convidado Ery Lopes, um dos articuladores do nosso Portal Luz Espírita; por ocasião disso, as nossas atividades de estudo, pesquisa e divulgação do Espiritismo foram ali pautadas com destaque, ao lado de questões diversas sobre o movimento espírita e conceitos doutrinários, por exemplo: controvérsias e polêmicas atuais (O caso A Gênese, suposição de adulteração de O Céu e o Inferno, revelações de reencarnações de celebridades espíritas, etc.), o ideário de Jesus no Espiritismo e muito mais.

Em razão disso, sugerimos a todos os nossos confrades assistirem à entrevista cujo vídeo encontra-se disponível na janela abaixo:

Veja outras entrevistas do canal de Bruno Tavares no YouTube e também não deixe de conferir seu blog.


segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Feliz Ano Novo


 Especialmente aos confrades que têm acompanhado nosso trabalho, remetemos essa mensagem com vibrações positivas para um Ano Novo repleto de realizações e aquisições espirituais.

Um feliz 2021,
são os votos de toda a equipe Luz Espírita

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Feliz Natal

 

A Equipe Luz Espírita deseja a todos uma excelente celebração de Natal, na expectativa que o aniversariante de honra — Jesus — seja bastante festejado, e que em cada coração brote cada vez mais a consciência da necessidade de nossa constante renovação espiritual no sentido de compreendermos melhor e executarmos com mais eficiência o mandamento cristão, que é a base do nosso curso evolutivo: "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo".

Um Feliz Natal a todos!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

"Soul", imortalidade da alma e reencarnação na nova animação da Disney-Pixar


Conforme nós já havíamos anunciado em nossos canais (ver aqui), a Disney e os estúdios da Pixar produziram um desenho animado que, pelo trailer, parece muito sugestivo para espíritas e espiritualistas em geral: Soul, cuja estreia prevista para o cinema foi cancelada devido a pandemia de covid-19, será lançado mundialmente através da plataforma de vídeo por streaming Disney+ no próximo dia 25, ou seja, exatamente no dia do Natal, o que não deixa de ser um bom presente para a família, não? É a nossa expectativa, tomando por base a chamada principal do filme, em que temos a interessante citação: "A descoberta de um novo mundo vai te ensinar a viver a melhor versão de sua vida.".

Confira o trailer:


Morte, imortalidade da alma e reencarnação são temperos dessa surpreendente aventura, tal porque o filme pode ser uma excelente oportunidade para pais e filhos, além de se divertirem, possam conversar sobre os valores espirituais. Assim, vamos ficar atentos a este lançamento.



Só lembrando, a estreia é dia 25 de dezembro, exclusivamente pelo Disney+.

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sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

"Controvérsias no Espiritismo e a tal pureza doutrinária" - série Espiritismo sem misticismo


Já publicado mais um vídeo da série Espiritismo sem misticismo, produzida pelo canal Luz Espírita. Desta vez, o tema central é "Controvérsias no meio espírita e a tal pureza doutrinária", abordando questões como:

- Por que há tantas controvérsias sobre a Doutrina Espírita?

- Por que todos os espíritas não se entendem de uma vez por todas?

- Por que há tantas críticas e até intrigas entre confrades da mesma causa?

Assista ao vídeo pela janela a seguir:

Confira outros vídeos da série:

"TUDO SOBRE ESPIRITISMO EM 5 MINUTOS"
https://www.youtube.com/watch?v=i-O8uDXawUI

"O ESPIRITISMO É ECUMÊNICO, MAS NÃO É SINCRÉTICO"
https://www.youtube.com/watch?v=lDMFjp4lN14

"O ESPIRITISMO SERVE PARA VOCÊ?"
https://www.youtube.com/watch?v=tnJfCmuqr6g

ESPIRITISMO E POLÍTICA
https://www.youtube.com/watch?v=YdneNHthfbE


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Sala de Leitura: lançamento de "A Sociedade de Paris" de Florentino Barrera


Nossa Sala de Leitura acaba de receber mais um clássico da literatura espirita internacional: A Sociedade de Paris, do nosso saudoso confrade argentino Florentino Barrera. Veja a sinopse do livro:

A SOCIEDADE DE PARIS
Florentino Barrera

Um apanhado histórico e uma reflexão do papel crucial que teve a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas - SPEE no conjunto da obra do seu fundador, Allan Kardec, no desenvolvimento da Codificação do Espiritismo, além de informações interessantes da Sociedade depois da desencarnação do seu fundador.

O livro contém ainda uma seção de anexos, dentre os quais, documentos e comentários da SPEE e suas relações com outros órgãos espíritas de seu tempo.

Este lançamento é uma coprodução dos parceiros Autores Espíritas Clássicos, CSI do Espiritismo e Luz Espírita, com tradução de Teresa de Espanha, notas de Carlos Seth Bastos e revisão de Ery Lopes e Wanderlei dos Santos.

Clique aqui para baixar o PDF de A Sociedade de Paris de Florentino Barrera.

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terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Campanha Natal com Jesus


Portal Luz Espírita está levantando a campanha para a promoção do verdadeiro significado das festividades natalinas, que é exatamente a comemoração do nascimento de Jesus de Nazaré e Cristo, Messias enviado por Deus para renovar a Humanidade.

Não é, portanto, nenhuma inovação, mas um resgate, uma vez que o sentido desta data tão sublime tem sido deturpada, redirecionando seu significado para propósitos materialistas, ornados com símbolos e slogans totalmente desconexos com esse maravilhoso momento de excelsitude espiritualista.

Ajude-nos a divulgar essa ideia compartilhando com a hashtag

#NatalComJesus

Saiba mais clicando aqui


"O Pensamento é matéria? É quântico?", por Alexandre Fontes da Fonseca


A questão sobre o pensamento ser matéria é analisada aqui sob enfoque doutrinário e científico. Analisaremos os conceitos associados à palavra “pensamento” distinguindo a ideia de informação associada à origem do pensamento, da ideia de matéria associada ao produto e veículo de transmissão do mesmo. Explicaremos a afirmativa de André Luiz de que o pensamento é matéria. Mostraremos, com base na Doutrina Espírita, que o processo de transmissão de pensamento não é um fenômeno quântico no sentido da não-localidade.

Boa parte das dúvidas e polêmicas sobre determinado assunto decorre do entendimento diversificado que as pessoas possuem sobre o que está sendo estudado ou debatido. Isso nos remete à questão sobre a clareza da linguagem enfatizada por Kardec e pelos Espíritos superiores na Codificação. No item I da Introdução de O Livro dos Espíritos [1], a respeito dos vocábulos espírita e espiritismo, Kardec diz: “Para se designarem coisas novas são precisos termos novos. Assim o exige a clareza da linguagem, para evitar a confusão inerente à variedade de sentidos das mesmas palavras.” (Grifos nossos). Os Espíritos superiores, em resposta à questão número 28 de O Livro dos Espíritos [1], disseram que “As palavras pouco nos importam. Compete-vos a vós formular a vossa linguagem de maneira a vos entenderdes. As vossas controvérsias provêm, quase sempre, de não vos entenderdes acerca dos termos que empregais, por ser incompleta a vossa linguagem para exprimir o que não vos fere os sentidos.” (Grifos nossos). 

Neste artigo, sob a orientação acima dos Espíritos superiores, pretendemos analisar uma questão de enorme interesse no Movimento Espírita que é o pensamento. Analisaremos diversas explicações dadas pelo codificador para o pensamento e sua forma de transmissão. Explicaremos com base na Doutrina Espírita, a afirmativa de André Luiz de que o pensamento é matéria. Discutiremos se o pensamento ou sua forma de transmissão seriam quânticos no sentido de possuírem características não-locais.


O “PENSAMENTO” SEGUNDO A DOUTRINA ESPÍRITA

Na Codificação, podemos distinguir dois significados diferentes para a palavra “pensamento”. Um deles relaciona a palavra pensamento à ideia de informação enquanto que o outro relaciona o pensamento à ideia de matéria. Ambas situações não significam que o pensamento apareça definido como sendo somente informação ou somente matéria. Ressaltamos a existência dessas duas características do pensamento (informação ou matéria) em diversos comentários e explicações doutrinárias, e apesar da diferença substancial entre elas, analisamos a origem de cada uma esclarecendo as controvérsias decorrentes do entendimento equivocado dessa questão. Transcreveremos algumas citações de Kardec separando-as em dois grupos de acordo com o conceito associado à palavra pensamento.


1 – PENSAMENTO – INFORMAÇÃO

De O Livro dos Espíritos [1] destacamos as seguintes passagens: 

Item V da Introdução: “Em certos casos, as respostas revelam tal cunho de sabedoria, de profundeza e de oportunidade; exprimem pensamentos tão elevados, tão sublimes, que não podem emanar senão de uma Inteligência superior, impregnada da mais pura moralidade.”

Item XIII da Introdução: “Os Espíritos superiores não se preocupam absolutamente com a forma. Para eles, o fundo do pensamento é tudo.”.

Frase contida no primeiro parágrafo da questão 100 sobre Escala Espírita: “Para eles, o pensamento é tudo.”

Comentário de Kardec à questão 462: “Se fora útil que pudéssemos distinguir claramente os nossos pensamentos próprios dos que nos são sugeridos, Deus nos houvera proporcionado os meios de o conseguirmos, como nos concedeu o de diferençarmos o dia da noite. (...)” 

Comentário de Kardec à questão 662: “O pensamento e a vontade representam em nós um poder de ação que alcança muito além dos limites da nossa esfera corporal. (...)” 

Questão 835: Será a liberdade de consciência uma consequência da de pensar?
“A consciência é um pensamento íntimo, que pertence ao homem, como todos os outros pensamentos.”

Do Livro A Gênese [2], destacamos as seguintes passagens:

Item 14 do Cap. XIV: “Para os Espíritos, o pensamento e a vontade são o que é a mão para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem àqueles fluidos tal ou qual direção, os aglomeram, combinam ou dispersam, organizam com eles conjuntos que apresentam uma aparência, uma forma, uma coloração determinadas; (...). É a grande oficina ou laboratório da vida espiritual. (...) Por análogo efeito, o pensamento do Espírito cria fluidicamente os objetos que ele esteja habituado a usar.”

Item 16 do Cap. XIV: “Sendo esses fluidos o veículo do pensamento e podendo este modificar-lhes as propriedades, é evidente que eles devem achar-se impregnados das qualidades boas ou más dos pensamentos que os fazem vibrar, modificando-se pela pureza ou impureza dos sentimentos.”

Todos os grifos em negrito foram feitos por nós. 


2 – PENSAMENTO – MATÉRIA 

De O Livro dos Espíritos [1] destacamos as seguintes passagens:

Item XIV da Introdução: “Livres da matéria, a linguagem de que usam entre si é rápida como o pensamento, porquanto são os próprios pensamentos que se comunicam sem intermediário.”

Questão 89: Os Espíritos gastam algum tempo para percorrer o espaço?
“Sim, mas fazem-no com a rapidez do pensamento.”

Comentário de Kardec à questão 92a: “Cada Espírito é uma unidade indivisível, mas cada um pode lançar seus pensamentos para diversos lados, sem que se fracione para tal efeito. Nesse sentido unicamente é que se deve entender o dom da ubiquidade atribuído aos Espíritos. (...)”

Questão 282: Como se comunicam entre si os Espíritos?
“Eles se veem e se compreendem. A palavra é material: é o reflexo do Espírito. O fluido universal estabelece entre eles constante comunicação; é o veículo da transmissão de seus pensamentos, como, para vós, o ar o é do som. É uma espécie de telégrafo universal, que liga todos os mundos e permite que os Espíritos se correspondam de um mundo a outro.”

Questão 437: “(...) Quando duas pessoas se comunicam de uma cidade para outra, por meio da eletricidade, esta constitui o laço que lhes liga os pensamentos. Daí vem que confabulam como se estivessem ao lado uma da outra.” 

Nono parágrafo da questão 455 sobre o resumo teórico do sonambulismo, do êxtase a da dupla vista: “(...) comunicação que se estabelece pelo contato dos fluidos, que compõem os perispíritos e servem de transmissão ao pensamento, como o fio elétrico. (...)” 

Do Livro A Gênese [2], destacamos as seguintes passagens:

Item 40 do Cap. I: “O estudo das propriedades do perispírito, dos fluidos espirituais e dos atributos fisiológicos da alma abre novos horizontes à Ciência (...). Tais são, entre muitos, os fenômenos (...), da transmissão do pensamento, (...)” 

Item 23 do Cap. II: “As propriedades do fluido perispirítico dão-nos disso uma ideia. Ele não é de si mesmo inteligente, pois que é matéria, mas serve de veículo ao pensamento, às sensações e percepções do Espírito. Esse fluido não é o pensamento do Espírito; é, porém, o agente e o intermediário desse pensamento. Sendo quem o transmite, fica, de certo modo, impregnado do pensamento transmitido. Na impossibilidade em que nos achamos de o isolar, a nós nos parece que ele, o pensamento, faz com o fluido, que com este se confunde, como sucede com o som e o ar, de maneira que podemos, a bem dizer, materializá-lo. Assim como dizemos que o ar se torna sonoro, poderíamos, tomando o efeito pela causa, dizer que o fluido se torna inteligente.”

Item 17 do Cap. XI: “O fluido perispirítico constitui, pois, o traço de união entre o Espírito e a matéria. Enquanto aquele se acha unido ao corpo, serve-lhe ele de veículo ao pensamento, para transmitir o movimento às diversas partes do organismo, as quais atuam sob a impulsão da sua vontade e para fazer que repercutam no Espírito as sensações que os agentes exteriores produzam. Servem-lhe de fios condutores os nervos como, no telégrafo, ao fluido elétrico serve de condutor o fio metálico.”

Item 13 do Cap. XIV: “Os fluidos espirituais, que constituem um dos estados do fluido cósmico universal, são, (...), a atmosfera dos seres espirituais; o elemento donde eles tiram os materiais sobre que operam; o meio onde ocorrem os fenômenos especiais, perceptíveis à visão e à audição do Espírito, mas que escapam aos sentidos carnais, impressionáveis somente à matéria tangível; o meio onde se forma a luz peculiar ao mundo espiritual, diferente, pela causa e pelos efeitos da luz ordinária; finalmente, o veículo do pensamento, como o ar o é do som.” 

Item 15 do Cap. XIV: “Sendo os fluidos o veículo do pensamento, este atua sobre os fluidos como o som sobre o ar; eles nos trazem o pensamento, como o ar nos traz o som. Pode-se, pois, dizer, sem receio de errar, que há, nesses fluidos, ondas e raios de pensamentos, que se cruzam sem se confundirem, como há no ar ondas e raios sonoros. Há mais: criando imagens fluídicas, o pensamento se reflete no envoltório perispirítico, como num espelho; toma nele corpo e aí de certo modo se fotografa. (...) Desse modo é que os mais secretos movimentos da alma repercutem no envoltório fluídico; que uma alma pode ler noutra alma como num livro e ver o que não é perceptível aos olhos do corpo.” 

Item 20 do Cap. XIV: “É que, com efeito, o pensamento é uma emissão que ocasiona perda real de fluidos espirituais e, conseguintemente, de fluidos materiais, de maneira tal que o homem precisa retemperar-se com os eflúvios que recebe do exterior.”

Item 9 do Cap. XV: “Em muitos passos do Evangelho se lê: «Mas Jesus, conhecendo-lhes os pensamentos, lhes diz...» Ora, como poderia ele conhecer os pensamentos dos seus interlocutores, senão pelas irradiações fluídicas desses pensamentos e, ao mesmo tempo, pela vista espiritual que lhe permitia ler-lhes no foro íntimo?” 

Todos os grifos em negrito foram feitos por nós. A seguir analisaremos cada um dos grupos 1) e 2) sobre o significado do pensamento empregado nos mesmos. 


A ANÁLISE DO PENSAMENTO: INFORMAÇÃO VS. MATÉRIA

Uma análise cuidadosa das citações apresentadas nas seções 1 e 2 mostra a dificuldade em definir-se, de modo preciso, o que é o pensamento. Quando, por exemplo, lemos o comentário de Kardec à questão 662 (LE) em que: “O pensamento e a vontade representam em nós um poder de ação (...)” e lemos a resposta dos Espíritos para a questão 835: “A consciência é um pensamento íntimo, que pertence ao homem, como todos os outros pensamentos.”, vemos que o pensamento é um atributo do princípio inteligente do Universo que se exterioriza como “um poder de ação”, ou uma força que, diferente das outras forças da natureza, está associada à uma consciência. O mesmo pode ser inferido do comentário de Kardec feito no item 14 do Cap. XIV de A Gênese: “Para os Espíritos, o pensamento e a vontade são o que é a mão para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem àqueles fluidos tal ou qual direção, (...)”. Ou seja, o pensamento é uma força que além de representar a consciência, imprime direção aos fluidos. Não pretendemos, neste artigo, analisar o que seria o pensamento ao nível do princípio inteligente, ou imaginar que tipo de força o pensamento poderia ser. Vamos, aqui, analisar o aspecto inteligente (informação) e fluídico (material) associado ao pensamento.

Quando lemos na Introdução de O Livro dos Espíritos que os Espíritos superiores exprimem “pensamentos elevados” e que para eles o “fundo do pensamento é tudo”, percebemos que o significado da palavra pensamento poderia ser substituída, sem perda de significado, pela palavra ideia ou informação: “ideias ou informações elevadas”; “o fundo da ideia é tudo”. 

Portanto, quando a palavra “pensamento” tem significado de “informação”, ela representa, simplesmente, a exteriorização da inteligência que é um atributo exclusivo do princípio inteligente do Universo: o Espírito.

Por outro lado, quando lemos na Introdução de O Livro dos Espíritos que para os espíritos livres da matéria: “são os próprios pensamentos que se comunicam sem intermediário.”, a ideia de informação começa a dar lugar para uma ideia de “objeto” ou “algo” que pode interagir mutuamente. Nas palavras de Kardec, em comentário à questão 92a: “Cada Espírito é uma unidade indivisível, mas cada um pode lançar seus pensamentos para diversos lados, (...)”, vemos que a ideia de informação está acompanhada da ideia de “algo” que pode ser lançado “para diversos lados”. Em princípio, poderíamos pensar que esse “algo” é a própria informação, mas a expressão “para diversos lados” transmite uma ideia de espaço que não faz sentido para um objeto abstrato como o conceito isolado de informação. Informação, em si, não é uma coisa que ocupa espaço. O que ocupa espaço e pode ser “lançado” em qualquer direção é algo físico que contém e transmite uma informação. 

A explicação para essa sutileza nos conceitos pode ser encontrada na resposta à questão 282: “(...) A palavra é material: é o reflexo do Espírito. O fluido universal estabelece entre eles constante comunicação; é o veículo da transmissão de seus pensamentos, como, para vós, o ar o é do som. É uma espécie de telégrafo universal, que liga todos os mundos e permite que os Espíritos se correspondam de um mundo a outro.” Nas questões 437 e 455 encontramos uma explicação ainda mais explícita da característica material do pensamento: questão 437: “(...) Quando duas pessoas se comunicam de uma cidade para outra, por meio da eletricidade, esta constitui o laço que lhes liga os pensamentos. Daí vem que confabulam como se estivessem ao lado uma da outra.” Nono parágrafo da questão 455: “(...) comunicação que se estabelece pelo contato dos fluidos, que compõem os perispíritos e servem de transmissão ao pensamento, como o fio elétrico. (...)”. Agora sim, percebemos claramente esse outro significado associado à palavra “pensamento”. O pensamento, em sua origem, consiste na ideia ou informação íntima do Espírito, fruto de sua inteligência, que pretende, então, transmiti-la a outro(s) Espírito(s). Para atingir esse objetivo, através de sua vontade, ele age sobre os fluidos, alterando-os. O Fluido Universal faz o papel de meio de propagação desses fluidos assim como “o ar o é o do som” ou como “o fio elétrico” faz com a comunicação via eletricidade. O que ocupa o espaço e pode ser “lançado para diversos lados” é o fluido alterado ou influenciado pelo pensamento do Espírito. Esse fluido contém a informação ou ideia gerados pelo Espírito através de sua inteligência e o Fluido Universal o transporta de um lugar para outro. 

É o próprio Kardec quem conclui o assunto no item 23 do Cap. II de A Gênese: “As propriedades do fluido perispirítico dão-nos disso uma ideia. Ele não é de si mesmo inteligente, pois que é matéria, mas serve de veículo ao pensamento, às sensações e percepções do Espírito. Esse fluido não é o pensamento do Espírito; é, porém, o agente e o intermediário desse pensamento. Sendo quem o transmite, fica, de certo modo, impregnado do pensamento transmitido. Na impossibilidade em que nos achamos de o isolar, a nós nos parece que ele, o pensamento, faz corpo com o fluido, que com este se confunde, como sucede com o som e o ar, de maneira que podemos, a bem dizer, materializá-lo. Assim como dizemos que o ar se torna sonoro, poderíamos, tomando o efeito pela causa, dizer que o fluido se torna inteligente.” Estas duas últimas frases são bem claras: podemos “dizer que o fluido se torna inteligente” ou “que podemos, a bem dizer, materializar o pensamento”. Kardec fez essa análise que ora enfatizamos nesse artigo ao dizer que “Esse fluido não é o pensamento do Espírito; é porém, o agente e o intermediário desse pensamento.” Porém, sabendo que é impossível separar a ideia de informação gerada na mente de um Espírito do fluido que o transmite para outros Espíritos, Kardec explica porque os pensamentos podem ser chamados de materiais.

Lembrando dos comentários de Kardec e dos Espíritos superiores destacados na Introdução deste artigo, é preciso que nós tenhamos em mente toda essa discussão sobre a diferença entre informação e veículo de transmissão da informação para entendermos porque podemos dizer que o pensamento é matéria. Assim, toda vez que lermos ou ouvirmos alguém comentar essa afirmativa, lembraremos que não é a informação em si que é material, mas o veículo que a transporta para todos os lugares.

Assim, se torna fácil compreender o sentido usado por André Luiz na obra Mecanismos da Mediunidade [3], ao dizer no item “Corpúsculos Mentais” do Cap. IV que: “Como alicerce vivo de todas as realizações nos planos físico e extrafísico, encontramos o pensamento por agente essencial. Entretanto, ele ainda é matéria, (...)”. Portanto, André Luiz fala das características dos fluidos que transportam o pensamento e as aplica no estudo dos processos mediúnicos.


AFINAL, O PENSAMENTO É QUÂNTICO?

Aproveitando a temática sempre atual sobre o pensamento, vamos analisar aqui se o pensamento teria propriedades quânticas. André Luiz, na obra acima referida [3], afirma que a matéria fluídica se estrutura de modo análogo à matéria densa cujos átomos, por sua vez, são formados por partículas subatômicas. Ele propõe a título de analogia que ocorrem com os fluidos processos análogos aos que ocorrem com a matéria densa. Assim, André Luiz afirma que os princípios de emissão de luz espiritual são análogos aos da emissão da luz material, que decorre de determinadas propriedades quânticas. Até aqui, não temos nenhuma objeção lembrando, apenas, que André Luiz foi muito cuidadoso no prefácio do seu livro [3] ao dizer que estava tomando emprestado os conceitos científicos terrestres sabendo que a ciência do amanhã pode substituir a ciência conhecida hoje. 

Em uma série de “aulas” sobre Ciência e Espiritismo que temos publicado no Boletim do GEAE [4] (Boletins números de 483 até o atual), analisamos algumas possíveis contribuições que a Física pode oferecer a alguns temas de interesse para o Movimento Espírita, apontando algumas dificuldades e equívocos comuns em matéria de Ciência. Todo o material do Boletim do GEAE [4] pode ser consultado e estudado gratuitamente e convidamos os leitores a analisarem o material que expusemos nas aulas de número 6 até 12 (Boletins do GEAE de números 488 a 494). O leitor encontrará nessas referências alguns conceitos básicos para poder analisar melhor a questão que apresentaremos a seguir. 

Vamos analisar a proposta de que o processo de transmissão de pensamento é não-local. De modo a facilitar o entendimento, resumiremos as características e propriedades da chamada não-localidade entre duas ou mais partes de um sistema quântico:

Instantaneidade (cuja ideia é diferente de muito rápido);
Não depende da distância entre os objetos;
Não se utiliza de nenhum meio físico, como o som se utiliza do ar para ser transmitido;
Não serve, isoladamente, para enviar informação de um lugar a outro;
Somente se verifica em sistemas isolados do resto do mundo. 

Um fenômeno de ligação entre dois objetos será não-local se todos esses itens forem satisfeitos ao mesmo tempo. Segundo Kardec na questão 282 de O Livro dos Espíritos, “O fluido universal estabelece entre eles constante comunicação; é o veículo da transmissão de seus pensamentos, como, para vós, o ar o é do som.” Portanto, o item 3 não é satisfeito no processo de transmissão do pensamento. Como o objetivo dos fluidos é servir de veículo de transmissão da informação contida no pensamento (Kardec, item 23 do Cap. II de A Gênese: “Esse fluido não é o pensamento do Espírito; é, porém, o agente e o intermediário desse pensamento.”) o item 4 acima também não é satisfeito. Como todos os Espíritos estão imersos no Fluido Universal, emitindo e recebendo os pensamentos de outros Espíritos, de acordo com a sintonia de cada um, o processo de transmissão de pensamento não é um fenômeno que ocorre entre dois ou mais Espíritos isolados do resto do Universo. Portanto, o item 5 também não é satisfeito. De modo a vermos que a velocidade do pensamento não é infinita e, portanto, não se transmite de modo instantâneo, vamos analisar a questão 89 de O Livro dos Espíritos, a respeito da velocidade de deslocamento dos Espíritos: “Os Espíritos gastam algum tempo para percorrer o espaço? Sim, mas fazem-no com a rapidez do pensamento.” (Grifos em negrito são nossos). Ao dizer que os Espíritos “gastam, SIM, algum tempo para percorrer o espaço”, os Espíritos dizem que seu deslocamento não é instantâneo. Ao comparar a rapidez dos Espíritos com a do pensamento, deduz-se que o pensamento não pode ser transmitido de modo instantâneo porque senão os Espíritos não gastariam tempo nenhum para percorrer o espaço e a resposta seria autocontraditória. Portanto, o item 1 acima não se verifica. Apenas o item 2 seria verificado já que podemos, pelo pensamento, transmitir nossas ideias ou informações a qualquer lugar no Universo já que, segundo os Espíritos superiores, o Fluido Universal está presente em todo o Universo.

Desde que é necessário que todas as características enumeradas acima sejam verificadas de modo que um dado fenômeno possa ser considerado não-local, concluímos que o fenômeno da transmissão de pensamentos não é um fenômeno quântico no sentido da não-localidade.


CONCLUSÕES

Neste artigo, analisamos as características do pensamento sob aspectos doutrinários e científicos. Destacamos na Codificação diversas citações de Kardec e dos Espíritos superiores que enfatizam tanto o significado de informação como o significado de matéria para a palavra pensamento. Verificamos que a informação contida no pensamento é o produto da utilização do Espírito do atributo da sua inteligência. No entanto, para transmitir essa informação à outros Espíritos, a informação deve se associar a fluidos que, então, são transmitidos pelo Fluido Universal assim como o som é transmitido pelo ar. Nesse aspecto, o pensamento se torna algo material pois apenas os fluidos podem ter a propriedade de ocupar espaço e serem transmitidos. 

Aproveitamos o ensejo para analisar se o fenômeno de transmissão do pensamento possui a propriedade quântica de não-localidade. Com base na Codificação, mostramos que esse fenômeno não é não-local porque não satisfaz a todas as condições necessárias para que um fenômeno tenha essa característica. 

É relativamente comum a ideia de que os efeitos físicos são os fenômenos que irão comprovar a existência da alma e a realidade espiritual para a Humanidade. Contudo, sem discordar em absoluto dessa ideia, acreditamos que os efeitos inteligentes podem realizar um papel muito mais importante nesse aspecto do que imaginamos. A inteligência humana é eficiente na invenção de formas de simular qualquer tipo de fenômeno mas questões de ordem inteligente e do sentimento jamais podem ser imitadas por meio de truques. Por essa razão, o aspecto – informação associado aos fenômenos espíritas devem ser mais explorados pois através dos valores da informação obtida nos fenômenos espíritas é que poderemos discernir o fruto da inteligência humana de outras inteligências superiores. Sugerimos, a respeito disso, a leitura do interessantíssimo artigo de Ademir Xavier Jr. [5] sobre o papel da informação na estruturação do Universo.

Alexandre Fontes da Fonseca


Referências:

[1] A. Kardec, O Livro dos Espíritos, Editora FEB, 76a Edição (1995). 

[2] A. Kardec, A Gênese, Editora FEB, 36ª Edição (1995). 

[3] A. Luiz, Psicografia de Francisco C. Xavier, Mecanismos da Mediunidade, Editora FEB, 11a. Edição (1990). 


[5] A. Xavier Jr. 2004, A Importância da Informação na Estruturação Inteligente do Universo, Boletim do GEAE 485. Pode ser encontrado no link da referência [4].

Fonte: Jornal Espírita, nº 361 e 362

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Artigo "Se os fatos importassem", por Carlos Luiz


Ainda sobre a discussão sobre o caso A Gênese (saiba mais aqui), recebemos e compartilhamos com todos o artigo intitulado "Se os fatos importassem", assinado por Carlos Luiz, sociólogo cearense, estudioso espírita, coordenador do Grupo Marcos e um dos idealizadores da plataforma de estudos espírita online PEADE. Carlos está muito bem informado sobre a referida polêmica, inclusive foi um dos integrantes convidados para o grupo de estudos da USE-SP para a comparação entre as edições do livro A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo de Allan Kardec (saiba mais aqui).

Segue o artigo:


Se os fatos importassem

por Carlos Luiz


"O fanatismo consiste em redobrar o próprio esforço quando nos esquecemos do objetivo." (George Santayana)


Em meio a tantas afirmações desencontradas e denúncias sem fundamento real, apresento esse texto que busca dar a conhecer as acusações feitas na atual polêmica de A Gênese que, se se considerasse com seriedade os fatos, já deveria ter sido encerrada.

Desde o final de 2017, mais uma vez, a última obra de Allan Kardec, A Gênese, tem sua validade questionada de forma entusiástica e militante. O assunto é grave; requer rigor e critério. Acusar pessoas de terem adulterado A Gênese ou desqualificar o trabalho intelectual de Kardec, pensador lúcido e ponderado, é ousadia imprudente, se não há sólidas provas. Por isso, é obrigação moral e intelectual ater-se a provas documentais sérias e explicitar o que são hipóteses mais ou menos prováveis. 


Um pouco de história

A atual polêmica sobre a autenticidade de A Gênese nasce quando Henri Sausse, levianamente, acusa Pierre-Gaëtan Leymarie, no ano de 1884, de ter adulterado essa obra, por ele publicada supostamente em 1872. Em sua defesa Leymarie conta com três importantes testemunhas, uma delas, o senhor Armand Theodore Desliens (1843-1905) que auxiliou Allan Kardec como médium, tendo recebido inúmeras mensagens de São Luís, Galileu, Rossini, Quinemant, Demeure, dentre outros, conforme publicado na Revista Espírita, além de mensagens que orientaram a elaboração das obras espíritas. Foi também secretário de Kardec entre os anos 1866 e 1869 até o desencarne do Mestre. Solicitado a testemunhar sobre a denúncia de Henri Sausse afirma que Kardec teria publicada uma nova edição de A Gênese 1869, com “modificações nessa nova edição, e são elas, evidentemente, as que são objetos da polêmica instaurada sobre esse tema.”


Fato histórico

Eis o fato: a referida Gênese de 1869 nunca tinha sido encontrada (se alguém a conhecia, não divulgou), o que levou muitos a desconfiar da honestidade do senhor Armand Desliens. Em 2019, isso mudou. Foi descoberto um exemplar de A Gênese, publicada em 1869, conforme capa e documentação anexa, com modificações idênticas as de 1872. Assim, encerra-se a possibilidade de ser verídica a denúncia elaborada por Henri Sausse contra Leymarie. Objetivamente, não seria possível Leymarie ter realizado as mais de 1500 alterações nesta edição e tê-la publicado no ano de 1869, pois ele sequer tinha acesso às publicações de Kardec nessa época. No ano de 1869, duas pessoas foram responsáveis legais e espirituais pelas publicações de Allan Kardec. A primeira delas é ele próprio; a segunda é Amélie Gabrielle Boudet (1795 -1883) sua esposa, colaboradora intelectual, herdeira e responsável legal por tudo que foi publicado em nome de seu falecido marido. Isso esclarece a questão. Todas as pesquisas que colaboraram para que se chegasse a essa compreensão merecem nosso sincero reconhecimento, bem como todos os que se sacrificaram para que estas se realizassem.


Leviandade de Henri Sausse

A título de esclarecimento devemos responder a seguinte questão: por que a acusação de Henri Sausse foi leviana? Primeiro, a origem da acusação. Conforme relatado por ele mesmo, foi um boato ouvido de um indivíduo que ele conheceu e que dizia ser amigo de Leymarie; segundo, a única prova que ele possuía, além do boato, era que A Gênese fora alterada e, em sua avaliação pessoal, para pior. Desconhecia Henri Sausse que Kardec havia alterado todos os livros da codificação espírita?! Não sabemos. Porém, sabemos que entre haver alterações e crimes intelectuais há grande distância; e entre constatar alterações em uma obra e acusar determinado indivíduo, sem provas, de ser o adulterador a distância é ainda maior. Henri Sausse não tinha nenhuma evidência sólida para denunciar publicamente alguém de um feito tão grave. É importantíssimo registrar que nem Alexandre Delanne, Gabriel Delanne, Léon Denis e Berthe Fropo, amiga do casal Kardec e frequentadora da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, seguiram essa temerária postura. Os legítimos continuados de Kardec não se apequenaram. 

Além disso, as acusações de Henri Sausse de que as alterações de A Gênese, realizadas em 1869, favoreceriam à tese roustainguista é simplesmente falsa. Na verdade, as modificações causaram muitos dissabores aos seguidores de Roustaing ao ponto deles terem publicado uma réplica à afirmação, inserida em A Gênese de 1869, de que o roustainguismo era a mesma doutrina dos docetas, seita do segundo século do cristão, condenada pela igreja cristã primitiva.


Hipótese

O que explicaria um erro tão grosseiro da parte de Henri Sausse? Aqui entramos no terreno das hipóteses. Antes, relembremos os fatos. Os fatos centrais são apenas dois. Primeiro, a acusação a Leymarie é falsa, porque a descoberta de A Gênese, de 1869 confirma os depoimentos que inocentaram Leymarie de a ter adulterado. Segundo, a afirmação de uma alteração em favor do roustainguismo também é falsa uma vez que a crítica à doutrina roustainguista é ampliada.

Vamos, agora, ao terreno das hipóteses. Por que Henri Sausse fez o que fez? Ele mesmo afirma em seu artigo infamante: “Perdoem-me, Irmãos e Irmãs de fé, se, a contragosto, deixei-me levar pela indignação que minha alma transborda. Deveria expulsar do meu coração todo pensamento de raiva e ódio. Há, contudo, circunstâncias em que não se pode conter uma indignação muito justa…” Eis a minha hipótese: Henri Sausse pensou que seu ódio era justificado. Aqui está a lição que aprendo e desejo compartilhar: não se faz pesquisa séria quando se defende interesses institucionais, pessoais ou o ódio.


Conclusão

O intelectual decadente de Dostoiévski, em Os Demônios, Stiepan Trofímovitch, próximo de morte, deitado em uma mísera cama de albergue, pede a uma vendedora ambulante do Evangelho, que O leia para ele, pois há mais de trinta anos não O lia… Após tantas decepções e sofrimentos, se dá seu momento de redenção: ao ouvir e leitura do Evangelho, ele reconhece o erro de sua postura moral e intelectual ao longo da vida. Afirma, “Minha amiga, passei a vida inteira mentindo. Até quando falava a verdade. Nunca falei pela verdade mas apenas por mim mesmo, disso eu já sabia antes mas só agora vejo…” 

Não esperemos nós, à véspera da morte, para compreender que falar a verdade é mais do que não mentir. 

Allan Kardec devotou sua vida para nos deixar o Espiritismo, que ele qualificava de santa Doutrina. Não devemos, nós espíritas, agir de forma precipitada ou leviana ao lidar com temas espíritas. A verdade deve estar acima de quaisquer interesses emocionais, materiais ou institucionais. Não devemos mentir em nome da Verdade.
Carlos Luiz


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quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

As edições de O Céu e o Inferno - Volume I: Edição Comparada (Francês)


Acaba de ser publicada a primeira versão do trabalho intitulado As edições de O Céu e o Inferno - Volume I: Edição Comparada (Francês), produzido pela equipe do site Obras de Kardec (visitar site), contendo num só volume o conteúdo original em francês da 1ª edição do livro Le Ciel et l'Enfer ou la Justce Divine selon le Spiritisme (O Céu e o Inferno ou a Justiça Divina segundo o Espiritismo), de Allan Kardec, lançado em 1865, mais o conteúdo da edição revisada desta obra, publicada em 1869, conteúdos esses postos lado a lado, em duas colunas, facilitando assim a consulta e comparação das modificações, que, aliás, estão destacadas com cores determinando cada evento dessas modificações (correção ortográfica, substituição de palavras, supressão e adição de trechos etc.).

É um trabalho semelhante à coleção As Edições de A Gênese, produzida pelos mesmos autores (saiba mais aqui), sendo que o livro em evidência é O Céu e o Inferno. Além deste lançamento, o projeto segue com o Volume II, no mesmo formato, trazendo os dois conteúdos (o da 1ª edição de 1865 e o da edição revisada de 1869) então traduzidos para o nosso português.

O volume traz ainda uma apresentação do trabalho, enriquecido com três prefácios assinados por alguns dos colaboradores do projeto, contextualizando a publicação deste livro.


Este lançamento é muito oportuno à vista de mais uma polêmica levantada, sobre a legitimidade da edição revisada de 1869, no bojo da recorrente suposição de adulteração de outro livro básico da codificação do Espiritismo: A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo. (saiba mais clicando aqui).

Abstração feita às polêmicas, nada temos a perder em ler e reler Kardec; a leitura e análise comparativa das duas edições ajuntadas neste volume que ora promovemos também é uma oportunidade de estudarmos e melhor compreendermos a evolução do tratado livro, acompanhando o pensamento progressivo do autor sobre os conceitos ali apresentados, através das correções e ampliações de ideias em torno dos temas abordados.

Portanto, os estudiosos espíritos só têm a ganhar com este lançamento, pelo que temos a satisfação de parabenizar os idealizadores e executores do projeto.

Lembrando que o Volume II desta série (com as versões comparadas em português) está em produção e espera-se ser publicado em breve.

As edições de O Céu e o Inferno - Volume I: Edição Comparada (Francês)

Observação: instrução para o download
Para baixar este PDF, arraste a barra de sugestão de preço para zero e em seguida prossiga com a "compra", sem necessidade de pagar nada pelo livro (ver imagem abaixo). Será preciso cadastrar um email para efetuar o download, com a vantagem de mais tarde você ser informado de uma atualização da obra e assim baixar a edição mais recente e completa do trabalho.


E aproveitamos para pedir aos confrades espíritas que também ajudem na divulgação deste trabalho.


quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

"Uma revisão na história da 5ª edição de A Gênese Parte I – Os eventos relacionados à impressão e à publicação da edição de 1869", publicação do JEE


O Jornal de Estudos Espíritas (JEE) acaba de publicar o artigo "Uma revisão na história da 5ª edição de A Gênese Parte I – Os eventos relacionados à impressão e à publicação da edição de 1869" de Autoria de Adair Ribeiro Jr., Carlos Seth Bastos e Luciana Farias.

O tema envolvendo a validade da 5ª edição da obra A Gênese se tornou muito debatido nos últimos anos. Livros sobre o assunto foram publicados, assim como matérias e artigos de opinião. Entretanto, ainda não tinha sido publicado na literatura espírita, um artigo de caráter verdadeiramente científico sobre este tema. O artigo passou pela análise de pareceristas anônimos que não somente fizeram muitas orientações, críticas e recomendações, mas também reconheceram o mérito de estudo e pesquisa do presente trabalho.

O artigo de Ribeiro Jr., Bastos e Farias apresenta um histórico da questão em torno da obra A Gênese, o surgimento das dúvidas em torno da validade da sua 5ª edição, apresenta a descoberta de uma 5ª edição datada de 1869 (contra a de 1872 que era a única conhecida), e apresenta e analisa as questões legais (as leis) em torno do trabalho de edição e publicação de livros válidos à época de Kardec, incluindo a questão de como fica a "herança" dos compromissos assumidos com editoras na publicação de livros e obras. O artigo ainda propõe 3 hipóteses para a questão da legitimidade da 5ª edição de A Gênese, e propõe uma delas como a mais provável (o Leitor é convidado a ler o artigo para conhecer as hipóteses e a que os Autores escolheram). Um detalhe relevante, é que este artigo é o primeiro de vários que eles irão desenvolver sob outros aspectos.

Embora saibamos que muitos irmãos espíritas tem opinião formada sobre o assunto, cabe dizer que a fé raciocinada pede critério de estudo e análise. O presente artigo se apresenta, portanto, como um verdadeiro exemplo de como trabalhar assuntos delicados e controversos, mas com a devida seriedade e caráter científico (não apenas seriedade) que sabemos que Kardec sempre apreciou. Cumpre esclarecer que não é esse artigo ou algum livro que ditará a verdade final sobre esse e muitos outros assuntos e descobertas importantes no meio espírita, mas sim a leitura, avaliação e citação desses trabalhos pela comunidade espírita.

O artigo pode ser acessado gratuitamente através do link: http://dx.doi.org/10.22568/jee.v8.artn.010209 Apenas lembramos que a reprodução em parte ou em todo requer a autorização dos Autores. O artigo pode ser citado da seguinte forma:

A. R. Jr., C. S. Bastos, L. Farias, Jornal de Estudos Espíritas 8, 010209 (2020), DOI: 10.22568/jee.v8.artn.010209.

Se você gostou do artigo ajude a divulgar o link acima. Se conhecer pessoas interessadas em receber notícias sobre novas publicações, peça para escreverem para o editor em jestudosespirtas@gmail.com Se ainda não conhece o JEE, navegue pelo site, conheça a proposta, e acesse gratuitamente os artigos já publicados. O acesso é aberto/gratuito.

Esperamos que este e outros estudos ajudem o movimento espírita a perceber como o conhecimento espírita deve avançar.

Abraço fraterno,

Alexandre Fontes da Fonseca



sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

A FEB e a obra mediúnica de Chico Xavier: alterações ou adulterações?


Além da velha polêmica sobre as edições revisadas dos livros A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo e O Céu e o Inferno de Allan Kardec (saiba mais aqui), permeia o movimento espírita atual uma controvérsia sobre alterações da obra mediúnica de Francisco Cândido Xavier, o nosso inesquecível Chico Xavier. De uma lado, alguns confrades queixam-se de modificações indevidas; do outro, a justificativa de oportunas atualizações, por parte da FEB - Federação Espírita Brasileira, detentora dos direitos autorais dos maiores clássicos legados pelo médium, ditados por Espíritos bastante ativos, principalmente Emmanuel e André Luiz.

Basicamente a questão é que a Editora FEB tem feito alterações em novas edições de clássicos mediúnicos cujos direitos comerciais lhe pertencem; essas alterações seriam — segundo a entidade — meras correções ortográficas (é de se considerar realmente o acordo ortográfico entre Portugal e Brasil em 1990), gramaticais e semânticas; porém, uma frente de personalidades e entidades espíritas observaram mais que isso, denunciam um descaso com o direito moral das obras psicografadas e reivindicam o retorno dos textos originais.

Um dos principais articulistas dessa frente que contesta as alterações da FEB, Geraldo Lemos Neto sintetiza as reivindicações numa carta aberta, que ele lê no vídeo a seguir:



Em entrevista a Bruno Tavares, o ex-presidente da FEB Antonio Cesar Perri de Carvalho falou dessa nova polêmica e contou detalhes do processo de editoração da Federação e a responsabilidade por tais correções (veja aqui).

Reproduzimos aqui um artigo assinado pelo jurista João Batista de Castro Júnior, professor do Curso de Direito da Universidade do Estado da Bahia, campus XX, Brumado, e juiz federal titular da 1ª Vara da Subseção Judiciária de Vitória da Conquista, Bahia, que também é mestre em Linguística Histórica e doutor em Linguística e Cultura pela Universidade Federal da Bahia). Artigo esse que é, na verdade, uma carta aberta à presidência da Federação Espírita Brasileira, colocando em pauta as alterações promovidas no conteúdo do livro Paulo e Estêvão, ditado pelo Espírito Emmanuel, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, a partir da 45ª edição,7ª impressão, de 2014.


PAULO E ESTÊVÃO: O DESACERTO EDITORIAL NO RELANÇAMENTO DO CLÁSSICO ESPÍRITA

PAULO E ESTÊVÃO: O DESACERTO EDITORIAL NO RELANÇAMENTO DO CLÁSSICO ESPÍRITA
Capa da 17a edição.

Senhor Presidente da Federação Espírita Brasileira. 

Dirijo-me a Vossa Senhoria para, no propósito de cooperar com a missão institucional da Federação Espírita Brasileira de conservar a integridade literária, bem como doutrinária, das obras por ela publicadas em nome da difusão do Espiritismo Cristão, dar-lhe conhecimento de alguns dos acentuados desacertos gráficos nas recentes edições e tiragens  da obra Paulo e Estêvão, de Francisco Cândido Xavier/Emmanuel.

De logo, apresento-lhe o plano metodológico da exposição, composto fundamentalmente pelo confronto de duas edições: a 17ª (do 127º ao 136º milheiro), de 1981 – que reproduz rigorosamente a 1ª edição, de 1941 –, e a 45ª (7ª impressão), de 2014.

Convém deixar em destaque que os senões adiante antepostos aos mais novos relançamentos, em formato 160x230 mm, não se fundam na má observação dos trânsitos ortográficos que têm se operado na comunidade lusofônica. Em todo caso, não é inoportuno relembrar, para fins de esclarecimento prévio, que, como se sabe, o primeiro Acordo Ortográfico entre Brasil e Portugal se deu em 1931, a que se seguiriam dificuldades de aprovação legal. Enquanto isso, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa, edição de 1940, era ratificado unanimemente pela Academia Brasileira de Letras em 29 de janeiro de 1942, antes, portanto, de ser por aqui tornado oficial o Formulário Ortográfico, de 1943. Entre este e o Acordo de 1931 levantaram-se algumas divergências que a Convenção Ortográfica, de 1945, tentou suprimir, mas que terminou sendo aprovada somente em Portugal, ficando a ortografia no Brasil vinculada ao Formulário de 1943.

Não passa despercebido a qualquer leitor atento que a 1ª edição da obra Paulo e Estêvãode 1941, se filiou claramente ao Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa. Posteriores revisões respeitaram essa opção ortográfica até o advento da Lei 5.765/1971, que, de conformidade com o parecer conjunto da Academia Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa, exarado a 22 de abril de 1971, segundo o disposto no artigo III da Convenção Ortográfica, celebrada em 29 de dezembro de 1943 entre Brasil e Portugal, implantou a abolição do trema nos hiatos átonos,  do acento circunflexo diferencial na letra e e na letra o, da sílaba tônica das palavras homógrafas de outras em que são abertas a letra e e a letra o, exceção feita da forma pôde, que passou então a ser acentuada por oposição a pode, além do acento circunflexo e do grave com que se assinala a sílaba subtônica dos vocábulos derivados em que figura o sufixo mente ou iniciados por z.

Ao sobrevir o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, de 1990, que entrou em vigor no início de 2009, no Brasil, e em 13 de maio de 2009 em Portugal, a Federação Espírita Brasileira procurou igualmente adequar suas reedições aos novos estalões normativos.

Em realidade, ao longo dos anos tem sido claramente identificável a zelosa preocupação da FEB em produzir edições cuidadas, o que inclui as mencionadas adequações à moldura gramatical vigente. Além disso, atenta à percepção de que o médium Francisco Cândido Xavier psicografava, como diriam os romanos, currente calamo – ou seja, em grande velocidade na transmissão sináptica da junção neuromuscular –, o que muitas vezes deixou à vista pequenas imprecisões, a primeira revisão editorial legitimamente procurou escoimá-las antes da impressão definitiva.  

De presumir, então, que tenham sido similares a esses os fins que guiaram a proposta de atualização da obra em foco pelo recente Acordo Ortográfico, o que, porém, nem sempre foi seguido à risca, como se vê, ilustrativamente, da grafia “instrui-lo-ei a respeito”, constante da 45ª edição (p.51), que desatendeu à exigência, mesmo sob as novas regras do Acordo, de que o em posição final de palavra oxítona, quando antecedido de outra vogal com que forme hiato, deve ser acentuado, como já vigorava sob a vigência das normas anteriores, o que explica que, na 17ª edição, tivesse sido acertadamente escrito “instruí-lo-ei a respeito” (p. 55).

Mas não é desse tipo de fato editorial que cuida este exame submetido à sua apreciação, e sim daquelas alterações que, além de arredarem as escolhas estilísticas dos Autores, instalaram trocas ortográficas indevidas.

As observações abaixo expostas não têm a pretensão de ser exaustivas, porquanto a releitura dessa obra clássica de minha parte sempre se fez mais em nome do alinhamento com a luminosa filosofia aí anunciada. Todavia, mesmo mergulhado na exploração do conteúdo da obra em sua recente edição, não pude deixar de notar que seus desvios ortográficos e estilísticos comprometem o feitio literário dos Autores.

Não é fora de propósito pôr em evidência que todo autor tem seu próprio estilo, o que traz à cena as célebres palavras extraídas do discurso pronunciado por Buffon na Academia Francesa, a 25 de outubro de 1753: “Le style c’est l’homme même”. Isso explica a credibilidade de obras mediúnicas como a notável Parnaso de Além Túmulo, capaz de arrancar admiração do rigoroso crítico literário, embora cético quanto ao Espiritismo, Agripino Grieco, como reconheceu, em entrevista ao Diário da Tarde, em 1944, quando de observação feita em relação aos escritos psicografados por Chico Xavier e atribuídos a Augusto dos Anjos e Humberto de Campos.

Nessa pesquisa de identidade literária, busca-se, quase sempre, delimitar os chamados estilemasque são recorrências ou traços característicos do estilo. A dupla Chico Xavier/Emmanuel, aqui focalizada como unidade autoral pela íntima comunhão de propósitos entre ambos, tinha igualmente os seus, os quais, afora adaptações ortográficas, convidam a ser deixados intactos.

Feito esse prólogo, passo a apresentar as imprecisões identificadas na 45ª edição de Paulo e Estêvão, pondo em cotejo, repita-se, os trechos nela contidos com os que se encontram na 17ª edição:

1.“O feitor designou Jeziel, incontinente” (p. 50, 45ª edição). Basta consultar as edições antigas para verificar que os Autores se valeram de outra forma gráfica, como se lê da página 52 da 17ª edição: “O feitor designou Jeziel, incontinenti”.

Esse deslize poderia passar à conta de desatenção tipográfica se essa primeira impressão não fosse logo desfeita pelas repetições encontráveis muitas páginas à frente: “Incontinente, tomou o caminho de Jope” (p. 166); “um tribuno militar organizou incontinente um troço de soldados” (p. 412).  Na 17ª edição, assoma a real preferência dos Autores: “Incontinenti, tomou o caminho de Jope” (p. 83); “um tribuno militar organizou incontinenti um troço de soldados” (p. 464).

Incontinenti é latinismo adverbial lexicalizado na língua portuguesa e, em razão disso, sem adaptação morfológica, mesmo após a citada Reforma Ortográfica de 1971, ficando assim mantida essa forma nas grandes obras de referência lexicográfica: “incontinenti (nên). [Adapt. do lat. in continenti.] Adv. Sem demora; sem intervalo; sem interrupção; sem detença; imediatamente” (Novo dicionário Aurélio da língua portuguesaRio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986, p. 933).

Da mesma ordem é o ensinamento de Rocha Lima: “9. Incontinenti – latinismo – significa imediatamente; sem demora, intervalo ou interrupção: ‘Reconhecemo-nos incontinenticom igual espanto’ (Monteiro Lobato)” (Gramática normativa da língua portuguesa30. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, p. 315).

Incorporado, pois, à língua portuguesa sem acentuação e sem grifo, tal como consta da 5ª edição, de 2009, do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesada Academia Brasileira de Letras, tem sido adotado tanto por escritores célebres quanto pelo culto padrão redacional das leis brasileiras, como se vê de dispositivos do Código Civil Brasileiro, instituído pela Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002: “A doação verbal será válida, se, versando sobre bens móveis e de pequeno valor, se lhe seguir incontinenti a tradição” (art. 541, parágrafo único);  “se houver instruções do comitente proibindo prorrogação de prazos para pagamento, ou se esta não for conforme os usos locais, poderá o comitente exigir que o comissário pague incontinenti” (art. 700);  “se o transporte não puder ser feito ou sofrer longa interrupção, o transportador solicitará, incontinenti, instruções ao remetente” (art. 753).

A alteração foi, portanto, indevida.

2. Na 45ª edição, depara-se com este trecho: “Estêvão era uma inteligência poderosa e mostrara, ao morrer, uma paz impressionante, acompanhada de valores espirituais que o infundiam assombro” (p. 176).

Salta aos olhos que houve adulteração da regência verbal, porquanto o verbo infundir rege acusativo de coisa e dativo de pessoa, e, no caso, o objeto direto dele já é assombro, sendo completamente descabida a inserção do pronome o no contexto da sentença, por não exercer aí qualquer função sintática. A redação das versões antigas, por óbvio, jamais cometeria esse tipo de pecado linguístico: “Estêvão era uma inteligência poderosa e mostrara, ao morrer, uma paz impressionante, acompanhada de valores espirituais que infundiam assombro” (17ª edição, p. 195).

A mudança de regência do verbo, ao introduzir verdadeiro corpus alienum, positivamente não tem abonação gramatical.

3. Na 17ª edição, os Autores assim compuseram a seguinte passagem: “os coríntios riam gostamente” (p. 431). Na atualização feita pela 45ª edição, grafou-se: “os coríntios riam gostosamente” (p. 383).

Gostamente é forma adverbial vernácula, encontrável nos autores clássicos de maior feição lusitanizante. Assim é que, entre os contemporâneos, se lê do escritor e jornalista angolano João Melo no conto “Madinusa”: “(...)  alheia a esses receios de G.W. Bush — que, como os brasileiros, eu chamaria gostamente de ‘bobos’” (Contos do mar sem fim. Rio de Janeiro: Pallas, 2010).

Também no Brasil a expressão está presente em alguns cronistas, como Pedro Rogério do Couto Moreira, nascido em 1946: Meio? - ri gostamente o escritor. - Era inteiramente” (Jornal Amoroso: Edição Vespertina. Brasília: Thesaurus Editora, 2007, p. 159).

Os Autores de Paulo e Estêvão fizeram, então, uso consciente, pois, na introdução, tinham usado forma alternativa: “Templos e devotos entregam-se, gostosamente, às situações acomodatícias” (17ª edição, p. 8; 45ª edição, p. 8).

Aqui, a revisão editorial desafeiçoou-se inteiramente do talhe estilístico aposto à obra.

4. Na 17ª edição, há recorrente estilema dos Autores: trata-se do uso da locução até a. Confira-se esta passagem da 17ª edição: “Saulo de Tarso, com a profunda sinceridade que lhe caracterizava as mínimas ações, só queria saber que Deus havia mudado de resolução a seu respeito. Ser-lhe-ia fiel até ao fim” (p. 204). A 45ª edição alterou para “ser-lhe-ia fiel até o fim” (p. 183).

Não é a única ocorrência modificativa. O trecho “ei-la junto do companheiro, nas lides do tear, até às horas mais avançadas” (17ª edição, p. 247) foi transmudado em “ei-la junto do companheiro, nas lides do tear, até as horas mais avançadas” (45ª edição, p. 222).

Inexiste incorreção na utilização de até a em lugar apenas de até. A esse respeito, adverte bem Antônio Houaiss:

“(...) como prep., é indiferentemente correto associá-la ou não a outra preposição (ir a[té] o parque ou ir a[té] ao parquecaminhar a[té] a igreja ou caminhar a[té] à igreja(...) atualmente, é mais comum em Portugal o emprego associado à prep. a, enquanto no Brasil as utilizações pendulam; historicamente, até o sXVII, usou-se na língua apenas aténesse mesmo século foi que começou a surgir até acom o art. fem. (até àaté às), e posteriormente com o art. masc. (até aoaté aos); grandes escritores dos sXIX e XX alternaram o emprego do até preposicionado  com o até sem preposição, por vezes na mesma obra (Machado de Assis, por exemplo)” (Dicionário Houaiss da língua portuguesaRio de Janeiro: Objetiva, 2001, verbete atép. 331).

A adoção de até a constitui, então, marca estilemática dos Autores, difusa por suas obras, como se lê, entre outras, de Renúncia (14ª edição, 1983): “trabalhar devotadamente, até à vitória” (p. 12); “amparai nossos espíritos até ao dia” (p. 24-25); “ansioso por defender Madalena até ao fim” (p. 205-6).

Não se trata de traço único nessa preciosa produção em que há, aqui e ali, registros estilístico-gramaticais deliberadamente lusitanizantes. Bom exemplo se tem no seguinte passo: “Tamanho o movimento de necessitados de toda sorte, que há muito Simão não mais podia entregar-se a outro mister” (17ª edição, p. 61). O emprego de há muito sem flexão, quando deveria estar em correlação com tempo verbal imperfeito, não tem o referendo de gramáticos mais ortodoxos (ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática metódica da língua portuguesa35. ed. São Paulo: Saraiva, 1988, p. 534), mas é avalizado por Celso Cunha e Lindley Cintra (op. cit.p. 528), sendo corrente sobretudo em autores portugueses.

Outro traço de relevo no manejo literário de Chico Xavier/Emmanuel diz respeito à colocação dos pronomes átonos. Deliberadamente, eles operam com extrema anteposição clítica à esquerda, como nos seguintes trechos: “Se hei de abandonar a dádiva de Pedro a pessoas que lhe não podem reconhecer o valor que lhe atribuímos (...). E temo que os adeptos de Jesus te não possam compreender de pronto” (17ª ed., p. 243; 45ª ed., p. 219).

Trata-se de forma de colocação conhecida como apossínclise, muito comum entre os clássicos até o início do século XX, a exemplo desses versos de Fernando Pessoa/Ricardo Reis: “Não a ti, Cristo, odeio ou te não quero” (Obra poéticaRio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997, p. 271).

Sob a égide da influência do padrão lusitano, nessa quadra histórica, o primeiro Código Civil brasileiro, promulgado em 1916, com sua forma gestada pelo rigor do aceso debate entre o gramático Ernesto Carneiro Ribeiro e Rui Barbosa,  jurista e seu ex-aluno, trouxe construções com essa abonação: “Art. 94. Nos atos bilaterais, o silêncio (...) constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela se não teria celebrado o contrato”.

Modernamente, esse uso foi abandonado no Brasil, que tem sua alocação clítica (por sinal, algumas vezes utilizada nesta mensagem) bem menos rigorosa até do que aquela adotada pelo atual Código Civil, conquanto não seja desagradável ao ouvido nativo – ao contrário do anterior – o giro preferido pela nova redação do art. 147: “Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio (...) constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado”.

Para que essa mudança frasal tivesse lugar, foi necessária nova lei. Com muito mais razão, não se considera lícita a intromissão revisora na confeição literária de um escritor, porquanto somente a ele seria dado fazê-lo.  

Tratando-se de Francisco Cândido Xavier/Emmanuel, o erudito travo estilístico compõe o sabor em suas obras. Por essa razão, aí se descobrem vocábulos como maniatados, constante da 17ª edição (p. 523), que, por felicidade, foi deixado intacto na 45ª (p. 463), e archeiros (17ª ed., p. 477; 45ª ed., p. 423).  Ambos os lexemas se apresentam hoje com certo sabor de arcaísmo quando postos em contraste com manietados e arqueiros, mas coexistem bem, por todo o texto, com o uso de expressões tidas como rebuscadas, que, podendo até induzir a erro os menos avisados, gozam, porém, de vernaculidade, como na frase “atento o cargo oficial que ocupava” (17ª edição, p. 130), felizmente também mantida na 45ª (p. 118), pois aí não se trata da locução prepositiva atento a, mas sim do particípio passado do verbo atentar, que é empregado, embora menos comumente no Brasil, no sentido de “levado em consideração; visto, ponderado” (HOUAISS, op.cit.p. 333), como neste trecho do respeitado filólogo e lexicógrafo português Rebelo Gonçalves: “atento o uso que se lhes há dado e o registo que, por isso, já lhes tem cabido em obras lexicais” (Tratado de ortografiaCoimbra: Tipografia Atlântida, 1947, p. 198, nota 4).

Outra palavra cujo significado tradicional tem diferido do contemporâneo é volúpia, que integra o seguinte trecho: “Antes, revoltava-se contra o Messias Nazareno, em cuja ação presumia tal ou qual incompreensível volúpia de sofrimento” (17ª edição, p. 209; 45ª edição, p. 191). O uso atual não raro tem tonalidade semântica de prazer sensual; todavia, em Francisco/Emmanuel, é o mesmo empregado pelos clássicos, inclusive por Guillon Ribeiro na tradução de O Evangelho segundo o Espiritismo: “Se unicamente buscásseis a volúpia que uma ação boa proporciona (...)” (108ª edição, 1994, p. 222).

Por essas poucas amostras lexicais se vê que os Autores movimentavam-se pela língua portuguesa com a mestria dos clássicos e seus usos cultivados. Em descuido para com a predileção autoral por essa modelagem literária, a revisão terminou por fazer coexistir na obra aquelas formas menos usuais, já citadas, com outras submetidas a impróprias atualizações. Com efeito, alterou-se céptico (17ª edição, p. 209) para cético (45ª edição, p. 190). Mesmo que se argumente que a atualização ortográfica deva conformar-se com a craveira nacional vigente, isso não explicaria que o lusitanismo de conjeturas (17ª edição, p. 203) fosse deixado sem alteração na 45ª edição (p. 182), quando, em realidade, o uso brasileiro correntio é conjectura. Mais contraditório foi manter sem alteração ditério (17ª edição, p. 291; 45ª edição, p. 259) se a conformação gráfica utilizada no Brasil é dictério.

O câmbio foi, por conseguinte, infeliz.

Mas mais infelizes ainda mostraram-se ser as alterações sem o aval de qualquer norma, tal como se deu quanto ao uso da função anafórica do pronome, que não dispensa a reverência da inicial maiúscula quando se reporta a nome próprio de entes sagrados. Assim é que muito elegantemente os Autores escreveram: “Preciso servir Àquele que se dignou arrancar-me das trevas do mal” (17ª edição, p. 236). Contudo, a 45ª edição preferiu forma menos reverente: “Preciso servir àquele que se dignou arrancar-me das trevas do mal” (p. 213).

Disso tudo vai-se percebendo que, se não se interferisse nas opções ortográficas dos Autores, ainda que incomuns no Brasil, não se teria o resultado pouco apreciável de ranhuras na unidade estilística da obra.

5. Em outro caso, a alteração produziu completa deformação de sentido, podendo-se suspeitar que aqui a desatenção tenha tido origem na semelhança morfológica entre os vocábulos. Eis a passagem na 17ª edição: “Em seguida, fez a leitura dos ensinos de Jesus, respigando algumas sentenças do Mestre Divino nos pergaminhos esparsos” (p. 227). O verbo respigar tem significado muito claro: “2. t.d. recolher (o que os outros disseram ou fizeram)” (HOUAISS, op.cit.verbete respigar, p. 2.439). 

Pela transcrição do texto se percebe incontroversamente que somente caberia dizer mesmo respigar, jamais respingar, como muito equivocadamente consta da 45ª edição: “Em seguida, fez a leitura dos ensinos de Jesus, respingando algumas sentenças do Mestre Divino nos pergaminhos esparsos” (p. 206). Embora não seja rigorosamente necessário, convém lembrar que respingar é “lançar borrifos ou pingos (de líquido)” (HOUAISS, op.cit.verbete 2respingarib.), o que deixa à mostra sua completa inadequação ao texto.

6. Em certo momento, a revisão parece ter querido propositadamente alijar a obra da seleção lexical feita pelos Autores, pondo em seu lugar outra de duvidoso acerto. É o que se pode observar do seguinte passo da 45ª edição: “Aonde iremos com semelhantes excessos de interpretação, a respeito um mistificador vulgar” (p. 85). Além da ausência da preposição “de”, que deve obrigatoriamente seguir-se a “a respeito”, descobre-se, no confronto com a 17ª edição, que a interferência foi muito mais deformante: “Aonde iremos com semelhantes excessos de interpretação, em torno de um mistificador vulgar” (17ª edição, p. 92).

Nenhuma inconveniência, seja de que ordem for, emerge da locução prepositiva em torno de; ao contrário, no contexto, revela-se muito mais sóbria.

7. Como já dito, a velocidade da atividade psicográfica, feita “ao correr da pena”, pode produzir pequenos lapsos que autorizam a correção por parte dos responsáveis pela revisão e pela edição. Embora haja pouquíssimos deles na obra em questão, aqui e ali se detectam alguns que poderiam ter sido legitimamente retificados tanto pelas tiragens antigas quanto pelas atuais, em vez de focarem-se estas na pretensa correção do que jamais deveria ter sido alterado.

Eis alguns desses lapsos:

a. "(...) aquele gesto de confiança e carinho, tratando-o como um irmão” (45ª edição, p. 206), redação também encontrada na 17ª edição (p. 228). Esse arranjo fraseológico, todavia, gera ambiguidade e, por isso, convida ao uso do chamado objeto direto preposicionado, a fim de que não se possa ser levado a pensar que “irmão” seja sujeito. Introduz-se, então, o acusativo preposicionado para burlar a anfibologia. Nesse caso, teria sido melhor construído o período em exame da seguinte maneira: “(...) aquele gesto de confiança e carinho, tratando-o como um irmão”.

As gramáticas, mesmo as mais populares, sempre alertaram para esse emprego peculiar. A esse respeito, Domingos Paschoal Cegalla ensina: “Objeto direto preposicionado (...) 3) quando precisamos assegurar a clareza da frase, evitando que o objeto direto seja tomado como sujeito: ‘Tratava-me sem cerimônia, como a um irmão.’ (O. Bilac)” (Novíssima gramática da língua portuguesa27. ed. São Paulo: CEN, 1985, p. 296).

No mesmo sentido, ensinam os filólogos Celso Cunha e Lindley Cintra em obra de referência: “1. O objeto direto costuma vir regido de preposição a: com os verbos que exprimem sentimentos: Não amo a ninguém, Pedro. (C. dos Anjos, M, 196)” (Nova gramática do português contemporâneo2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985, p. 138).  

O objeto direto preposicionado constitui, pois, regra da gramática da língua portuguesa com coloração estilística, já tendo, a propósito, merecido atenção de estudiosos estrangeiros, a exemplo de Karl Heinz Delille na obra intitulada Die geschichtliche Entwicklung des präpositionalen Akkusativs im Portugiesischen (Romanisches Seminar der Universität Bonn, 1970).

Os Autores de Paulo e Estêvão estavam perfeitamente cônscios desse emprego, tanto que, muitas páginas depois, escreveram: “(...) aproximou-se do ex-rabino e o abraçou efusivamente, como se o fizesse a um irmão amado” (17ª edição, p. 271; 45ª edição, p. 305).

b. Ambiguidade que poderia ser corrigida pelos primeiros revisores e pelos atuais é localizável nesta passagem: “Os israelitas mantinham viva a ideia da expulsão dos missionários, quando um incidente ocorreu em auxílio deles” (17ª edição, p. 360). O uso do anafórico “destes” calharia melhor que “deles”, expungindo qualquer dúvida sobre quem foi auxiliado pelo incidente. Todavia, na 45ª edição, o trecho ambíguo permaneceu inalterado (p. 318).

c. Outro bloco em que houve pequena imprecisão encontra-se na página 269, da 17ª edição: “Saulo viveu em Cafarnaum horas deliciosas para seu espírito emotivo. Fora o local das pregações do Mestre; mais adiante, a casinha de Simão Pedro”. Conquanto o texto tenha assim sido mantido na 45ª edição (p. 241), muito provável que os Autores tenham querido dizer “fora ao local das pregações do Mestre; mais adiante, à casinha de Simão Pedro”.

d. Na passagem seguinte, razoável concluir que ou os Autores empregaram uma forma não dicionarizada no Brasil ou então houve lapso gráfico: “Essas palavras eram ditas num tom de convicção tão ardente que o próprio charlatão israelita se fizera lívido. Barnabé também empalidera, enquanto o nobre patrício observava o ardoroso pregador” (17ª edição, p. 336).

A recente edição preferiu tratar a ocorrência como deslize gráfico e tomou o vocábulo por empalidecer. Menos mal se ficasse somente nisso; todavia, avançou para adotar o imperfeito como tempo verbal: “Essas palavras eram ditas num tom de convicção tão ardente que o próprio charlatão israelita se fizera lívido. Barnabé também empalidecia, enquanto o nobre patrício observava o ardoroso pregador” (45ª edição, p.298)

Esqueceu-se aí que o tempo verbal mais apropriado, em nome da correlação, certamente seria o mais-que-perfeito, como deixa entrever a própria forma sintética contida no texto das primeiras edições: empalide[ce]ra. Deve ser lembrado que, ao contrário do imperfeito, que designa um fato passado, mas não concluído, o mais-que-perfeito revela uma ação que ocorreu antes de outra, já acontecida.  No trecho em questão, nota-se que tanto o charlatão israelita quanto Barnabé já tinham empalidecido com a retórica paulina antes que o patrício romano começasse a observar.

O período, então, tomando-se por certo que o verbo é mesmo empalidecer, deveria ter sido redigido nas novas edições da seguinte forma: “Essas palavras eram ditas num tom de convicção tão ardente que o próprio charlatão israelita se fizera lívido. Barnabé também empalidecera, enquanto o nobre patrício observava o ardoroso pregador”.

e. Um capítulo em que dificuldades da língua se avolumam, sem que se possa cunhar regulação rígida para todos os casos, diz respeito à virgulação.  Como bem observam Celso Cunha e Lindley Cintra, “o ritmo acelerado da vida intensa de nossos dias obriga-nos, necessariamente, a uma elocução mais rápida” (op.cit., p. 114).  Isso afeta profundamente o modo pelo qual se apõem as vírgulas, que são indicativas de pausas melódicas de breve duração, mas dependentes do ritmo que se pretende fazer representar. Por isso convivem normalmente vírgula e ausência dela em trechos funcionalmente similares, como os seguintes, transcritos por Celso Cunha e Lindley Cintra (op.cit., p. 628):

“‘Depois levaram Ricardo para a casa da mãe Avelina’ (J. Lins do Rêgo, U320)

‘Depois, tudo caiu em silêncio’ (Castro Soromenho, TM261).”

Em algumas situações, contudo, não é demasiado inferir que a aposição da vírgula fosse o mais adequado a fazer. Em Paulo e Estêvão, há pelo menos um exemplo dessa ordem. Observe-se o seguinte passo, mantido inalterado pela 45ª edição (p. 122): “Foi pela manhã de um dia muito claro, que o futuro rabino, cercado de alguns companheiros e soldados, bateu à porta da casa humilde” (17ª edição, p. 131). Não é inapropriado sustentar que melhor quadraria aí a vírgula para isolar o aposto, o que fica nítido na seguinte reelaboração: “Foi pela manhã, de um dia muito claro, que o futuro rabino, cercado de alguns companheiros e soldados, bateu à porta da casa humilde”.

Perdoado esse pecadilho do novo escrutínio editorial ao deixar de melhorar o período, a revisão andou muito mal em suprimir pausas pertinentes da edição original. A vírgula a seguir, de oração reduzida seguida de oração subordinada explicativa restritiva, em que há equivalência com oração adverbial, é irrepreensível: “Incapaz de compreender as circunstâncias que lhe haviam modificado os planos e esperanças da vida, imputava o insucesso dos seus sonhos de mocidade (...)” (17ª edição, p.171).

Não que essa pausa se submeta a qualquer cânone impermeável, tanto que Manuel Bandeira, avesso a exageros puristas, escreveu em Itinerário de Pasárgada: “Depois de certa hora os alunos externos voltavam para suas casas e eu ficava sozinho na grande sala dos fundos do edifício” (Poesia completa e prosaRio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986, p. 50). Mas isso é prerrogativa do autor, não do revisor. Portanto, ilegítima a supressão na 45ª edição: “Incapaz de compreender as circunstâncias que lhe haviam modificado os planos e esperanças da vida imputava o insucesso dos seus sonhos de mocidade (...)” (p. 156).  

Em outro caso, a omissão da vírgula lançada na edição original desfigurou completamente o sentido da oração. A redação “se é assim ... replicou o outro, vencido” (17ª edição, p. 246) transformou-se, na 45ª, em “se é assim ... replicou o outro vencido” (p. 221), produzindo um errôneo sentido textual, como se existisse mais de um vencido.

Virgulação até certo ponto comezinha, como a que separa as inserções apositivas, já citada, não foi ainda alvo de zelo em mais um lugar da nova edição, como se vê do confronto do irretocável passo “os fariseus formalistas, da sinagoga, não mais se insurgiam contra as atividades do ‘Caminho’” (17ª edição, p. 261) com o que aparece truncadamente na 45ª como “os fariseus formalistas da sinagoga, não mais se insurgiam contra as atividades do ‘Caminho’” (p. 234).

O emprego da vírgula que se segue a uma conjunção adversativa, ainda mais quando demarca aposto, é de comum conhecimento. O período seguinte, da 17ª edição, está, então, muito bem balizado pelas pausas: “Festo recebeu a comissão, cavalheirescamente, e mostrou-se inclinado a atender, mas, prudente por índole e por dever do cargo, declarou que...” (p. 483). Na 45ª edição, a opção altera o ritmo indevidamente: “Festo recebeu a comissão, cavalheirescamente, e mostrou-se inclinado a atender mas prudente por índole e por dever do cargo, declarou que...” (p. 428).

Por último, entre outros exemplos dos descuidos virgulatórios na reedição da clássica obra espírita, deve ser aqui transcrita parte do trecho das plangentes palavras de Abigail a Saulo: “Para lembrar e seguir tuas advertências, recordava que me chamaste a atenção, à última vez que nos encontramos, para a amizade de Zacarias e de Ruth” (17ª edição, p. 177). Na 45ª edição, a beleza da pausa melódica foi banida de forma incompreensível: “Para lembrar e seguir tuas advertências recordava que me chamaste a atenção, à última vez que nos encontramos para a amizade de Zacarias e de Ruth” (p. 161).

8. Enxertia de forte desafeição ao espírito ideológico da obra está na Nota da Editora de n. 5, constante da página 17, da 45ª edição: “Antiga cidade da Grécia, no Peloponeso, junto ao Golfo Sarônico, no istmo de Corinto. São Paulo visitou-a em 55, em sua passagem rumo a Jerusalém”.

São, apócope de santo, usa-se antes de nomes iniciados por consoante. Todavia, ambos os termos antepositivos pertencem à hagiografia católica; por isso mesmo, ao serem introduzidos em texto espírita, se mostram completamente desambientados. Sem ser preciso ingressar na discussão conceitual de santidade nos domínios espiritistas, pode-se seguramente afirmar que neles não se emprega essa noção como apelo denominativo da elevação moral dos espíritos.

Ainda mais relevante é ter em conta que a forma hagiográfica afasta-se rematadamente da estética literária dos Autores, que, em nenhum momento da obra, a utilizam, nem mesmo nas notas marginais.  Por isso é que se lê do seguinte passo do Autor espiritual da obra em nota: “1) As observações de Paulo na Epístola aos Gálatas (2:11-14) referem-se a um fato anterior à reunião dos discípulos. – (Nota de Emmanuel)” (17ª edição, p. 378). A observação de pé de página foi reproduzida sem modificação na 45a edição (p. 334).

Com que, então, se pode transigir que notas alheias a um autor  destoem de sua própria maneira de construí-las e promovam, ademais, mixórdia doutrinária? Mesmo que, por algum pouco crível argumento, se admitisse esse adjunto adnominal, não deveria se ficar indiferente ao fato de que Paulo, na altura histórica da nota, ainda era Saulo e, portanto, longe dos elevados dotes morais que assinalarão sua passagem pela Terra.

9. Recurso editorial que costuma ser útil na reedição de obra clássica de cunho histórico é a apresentação de notas explicativas, meio de que, na obra Paulo e Estêvão, o Autor espiritual se serve algumas vezes, com a devida parcimônia, ao lado daquelas produzidas originariamente pela Editora da FEB.

Na 45ª edição, essas notas da Editora se multiplicaram, agora com novidade: a apresentação de significações. Palavras como sobrolho (p. 39), singultos (p. 47), algibeira (p. 54), capitoso (p. 66), onusto (p. 68), chanfalho (p. 125), astenia (p. 212) e posca (p.272) mereceram verbetes inéditos, à maneira de glossário. Discute-se, nos domínios neurocognitivos da Linguagem, se o cérebro precisa mesmo desses aportes marginais para entrar na intimidade significacional dos vocábulos pouco conhecidos.  Parece que não, já que termos corriqueiramente usados não se prendem, de ordinário, a consultas prévias de significados dicionarizados, uma vez que estes se deixam aflorar naturalmente pelas recorrências das oposições estruturais nos textos à medida que se passa cada vez mais a frequentá-los. 

Mas, tendo-se como certo que sejam úteis tais notas, fica-se a pensar qual critério de seleção terá sido usado no caso em apreço, uma vez que palavras nada usuais como adusto (p. 82), estos (p. 171), desfaçado (p. 198), repto (p. 237), repeso (p. 257), latagão (p. 328) e esmar (p. 374) ficaram alheias a qualquer atenção lexicográfica, como se fossem de uso costumeiro por toda sorte de leitor.

Quanto às notas de geografia histórica, que tiveram seu número significativamente aumentado, são elas passíveis do mesmo questionamento quanto ao critério adotado.  Trazem-se esclarecimentos sobre o que seriam e onde se localizariam Cencreia (p. 17) e também Cefalônia, Nicópolis e Citium, estas três reunidas na mesma página 49, da qual se lê, também, a primeira menção a Nea-Pafos, localidade que será novamente lembrada algumas vezes mais à frente da obra, como na página 294, onde aparece ao lado de Amatonte, que mereceu a nota de número 37.  

Nea-Pafos, contudo, não recebeu nota alguma da 45ª edição. Mas, por coerência editorial, bem que merecia. Desde 1962, escavações promovidas pelo Departamento de Antiguidades de Chipre trouxeram à luz do mundo modernos prédios públicos e edificações particulares e eclesiásticas, em trabalho que tem merecido outros empreendimentos arqueológicos de pesquisadores da Europa, Estados Unidos e Austrália. Mais recentemente, os pesquisadores australianos descobriram, nessa antiga cidade que se situava a sudoeste da famosa ilha mediterrânea, um teatro construído no século III a.C, além de arquitetura helenística típica.

O mesmo se pode dizer da ausência de qualquer nota sobre Palmira, referida na página 209, da 45ª edição. A antiquíssima cidade síria, situada quase que a exato meio caminho entre o mar Mediterrâneo e o rio Eufrates, era, nessa locação geográfica, parada obrigatória para muitas caravanas das rotas comerciais da época. Objeto de escavações desde 1929, tornou-se há pouco tempo alvo de pesar mundial porque, sob o controle da intolerância religiosa do Estado Islâmico, vários dos seus monumentos históricos foram reduzidos a pó.

Senhor Presidente, com essas modestas observações, que por aqui se encerram, torna-se recomendável que a Federação Espírita Brasileira, como fiel depositária dos direitos de publicação dessa e de outras obras do fértil conúbio mediúnico entre Francisco Cândido Xavier e Emmanuel, que lhe foram confiados  em nome da alta missão institucional de que está investida, possa doravante ficar atenta à necessidade de preservar a originalidade autoral constante da 1ª edição, por tanto tempo respeitada nas que se lhe seguiram.

Pode-se ser levado a refletir que o rigor com certas exigências normativas seja excessivo, por se estar em tempos em que o jugo da disciplina purista perdeu força censória. Esse tipo de licença, entretanto, não pertence ao editor, mas ao autor, ainda mais quando, além de trocas de regras gramaticais ao talante do revisor, se pretende interferir na própria composição estilística, cuja beleza pode estar em ser indissociáveis forma e fundo, mais ou menos como, ao som de linda canção, se frui sua estética sem que se cindam letra e melodia.  Esse é o sentimento dos que, ao longo de mais de seis décadas, leram as belas páginas de Paulo e Estêvão, induzidos pela confiança inconsciente de que o arranjo literário terá atendido aos cuidados dos Autores.

Não que esse tipo de intervenção imprópria seja incomum. Ao contrário, o prurido revisor tem atuado, ao longo dos anos, como temível espantalho na vida de escritores e poetas. Autran Dourado, ao se reportar a erros de revisão e a alterações a pretexto de correção na sua obra Uma vida em segredo, desabafou acidamente: “Me dedico com paixão à minha escrita, passo às vezes mais de um ano escrevendo um livro e não há de ser um revisor, nas suas poucas horas de trabalho com o meu livro, que vai me ensinar como escrever”, pois, segundo ele, “tenho o direito de não abrir mão de minhas particularidades para ninguém” (apud ROCHA, Diva Vasconcelos da. Comunicação (mimeo.) apresentada ao I Congresso Internacional de Filologia portuguesa. Niterói, 1973).

Um dos mais expressivos nomes da poesia de língua portuguesa, Manuel Bandeira, vez por outra dava de cara com esses cacoetes “corretivos”. Conta ele que, ao traduzir Hölderlin, compôs estrofe de Metade da Vida dessa forma: “Peras amarelas/ E rosas silvestres/ Da paisagem sobre a/ Lagoa” (op.cit., p. 93). O linotipista, achando improvável que se pudessem combinar “peras” e “rosas”, mudou para “heras amarelas”...

Mas a melhor tirada do poeta pernambucano contra o vezo corretor, e que serve de advertência geral, veio da conhecida passagem de Saudades de Quixeramobim: “Eu vivia encantoado na sala da frente, que ia de oitão a outro, com várias sacadas para o largo, mobiliada (atenção, revisor: não ponha ‘mobilada’, que é palavra que eu detesto!) com uma cama de vento, uma cadeira e um lavatoriozinho de ferro” (op.cit., p. 503).

É duvidoso que Chico Xavier, mesmo com seu encantador franciscanismo lírico, deixasse de sinalizar ar contrafeito para com as idiossincrasias editoriais na republicação da obra. Emmanuel talvez fosse ainda menos condescendente. À parte esse exercício conjectural, em caráter objetivo o que fica mesmo é o alvitre para que se preserve o engenho literário dos Autores como testemunho eloquente de que as ausências devam ser sempre respeitadas.

Atenciosamente.

Brumado, Bahia, 8 de dezembro de 2017.

João Batista de Castro Júnior (Professor do Curso de Direito da Universidade do Estado da Bahia, campus XX, Brumado. Juiz Federal titular da 1ª Vara da Subseção Judiciária de Vitória da Conquista-Ba. Mestre em Linguística Histórica e Doutor em Linguística e Cultura pela Universidade Federal da Bahia).

Capa da 45ª edição. 

Fonte: Probus

Em resposta, a Federação Espírita Brasileira publicou uma nota oficial, assinada pelo seu presidente em exercício, Jorge Godinho Barreto Nery, nota essa intitulada "A FEB e a não adulteração de obras psicografadas por Francisco Cândido Xavier", naturalmente negando qualquer alteração indevida.

Diz a nota:

1) Como é próprio da seriedade do trabalho cuidadoso da Casa de Ismael, não adulteramos as obras psicografadas pelo médium Francisco Cândido Xavier, ou de qualquer outro autor, encarnado ou desencarnado.

2) Como de praxe, no processo da produção de livros, revisões são realizadas para eventuais atualizações ortográficas e possíveis correções gramaticais e semânticas, objetivando a clareza da legibilidade textual. Para isso, adotamos o Manual de Padronização Editorial da FEB, preparado por sua equipe editorial.

3) Por meio de sua Editora, a FEB elabora notas explicativas, quando necessário, inserindo-as em rodapé de página, final de capítulo ou da obra. Enfatizamos que não há interferência no texto original oriundo da Espiritualidade. Este trabalho de revisão nunca deve interferir no estilo e no conteúdo autorais, desfigurando-os ou alterando-lhes a originalidade.

4) A exemplo da obra O evangelho por Emmanuel, esclarecemos que em nenhum momento os comentários do autor espiritual sofreram modificações. Quanto aos versículos registrados como epígrafe dos textos, adotamos metodologicamente traduções mais recentes. Em futuras edições, para a clareza da correspondência entre as palavras, serão acrescidas notas de rodapé, além das já existentes, quando um termo específico do versículo é citado no título da mensagem ou no comentário de Emmanuel.

5) A possível ocorrência de equívocos involuntários no trabalho tem sido avaliada pela Instituição e as correções, quando e se necessárias, são realizadas. Destacamos que as novas edições foram ajustadas por lei, obrigatoriamente, ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), com período de transição de 1º de janeiro de 2009 a 31 de dezembro de 2012, mas em plena vigência a partir de 1º de janeiro de 2013 (Decreto nº 6.583, 29 set. 2008). 6) Cientes da contribuição ao bom andamento do trabalho editorial e da divulgação espírita, solicitamos aos leitores que encaminhem formalmente ao Conselho Diretor e Conselho Editorial, pelo e-mail editorial@febnet.org.br, suas contribuições e sugestões para avaliação da FEB Editora.


NOSSA OPINIÃO

A necessidade de correção ortográfica é uma imposição natural, prescrita e regulamentada por lei, portanto, legitimamente garantida. A reforma na língua portuguesa acordada em 1990 e efetivada em 2013 foi profunda, requerendo assim a atualização das obras. Tal processo é usual, pois, não se concebe lermos clássicos da literatura brasileira do século XIX conforme a grafia original, por exemplo, farmácia com ph, nem velha acentuação em palavras como "assembleia", "cinquenta", "voo", "polo" etc. Esse tipo de atualização está correto.

Porém, há sim mexidas mais sensíveis, como as que vimos no estudo apresentado pelo Dr. João Batista de Castro Júnior, sobre a obra Paulo e Estêvão, que merecem mais apurada reflexão e nos juntamos aos que pedem diálogo com a FEB, como o próprio linguista supracitado, no sentido de que essas alterações sejam revistas nas futuras publicações e, se possível, sejam recolhidos os volumes em estoque com essas edições contendo as alterações que  no nosso entender — foram realmente mal processadas.

Não vemos, contudo, maldade mesmo nessas mexidas — que alguns confrades acusam-nas diretamente de adulteração, então, supostamente deliberada e dirigida com uma finalidade ideológica qualquer. Ressaltamos: não consideramos seja esse o caso nem apoiamos a demonização da instituição e das pessoas lá integradas. Por outro lado, abstendo-nos de pensar em "maldade proposital", temos de considerar a "imperícia" dos agentes responsáveis pelas atualizações editoriais. E não podemos conceber passivamente que uma Federação Espírita Brasileira permita tal negligência; estamos lidando com obras de inestimável importância para o desenvolvimento do Espiritismo, e cada ato institucional precisa ser muito bem elaborado e executado.

Desta forma, ocorridos os erros, nada mais digno e necessário do que admiti-los e providenciar a correção o mais urgente possível. Errar é humano, mas evoluir é compromisso de todos.

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