A tragédia climática no RS e a tragédia espiritual do Brasil

É muito certo que a Lei do Progresso é inexorável e que a força das coisas impele a tudo e a todos à marcha da evolução; no entanto, por vezes se vê pontos de estagnação nesse mapa complexo do jogo da vida, podendo até mesmo parecer que determinadas circunstâncias de uma determinada época e região impliquem num retrocesso temporário. Tal parece ser o que se sucede com nossa sociedade atual: o mal parece recrudescer ante nossos olhos, ao passo que os valores espirituais se desmoronam nas coletividades. Um triste exemplo disso se dá em face da tragédia climática que assola grande parte do Estado do Rio Grande do Sul, devido as chuvas torrenciais que têm provocado alagamentos e destruição generalizada; ao lado dessa calamidade material, vemos com pesar uma tragédia moral corrente no nosso país.


A tragédia climática

As inundações que ocorrem no estado brasileiro do Rio Grande do Sul começaram com as fortes chuvas acumuladas desde o final do mês passado (abril) e se estende pelo período mensal atual; já se fala que esta é a maior catástrofe climática da história do estado. Em várias cidades, no período entre 27 de abril e 2 de maio, chegou a chover de 500 a 700 mm, correspondendo a um terço da média histórica de precipitação para todo um ano, e em muitas outras a precipitação ficou entre 300 e 400 mm. Dados do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mostram que as chuvas de maio levaram 14,2 trilhões de litros de água para o lago Guaíba, volume que equivale a quase metade do reservatório da Usina Hidrelétrica de Itaipu.



A precipitação excessiva afetou mais de 60% do território estadual e, até as 9 horas do dia 21 de maio, 464 municípios reportaram danos, sendo registrados 161 mortos, 85 desaparecidos e 806 feridos. Mais de 2,33 milhões de pessoas foram afetadas e mais de 654 mil tiveram de sair de suas casas. Mais de 640 mil residências tiveram o abastecimento de água cortado e mais de 440 mil clientes ficaram sem energia elétrica. Ocorreram bloqueios em dezenas de pontos nas estradas estaduais por deslizamentos de terra, alagamento, destruição da pista ou queda de barreiras e árvores.

No dia 5 de maio o governo federal decretou estado de calamidade pública. No mesmo dia, a inundação do Guaíba, lago que cerca a capital Porto Alegre, atingiu a marca de 5,33 metros, superando a histórica enchente de 1941. A Confederação Nacional de Municípios (CNM) estimou que as enchentes causaram prejuízos de 4,6 bilhões de reais, sendo que cerca de 78% dos municípios gaúchos foram afetados, resultando em danos principalmente no setor habitacional.


Até o momento, muitas famílias ainda estão em abrigos improvisados, dependendo da ação governamental e de doações que chegam de todo o país e até do exterior. A coisa se agrava com a previsão da chegada da estação de inverno e do frio previsto para a região.


A tragédia espiritual

Leiam "tragédia moral". Diz respeito às lições não colhidas com tal situação, referindo-se a vergonhosos flagrantes de insensibilidade, mesquinharia e até mesmo crimes civis aos quais temos assistido pelos noticiários e pelas mídias sociais via internet: temos visto piadas e brincadeiras de mau gosto diante da dor e desespero dos que estão sofrendo materialmente com a tragédia climática — sem falar das mortes de entes queridos, incluindo crianças —, temos visto denúncias de desvio de doações (alimentos, roupas e recursos financeiros), anúncio de contas fraudulentas se passando por fundo humanitário para as vítimas das enchentes, brigas partidárias protagonizadas por políticos interesseiros e oportunistas... Meu Deus! Quanta infâmia!

No campo religioso — inclusive usando a bandeira do Espiritismo — temos visto uma enxurrada de "guias espirituais" ditando os destinos das almas envolvidas nessa tragédia climática; suposições das mais absurdas sobre os porquês dessa catástrofe natural e sobre os "carmas" dos gaúchos; explicações esdrúxulas que violam a honra de Allan Kardec, porque muitos desses "profetas apocalípticos" não se envergonham de tomar emprestadas citações recortadas da obra doutrinária espírita, por vezes bastante desfocadas do contexto, para elaborar suas dramáticas e sensacionalistas teorias acerca do ocorrido; tudo isso em torno de quê? Fama, notoriedade — e dinheiro, renda com anúncios em suas mídias.

Por sua vez, vê-se algumas igrejas pregando e prometendo prosperidade monetária, enquanto outras meramente convidam os fiéis aos seus sacramentos místicos. No final, os rebanhos são conduzidos ou ao materialismo ou ao fanatismo dogmático, com o prejuízo das lições que estas igrejas deveriam fornecer: as lições morais, das virtudes espirituais.

É bem verdade que tem havido também uma grande solidariedade, e estas ações só não são maiores porque muita gente não sente segurança em colaborar, temendo que os donativos não cheguem a quem realmente precise. Sim, vemos igualmente benevolência da parte de tantas pessoas; mas hoje em dia é exceção em nossa sociedade: estamos vivendo uma tragédia moral e as grandes mídias têm fomentado essa tragédia com os valores ilusórios do materialismo. Para não irmos longe, basta ver o que é Música Popular Brasileira nos nossos dias.

Se esse momento atual não é um passo atrás, é pelo menos uma estagnação, uma geração de terrível estagnação, cujo preço haveremos de pagar coletivamente.

Apesar de tudo, estamos completamente convictos da Lei do Progresso, e, por isso mesmo, sabemos que não se pode medir o progresso tomando como medida um curto espaço de tempo e muito menos uma pequena porção geográfica; tudo isso passará pelo concerto das coisas e tudo isso tem a sua finalidade; como nos assegura a espiritualidade, o mal é necessário para sabermos distinguir o bem:

"Como o homem tem que progredir, os males a que se acha exposto são um estimulante para o exercício da sua inteligência e de todas as suas capacidades físicas e morais, incitando-o a procurar os meios de evitar esses malefícios. Se ele não tivesse que temer nada, nenhuma necessidade o induziria a procurar o melhor; seu espírito se entorpeceria na inatividade; nada inventaria e nem descobriria. A dor é o estímulo que impulsiona o homem para frente, na estrada do progresso."

A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo, Allan Kardec
capítulo III, item 5

Mas às vezes é preciso ir além: é preciso ao fundo do poço, ao auge do mal para realmente conhecer a necessidade de caminhar para o bem:

"Esses excessos, no entanto, têm a sua utilidade, a sua razão de ser; amedrontam a sociedade, e o bem sempre sai do mal. É preciso o excesso do mal para fazer sentir a necessidade do melhor, sem o que o homem não sairia de sua inércia; ficaria impassível diante de um mal que se perpetuaria em favor de sua pouca importância, ao passo que um grande mal desperta sua atenção e lhe faz buscar os meios de o remediar. Sem os grandes desastres ocorridos no início das estradas de ferro, e que apavoravam, já que os pequenos acidentes isolados passavam quase despercebidos, ter-se-iam desprezado as medidas de segurança. No moral é como no físico: quanto mais excessivos os abusos, mais próximo está o termo."

Revista Espírita, Allan Kardec – outubro de 1868: 'Profissão de fé materialista'

Então, nosso convite é o de que todos nós espíritas, em face das luzes que dispomos através de nossa amada doutrina, possamos servir mais à causa do Cristo, trabalhando mais pela divulgação do Espiritismo, a fim de verdadeiramente levar esclarecimento e consolo aos interessados. Precisamos fazer mais: o que temos feito é pouco, pois a carência é grande.

Para quem se interessa, a propósito, fazemos lembrar da nossa Plataforma de Estudos Avançados da Doutrina Espírita - PEADE; já são vários cursos online, disponíveis gratuitamente. Saiba mais clicando aqui.

Quem puder, por favor compartilhe!

Oremos pelo Rio Grande do Sul, oremos pelo Brasil; mas façamos mais: vamos nos educar melhor espiritualmente, educar moralmente nossas crianças e a quem mais tenha a mente e o coração aberto para receber a mensagem divina.

Vamos fazer mais!

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