O que acontece com o cérebro quando rezamos para a ciência convencional (e o que o Espiritismo diz a respeito)



O site oficial da BBC Brasil acabou de publicar uma matéria muito importante para o nosso estudo espírita: 'O que acontece com o cérebro quando rezamos', também reproduzida com destaque pelo portal G1 da Globo. Aqui, faremos um resumo dessa reportagem e apresentaremos nossos comentários, conforme os princípios do Espiritismo.


A pesquisa científica sobre o ato de rezar

A matéria da BBC trata a questão de acordo com os princípios da ciência e para tanto vai atrás de depoimentos de pesquisadores que estudam o tema em questão; em suma, a ciência não trabalha com o que é certo ou errado em termos morais, só se preocupando com o que é verdadeiro ou falso e quais as consequências químico-físicas de tal fenômeno (o ato de rezar, no caso aqui), estando dentro dessas consequências uma possível fator psicológico, emocional, que afete os indivíduos concretamente. Sendo assim, nenhum valor tem a questão metafísica (existência de Deus, a imortalidade da alma, o mundo espiritual, as leis morais espirituais etc.). Portanto, a ciência se limite ao que é do chamado "mundo material". Para apurar os resultados práticos da prece, os especialistas trabalham na observação cerebral (através de aparelhos medidores de atividade do cérebro) das pessoas que rezam regularmente.

Um dos cientistas consultados foi o neurocientista Andrew Newberg, diretor de pesquisa do Instituto Marcus de Medicina Integrativa da Universidade Thomas Jefferson, EUA. Diz o doutro: "Uma maneira comum de rezar é quando uma pessoa repete uma oração específica várias vezes como parte de sua prática. E quando você faz uma ação como essa, uma das áreas do cérebro que é ativada é o lobo frontal".
Até aí, tudo bem; mas suas pesquisas revelam algo realmente curioso, quando a pessoa entra em um "estado profundo de oração":

"Quando a pessoa sente que a oração está quase tomando conta dela, por assim dizer, a atividade do lobo frontal realmente diminui. Isso ocorre quando o indivíduo relata sentir que não são eles que estão gerando a experiência, mas que é uma experiência externa que está se passando com ele." — Andrew Newberg

A oração profunda, descobriu Newberg, também gera uma redução na atividade no lobo parietal, na parte mais traseira do cérebro. Essa área recebe informações sensoriais do corpo e cria uma representação visual dele. O Dr. Newberg então diz que isso poderia explicar os sentimentos de transcendência reportados por quem reza profundamente: "À medida que a atividade nessa área diminui, perdemos o senso do eu individual e temos esse senso de unidade, de conexão".

Adiante, nós comentaremos sobre esse "estado profundo de oração" e a redução das áreas cerebrais indicadas. Mas continuemos no apanhado científico. Outro cientista consultado pela reportagem foi Tessa Watt, especialista em práticas de meditação e mindfulness que já trabalhou com centenas de clientes, esse estado pode ser alcançado concentrando a atenção no presente e nas sensações que experimentamos. Em seu depoimento: "Acredito que tanto o ato de rezar quanto o mindfulness ajudam a tranquilizar uma pessoa, para que ela tenha mais tempo para si mesma e também ative o sistema nervoso parassimpático. Isso significa que, ao praticar mindfulness, você aprende a acalmar sua resposta de luta ou fuga, tornando-se mais eficiente no controle de suas emoções." Portanto, outro benefício da oração se confirma: acalmar os nervos.

Já o Dr. Blake Victor Kent, sociólogo do Westmont College, na Califórnia, EUA,  parece na contramão da coisa; ele alega que a prece pode ter um benefício social, dependendo de certo fatores, "especialmente como você se conecta com Deus emocionalmente". O problema é que o Dr. Blake foi pastor evangélico e, como ele mesmo confessa, sofreu crises de "insegurança" em sua relação com a Divindade, donde dirá, agora como cientista, que "rezar parece vazio, arriscado, incerto".

Por fim, o Dr. Andrew Newberg sugere que outras atividades "comuns" podem equivaler ao ato de orar, como no momento de criatividade artística; ele propõe que os centros emocionais de nossos cérebros são estimulados por meio de experiências transcendentais, seja falando com Deus ou ouvindo a Nona Sinfonia de Beethoven. Tudo igual, para ele!


Nossos comentários

Antes de tudo, é preciso tem em conta que a aparelhagem científica não vai além do que pode ser captado pelos sinais cerebrais. Ora, isso é muito pouco, porque esses sinais são somente reflexos posteriores do que realmente acontece com a pessoa verdadeira, que é um Espírito, antes de ser uma alma encarnada; desta forma, as ciências convencionais não têm como interpretar instrumentalmente o que de fato acontece com o ser espiritual. Talvez algum dia haja a possibilidade de uma máquina terrena perscrutar o nosso perispírito (corpo espiritual) e com isso chegar mais perto de interpretar o valor da oração; mas nem assim teríamos a resposta completa, porque as vibrações perispirituais também são reflexos secundários, enquanto a fonte primordial está na essência do ser: o Espírito propriamente dito.

Dessas considerações, podemos sentenciar que as ciências terrenas são incompetentes para dar um parecer aprofundado sobre o valor da oração, porque isso diz respeito essencialmente à natureza da vida espiritual — o que está fora da alçada científica humana. Sobre esta limitação, asseverou Allan Kardec:

"As ciências comuns se fundamentam nas propriedades da matéria que se pode experimentar e manipular ao seu gosto; os fenômenos espíritas se repousam sobre a ação de inteligências que têm sua vontade própria e nos provam a cada instante que elas não estão subordinadas ao nosso capricho. Portanto, as observações não podem ser feitas da mesma forma; elas requerem condições especiais e outro ponto de partida; querer submetê-las aos processos comuns de investigação é estabelecer analogias que não existem. A ciência propriamente dita, como ciência, é então incompetente para se pronunciar na questão do espiritismo: ela não tem que se ocupar com isso, e qualquer que seja o seu julgamento — favorável ou não — não poderá ter nenhum peso."

Allan Kardec
O Livro dos Espíritos - 'Introdução', item VII

Em todo o caso, é válido que se observe os reflexos químico-físicos desse fenômeno, porque é óbvio que o estado emocional da consciência (Espírito) implica em consequências — positivas ou negativas — para o corpo perispiritual, em primeiro lugar, e desde para o corpo somático; nesse particular, os sinais apontam positivamante para vários benefícios à saúde física e mental. Todavia, ainda aqui, precisamos ter muito cuidado com os apurados científicos e as interpretações dos "especialistas". Tomemos, como exemplo, as indicações dessa matéria.

Segundo o Dr. Newberg, a diminuição das atividades de certas partes cerebrais durante o estado de oração profunda poderia — num português bem claro — explicar o que chamamos de mediunidade; tudo não passaria de uma mistura de informações cerebrais mexidas pela criatividade autônoma da pessoa. Em Espiritismo a interpretação é outra: quando nos conectamos com a espiritualidade (e oração é para isso mesmo) é natural que nossa alma "descole" nosso perispírito e o projete no mundo espiritual; com isso, a máquina carnal fica em stand by, isto é, num "modo de espera", funcionando as mínimas funções orgânicas para manter o corpo vivo. Kardec chama esse de Emancipação da Alma.

Já o Dr. Blake, o ex-pastor, parece fazer da experiência particular dele uma teoria absoluta, válido para todo mundo; daí ele agora semear uma desconfiança na própria sanidade da prática da oração, como se as leis divinas dependessem de circunstâncias pessoais. Essa é a teoria moderna do relativismo, em que tudo depende de como cada um interpreta a coisa. Um absurdo que a codificação espírita refuta francamente: para o Espiritismo há as leis naturais, que são eternas e imutáveis, válidas em todos os tempos e em todas as circunstâncias; se não fosse assim, não haveria estabilidade e harmonia no Universo.

Ora, o relativismo é produto do materialismo prático: no fundo de tudo há um desejo de destruir a ordem e a moral, para que, por desencargo de consciência, cada qual possa gozar a vida como bem queira sem receio de qualquer consequência (a justiça divina). E se ainda assim a pessoa acreditar que Deus exista, o relativismo vai tentar convencê-la de que a Divindade não pode castigar ninguém, porque para eles "castigo é uma coisa má" — o que não corresponde com a obra kardequiana, que prevê penas e recompensas sim. Ver Expiação.

E por não compreenderem a natureza espiritual, os "especialistas" ainda querem comparar a prática da oração (no seu significado mais profundo) com qualquer "momento de criatividade humana". Então, dizem falar com Deus é a mesma coisa que compor uma música ou quem sabe jogar uma partida de videogame! Pode isso?!!! E ainda tem espíritas que depositam todas as fichas nas ciências como a grande redentora da humanidade!

Para encerrar, deixamos a recomendação da leitura de O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, onde encontramos melhores explicações sobre o valor da oração, sua eficácia e os meios de potencializá-la, especialmente estudando os dois capítulos derradeiros da obra (cap. XXVII e XXVIII).

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