'O Alto e o Movimento Espírita: Cem anos de Doutrina Espírita no Brasil 1920-2020' - Censo 2022
Continuamos a analisar o apurado do Censo 2022 do IBGE a respeito do quadro religioso no Brasil (Veja aqui), contando com a participação de vários de nossos confrades que têm compartilhado conosco suas opiniões, com base em suas experiências (Veja no final desta postagem). Para hoje, trazemos as ponderações de Carlos Luiz, dirigente do Grupo Marcos, que nos oferta o seus ensaio com o título: 'O Alto e o Movimento Espírita: Cem anos de Doutrina Espírita no Brasil 1920-2020'; com isso, temos mais um ponto de vista para enriquecer os subsídios de nossas reflexões a respeito do que realmente está acontecendo com o nosso Movimento Espírita no Brasil.
Confira o ensaio:
O Alto e o Movimento Espírita: Cem anos de Doutrina Espírita no Brasil 1920-2020
Carlos Luiz
Uma Análise Cultural Espírita
Estamos vivendo a última etapa de uma crise que começa há 100 anos. É uma boa nova: um período de espiritualização, de conquistas culturais, de crescimento emocional se inicia. Por isso, é preciso entender o fenômeno social espírita de forma mais ampla para nos situarmos no momento que vivemos.
Avaliaremos os problemas surgidos nesse período e as ações inteligentíssimas dos Espíritos que dirigem os destinos do Espiritismo no Brasil. Ao final, entenderemos que, se chegamos ao ápice da crise mais profunda da história do Espiritismo, também saberemos, que iniciamos o nascer de belíssimo dia. Tudo são etapas de nossa regeneração nas quais o livre-arbítrio humano tem sua parte no que se refere ao destino individual, cabendo ao Alto a determinação das novas realidades coletivas.
Respeitando as múltiplas formas de análise dos indicadores do Censo das Religiões, nós nos propomos a avaliar os dados estatísticos a partir da visão de mundo espírita. Por isso, iniciamos lembrando a questão 793 de O Livro dos Espíritos.
Por quais indícios podemos reconhecer uma civilização completa?
“Vocês a reconhecerão pelo desenvolvimento moral. Vocês se consideram muito avançados, porque fizeram grandes descobertas e maravilhosas invenções, e porque estão mais bem alojados e mais bem vestidos do que os selvagens. Porém, não terão verdadeiramente o direito de se dizerem civilizados senão quando tiverem banido da vossa sociedade os vícios que a desonram, e quando viverem entre si como irmãos, praticando a caridade cristã; até lá, vocês não serão mais do que povos esclarecidos, não tendo percorrido a primeira fase da civilização.”
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec - questão 793
Quer dizer, o avanço externo vale pouco do ponto de vista do Alto. É o critério de análise do Cristo: O reino de Deus não vem com aparência exterior. (Evangelho segundo Lucas, 17:20). Para Allan Kardec, mais importante do que a expansão do número de pessoas que se dizem espíritas é a expansão das ideais espíritas no coração da população. Não podemos, em respeito a Kardec, postular como meta espírita o simples amealhar de adeptos, há algo mais importante: a transformação do coração humano. Nas palavras de Kardec: a diminuição do reino do egoísmo, do orgulho e da incredulidade (A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo, capítulo 1).
Por isso, uma análise do movimento espírita deve priorizar a dimensão cultural mais do que a numérica. Nessa dimensão temos luz e trevas, ou melhor, enfermidade e regeneração. É natural que nós, espíritas, precisemos nos regenerar para podermos nos qualificar para colaborar com a regeneração do mundo. É o que estamos vivendo: adoecemos, precisamos morrer e renascer. Para melhor entender esse fenômeno, vejamos as diferentes etapas que tivemos em nosso movimento.
Os Fundadores do Espiritismo no Brasil
A fase da fundação do Espiritismo no Brasil durou desde o surgimento da Doutrina até em torno de 1920. O movimento espírita era liderado por individualidades abnegadas e austeras, homens capazes de enfrentamentos sociais e de renúncias inimagináveis pelos seres acomodados ao conforto do mundo. Portadores de fé profunda, capazes de dialogar com a religiosidade de nosso povo de forma direta, de maneira franca e respeitosa. A sólida cultura desses líderes unia-se ao sentimento de devoção ao Cristo. Por isso, não caíram nas armadilhas nem do materialismo nem do positivismo, as doutrinas predominantes de seu tempo.
A confiança em Deus e a convicção na imortalidade iluminavam seus pensamentos ante os desafios intelectuais e práticos da vida no mundo. Como Kardec, sempre estavam em contato com seus guias espirituais, seja nas atividades mediúnicas, nas decisões relativas ao movimento ou no dia a dia.
Firmes nas convicções e generosos com os outros, seus equívocos jamais eram fruto da covardia ou da ânsia do ganho material ou da fama social. Por isso, eram facilmente identificados e corrigidos a partir de uma melhor compreensão da obra da Codificação. Como exemplifica Bezerra de Menezes ao escrever no jornal O Paiz: “Kardec é insuperável”.
Assim Herculano Pires resume a psicologia dessa geração:
Convicção plena da verdade doutrinária, coragem inabalável na sustentação e defesa da doutrina, concessões internas para evitar cisões numa fase crítica, proclamação pública da grandeza e insuperabilidade de Kardec, confiança na razão, na sua vitória perante as criaturas de bom-senso, respeito às convicções alheias, sem ceder nas convicções próprias, austeridade e nobreza na sustentação e defesa dos princípios doutrinários, respeito absoluto aos textos originais de Kardec.
Na Hora do Testemunho [1], Herculano Pires e Francisco C. Xavier, Editora Paidéia
Todos vivenciavam a mediunidade de forma natural e cotidiana. Sabiam que o diálogo com o Alto é parte essencial da vida em geral e das atividades doutrinárias em particular. Como Kardec, permitiam-se ser guiados pelas Vozes superiores que os assessoravam.
A geração dos fundadores do Espiritismo no Brasil é representada por Bezerra de Menezes (1831-1900), Eurípedes Barsanulfo (1880-1918), Cairbar Schutel (1868-1938), mas há muitos outros devotados espíritos que aturam de forma local, nas diversas cidades brasileiras, com imensa abnegação e estabeleceram as bases para o maior movimento espírita do planeta.
Os Continuadores Pródigos e a Verdade Dolorosa
Entre as décadas de 1920-1940, uma outra geração assume a direção do movimento espírita. São os continuadores aprendizes que se tornaram pródigos. Uma vez estabelecida as bases, espíritos aprendizes têm a oportunidade de colaborar com a obra do Cristo. Pouco a pouco, o movimento espírita tem seu ímpeto arrefecido, os continuadores trabalham sem o ardor e a devoção do passado. Comenta Herculano, são inseguros e aturdidos. Incapazes de se imporem ante o novo panorama mundial, guiam-se pela falsa ciência materialista, são ausentes de tolerância e verdadeira generosidade com os companheiros de ideal, enquanto defendem as ideias saídas de cátedras humanas como se fossem profetas de verdades inabaláveis.
O nome “ciência” é o título dessa nobreza inferiorizada que se levanta como os cruzados da Idade Média, dentro do movimento espírita, para combater a religiosidade de Kardec e de seus seguidores fiéis no Brasil. Não amam o Cristo e detestam o verdadeiro Espiritismo. Sonham com uma cultura espírita perpassada pelas ideias marxista-materialistas. São as almas frágeis que precisam de causas socialmente aprovadas. Os herdeiros dos fundadores decidem servir ao mundo e não a Deus. Tornam-se levianos, destroem os esforços do passado, como filhos pródigos, dilapidam o que foi conquistado por seus antecessores em suas buscas pela aprovação do mundo.
José Herculano Pires e Emmanuel/Chico expressaram alertas graves e generosos ao movimento que nasce desses corações: é o movimento marcado pelo institucionalismo. No prefácio de sua mais significativa obra, Emmanuel explica o motivo central de ter escrito Paulo e Estevão: deseja alertar de forma inequívoca sobre os tristes rumos do movimento espírita. O ano é de 1941. Vejamos.
Esclareceremos, ainda, que não é nosso propósito levantar apenas uma biografia romanceada.
O mundo está repleto dessas fichas educativas, com referência aos seus vultos mais notáveis. Nosso melhor e mais sincero desejo é recordar as lutas acerbas e os ásperos testemunhos de um coração extraordinário, que se levantou das lutas humanas para seguir os passos do Mestre, num esforço incessante.
As Igrejas [lembremos que igreja significa grupo, comunidade] amornecidas da atualidade e os falsos desejos dos crentes, nos diversos setores do Cristianismo, justificam as nossas intenções.
Em toda parte, há tendências à ociosidade do espírito e manifestações de menor esforço. Muitos discípulos disputam as prerrogativas de Estado, enquanto outros, distanciados voluntariamente do trabalho justo, suplicam a proteção sobrenatural do Céu. Templos e devotos entregam-se, gostosamente, às situações acomodatícias, preferindo as dominações e regalos de ordem material.
Observando esse panorama sentimental é útil recordarmos a figura inesquecível do Apóstolo generoso.
Paulo e Estêvão, Emmanuel/ Francisco Cândido Xavier, prefácio, edição Feb, destaque nosso.
Herculano Pires, em sua mais respeitada obra, O Espírito e o Tempo, igualmente alerta, o ano é 1964.
[...] a vaidade e o pedantismo intelectual de muitos espíritas os afastaram das pesquisas sobre os mais importantes aspectos da doutrina, para se entregarem a elucubrações pessoais gratuitas, dispersivas e não raro absurdas. O desejo vaidoso de brilhar aos olhos vazios do mundo levou muitos deles a querer adaptar o Espiritismo às conquistas científicas modernas, ao invés de mostrarem a subordinação dessas conquistas ao esquema doutrinário. Outros quiseram atrevidamente atualizar a doutrina e outros ainda se aventuraram a corrigir Kardec.
[...] Todas as tentativas de correção dessa situação perigosa se chocam com a frieza irresponsável dos que se dizem responsáveis pelo desenvolvimento doutrinário. [...] É necessário que se diga tudo isso, que se escreva e semeie essa verdade dolorosa, para que toque os corações, na esperança de uma reação que talvez não se verifique, mas que pelo menos se tenta despertar. Na hora decisiva da colheita as geadas da indiferença e as parasitas do comodismo ameaçam as mínimas esperanças de antigos e cansados lavradores. Apesar disso, os que ainda resistem não podem abandonar os seus postos. É necessário lutar, pois o pouco que se possa salvar poderá ser a garantia de melhores dias.
O Espírito e o Tempo, Herculano Pires, Editora Paidéia, destaque nosso.
Que fazer quando o alerta amigo e generoso que não é ouvido? Após relembrar as lutas acerbas e os ásperos testemunhos para os que se entregam tendências à ociosidade do espírito e manifestações de menor esforço que podem fazer os Espíritos superiores a não ser respeitar o livre-arbítrio dos que optam pela frieza irresponsável e redirecionar seus esforços para continuar servindo o mesmo ideal? Como explica Herculano: trabalha-se para garantir, no futuro, dias melhores. Assim, a atuação deu-se em mais em prol do Espiritismo do que das igrejas espíritas, da cultura espírita do que das instituições.
A Liderança Mediúnica e Intelectual
Diante de tal cenário, compreensível se entendermos a fraqueza do coração humano, o Alto envia ao mundo um outro tipo de liderança. Quando as instituições espíritas se tornam anexos do farisaísmo dominante, providências fazem-se necessárias.
Na época do Cristo, logo após a fundação do Cristianismo no mundo, a principal instituição cristã, a igreja do Caminho, conduzida por Pedro e outros apóstolos, fora amordaçada pelos sacerdotes de Jerusalém. Pouco a pouco, eles impuseram suas regras e padrões. O socorro do Alto veio através de Paulo. Observando que o domínio farisaico seria inevitável, o Apóstolo do gentio adotou a estratégia que salvou o movimento cristão nascente: foi ensinar as verdades espirituais para os não judeus, os que viviam distantes, os gentios. Assim, quando a obra dos fariseus inviabilizou a atuação da igreja do Caminho, o cristianismo já havia se instalado no coração do povo. Paulo e poucos auxiliares salvaram o movimento cristão ao instaurá-lo no coração do povo e não em instituições que podem ser dominadas.
Em relação à geração dos aturdidos e inseguros, dos continuadores pródigos, que até hoje preside nosso movimento, não caberia ao Alto combatê-los. São carentes de amparo após o arrependimento como na parábola do Filho Pródigo. Porém, a obra do Cristo deve se cumprir. Assim, instauram-se dois movimentos espíritas no Brasil. O primeiro dos continuadores pródigos ou segundo das lideranças mediúnica e intelectual. Tal como aconteceu no Cristianismo primitivo, enquanto a igreja do Caminho era imobilizada com regras farisaicas, o Cristianismo expande-se.
Não por coincidência o líder espiritual do movimento espírita dos gentios é o Espírito Emmanuel que, guiado por Paulo de Tarso, seu anjo guardião, inicia uma nova fase no Espiritismo brasileiro. Atuando por meio do abnegado médium mineiro Francisco Cândido Xavier, amplia a abrangência do Espiritismo em escala antes nunca vista. Aliando-se à liderança mediúnica de Emanuel/Chico temos a liderança intelectual exercida por José Herculano Pires. É a eles que caberá a maior conquista do Espiritismo do Brasil após a geração dos fundadores.
A missão do intelectual espírita é definida por Herculano: elaborar uma síntese a partir do diálogo do Espiritismo com a cultura do mundo, incluindo a ciência, respeitando os critérios doutrinários, e, caridosamente, socorrer a defasagem da ciência materialista. Vejamos.
O intelectual espírita dispõe de maiores recursos para atingir a síntese, graças ao conhecimento doutrinário e das pesquisas científicas dos fenômenos mediúnicos. Esse conhecimento lhe proporciona uma realidade intermediária, que é a da realidade espiritual comprovada e não apenas imaginada. A doutrina lhe oferece os recursos metodológicos para estabelecer a ligação (que podemos chamar de perispirítica) entre o seu mundo interior e o mundo exterior. Só agora as Ciências começam a oferecer essa vantagem aos demais intelectuais.
Essa defasagem entre a Ciência Materialista vai desaparecendo na proporção em que esta avança nos rumos daquela. Mas o intelectual espírita já tem a sua posição firmada e pode agir com segurança no terreno intermediário. (...) Por isso, a liderança intelectual espírita só pode ser exercida por intelectuais perfeitamente integrados nos princípios kardecianos. Não se trata de uma forma de sectarismo, pois Kardec não fundou nenhuma seita, mas de uma exigência da própria evolução do Espiritismo, cujas leis somente Kardec definiu até hoje de maneira lógica, verificável.
Na Hora do Testemunho, Herculano Pires e Francisco C. Xavier.
É curioso notar que esse trio realiza a função semelhante à do Apóstolo dos gentios: ampliam a compreensão da mediunidade como um instrumento de intervenção do Alto; anunciam a grandeza do Cristo e elaboram um nova síntese cultural sob a ótica cristão. Não por acaso, publicaram muitos livros em conjunto [2] e Herculano Pires, em suas publicações jornalísticas, assinava como o pseudônimo de Saulo.
O Impacto da Liderança Mediúnica e Intelectual
Segundo o IBGE, a única expansão significativa do movimento espírita aconteceu entre 1890 e 1940 fruto da geração dos fundadores. De praticamente zero, em 1890, para 1,2% em 1940. Observemos que hoje estamos em patamar muito próximo ao de 100 anos [3]. Por isso, devemos indagar qual a estratégia adotada pelo Alto e executada por Emmanuel/Chico Xavier e Herculano Pires e quais foram seus frutos?
Voltemos a Jerusalém do início do Cristianismo. Os Espíritos superiores sempre evitam esforços inúteis e disputas infrutíferas. De que valeria Paulo de Tarso enfrentar o Templo de Jerusalém em suas investidas de controle da igreja do Caminho? Pouco ou nada. Assim, o Apóstolo adota uma linha de ação que evita um choque direto e que é mais favorável aos projeto do Cristo: pregar aos gentios, quer dizer, aos que estavam distantes.
Assim fez Emmanuel. Sempre lúcido, esse Espírito direciona sua ação para a alma da nação brasileira e sua ação é extraordinariamente bem-sucedida. Se por um lado, não houve um aumento percentual significativo dos que se declaram espíritas; por outro, a Brasil tornou-se um dos maiores países reencarnacionistas do mundo com um terço da população [4] e metade dos jovens reencarnacionistas [5], é uma das mais profundas transformações culturais da história nacional. É preciso destacar que a compreensão geral da reencarnação no Brasil é eminentemente espírita.
Algo igualmente significativo também acontece em relação a mediunidade, quase a totalidade dos brasileiros creem na comunicação com seres espirituais [6]. Esse é um dos legados da liderança de Emmanuel/Chico e Herculano Pires em seus esforços ao longo do século XX. Como os fundadores, eles têm profundo vínculo com o Evangelho e são capazes de tocar o coração do povo brasileiro.
Os resultados do trabalho desses Espíritos são quase inacreditáveis dado sua grandeza das conquistas culturais obtidas. Vejamos alguns dados.
Aproximadamente 92% [7] da população brasileira afirma ter tido experiências espirituais e religiosas que podem ser entendidas como experiências mediúnicas e sonambúlicas.
Quer dizer, a população brasileira, enquanto as instituições espíritas burocratizam e bloqueiam a vivência mediúnica, com pleno desconhecimento das instruções de Kardec, vive a mediunidade de forma natural.
Há mais surpreendente. Apesar da ignorância quase completa do tema, por parte do institucionalismo espírita, que diz, falsamente [8], ser contrário o Espiritismo à lembrança de vidas passadas, 19,5% [9] da população brasileira afirma ter tido uma lembrança de uma vida passada e 10,9% [10] teve esse tipo de experiência mais de uma vez. Os brasileiros, sem estudar Kardec, estão mais próximos da compreensão do mestre de Lyon e de Léon Denis do que os dirigentes do institucionalismo espírita! Eles foram educados no Espiritismo sem serem formalmente espíritas.
Apesar dos impedimentos formalistas, o Alto preparou a população brasileira para que viva em si mesma às experiências espíritas. Da mesma forma que preparou para a aceitação e vivência dos princípios morais espíritas, que são idênticos aos do Cristo. Somos um povo composto por 99% de pessoas que acreditam em Deus e mais de 90% de cristãos. Graças a Deus, com apenas cerca de 1% nossa população compõe o grupo das vítimas da revolta ateia. O Brasil tornou-se o terreno fértil para o florescimento a árvore Espírita-cristã. Verificamos que o terreno dos corações está preparado, o das instituições não. Ensina Herculano:
Para o homem-espírita construir a Civilização do Espírito é necessário que a viva em si mesmo, na sua consciência e na sua carne, pois é nesta que a relação da consciência com o mundo se realiza. E para isso não bastam os livros, é necessário o concurso de todos os meios de comunicação: a palavra, a imprensa, o rádio, a televisão, e mais ainda, a prática intensiva e coletiva dos princípios doutrinários, de maneira correta e fiel.
O Espírito e o Tempo, Herculano Pires, Editora Paidéia.
A nação brasileira está preparada para vivenciar o Espiritismo, mais do que os espíritas institucionais, ela vivencia a mediunidade com naturalidade, não teme os fenômenos das lembranças do passado, não se prende ao farisaísmo dos cargos e da aprovação social. O povo, ainda que portador de imensa carência cultural, é livre e um coração livre está apto a aprender a amar e servir. Entrarão primeiro no Reino do que os escribas e fariseus que ficam a porta e tentam impedir que os outros entrem. (Mateus, 21:31)
O Vinho Novo e os Recipientes Velhos
Como vimos, os Espíritos superiores não atuarão dentro do institucionalismo “espírita”, simplesmente, contornaram as barreiras burocrática de nosso movimento. Não há interesse em confrontá-lo. A Nova Geração, liderada por Eurípedes Barsanulfo, é o vinho novo da simbologia evangélica que destruiria os odres velhos do institucionalismo. Exercerão sua decisiva influência no coração e na mente dos espíritas e simpatizantes, não nos centros espíritas. Lembremo-nos das cartas de Paulo e entenderemos que eles utilizarão os mais avançados meios de comunicação.
Como adverte Eurípedes Barsanulfo, um dos luminares da geração dos fundadores, e líder da Nova Geração, por intermédio de um de seus mais lúcidos discípulos, Dr. Thomas Novelino, haverá a reencarnação de um grande número de Espíritos ligados ao Cristo no Brasil. É a nova etapa que se inicia. Outra fonte interessante sobre o plano do Alto é Yvonne do Amaral que informa da volta ao mundo, no Brasil, em torno do ano 2000, do Espírito Victor Hugo [11] para liderar um imenso movimento artístico de espiritualização da nação brasileira. O grande escritor francês, em sua última encarnação, foi um espírita de primeira hora [12]. Da mesma forma que a igreja de Jerusalém deixou de ser o coração do Cristianismo, o movimento institucional também deixou. O Alto ocupa-se do coração do brasileiro. Isso lembra o famoso verso do Eclesiastes: o que se tem feito, isso se tornará a fazer; nada há de novo debaixo do sol. (1:9)
Como tudo acontecerá? Não sabemos os detalhes, mas muito já pode ser observado. Claro está que há décadas o Alto não atua ativamente no institucionalismo espírita. Mas, a expansão cultural espírita nos indica sua ação no mundo. Como ensina o Cristo, se alguém que tomar tua túnica, dá-lhe também a capa. Assim, o Alto deixa a dimensão material da construção dos fundadores e prossegue na dimensão cultural da obra.
Os planos do Cristo conectam-se às condições de ação no mundo. Graças às excelentes estradas romanas Paulo e os demais cristãos puderem anunciar as Boas Novas ao mundo conhecido. Assim será na atualidade. Graças aos avançados meios de comunicação, já muito popularizados, a Nova Geração será livre em suas ações. Atuarão sem as amarras do institucionalismo, sem a necessidade de composições com os donos do poder institucional. Não carecem de gráficas e distribuidores para seus livros, nem de espaços especiais para suas atividades mediúnicas e sociais nem de eventos pomposos para a divulgação de seus ensinos. São livres, simples assim.
Vejamos apenas alguns exemplos:
- Não é mais necessário doar livros a editoras para que sejam divulgados; faz-se melhor – e de graça - diretamente via internet que ainda permite a aquisição de livros impressos sem a necessidade da enorme máquina administrativa das empresas comerciais. Por que Emmanuel e Cairbar Schutel, o grande divulgador do Espiritismo no Brasil, não optariam por esses meios?
- Não é necessária a organização de eventos com alto preço para público, pois, pela internet, comunica-se, quase gratuitamente, com milhões de pessoas e em vários idiomas. Por que Cairbar Schutel e Herculano Pires que tiveram programas de rádios não optariam por uma meio mais eficaz, barato e inteligente?
- Por que médiuns, discípulos de Eurípedes Barsanulfo, que vivia fenômenos mediúnicos em sua escola, bem como se materializava nas casas dos doente para socorrê-los, não utilizariam a internet para suas reuniões mediúnicas de cura e socorro espiritual? Não poderia a Nova Geração seguir os exemplos de Kardec e Denis e realizar, em seus lares, reuniões mediúnicas amparadas pelo Alto??
O domínio das construções físicas nomeadas de espíritas é tão relevante para o futuro do Espiritismo como foi a igreja de Jerusalém dominada pelos sinédrio para o Cristianismo. Após Paulo, ela perdeu a relevância central. Após Emmanuel/Chico e Herculano, as construções espíritas também. Morre o institucionalismo, nasce um movimento lúcido, íntegro e diretamente amparado pelo Alto. Estamos em plena dor do parto, que vejamos a Luz.
Conclusão
Lembremo-nos entre duas ondas imensas, a do início do século XX e a do início do século XXI, existe uma vaga, um momento de baixa, é o que estamos vivendo. Em breve, viveremos uma onda maior, mais bela e mais poderosa com a vinda dos verdadeiros continuadores da geração dos Fundadores. Trata-se do nascimento de Espíritos enviados do Cristo para regenerar nossa nação conforme anunciou Eurípedes Barsanulfo [13]. Teremos líderes verdadeiramente elevados nas mais diversas áreas da cultura espírita-cristã. Nada perderemos por esperar, desde que nossa espera seja ativa! Que nossa expectativa seja daqueles que desejam sacrificar-se para que o Cristo cresça, pois como anuncia Kardec, os Espíritas são os trabalhadores da última hora.
Preparemos nossas vestes nupciais, como ensina o Cristo, por meio do sacrifício diário de nossas inferioridades, pela busca sincera de experiências espirituais que nos espiritualizem, pois, aqueles que veem em nome do Cristo precisarão de amigos que desejem carregar as cruzes necessárias para a própria regeneração. Acima de tudo, não estejamos entre os que gostosamente se acomodam. Esses merecerão ser condenados. Estamos nos minutos finais da última hora, é válido lembrarmos o alerta do Espírito da Verdade: felizes os que tiverem trabalhado sem nenhum interesse que não seja a verdadeira caridade.
Em 1900, desencarna Bezerra de Menezes, o líder da geração dos Fundadores do Espiritismo no Brasil. Não por acaso, Emmanuel, Victor Hugo e muitos outros anunciam seu nascimento no mundo, cem anos depois, no ano 2000. Parece haver uma continuidade. Consideremos, todos somos convidados a participar dessa obra.
NOTAS
[1] Livro escrito a pedido de Francisco Cândido Xavier. No prefácio Herculano explica o pedido de Chico Xavier: “O famoso e querido médium solicitou a publicação de um livro-documentário, a fim de que não se possa, no presente e no futuro, continuar a citá-lo como implicado na questão [da adulteração das obras de Kardec].”
[2] Chico Xavier Pede Licença (1972); Na Era do Espírito (1973); Astronautas do Além (1974); Diálogo dos Vivos (1975); Na Hora do Testemunho (1975); dentre outros.
[3] É preciso considerar que o “censo religioso” não é, a rigor, um censo, trata-se de um pesquisa por amostragem o que implica em uma pequena margem de erro. Portanto a mudança de 1,2% ao longo de 100 anos para 1,8% não é algo tão significativo. Para mais informações ver. https://encurtador.com.br/KHZpa.
[4] Pesquisa do Pew Research Center um dos mais renomados institutos de pesquisa do mundo sobre religião. Acesso: https://encurtador.com.br/uurQB.
[5] ZAGURY, Tânia. O Adolescente por Ele Mesmo. 9 Ed. Rio de Janeiro / São Paulo: Record, 1997.
[6] Experiências espirituais e religiosas no Brasil: prevalência, características e implicações para a saúde mental. Tese de Doutorada em Medicina (USP). Maria Cristina M. de Barros.
[7] Idem, p.128.
[8] Ver. https://encurtador.com.br/GwMhT.
[9] Experiências espirituais e religiosas no Brasil: prevalência, características e implicações para a saúde mental. Tese de Doutorado em Medicina (USP). Maria Cristina M. de Barros, p. 90.
[10] Idem.
[11] Obra Devassando o Invisível, Espíritos diversos, médium Yvonne do Amaral, p.78.
[12] Ver. Victor Hugo: o livro das mesas: As sessões espíritas da Ilha de Jersey. Editora: Vide Editorial.
REFERÊNCIAS
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec. Edição Luz Espírita - ebook.
A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo, Allan Kardec. Edição Luz Espírita - ebook.
Paulo e Estêvão, Emmanuel/ Francisco Cândido Xavier, prefácio, edição Feb.
Veja também:
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Ótima reflexão, que nos ajude a ter mais consciência e que aprendamos a atuar no espiritismo como eles.
ResponderExcluirExcelente reflexão!!
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