Registro histórico: A primeira carta de Allan Kardec à sua futura esposa, Amélie Boudet
A seção "O Baú de Memórias" do jornal espírita Correio Fraterno edição deste dezembro traz uma matéria interessantíssima, assinada por Izabel Vitusso, sob o título: "A primeira carta de Kardec à Amélie Boudet".
Essa carta é um dos poucos itens que restaram do acervo original de Allan Kardec, depois do ataque promovido pelos nazistas em 1940, durante a II Guerra Mundial, quando a Maison des Espírites (um museu espírita em Paris) foi saqueada.
Nos seus 27 anos de idade, o jovem professor Rivail (que mais tarde, ao iniciar seu apostolado espírita, iria adotar o codinome Allan Kardec) remeteu essa correspondência em 13 de agosto de 1831, à sua namorada, e futura noiva, Amélie, então com seus 34 anos, que morava com seus pais, distante cerca de 19 km de Paris. Nela, feliz, o jovem apaixonado manifesta-se agradecido pela permissão concedida pelo pai da pretendida para trocar cartas diretamente com a senhorita, aproveitando para endossar a sua confiança na promissora união de que já tratavam, apesar só terem se visto uma única vez.
Eis a tradução da carta:
Minha mãe acabou de receber a resposta do senhor vosso pai, à solicitação feita por mim, através dela. Apresso-me em aproveitar dessa permissão, que ele me concedeu, para vos exprimir diretamente toda a alegria que esse consentimento me proporcionou e quanto feliz eu seria que a vossa determinação pessoal corresponda à minha expectativa; confesso-vos, que ouso um pouco acreditar nisso, através da carta do senhor vosso pai e também pelo que me foi relatado pelas senhoras Musset e Boisset; essa esperança, senhorita, apressa ainda mais os meus votos para a chegada do momento em que eu poderei exprimir-vos, de viva voz, as esperanças de felicidade que eu deposito nessa união.
Embora só tenha tido o prazer de ver-vos uma só vez, essa única entrevista me convenceu de que essas senhoras nada exageraram, ao pintar-vos com cores tão gentis. Anseio vivamente que nenhum obstáculo venha retardar a realização dos meus desejos.
Sem dúvida, não vos será uma surpresa de não encontrar nesta carta o estilo muitas vezes empregado para tais ocasiões. Confesso-vos não ter nenhuma experiência nisso e não ter disposição para fazer demonstração enfática, cuja realidade repousa, muitas vezes, num sentimento demasiadamente fugaz.
Prefiro, a essas vãs maneiras de demonstrações, a expressão de uma estima recíproca, a única capaz de assegurar uma felicidade duradoura, ao abrigo do tempo e das vicissitudes, e eu ouso acreditar que vós compartilhais desse meu sentimento e que os nossos pais verão, com maior satisfação, uma união fundada nessas bases.
Eu gostaria de assegurar-vos, senhorita, que vós encontrareis em minha mãe e em meu tio, parentes que vos afeiçoarão como uma filha e que aguardam igualmente ansiosos que seus votos se concretizem, com sua chegada entre eles.
A Sra. Musset me convida a anexar a esta carta dados referentes a meu nome, idade etc. para que seu pai possa ter acesso às informações necessárias para as formalidades que ele será levado a preencher em sua região. (Hippolyte-Léon Denizard Rivail, nascido em Lyon, no dia 3 de outubro de 1804, filho de Jean Baptiste-Antonie Rivail, advogado, e de Jeanne Louise Duharnel).
Pedir-vos-ia, senhorita, ser a intérprete junto a vossa mãe e ao vosso pai dos sentimentos de mais elevada consideração, de minha mãe, do meu tio e de mim mesmo, expressando-lhe o quanto essa resposta foi motivo de alegria para todos nós.
Aceita, senhorita, as homenagens mais cordiais desse que tem a honra em estar em total devoção.
Vosso mais humilde e obediente servidor.
H.L.D> RivailParis, 13 de agosto de 1831
Vê-se, portanto, quão gentil e amoroso era o codificador espírita.
Reprodução da fotografia da carta e do seu envelope:
Como sabemos, Rivail e Amélie se casaram em 9 de fevereiro de 1832 e permaneceram unidos por 37 anos, até a desencarnação do codificador espírita. Juntos, iriam contribuir sobremaneiramente para a democratização do ensino educacional na França e, mais adiante, em vista do bem da Humanidade, iriam trabalhar para a codificação do Espiritismo.
Li, gostei. Muito sincera e simples a carta do grande Codificador da Doutrina Espírita.
ResponderExcluirVou repassar para todos os confrades, especialmente para o pessoal da nossa entidade espírita.
Que linda e sincera mensagem!
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