segunda-feira, 29 de abril de 2019

Sala de Leitura: lançamento de "A Pedra e o Joio" de José Herculano Pires


Mais um clássico da literatura espírita chegou para rechear o acervo da nossa Sala de Leitura, oferecendo-nos assim mais subsídios para nossos estudos doutrinários, uma obra inspiradora para todos aqueles que já compreendem a necessidade de contribuirmos positivamente com o movimento espírita, na defesa dos conceitos básicos do Espiritismo: A Pedra e o Joio.

Veja a sinopse do livro:

Nesta obra, o célebre filósofo espírita José Herculano Pires refuta uma tese oferecida num livro de Hernani Guimarães Andrade, intitulado "A Teoria Corpuscular do Espírita", que Herculano Pires vai demonstrar ser racionalmente insustentável e, por conseguinte, contrária aos princípios da Doutrina Espírita. 
Aproveitando o ensejo, o autor discorre sobre o modismo dentro do movimento espírita de se tentar reinventar o Espiritismo ou, pior, pretender torná-lo obsoleto. 
"A vaidade e a ambição levam muita gente a dar passos mais largos que as pernas permitem. É o que hoje vemos, de maneira assustadora, em nosso meio espírita. Os casos de fascinação multiplicam-se ao nosso redor. Pessoas que podiam ser úteis se transformam em focos de confusão e perturbação, entravando a marcha do Espiritismo com a sustentação de teorias absurdas que levam a doutrina ao ridículo. Qualquer possuidor de diplomas de curso superior se julga capacitado a transformar-se em cientista do dia para noite. O resultado é o que vemos. Há mais joio do que trigo em nossa seara espírita".

José Herculano Pires é foi um notável filósofo espírita paulista, célebre por sua autenticidade em defender Kardec e os conceitos doutrinários do Espiritismo.

Saiba mais sobre o autor na Enciclopédia Espírita Online.

Clique aqui e baixe agora mesmo o ebook (PDF) A Pedra e o Joio de J. Herculano Pires.

terça-feira, 23 de abril de 2019

"Livre-pensador" segundo Allan Kardec


Temos visto muito se falar que o Espiritismo é a doutrina do "livre-pensador" e que o "Livre-pensamento" é a tônica da Doutrina Espírita. Há tantos chavões no Movimento Espírita supondo nortear as consciências à "verdadeira verdade" que não é difícil ficar confuso, pois uma são expostas com tal enfoque e envoltas com tanto ar de autoridade que até assustam, dando a entender que não fazer parte de tal ciclo idealizado implica em nos colocarmos fora do próprio Movimento Espírita.

Mas então, o que vem a ser esse livre-pensamento? Essa conceituação condiz com que os ideias fundamentais da nossa doutrina?

Bem, a resposta é que, apesar de sempre precisarmos considerar o "contexto", porque etimologicamente os termos são dinâmicos, o fato é que essa ideia de livre-pensamento fez parte das "preocupações" de Allan Kardec na análise do desenvolvimento do Espiritismo. Precisamente na Revista Espírita de fevereiro de 1867, que acabamos de incluir na nossa Sala de Leitura (veja aqui), o codificador espírita tratou do tema no artigo intitulado "Livre-pensamento e livre-consciência".


A questão elementar tratada por Kardec é a existência, apontada por ele, de duas classes de pessoas que se autointitulam "livres-pensadores": uma de incrédulos e a outra de crentes. Esse artigo é uma continuação a outro, publicado no mês anterior (janeiro de 1867), de cujo título "Olhar retrospectivo sobre o Movimento Espírita", que é também uma resposta a um movimento de "intelectuais" que propuseram a ideia de livre-pensamento para aqueles que "não se sujeitam à opinião de ninguém em matéria de religião e de espiritualidade, que não se julgam atrelados pelo culto em que o nascimento os colocou sem o seu consentimento, nem obrigados à observação de práticas religiosas quaisquer", conceito esse que Kardec retifica: "todo homem que não se guia pela fé cega é, por isto mesmo, livre-pensador. A este título os espíritas também são livres-pensadores", pois o livre-pensamento não é estar desatrelado a qualquer crença, mas estar livre do que não se impõe pela racionalidade (já que pensar é essencialmente ser racional), admitindo assim, como consequência lógica, a crença raciocinada. Aliás, a negação de uma verdade plausível é o oposto da ideia racional de livre-pensamento, posto que essa negação só poderia se dar por preconceito, que não deixa de ser uma prisão, uma cegueira consciente.

Esses "intelectuais" haviam criado um órgão para reverberar suas vozes, o jornal Livre-pensamento. Da 2ª edição deste veículo, de outubro de 1866, Kardec destaca o seguinte trecho para depois refutar as ideias publicadas:

As questões de origem e de fim até aqui têm preocupado a Humanidade a ponto de, por vezes, lhe perturbar a razão. Esses problemas, que foram qualificados de temíveis, e que julgamos de importância secundária, não são do domínio imediato da Ciência. Sua solução científica não pode oferecer senão uma semicerteza. Tal qual é, entretanto, ela nos basta, e não tentaremos completá-la por argúcias metafísicas. Aliás, nosso objetivo é só nos ocuparmos de assuntos abordáveis pela observação. Pretendemos ficar na terra. Se, por vezes, dela nos afastamos para responder aos ataques dos que não pensam como nós, a incursão fora do real será de curta duração. Teremos sempre presente à lembrança este sábio conselho de Helvécio: “É preciso ter coragem de ignorar o que não se pode saber”. 
Um novo jornal, a Livre-consciência, nosso irmão mais velho, como faz notar, deseja-nos boas-vindas em seu primeiro número. Nós lhe agradecemos pela maneira cortês por que usou o seu direito de progenitura. Nosso confrade pensa que, malgrado a analogia dos títulos, nem sempre estaremos em “completa afinidade de ideias”. Após a leitura de seu primeiro número estamos certos disso; também não compreendemos a livre-consciência senão como o livre-pensamento com um limite dogmático previamente assinalado. Quando se declara claramente discípulo da Ciência e defensor da livre-consciência, é irracional, em nossa opinião, estabelecer como dogma uma crença qualquer, impossível de provar cientificamente. A liberdade assim limitada não é liberdade. Por nossa vez, damos as boas-vindas à Livre-consciência e estamos dispostos a ver nela uma aliada, pois declara querer combater por todas as liberdades... menos uma.

A refutação de Kardec começa por estranhar que os tais "livres-pensadores" considerem a origem e destino da humanidade sejam coisas secundárias, afinal, o que pode haver de mais importante para nós do que essas duas questões?

Depois eles vão dizer que tais questões perturbam a razão dos homens. Ora, como questionou Kardec, o que pode ser mais perturbador do que a inexistência de um sentido maior para a vida do que o amanhã pós-morte, que tem relação direta com o que fomos, antes do nosso nascimento. Não seria a falta de uma perspectiva positiva algo mais aterrador do que qualquer crença espiritualista?

Daí vem as ponderações de Allan Kardec:

Ninguém contestará que saber de onde se vem e para onde se vai, o que se fez na véspera e o que se fará amanhã, não seja uma coisa necessária para regular os negócios diários da vida, e que esse princípio não influa na conduta pessoal. Certamente o soldado que sabe para onde o conduzem, que vê o seu objetivo, marcha com mais firmeza, mais disposição, mais entusiasmo do que se o conduzissem às cegas. Dá-se o mesmo do pequeno ao grande, da individualidade ao conjunto. Saber de onde se vem e para onde se vai não é menos necessário para regular os negócios da vida coletiva da Humanidade. No dia em que a Humanidade inteira tivesse certeza de que a morte não tem saída, veria uma confusão geral e os homens se atirando uns contra os outros, dizendo: se não devemos viver senão um dia, vivamos o melhor possível, não importa à custa de quem!

Dito isto, vê-se a necessidade de uma melhor conceituação para a ideia de livre-pensamento oferecida por aqueles intelectuais descrentes, o que Kardec propõe com cirúrgica precisão, e que nos dá bons subsídios para nossa reflexão sobre a ideia de livre-pensador:

Em sua acepção mais vasta, o livre-pensamento significa: livre-exame, liberdade de consciência, fé raciocinada; simboliza a emancipação intelectual, a independência moral, complemento da independência física; não quer mais escravos do pensamento, pois o que caracteriza o livre-pensador é que este pensa por si mesmo, e não pelos outros; em outros termos, sua opinião lhe é própria. Assim, pode haver livres-pensadores em todas as opiniões e em todas as crenças. Neste sentido, o livre-pensamento eleva a dignidade do homem, dele fazendo um ser ativo, inteligente, em vez de uma máquina de crer. 
No sentido exclusivo que alguns lhe dão, em vez de emancipar o espírito, restringe a sua atividade, fazendo-o escravo da matéria. Os fanáticos da incredulidade fazem num sentido o que os fanáticos da fé cega fazem em outro. Então estes dizem: Para ser segundo Deus é preciso crer em tudo o que cremos; fora de nossa fé não há salvação. Os outros dizem: Para ser segundo a razão, é preciso pensar como nós, não crer senão no que cremos; fora dos limites que traçamos à crença, não há liberdade, nem bom-senso, doutrina que se formula por este paradoxo: Vosso espírito só é livre com a condição de não crer no que quer, o que significa para o indivíduo: Tu és o mais livre de todos os homens, desde que não vás mais longe do que a ponta da corda à qual te amarramos.

E a refutação continua, com o estilo elevado de Kardec, merecendo que todo bom estudioso espírita invista bom tempo estudando e apreciando essa riqueza teórica disposta na Revista Espírita. Vejamos aqui mais um trecho:

O Espiritismo é, como pensam alguns, uma nova fé cega, que substituiu outra fé cega? Em outras palavras, uma nova escravidão do pensamento sob nova forma? Para o crer, é preciso ignorar os seus primeiros elementos. Com efeito, o Espiritismo estabelece como princípio que antes de crer é preciso compreender. Ora, para compreender é necessário que se faça uso do raciocínio; eis por que ele procura dar-se conta de tudo antes de admitir alguma coisa, a saber, o porquê e o como de cada coisa. É por isso que os espíritas são mais cépticos do que muitos outros, em relação aos fenômenos que escapam do círculo das observações habituais. Não se baseia em nenhuma teoria preconcebida ou hipotética, mas na experiência e na observação dos fatos; em vez de dizer: “Crede primeiro, e depois compreendereis, se puderdes”, diz: “Compreendei primeiro, e depois acreditareis, se quiserdes.” Não se impõe a ninguém; diz a todos: “Vede, observai, comparai e vinde a nós livremente, se isto vos convém.” Falando assim, ele entra com grande chance no número dos concorrentes. Se muitos vão a ele, é porque satisfaz a muitos, mas ninguém o aceita de olhos fechados. Aos que não o aceitam, ele diz: “Sois livres e não vos quero; tudo o que vos peço é que me deixeis minha liberdade, como vos deixo a vossa. Se procurais me excluir, temendo que vos suplante, é que não estais muito seguros de vós.”

Então, não deixe de conferir o artigo na íntegra, acessível na Revista Espírita - coleção de 1867

Bom, Kardec descreveu duas classes. Acrescente-se, ainda, uma terceira via, muito comum nos dias correntes: a de alguns que pretendem que não devamos estar "presos" a nenhum conceito, sequer os fundamentos do Espiritismo. Estes pretendem uma generalidade total de ideias, o tal do "espírita universalista", que se mistura com tudo e admite facilmente o sincretismo, como se o Espiritismo fosse uma ideia vaga, sem alicerce doutrinário, sem fundamentos, o que bem pode ser diagnosticado como um gosto oculto pelo anarquismo, a falta de organização, ordem, disciplina, dada a ilusão de uma liberdade total dos indivíduos, enquanto que entendemos a Doutrina Espírita como o oposto disso, uma síntese demonstrativa da ideia original do Cosmos: a ordem, a justeza das coisas, a magnitude divina manifesta em sua Criação.

Então, que tipo de livre-pensador é você?

sábado, 20 de abril de 2019

Estudo e reflexão: "Páscoa" - Grupo Marcos


Estudo e reflexão sobre toda a simbologia da Páscoa, a posição de Jesus em relação às tradições judaicas quanto a essa festividade secular, reinterpretando-a sob as lentes luminosas do Espiritismo.

Estudo em áudio produzido pelo Grupo Marcos, parceiro da Luz Espírita.

Clique aqui para acessar.

terça-feira, 16 de abril de 2019

Celebração do histórico 18 de Abril de 1857 - Lançamento de "O Livro dos Espíritos" e nascimento do Espiritismo


Chegamos a mais um 18 de abril, dia especial para os espíritas em função de mais um aniversário de lançamento de O Livro dos Espíritos, a obra inaugural da Doutrina Espírita, tornando aquele histórico 18 de abril de 1857 a data de, por assim dizer, nascimento do Espiritismo. Note-se que aqui, ao usarmos esse epíteto, estamos nos referindo à doutrina que teve seus fundamentos alicerçados por Allan Kardec, com a chamada "Codificação Espírita". Isto dizemos porque, mesmo o codificador espírita, por vezes considerou o termo "espiritismo" uma designação comum aplicada à série de fenômenos espirituais, o que hoje nós tratamos apenas como "espiritualismo", sendo o Espiritismo pertencente ao universo espiritualista (comum a todas as doutrinas que consideram a sobrevivência espiritual do ser após a morte terrena), mas devidamente especificada, porque a Doutrina Espírita tem suas características que a distinguem das demais teorias espiritualistas, no que não tememos em associar "Espiritismo" como "Kardecismo", no sentido de que observa os conceitos fundamentais formulados por Kardec.

Seria de se pensar se temos muito o que comemorar, o que resultariam em opiniões diversas, pois há os que estão muito contentes com o desenvolvimento prático da doutrina, assim como há tantos que lamentam os frutos do movimento espírita em relação às expectativas da espiritualidade para as transformações do nosso mundo. Mas, de nossa parte, pretendemos hoje — pelo menos só por hoje — reservar a data para celebrarmos as luzes que essa doutrina amada já nos concedeu.


Allan Kardec

E em ritmo de comemoração, temos de positivo a espera pelo lançamento do filme Kardec - a história por trás do nome, previsto para estrear 16 do próximo mês. Sabemos da força do cinema e cremos que a biografia cinematográfica do codificador espírita dará boa exposição ao Espiritismo e esperamos que a semente chegue em muitos corações através das telonas.

Outra expectativa positiva, à qual já há algum tempo temos depositado bastante confiança, é o Projeto Cartas de Kardec (veja aqui). A propósito,  queremos compartilhar com todos mais um divulgação da equipe responsável pelo projeto, constando a fotocópia e a tradução de uma carta de Allan Kardec, cuja original faz parte do acervo do Dr. Canuto Abreu,

Eis os documentos distribuídos pela equipe do projeto:






Contextualizando o documento, temos que se trata de uma resposta, datada de 23 de agosto de 1860, do pioneiro espírita a uma correspondência de um confrade brasileiro, Dr. Francisco Antônio Pereira Rocha, que inclusive manifestou interesse em traduzir para o nosso português o livro inaugural do Espiritismo e mais o opúsculo Instrução Espírita (que depois foi reeditado como O Livro dos Médiuns), para o que Kardec deu consentimento, em favor da divulgação da doutrina.

Não sabemos se o nosso conterrâneo levou a efeito o seu desejo de traduzir O Livro dos Espíritos, mas é relevante notarmos o interesse demonstrado por Kardec em saber da andamento do movimento espírita no Brasil, tanto que, a fim de estreitar laços, ele concede ao Dr. Francisco o título de membro correspondente.

A equipe de tradução acrescentou à carta a nota biográfica do brasileiro: Dr. Francisco Antônio Pereira da Rocha era um advogado, nascido na Bahia e falecido em junho de 1882; bacharel em Direito e autor de diversas obras do ramo jurídico e outros assuntos, sob a fonte da Encyclopédia Illustrada de Maximiano Lemos.

Os referidos arquivos estão dispostos neste link.


E ainda em tom festivo, por que não aproveitarmos a data para nos instruirmos ainda mais sobre a nossa amada doutrina? Nossa sugestão para esta data é o bom filme-documentário O Espiritismo: de Kardec aos dias de hoje.


E para fechar, confira também a Enciclopédia Espírita Online.


segunda-feira, 15 de abril de 2019

Série Poesia Espírita: "O despertar de um Espírito" de Jodelle (Espírito)


Da série Poesia Espírita, trazemos agora o sétimo vídeo da coleção com a composição "O Despertar de um Espírito", assinado pelo Espírito Jodelle, contido na Revista Espírita editada por Allan Kardec, na edição de dezembro de 1858, artigo "Poesia Espírita", declamado por Katia Pelli.

Confira o vídeo com a declamação:


O autor do poema, o Espírito Jodelle, é desconhecido, bem como o médium que recebeu a mensagem. Diz Kardec que o poema foi dado espontaneamente (ou seja, o Espírito não foi evocado nominalmente) por meio de uma cesta (tendo um lápis fixado em uma ponta) tocada por uma "senhora" e um "menino", e o texto então remetido à Kardec por um dos assinantes da Revista Espírita.


Étienne Jodelle (1532-1573)

A título de hipótese, poderíamos supor que o autor espiritual desses versos seja o poeta e dramaturgo francês Étienne Jodelle (1532-1573), nascido e falecido em Paris, onde sua obra exerceu grande influência artística (ver sua biografia em francês).

A declamação deste poema foi uma gentileza de Katia Pelli, divulgadora espírita e comunicadora da Rádio Boa Nova e TV Mundo Maior, emissoras da FEAL - Fundação Espírita André Luiz. Veja mais aqui.

Clique aqui e confira o playlist com todos os vídeos da Série Poesia Espírita.

domingo, 14 de abril de 2019

Documentário "Espiritismo à Francesa" em versão traduzida para o inglês

O filme-documentário Espiritismo à Francesa - a derrocada do Movimento Espírita na França pós-Kardec (disponível online aqui) produzido pela Luz Espírita, com a coprodução dos canais Autores Espíritas Clássicos e ArtEspírita, e lançado em janeiro de 2018 (lançamento aqui) está sendo vertido para o idioma inglês, pelo que será intitulado The Downfall of the Original French Spiritist Movement post-Kardec, cuja tradução é uma gentileza da equipe da escola The Point of Fluency.

Veja o cartaz da versão inglesa do documentário:


O trabalho de edição da versão traduzida já está na fase final e em breve o filme estará disponível gratuitamente na internet, com narração, título, subtítulos, citações e tudo o mais traduzidos para a língua mais importante do mundo na atualidade, oferecendo aos falantes do inglês uma boa oportunidade de conhecer melhor uma fase importante, embora um tanto triste, da História do Espiritismo.

Enquanto aguarda a versão traduzida, vale a pena rever o vídeo original.


Se você gostou da novidade, favor, compartilhe!

sábado, 13 de abril de 2019

Pesquisa Nacional Espírita 2019


O Portal Luz Espírita acredita na utilidade desse trabalho e o compartilha convidando todos os espíritas a participarem da pesquisa coordenada por Ivan Franzolim (saiba mais aqui).
Esta pesquisa procura colaborar com o Movimento Espírita, levantando dados sobre o modo de pensar e se comportar dos espíritas. Com esses indicadores, as instituições podem identificar as necessidades dos frequentadores e trabalhadores, além de ajustar suas estratégias e ações de comunicação.
O questionário não possui respostas certas e erradas. O conteúdo da pesquisa será tabulado em grupo, sem identificação pessoal dos participantes. Os resultados serão disponibilizados no blog: http://franzolim.blogspot.com.br.

Dez a quinze minutos é o tempo de preenchimento. A pesquisa se encerrará em 30 de junho de 2019.
Dúvidas e informações podem ser obtidas pelo e-mail: ifranzolim@bol.com.br.

segunda-feira, 8 de abril de 2019

"Leymarie, aceite os meus conselhos...!" por Ery Lopes


Publicamos aqui recentemente o lançamento na nossa Sala de Leitura da Revista Espírita - Coleção 1867de Allan Kardec (ver aqui), da qual pomos em evidência um trecho que pensamos ser bastante oportuno para os dias correntes, enquanto temos assistido a grandes descobertas acerca da História do Espiritismo, com especial expectativa para o projeto Cartas de Kardec (saiba mais aqui).



O trecho ao qual nos referimos consta da edição da Revue Spirite (Revista Espírita) fevereiro de 1867, na clássica seção "Dissertações espíritas", na qual várias entidades espirituais se dirigiam à Kardec e demais membros da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas para lhes dar suas opiniões e conselhos acerca de variados temas. O item específico é uma comunicação intitulada "A Clareza", assinada pelo Espírito Sonnez, recebida ali em 5 de janeiro de 1866 através da mediunidade do Sr. Leymarie.

Ora, pois, estamos falando de Pierre-Gaëtan Leymarie (1827-1901), registrado por muitos livros e enciclopédias como "o continuador da obra de Allan Kardec" e, portanto, grande contributo da Doutrina Espírita. Acontece que, como temos acompanhado um grande resgate histórico do Espiritismo, os fatos vão se apresentando e certos conceitos redesenhados mediante as evidências. No caso em questão — infelizmente — temos que a "obra espírita" de Leymarie tem se revelado nefasta para a nossa doutrina.


Pierre-Gaëtan Leymarie

De fato, Leymarie foi um joio no meio do trigo espírita cujos danos são incalculáveis. A quem mesmo quem lhe atribua o fracasso do Espiritismo na França logo após a morte do Codificador espírita. Talvez seja uma sentença demasiada forte, no entanto é patente que ele teve um peso enorme na "descontinuação da obra kardequiana", conforme podemos conferir no documentário Espiritismo à Francesa - a derrocada do Movimento Espírita Francês pós-Kardec (Luz Espírita, 2018).



Também Leymarie esteve diretamente envolvido em outro esdrúxulo episódio da historiografia espírita: a adulteração do livro A Gênese de Allan Kardec, conforme a pesquisa realizada pela diplomata brasileira e pesquisadora espírita Simoni Privato Goidanich em seu livro O Legado de Allan Kardec. (saiba mais aqui).



E muito mais está por vir aí, pelo menos é a expectativa em torno do projeto Cartas de Kardec, nas mãos da FEAL - Fundação Espírita André Luiz, já citado neste post. Uma demonstração prática disso é a fraude de um importante texto de Kardec que Leymarie inseriu no livro Obras Póstumas, tanto que, na exposição do ebook deste livro em nossa Sala de Leitura, colocamos a seguinte advertência: "ATENÇÃO: informações recentes sugerem que textos da autoria de Allan Kardec foram adulterados e inseridos nesta obra, pelo que, recomendamos sua leitura com o máximo de rigor crítico enquanto tais alterações sejam apuradas e a obra seja relançada.(saiba mais aqui).



Pois bem, é de se pensar que, pela relevância da continuação da obra de Kardec na propagação do "Consolador Prometido", a "Terceira Revelação" da lei de Deus, a espiritualidade deveria ter agido de forma mais veemente, seja para impedir que Leymarie indevidamente se apossasse  como o fez — do movimento espírita e daí lhe encaminhasse à ruína na França e, por conseguinte, em toda a Europa. E convém tenhamos em conta que, tendo Kardec à frente, o Espiritismo só crescia, tanto que os eufóricos prognósticos eram de que nos primeiros anos do século seguinte, a Doutrina Espírita já seria a "doutrina predominante no mundo", encaminhando a Humanidade rápida e decididamente à Nova Era; sob o comando de Leymarie, ao contrário, o Espiritismo praticamente foi varrido do Velho Continente, incluso no solo francês, seu berço.

A esta colocação, diríamos que os mentores espirituais contribuem com um tanto e necessariamente esperam pela contrapartida dos homens — quem deveria ser os mais interessados , inclusive pelo critério de livre-arbítrio a ser respeitado, como condição mesma de evolução humana.


Por que os Espíritos superiores permitem que pessoas dotadas de grande poder, como médiuns, e que muito de bom poderiam fazer, sejam instrumentos do erro?
“Os Espíritos de que falam procuram influenciá-las; mas, quando essas pessoas consentem em ser arrastadas para mau caminho, eles as deixam ir. Daí o fato de se servirem delas com repugnância, visto que a verdade não pode ser interpretada pela mentira.”

O Livro dos Médiuns, Allan Kardec - cap. XX questão 7ª.

De outra sorte, poder-se-ia indagar se não seria o caso de a espiritualidade ajudar Leymarie em sua missão, posto que talvez fosse inevitável que ele tivesse que passar pela provação de "beber da fonte do poder". Não poderiam os Espíritos lhe ter advertido de forma mais concreta?

É sobre esta outra situação que resgatamos o trecho na dita Revista Espírita. Pois é que Leymarie, um dos mais requisitados médiuns da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, não deixou de ser instruído sobre seus deveres espíritas e alertado sobre as vicissitudes de sua missão — que certamente foi planejada, em seu plano reencarnatório, para almejar êxito e verdadeiramente dar continuidade à obra espírita de Kardec, de quem era "amigo".

Por tantas vezes o Codificador enfatizou que cumpre primeiramente ao médium tirar os ensinamentos dos bons Espíritos, visto serem eles os primeiros a receber essas comunicações...! Daí temos Erasto a prever contra estes: "Serão punidos duplamente se fizerem mau uso delas, porque têm um meio a mais de se esclarecerem e o não aproveitam. Aquele que vê claro e tropeça é mais censurável do que o cego que cai no fosso." (O Livro dos Médiuns, Allan Kardec - cap. XX - questão 3ª).

Dito isto, vejamos o quão emblemática nos parece a então comunicação que Leymarie recebeu na SPEE (obs: os grifos em negrito são nossos):

A CLAREZA
(Sociedade de Paris, 5 de janeiro de 1866 – Médium: Sr. Leymarie)

Conceder-me-íeis hospitalidade para a vossa primeira sessão de 1866? Abraçando-o fraternalmente, desejo vos apresentar votos amigos; que possais ter muitas satisfações morais, muita vontade e caridade perseverante.

Neste século de luz, o que mais falta é clareza! Os semissábios, os papões da imprensa, fizeram valentemente o trabalho da aranha, para obscurecer, por meio de um tecido supostamente liberal, tudo o que é claro, tudo que aclara.

Caros espíritas, encontrastes em todas as camadas sociais esta força de raciocínio que é a marca da inteligência dos seres bem-sucedidos? Ao contrário, não tendes a certeza de que a grande maioria de vossos irmãos apodrece numa ignorância malsã?

Por toda parte as heresias e as más ações! As boas intenções, viciadas em seu princípio, caem uma a uma, semelhantes a esses belos frutos, cujo cerne um verme rói e o vento lança por terra. A clareza nos argumentos, no saber, acaso teria escolhido domicílio nas academias, entre os filósofos, os jornalistas ou os panfletários?... Ao que parece, poder-se-ia duvidar, vendo-os, a exemplo de Diógenes, de lanterna à mão, procurar uma verdade em pleno sol.

Luz, claridade, sois a essência de todo movimento inteligente! Logo inundareis com os vossos raios benfazejos os mais obscuros refolhos desta pobre Humanidade; sois vós que tirareis do lamaçal tantos terrícolas pasmados, embrutecidos, Espíritos infelizes que devem ser purificados pela instrução, pela liberdade e, sobretudo, pela consciência de seu valor espiritual. A luz expulsará as lágrimas, as penas, os sombrios desesperos, a negação das coisas divinas, todas as más vontades! Sitiando o materialismo, ela o forçará a não mais se abrigar por trás dessa barreira factícia, carcomida, de onde arremessa desajeitadamente suas flechas sobre tudo quanto não é obras sua.

Mas as máscaras serão arrancadas e então saberemos se os prazeres, a fortuna e o sensualismo são mesmo os emblemas da vida e da liberdade. A clareza é útil em tudo e a todos; no embrião como no homem é preciso luz! Sem ela tudo marcha às cegas e, às apalpadelas, a alma busca a alma.

Que se faça uma noite eterna! Logo as coisas harmoniosas desaparecerão de vosso globo, as flores estiolar-se-ão, as grandes árvores serão destruídas; os insetos, a Natureza inteira não mais darão esses mil ruídos, a eterna canção de Deus! Os regatos banharão barrancos desolados; o frio terá tudo mumificado, a vida terá desaparecido!...

É o mesmo para o Espírito. Se fizerdes noite em seu redor, ele ficará doente; o frio petrificará suas tendências divinas; o homem, como na Idade Média, entorpecer-se-á, semelhante em sua alma às solidões selvagens e desoladas das regiões boreais!

É por isto, espíritas, que vos deveis a todas as clarezas.

Mas antes de aconselhar e ensinar, começai primeiro por esclarecer os menores recônditos de vossa alma. Quando, bastante depurados para nada temer, puderdes elevar a voz, o olhar, o gesto, fareis uma guerra implacável à sombra, à tristeza, à ausência de vida; ensinareis as grandes leis espíritas aos irmãos que nada sabem do papel que Deus lhes assinala.

1866, possas tu, para os anos por vir, ser esta estrela luminosa, que conduzia os reis magos para a manjedoura de uma humilde criança do povo. Eles vinham render homenagem à encarnação que devia representar, no mais vasto sentido, o Espírito de Verdade, esta luz benfeitora que transformou a Humanidade.

Por esse menino tudo foi realizado! É bem ele que eterniza a graça e a simplicidade, a caridade, a benevolência, o amor e a liberdade.

O Espiritismo, estrela luminosa que também é, deve rasgar, como o fez aquela há dezoito séculos, o véu sombrio dos séculos de ferro, conduzir os terrícolas à conquista das verdades prometidas. Saberá ele bem se desvencilhar das tempestades que nos prometem as evoluções humanas e as resistências desesperadas da ciência em apuros? É o que vós todos, meus amigos, e nós, vossos irmãos da erraticidade, somos chamados a melhor acusar, inundando este ano com as claridades conquistadas.

Trabalhar com este objetivo é ser adepto do Menino de Belém, é ser filho de Deus, de quem emanam toda luz e toda clareza.
Sonnez

Veja-se a quantas "claridades" foi o médium Leymarie encaminhado, e isso sem contar de outras tantas mensagens que foram transmitidas pela sua mediunidade, nas demais edições da Revista Espírita e outras que não Kardec não teve tempo de publicar. Acrescente-se a isso as instruções mentais que não foram postas no papel, que o médium guardou consigo. Tivesse ele ouvido os bons Espíritos, o movimento espírita francês e europeu possivelmente teriam durando mais e, quem sabe, mudado o curso da História do século XX sensivelmente. Quem sabe?...

Não faltou, portanto, um bom Espírito a dizer ao sucessor de Kardec: "Leymarie, meu irmão, aceite os meus conselhos...".

Se damos visibilidade a essas conclusões, não o fazemos para denegrir a memória do referido personagem (quem, por sinal, nós supomos já esteja reabilitado e trabalhando pela doutrina de forma produtiva), tampouco estão nossos conclusões carregadas de rancor ou mesmo lamentação gratuita: nós o fazermos, antes de tudo, pela precisão histórica, mas também pela lição — conquanto amarga — que daí devemos todos colher, muito falíveis que somos ainda e porque cada qual traz em seu plano reencarnatório suas obrigações espirituais, tendo em mente que o Espiritismo tem origem divina, porém requer a contribuição humana — exatamente para quem ele se destina.

Afinal, o futuro do Espiritismo será o que dele os espíritas fizerem.

Ery Lopes

Videopalestra com Charles Kempf sobre o tema "160 anos de Espiritismo"


Recentemente fizemos aqui o registro da visite do pesquisador espírita francês Charles Kempf ao Brasil (ver aqui), o que não cansamos de louvar, pelo seu carisma e pela sua contribuição à Doutrina Espírita. No ensejo disso, ofertamos a todos um bom exemplo da bagagem doutrinária e conhecimento da historiografia espírita de Kempf postos em uma palestra realizada em Zurique,  durante o 1° Congresso Espírita da Suíça, em 2017.

Confiram a exposição de Charles Kempf:



E agora é a sua vez de nos ajudar compartilhando esse trabalho, propagando assim o Espiritismo.

sexta-feira, 5 de abril de 2019

Reportagem da BBC: "Como Allan Kardec popularizou o espiritismo no Brasil, o maior país católico do mundo"


A reputada rede britânica de rádio e televisão BBC publicou esta semana em seu site uma reportagem sobre Espiritismo, provavelmente motivada pela passagem dos 150 anos da desencarnação de Allan Kardec, o codificador da Doutrina Espírita, bem como pela expectativa do lançamento do filme "Kardec - a história por trás do nome", de Wagner de Assis, cuja estreia está marcada para 16 de maio.

É sempre interessante acompanharmos o que a imprensa (que tem por princípio ser laica) escreve sobre Espiritismo, razão pela qual reproduzimos aqui toda a matéria publicada pela BBC, cujo original está disponível no neste link.

Vejamos então o que diz o jornalista André Bernardo, da BBC News Brasil, que assinou a matéria:



Como Allan Kardec popularizou o espiritismo no Brasil, o maior país católico do mundo

  • 1 abril 2019


Paris, 1857. O professor francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, de 53 anos, estava prestes a colocar um ponto final em seu mais novo livro quando se viu tomado por uma dúvida: usar seu nome de batismo ou recorrer a um pseudônimo?
Sua mais nova publicação, O Livro dos Espíritos, nada tinha a ver com os mais de 20 livros didáticos, de física, química e matemática, que ele já tinha escrito e eram adotados em escolas e universidades. Foi quando Rivail se lembrou de que, em uma das muitas sessões mediúnicas de que participou, um "amigo espiritual de vidas passadas" de nome Zéfiro havia dito que, na época do imperador Júlio César, entre 58 e 44 antes de Cristo, ele tinha sido um líder druida na sociedade celta. Seu nome? Allan Kardec.
"O recurso do pseudônimo tinha a vantagem de não expor Rivail numa época em que, embora a heterodoxia religiosa fosse tolerada, sempre se corria riscos", explica Mary Del Priore, doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) e autora de Do Outro Lado - A História do Sobrenatural e do Espiritismo (Planeta, 2014). "Era também uma forma de proteger sua carreira editorial, sem dar chance de retaliação por parte de instituições de ensino religioso que tivessem adotado seus manuais".
Kardec levou quase dois anos para concluir O Livro dos Espíritos. Em momento algum, se considerou o "autor" da obra. Na melhor das hipóteses, era apenas seu organizador. Não por acaso, a folha de rosto da primeira edição estampava a frase: "Escrito e publicado conforme o ditado e a ordem de espíritos superiores". Para realizar as "entrevistas com o além", Kardec conheceu e fez amizade com mais de dez médiuns - termo criado por ele para designar os "intermediários" entre os vivos e os mortos. Suas mais assíduas "colaboradoras" eram as irmãs Julie e Caroline Baudin, de 14 e 16 anos, e Ruth Japhet, de 19.
Quanto aos "amigos invisíveis", eram incontáveis: o filósofo grego Sócrates, o apóstolo e evangelista João, o cientista americano Benjamin Franklin... "Por ser inaugural, considero O Livro dos Espíritos, no formato de perguntas e respostas, a mais importante obra de Kardec. As perguntas correspondem ao papel dele na publicação. Já as respostas são atribuídas a 'espíritos superiores'.
Para os adeptos de Kardec, o livro é, literalmente, 'dos espíritos'", explica Emerson Giumbelli, doutor em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisador do Núcleo de Estudos da Religião (NER) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
O Livro dos Espíritos foi lançado no dia 18 de abril de 1857 e, em apenas dois meses, vendeu todos os 1.500 exemplares da primeira tiragem. Três anos depois, uma segunda edição, revista e ampliada de 501 perguntas e respostas para 1.019, chegou às livrarias. Logo, a doutrina espírita despertou a ira da Igreja Católica que considerava a necromancia, a suposta arte de adivinhar o futuro por intermédio dos mortos, um pecado mortal.

Por essa e outras razões, jovens médiuns eram internadas em hospícios e adeptos do espiritismo ameaçados de excomunhão. No dia 9 de outubro de 1861, a intolerância chegou ao ponto de o bispo de Barcelona, Antônio Palau y Termens, ordenar que 300 exemplares da obra fossem queimados em praça pública.
Mas, apesar dos pesares, Kardec procurava não se abater. Encontrava consolo no relato de leitores do mundo inteiro que atribuíam a seu trabalho o fato de não terem tirado suas vidas em momentos de desespero. "Afirmavam que só desistiram do suicídio por terem lido O Livro dos Espíritos e entendido que a vida continua através dos tempos.
E mais: que cada existência seria uma chance de evolução. Uma chance que não deveríamos desperdiçar", afirma o jornalista Marcel Souto Maior, autor de Kardec - A Biografia (Record, 2013), que deu origem ao filme homônimo, escrito por L.G. Bayão e dirigido por Wagner de Assis. Com Leonardo Medeiros no papel-título, Kardec tem estreia confirmada no dia 16 de maio.

Espiritismo à brasileira

Filho de pais católicos – o juiz Jean-Baptiste e a dona de casa Jeanne –, Rivail começou a se interessar pelo assunto por acaso. Ouviu falar do fenômeno das mesas girantes e, movido por curiosidade e desconfiança, resolveu investigar. Estava convencido de que, por trás das mesas que se erguiam do chão e se moviam em todas as direções, encontraria fios, ímãs ou roldanas. "Só acreditarei se me provarem que uma mesa tem cérebro para pensar e nervos para sentir", fez troça.
Em maio de 1855, Rivail saiu da casa de uma senhora chamada De Plainemaison completamente atordoado. Não conseguira desvendar, por meio de truques secretos ou traquitanas escondidas, o sobe e desce das mesas. Mesmo assim, não desistiu. Passou a investigar outro fenômeno, ainda mais intrigante: os cestos escreventes. Encaixado no fundo do cesto, com a ponta virada para baixo, um lápis "respondia" às perguntas formuladas pelos convidados em folhas de papel.
"Numa dessas sessões, em 30 de abril de 1856, a cesta se voltou para Rivail e, como se apontasse o dedo para ele, o lápis escreveu uma mensagem enigmática: 'És o obreiro que reconstrói o que foi demolido'", relata Marcel. Era a deixa para Rivail começar a organizar o que viria a ser O Livro dos Espíritos.
Não demorou muito para o espiritismo kardecista cruzar o Atlântico e desembarcar no Brasil. Por aqui, Kardec conquistou inúmeros "aliados". Dois dos mais importantes são o educador francês Casimir Lieutaud, que traduziu para a língua portuguesa, em 1860, Os Tempos São Chegados, a primeira obra espírita impressa no Brasil, e o jornalista brasileiro Teles de Menezes, que fundou, em Salvador, o primeiro centro espírita do Brasil, o Grupo Familiar do Espiritismo, em 17 de setembro de 1865, e o primeiro periódico espírita do país, o Eco do Além Túmulo, em 8 de março de 1869.

"Por sua inteligência aguda, bom senso extraordinário e alma caridosa, quem merece o título de 'Allan Kardec brasileiro' é o Bezerra de Menezes", aponta Marta Antunes Moura, vice-presidente da Federação Espírita Brasileira (FEB), referindo-se ao "médico dos pobres" que, reza a lenda, teria doado seu anel de formatura a uma mãe para ela comprar remédios para o filho adoentado.
Outro nome de destaque na consolidação do espiritismo no Brasil é Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier. Em 1932, aos 22 anos, lançou seu primeiro livro, Parnaso de Além-Túmulo, antologia de 259 poemas assinados por nomes como Castro Alves, Olavo Bilac e Augusto dos Anjos. Até 2002, quando morreu aos 92 anos, psicografou 459 títulos - e doou os direitos autorais de todos eles, com registro em cartório, para obras assistenciais - e 10 mil cartas - algumas delas chegaram a ser aceitas como prova em tribunais.
"Inspirado na noção de santidade católica, Chico Xavier adotou votos monásticos como modelo de conduta e espiritualidade. Assim, ele se tornou referência moral não só para médiuns, como também para os demais adeptos da doutrina. Essa construção do estilo brasileiro de ser espírita, marcadamente católico, é o que chamo de espiritismo à brasileira", explica Sandra Stoll, doutora em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo (USP).
O rastro de perseguição que a doutrina de Kardec sofrera na Europa logo chegou ao Brasil. Já em 1874, o Jornal do Comércio acusava o espiritismo de produzir loucos: "Uma epidemia pior que a febre amarela", dizia um artigo da época. Em 1881, o bispo do Rio de Janeiro, Pedro Maria de Lacerda, publicou um manifesto em que chamava os seguidores de Kardec de "possessos, dementes e alucinados".
"Naquela época, o Brasil vivia sob os ditames do Império, que tinha o catolicismo como religião oficial. Mas, mesmo com o advento da República, a partir de 1889, a perseguição não cessou", relata o sociólogo e advogado Maury Rodrigues da Cruz, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas (SBEE). "Os ataques sofridos não arrefeceram o movimento espírita brasileiro. Pelo contrário. Fortaleceram a união de seus membros em torno da defesa da liberdade de culto e da consolidação do espiritismo no país".

Mais vivo que nunca

No mês em que espíritas comemoram os 150 anos da morte, ou melhor, do "desencarne" de Allan Kardec, sua doutrina tem hoje, segundo dados do Pew Research Center de 2015, 13 milhões de adeptos no mundo inteiro. Só no Brasil, são 3,8 milhões. Isso significa que, a cada três seguidores de Kardec, um é brasileiro. Com isso, o maior país católico do mundo, com 123,4 milhões de fiéis, segundo o Censo de 2010, passou a ostentar outro título: o de maior nação espírita do planeta.
"O túmulo do Kardec no Père-Lachaise, em Paris, é, sem dúvida, dos mais visitados. A qualquer dia e horário, há sempre um brasileiro acendendo velas ou depositando flores no mausoléu", afirma Reginaldo Prandi, doutor em Sociologia da Universidade de São Paulo (USP) e autor de Os Mortos e Os Vivos (Três Estrelas, 2012), referindo-se ao cemitério francês onde estão sepultados, entre outras celebridades, o escritor Oscar Wilde, o músico Frédéric Chopin e o roqueiro Jim Morrison. "A prática da caridade ajudou o espiritismo a ganhar força no Brasil. Ainda hoje, centros espíritas organizam bazares, recebem doações de alimentos e distribuem agasalhos no inverno".

O sucesso do espiritismo no Brasil, onde tem mais seguidores do que na França, pode ser explicado, ainda, pelo processo de "religiosificação" da doutrina no país. Essa é a opinião de Célia Arribas, doutora em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP) e professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Se, na terra natal de Kardec, o espiritismo tinha caráter majoritariamente científico ou filosófico; no Brasil, ganhou status de religião.
"Ao reforçar o caráter religioso do espiritismo, seus primeiros adeptos, oriundos de grupos socialmente privilegiados, como médicos, políticos e advogados, viram nisso uma forma de legitimar sua existência em solo brasileiro e escapar do Código Penal de 1890, que estabelecia punições, como multa e detenção, para quem praticasse o espiritismo", explica a socióloga.
Dados do último Censo apontam que, entre 2000 e 2010, o número de espíritas no Brasil cresceu 65%, passando de 2,3 milhões, algo em torno de 1,3% da população, para 3,8 milhões, cerca de 2%. Mas, se o número de fiéis é de 3,8 milhões, o de simpatizantes, segundo a Federação Espírita Brasileira (FEB), pode chegar a 30 milhões. "Muitos não se assumem como espíritas porque são católicos ou porque não enxergam o espiritismo como religião", explica Célia Arribas, da UFJF.
"Há também aqueles que vão aos centros atrás de alívio para alguma aflição pontual. É o que chamamos na sociologia de 'religião de clientela', um tipo de religiosidade de serviço que não cria vínculos".
Mesmo tendo crescido tanto, o espiritismo continua a ser uma confissão minoritária no país. Em número de adeptos, está atrás de católicos (64%) e evangélicos (22%). "São a maioria da minoria", define o sociólogo Reginaldo Prandi, da USP. "A doutrina espírita não está preocupada em fazer proselitismo ou converter ninguém. Está interessada apenas em fazer o bem e praticar a caridade".
Fonte BBC