"Relato de um Obsessor" - mensagem espírita
Uma mensagem espiritual interessantíssima que merece a apreciação de todos os espíritas. Atendido ao pedido, ocultamos a fonte.
Relato de um Obsessor
Certa feita convocaram-me para uma reunião de extrema importância. Missão a nós confiada pelas altas esferas inferiores responsáveis pelas desarticulações do bem sobre o plano terrestre.
Pois bem, lá chegando soube tratar de trabalhadores de um centro espírita, mais um posto de luz a serviço do Nazareno.
A cada um de nós, chefes de falanges com um exército razoável ao nosso comando recebemos uma incumbência, desde o presidente, aos lideres, trabalhadores e vizinhos. A Ordem é: acabem com eles, destruam as relações entre eles, entrem em suas vidas, sonda-lhes o íntimo, encontrem as brechas e por ali comecem a plantar nossa semente, incessantemente, ininterruptamente. Não poupem esforços na destruição de qualquer propósito mais elevado.
E a cada um de nós foi apresentado seu tutelado e o risco que representam, assim como os seus pontos fortes especialmente, a fim de ali concentrarmos os nossos esforços e em linhas gerais os pontos fracos também. E para minha grata surpresa encontrei uma mulher, loira, bonita, militante do espiritismo, forte magnetismo nas palavras e no olhar. E mais tarde descobriria qualidades excelentes para nossas ações.
Parti então a minha nova missão. Espírito secular de serviços ao astral inferior por opção, conhecedor das leis divinas e das relações entre pessoas. Conservando pelos mesmos séculos a figura masculina, alto, forte e habilidoso com as palavras, conservando todos os prazeres que tenho direito nessa condição. Por ora apresento-me assustador a fim de intimidar o mais ousado ou aterrorizar o fraco. Para as mulheres, sempre bonito e sedutor.
Dediquei os meus dias a estudar Maria (nome fictício), apenas a observá-la em casa, no trabalho, no trânsito. Os lugares que freqüentava, quem são seus amigos e sobretudo as emoções que a movem e as emoções que são bases das suas relações familiares, de amizade e profissionais. Em nada interferi nas primeiras semanas.
Não foi difícil encontrar alguns pontos fáceis de penetração: paciência em constante oscilação, ânimo e motivação também oscilatórios, carência afetiva/ emocional, sexualidade nos servia num prato cheio. Já nas preces havia mais freqüência e súplica o que mais a salvava era o vigiai e orai, onde por muitas e muitas vezes refutou nossas sugestões, desprezou a nossa companhia, mas isso só foi vários meses após o meu árduo trabalho.
Observadas as portas de acesso, tracei então o meu plano de ação e passei as atribuições aos meus eleitos para execução, só não sabia que teria eu mesmo de travar essa luta, pois a mulher opôs resistência e foi dobrando aos meus nas sessões doutrinárias com o manto de Maria a envolvê-los subtendo-os ao sono regenerador para o esclarecimento tão logo fosse possível. Após os tratamentos de magnetização pelos médicos e enfermeiros da estadia de socorro aos soldados do astral inferior cuja energia e condições são de alta radioatividade, razão pela qual não podiam ser misturados aos enfermos levados das sessões doutrinárias. Ainda a dormir vibrava-lhes as ações a serem executadas, havia o fio de ligação a vítima que gradativamente através da magnetização era por todo cortado.
Fiquei decepcionado e intrigado de eu mesmo ter que me ocupar dessa mulher, mas me agradava, é bonita, embora irritante e insistente. Podia me ocupar com coisas maiores, pensava.
Também temos código de ética e os filhos são o nosso último recurso, esgotados todos os outros. A ação maior com eles neste caso era afastá-los do centro espírita, fazê-los não querer ir, não querer fazer prece. E para esse caso foi o que bastou, pois ela percebeu-me em tempo.
Vamos às ações, pois é nisso que estão interessados.
A emoção ocupa a mente e o coração então vamos por ela. Autoestima baixa e amor próprio ínfimo. Como são as suas relações com as pessoas que convive e ai vamos entrando pela mente inspirando pensamentos sutilmente, embora insistentes.
No trabalho: tava muito bem servida com algumas sangue sugas de primeira linhagem, ali só fizemos mantê-la e piorar a relação com as pessoas através da intolerância, do pavio curto, era a que tinha o olhar geral, se antecipava ao problema, apresentava-os e as demais contra ela se viravam por sentirem-se ameaçadas e inseguras. Era estresse atrás de estresse e quando ela decidiu calar-se, ajudamos a tachá-la de anti-social, a metida, a sabe tudo gerando problemas de relacionamentos. Encontrou Maria num mesmo ano 03 propostas de emprego, mas nos encarregamos e desviá-la do caminho.
As pessoas com quem tinha o dever de tratar diretamente sugavam-lhe as boas energias, tiravam-na do sério até o momento em que percebeu o estado que ficava. Passou então a proteger-se em prece e numa redoma magnética o que melhorava suas condições bioenergéticas.
Desviei então o foco para as intrigas, relações, rendimento do trabalho e insatisfações constantes com os trabalhos executados e isso a deixava nervosa. E novamente barrou-me a ação não mais perdendo a paciência com as sandices da pessoa, deixava entrar por um ouvido e sair pelo outro.
Para não perder tempo e energia Maria passou a concordar com tudo ainda que contrariada. Enquanto era criticada mais e mais em suas tarefas Maria elogiava as ações da outra. Uma tática a fim de fazê-la perceber o quanto era critica e egocêntrica.
Em casa: o silêncio era o seu lema, uma casa de relações sofridas, era o seu arrimo espiritual, a juíza de paz a acalmar os ânimos daquele povo pronto a explodir. Religião não tinham, fé era pouca e os maus vícios de bandejas fartas. Mostrávamos o quanto era medíocre sua vida, se era para aquilo que trabalhava, que todo mundo trabalhava e conseguia e só ela que não. Se aquela era uma condição decente de vida. Voltar para a casa dos pais com os filhos e naquelas condições.
Condições totalmente adversas para estar em paz, para uma leitura, para os seus estudos. Não tinha sequer um ambiente para isso. Era obrigada a viver com brigas e ameaças por conta das drogas de um usuário da família. Lazer pouco tinha, pois as condições financeiras eram poucas. Vivia mais em casa ou pelos centros.
De minha parte nada foi trabalhoso insuflar ainda mais essas faltas e problemas, aumentava ainda mais sua angustia nessas condições.
Por vezes me alegrava quando o desânimo e o desespero se lhe abatia, ousava até comemorar a vitória que pouco durava. A mulher ressurgia como uma fênix.
Espíritos benfeitores nos espantavam com suas luzes protetoras irritantes, irradiam vibrações magnéticas em seu entorno a fim de protegê-la. Faziam vigília para arrebatá-la primeiro ao dormir, mas tinham noites que a pegávamos primeiro, especialmente quando faltava com as preces vencida pelo cansaço ou invigilância e então voltava ao corpo físico minada, irritada, triste, desanimada, parecia uma morta viva.
Como já relatei o que muito lhe valia era o vigiai e orai, nos botando para correr com as preces e os insistentes pensamentos positivos repetidos por inúmeras vezes na transformação do padrão mental que impedia a nossa entrada.
Queria que vissem como ficam os vossos cérebros, brilham. Aciona os mecanismos responsáveis para que produzam respostas orgânicas de alegria ou tristeza. Assim, Maria produzia respostas orgânicas negativas através da nossa influência de pensamentos ruins e quando ela começava na repetição das frases positivas e altruístas, outras áreas do cérebro começavam a reagir e produzir boas respostas orgânicas, trazendo a sensação de alegria, de euforia, de fé e esperança e travávamos essa luta mental, jogamos pensamentos inferiores e ela com o vigiar jogava pensamentos positivos.
Quem vencia, de certo querem saber? Ora eu, ora ela com os seus protetores. Nesse quesito me dava muito trabalho, pegá-la desprevenida mentalmente até que não era tão difícil, no entanto permanecer com a ação era o pior, pois com o vigiai percebia o padrão mental que mantinha e tratava de nos espantar com as afirmações positivas. Comparado as técnicas de neurolinguístíca – o aprendizado pela repetição.
Para mim havia uma satisfação extra e especial que passou a me seduzir com as possibilidades e para falar a verdade foi o que acabou me enfraquecendo.
Vocês evitam em falar de sexualidade como se não fossem fruto dela e por isso mesmo desconhecem seus insondáveis mistérios. Quanto o sexo é forte e proeminente nos humanos, por ele se perdem, se matam e se endividam ainda mais.
Jogamos marido contra mulher e vice versa ao apresentar-lhes outra pessoa aparentemente mais interessante e como são fracos pelo sexo adentramos aos lares, desestabilizamos mentes e corações, pois com a volúpia do desejo cego vão em busca do prazer efêmero. Brigas e desavenças alteram a rotina do lar. E para mim está muito bem desta forma.
Em determinada ocasião Maria encontrou um homem de caráter duvidoso e interesseiro, envolveram-se numa relação ruim desde o princípio apenas com poucos momentos bons. Não conseguia entender porque se interessara por um homem que não tinha nada a ver com ela, não era bonito, nada a agradava e porque gostava dele?
O rapaz anda bem acompanhado de espíritos apegados a materialidade, ao sexo especialmente e só fizeram botar fermento nessa relação. Tudo o que sentiam e viviam era sempre demais, forte e intenso o que dificultava a administração das emoções por parte dos dois. E desse modo essa relação quebrava as pernas dela, termo que ela própria definia. Saudades demais, amor demais, falta demais.
Lógico que peguei carona, passei a sorver as vibrações dessa relação. Fiz os dois de marionetes e o que cedesse primeiro as minhas sugestões eu estava sempre no lucro. Ela era a durona, logo a mais resistente, mas ainda assim não desistia de influenciá-la a fim de manter acesa a chama da paixão entre eles, assim quando ele se aproximasse ela cedia com maior facilidade. Fazia um pensar no outro dia e noite se bobeasse dormiam e acordavam com os pensamentos interligados.
Teve um dia que foi inusitado e fácil demais, ele chegou do centro espírita em estado de graça, muito em paz e com a sensação do dever cumprido, quando ela se deitou eu me deitei ao seu lado na forma do moço, ela identificou a sua presença, o seu cheiro juntou-se a mim, se confortou e assim dormimos juntos naquela noite. Tirei-a nos braços antes até de dormir. Lógico que Maria acordou mal e ao se recordar do ocorrido ficou aborrecida consigo pelo erro que cometeu.
Desejavam-se sexualmente com intensidade claro, pois a intensidade era sempre de nossa parte. Ele não correspondia exatamente ao que ela desejava, mas ganhava em algo que Maria dominava de diferente dos outros. Ela com a libido muito acima do normal nas mulheres, era de fato diferente de tudo o que ele já tivera de experiência e ai ele se amarrou. Era o que sempre quisera numa mulher, mas que nunca achou que teria, ficou surpreso, encantado e enfeitiçado como brinde nosso. Pensava ele que pelo fato de Maria ser espírita não fosse tão despachada com o sexo, jurava ele que jamais imaginava que fosse assim e foi a surpresa que o impactou.
Sei que não posso ser detalhista nessa questão, mas tentarei dar uma idéia geral das ações com a sexualidade. Muito embora ficassem surpresos em saber como agimos nessa questão.
Bem, como tudo era demais nessa relação ao menor pensamento que eles tinham aproveitávamos para entrar e aumentar e assim os dois nos serviam mesmo com os poucos encontros sexuais. A maior parte do sexo estava na cabeça deles.
Ele se deliciava pelo que tinha conhecido e vivido sexualmente com Maria. Satisfazia a si próprio nas necessidades do sexo e como a permuta não era direta, ou seja, corpo a corpo, coração a coração e mente a mente, entrava eu lá com toda volúpia que me cabia para do sexo me alimentar, como se ela conosco estivesse.
Quando era Maria a saciar a si mesma na sede do sexo eu então me deleitava. Mente aberta, foco disperso, chegava eu pertinho dela a lembrar-lhe o rapaz e o que tinham vivido. Muitas vezes ela se saciava pela minha inspiração e não porque estava com vontade.
Esse já era um hábito dela só que muito esporádico e sob a minha influência a prática tornou-se mais freqüente e então as coisas pioraram para mim, pois ela não mais aceitava as minhas sugestões.
Percebera o quanto enfraquecida ficava, irritada, sentia-se minada em suas energias. Cheguei a plantar uma espécie de micro magneto em sua genitália pela parte interna quando do momento de auto saciação. Este possuía atração que buscava mais ainda pelo sexo, além de baixar a rotação dos chacras inferiores, desarmonizando os outros como conseqüência.
Visto que percebera algo errado, cessou a prática, procurou equilibrar-se e se livrar dessa “energia” estranha que se instalara em seu baixo ventre. E voltamos então as preces, muitas preces, súplicas aos benfeitores para que não sentisse esse desejo e que não pensasse em sexo de maneira tão exagerada. Suplicava Maria por não possuir tamanho interesse pelo sexo, até pela vida solitária que tinha e isso piorava demais o controle das energias sexuais.
Numa dessas noites ao dormir, pediu aos seus mentores a levar-lhe ao estudo, a um tratamento e ao trabalho se condições tivesse. Foi então levada a um posto assistencial médico-espiritual e numa ação que perdurou pela noite, foi retirado o meu pequeno e hábil magneto. Ela se recordou deste socorro em forma de sonho.
Fechadas as portas do sexo tinha que abrir outras e então passado dois anos sugeri que um e-mail fosse enviado ao moço do passado e foi o que bastou, acho que uns 30 dias depois já estavam um nos braços do outro a trocar juras de amor e matar as saudades. E como ele a enfraquecia pelo descompasso das emoções por tudo ser demais entre eles, para mim foi só alegria.
Alegria que durou bem pouco. Como ela estava relativamente mais equilibrada, vigilante, fé mais fortalecida, autoestima e amor próprio em alta, meus planos não foram longe, encontram-se pessoalmente apenas duas vezes e sem sexo, pois se isso tivesse acontecido me serviriam por muito mais tempo.
Ela se entregou ao Nazareno pela incerteza da relação e da situação com a afirmação categórica de que só ficariam juntos se fosse o melhor para todos os envolvidos no que foi prontamente atendida. Ele, o mesmo homem de caráter duvidoso, imprevidente e imaturo deu um tiro no próprio pé e foi pego em mentira, em atitudes de má fé e dessa forma perdi o meu álibi.
Ela se assustou com tamanha audácia do homem, tremeu, mas entendeu o recado do Nazareno – ele não é o melhor para ela. Seu coração parece que gelou em indiferença por ele, como se nada houvesse acontecido, não nutria por ele nem raiva e nem amor. Como alguém pode se tornar nada para o outro? Isso me intrigou.
Eu continuo a trabalhar nos pensamentos deles, para que, quem sabe haja uma recaída, afinal depois do ocorrido ele tentou investir, após o erro fatal.
Antes deste episódio, peguei-a no trânsito, mulherzinha impaciente. Era fácil desequilibrá-la até que percebeu o olhar e as palavras de súplica de seu filho para não arrumar confusão no trânsito. O olhar do menino tocou-lhe a alma e foi o que bastou para empenhar todos os esforços para o auto-controle e paciência no trânsito.
No centro também coloquei uns contra os outros, disseminei a discórdia, aumentei as dificuldades, incitei os melindres e egos, fomentei o desânimo. Piorava em tudo a sua chegada no centro, fazia-a se perder num caminho que estava acostumada a fazer e tratava da falta dos trabalhadores.
Ensinava-a pensar assim: até onde vale a pena todo esse esforço; porque tenho que passar por isso; será que vale a pena aguentar melindres, folgas e desaforo de alguns trabalhadores – aqueles espíritos de porco que estão em todos os lugares, os que buscam justificar suas faltas, erros e o pouco comprometimento na figura do seu líder.
Ela passou me perceber com clareza nessa altura da história, lógico que me mostrava na melhor forma masculina, afinal não queria que percebesse a minha forma mais repelente, mas percebia pelo teor das minhas vibrações. Odiava que rezasse por mim, ela queria conversar comigo e eu me recusava, mas mesmo assim ela me falava pelos cotovelos. Tinha vezes que ela chorava muito dirigindo ou ao banho para que não fosse percebida especialmente pelos filhos.
Querem saber se eu me comovia ao vê-la no desespero e chorando?
Honestamente, no começo nem um pouco, gostava muito, dava-me prazer ver essa cena patética. Passado os anos o mesmo prazer me abandonou, tinha até ímpetos de acolhê-la ao meu colo, confortá-la e encorajá-la e como a prática do mal ainda é predominante partia em retirada a fim de não me comover.
Nesses momentos era bonito de ser ver o amparo espiritual que vinha ao seu encontro, o padre alemão, o preto e o amigo alemão. Ela os percebia e numa simbiose energética se fechavam a fim da recomposição bioenergética. Maria sentia como que abraçada a um corpo físico e ali ela se recostava e aos poucos ia se apaziguando.
Um dia ela estava dirigindo, percebeu-me e começou a falar comigo, mentalmente é claro, muito embora por vezes articulasse palavras e gestos, se esquecendo que eu sou só espírito. Perguntou o meu nome e disse que isso pouco importava, mas que podia me chamar de Humberto, nome que eu gostava e ela também. Perguntou-me porque eu não vinha com ela, porque não entregava os pontos e passava para o lado do bem. Disse ser eu uma boa criatura e que Deus me receberia amorosamente e poderia então ajudar aos outros em lugar de atrapalhar e estar feliz.
Lógico que recusei, mas confesso que o astral inferior me encanta menos. Não tenho laços de afeto ou desafetos com essa mulher, muito embora passamos a criar laços com os anos de convivência mais ou menos próximo. Estou apenas no cumprimento do meu dever.
Quem está quebrando as minhas pernas agora é ela pelo quanto que tenho observado, quanta resistência e quanta fé a salvar essa mulher. Sinto-me até covarde, um ataque vil a uma pessoa com uma vida tão difícil, com tantas adversidades e com o coração a sangrar e doer sai a servir em nome do Nazareno.
Certa vez, Maria a militar pelo espiritismo em conversa com um companheiro de causa ele disse-lhe em meio ao assunto: quero ver um trabalhador sair para testemunhar a fé e servir Jesus com a barriga vazia e faltando as coisas na casa dele. E Maria pensava, mas não falou.
Quantas vezes eu fui ao centro a pé porque não tinha dinheiro. Quantas vezes os meus filhos me pediam um pacote de biscoito e eu não tinha para comprar. Quantas vezes levava eles comigo a pé ou em ônibus lotado. As roupas que eles usavam eram a maioria doada. Presentes de natal por alguns anos só tiveram porque a madrinha de um comprava para a outra. As minhas roupas eram as mesmas de anos atrás e as novas eram doadas por algumas amigas do centro.
Maria era mãe e pai de um casal de filhos e a segunda criança era uma menina especial, colocou-a de pé e até os dias atuais padece pelas características específicas de uma criança especial.
Eu acabava, mutilava mesmo sem dó e nem piedade o amor próprio e a autoestima dela. Já disse que essa mulher é muito bonita e elegante, pois elegância nada tem com a pobreza. Consegui por períodos fazê-la acreditar que é feia, corpo não desejável, incapaz, fracassada e que nenhum homem se interessaria por ela e até hoje ela luta arduamente para crer no contrário.
A mãe e os irmãos só foram pegar a menina especial aos 6 meses de vida. Não facilitavam em nada a vida dela, não ajudavam a cuidar das crianças e quando a moça que cuidada dos filhos dela faltava, Maria também se ausentava do trabalho, com uma mãe e duas irmãs em casa sem trabalhar.
Nos trabalhos por onde passou, quando começa a aparecer desapareciam com ela, ficava esquecida, passava despercebida. Sua vida profissional fora naturalmente prejudicada por conta dos filhos. Como cumprir horários e compromissos de trabalhos e administrar, casa, filhos e escola. Podia ter crescido, mas nessa condição, impossível era.
E hoje penso em como continuar esse assédio se já não sou o homem duro de outrora, se me sinto vil e covarde?
Ela está cansada e vem como sempre buscando sobreviver. Busca, procura e estuda formas de sair dessa situação e tem como aliado a força do seu pensamento. Nos últimos tempos tem vigiado e orado sobremaneira para que o seu cérebro produza respostas de felicidade e as portas para mim vêm se fechando. E esse relato não é uma despedida, mas o princípio de um arrependimento na certeza que me resta partir, pois aqui não haverá mais lugar para mim.
Como o lobo perde o pelo, mas não perde o vício, estou entre lá e cá. Conheci melhor a doutrina dos discípulos do Nazareno, o Kardec e os seus seguidores. Ainda não posso partir e continuo a trabalhar nos pensamentos de Maria.
Pois bem, lá chegando soube tratar de trabalhadores de um centro espírita, mais um posto de luz a serviço do Nazareno.
A cada um de nós, chefes de falanges com um exército razoável ao nosso comando recebemos uma incumbência, desde o presidente, aos lideres, trabalhadores e vizinhos. A Ordem é: acabem com eles, destruam as relações entre eles, entrem em suas vidas, sonda-lhes o íntimo, encontrem as brechas e por ali comecem a plantar nossa semente, incessantemente, ininterruptamente. Não poupem esforços na destruição de qualquer propósito mais elevado.
E a cada um de nós foi apresentado seu tutelado e o risco que representam, assim como os seus pontos fortes especialmente, a fim de ali concentrarmos os nossos esforços e em linhas gerais os pontos fracos também. E para minha grata surpresa encontrei uma mulher, loira, bonita, militante do espiritismo, forte magnetismo nas palavras e no olhar. E mais tarde descobriria qualidades excelentes para nossas ações.
Parti então a minha nova missão. Espírito secular de serviços ao astral inferior por opção, conhecedor das leis divinas e das relações entre pessoas. Conservando pelos mesmos séculos a figura masculina, alto, forte e habilidoso com as palavras, conservando todos os prazeres que tenho direito nessa condição. Por ora apresento-me assustador a fim de intimidar o mais ousado ou aterrorizar o fraco. Para as mulheres, sempre bonito e sedutor.
Dediquei os meus dias a estudar Maria (nome fictício), apenas a observá-la em casa, no trabalho, no trânsito. Os lugares que freqüentava, quem são seus amigos e sobretudo as emoções que a movem e as emoções que são bases das suas relações familiares, de amizade e profissionais. Em nada interferi nas primeiras semanas.
Não foi difícil encontrar alguns pontos fáceis de penetração: paciência em constante oscilação, ânimo e motivação também oscilatórios, carência afetiva/ emocional, sexualidade nos servia num prato cheio. Já nas preces havia mais freqüência e súplica o que mais a salvava era o vigiai e orai, onde por muitas e muitas vezes refutou nossas sugestões, desprezou a nossa companhia, mas isso só foi vários meses após o meu árduo trabalho.
Observadas as portas de acesso, tracei então o meu plano de ação e passei as atribuições aos meus eleitos para execução, só não sabia que teria eu mesmo de travar essa luta, pois a mulher opôs resistência e foi dobrando aos meus nas sessões doutrinárias com o manto de Maria a envolvê-los subtendo-os ao sono regenerador para o esclarecimento tão logo fosse possível. Após os tratamentos de magnetização pelos médicos e enfermeiros da estadia de socorro aos soldados do astral inferior cuja energia e condições são de alta radioatividade, razão pela qual não podiam ser misturados aos enfermos levados das sessões doutrinárias. Ainda a dormir vibrava-lhes as ações a serem executadas, havia o fio de ligação a vítima que gradativamente através da magnetização era por todo cortado.
Fiquei decepcionado e intrigado de eu mesmo ter que me ocupar dessa mulher, mas me agradava, é bonita, embora irritante e insistente. Podia me ocupar com coisas maiores, pensava.
Também temos código de ética e os filhos são o nosso último recurso, esgotados todos os outros. A ação maior com eles neste caso era afastá-los do centro espírita, fazê-los não querer ir, não querer fazer prece. E para esse caso foi o que bastou, pois ela percebeu-me em tempo.
Vamos às ações, pois é nisso que estão interessados.
A emoção ocupa a mente e o coração então vamos por ela. Autoestima baixa e amor próprio ínfimo. Como são as suas relações com as pessoas que convive e ai vamos entrando pela mente inspirando pensamentos sutilmente, embora insistentes.
No trabalho: tava muito bem servida com algumas sangue sugas de primeira linhagem, ali só fizemos mantê-la e piorar a relação com as pessoas através da intolerância, do pavio curto, era a que tinha o olhar geral, se antecipava ao problema, apresentava-os e as demais contra ela se viravam por sentirem-se ameaçadas e inseguras. Era estresse atrás de estresse e quando ela decidiu calar-se, ajudamos a tachá-la de anti-social, a metida, a sabe tudo gerando problemas de relacionamentos. Encontrou Maria num mesmo ano 03 propostas de emprego, mas nos encarregamos e desviá-la do caminho.
As pessoas com quem tinha o dever de tratar diretamente sugavam-lhe as boas energias, tiravam-na do sério até o momento em que percebeu o estado que ficava. Passou então a proteger-se em prece e numa redoma magnética o que melhorava suas condições bioenergéticas.
Desviei então o foco para as intrigas, relações, rendimento do trabalho e insatisfações constantes com os trabalhos executados e isso a deixava nervosa. E novamente barrou-me a ação não mais perdendo a paciência com as sandices da pessoa, deixava entrar por um ouvido e sair pelo outro.
Para não perder tempo e energia Maria passou a concordar com tudo ainda que contrariada. Enquanto era criticada mais e mais em suas tarefas Maria elogiava as ações da outra. Uma tática a fim de fazê-la perceber o quanto era critica e egocêntrica.
Em casa: o silêncio era o seu lema, uma casa de relações sofridas, era o seu arrimo espiritual, a juíza de paz a acalmar os ânimos daquele povo pronto a explodir. Religião não tinham, fé era pouca e os maus vícios de bandejas fartas. Mostrávamos o quanto era medíocre sua vida, se era para aquilo que trabalhava, que todo mundo trabalhava e conseguia e só ela que não. Se aquela era uma condição decente de vida. Voltar para a casa dos pais com os filhos e naquelas condições.
Condições totalmente adversas para estar em paz, para uma leitura, para os seus estudos. Não tinha sequer um ambiente para isso. Era obrigada a viver com brigas e ameaças por conta das drogas de um usuário da família. Lazer pouco tinha, pois as condições financeiras eram poucas. Vivia mais em casa ou pelos centros.
De minha parte nada foi trabalhoso insuflar ainda mais essas faltas e problemas, aumentava ainda mais sua angustia nessas condições.
Por vezes me alegrava quando o desânimo e o desespero se lhe abatia, ousava até comemorar a vitória que pouco durava. A mulher ressurgia como uma fênix.
Espíritos benfeitores nos espantavam com suas luzes protetoras irritantes, irradiam vibrações magnéticas em seu entorno a fim de protegê-la. Faziam vigília para arrebatá-la primeiro ao dormir, mas tinham noites que a pegávamos primeiro, especialmente quando faltava com as preces vencida pelo cansaço ou invigilância e então voltava ao corpo físico minada, irritada, triste, desanimada, parecia uma morta viva.
Como já relatei o que muito lhe valia era o vigiai e orai, nos botando para correr com as preces e os insistentes pensamentos positivos repetidos por inúmeras vezes na transformação do padrão mental que impedia a nossa entrada.
Queria que vissem como ficam os vossos cérebros, brilham. Aciona os mecanismos responsáveis para que produzam respostas orgânicas de alegria ou tristeza. Assim, Maria produzia respostas orgânicas negativas através da nossa influência de pensamentos ruins e quando ela começava na repetição das frases positivas e altruístas, outras áreas do cérebro começavam a reagir e produzir boas respostas orgânicas, trazendo a sensação de alegria, de euforia, de fé e esperança e travávamos essa luta mental, jogamos pensamentos inferiores e ela com o vigiar jogava pensamentos positivos.
Quem vencia, de certo querem saber? Ora eu, ora ela com os seus protetores. Nesse quesito me dava muito trabalho, pegá-la desprevenida mentalmente até que não era tão difícil, no entanto permanecer com a ação era o pior, pois com o vigiai percebia o padrão mental que mantinha e tratava de nos espantar com as afirmações positivas. Comparado as técnicas de neurolinguístíca – o aprendizado pela repetição.
Para mim havia uma satisfação extra e especial que passou a me seduzir com as possibilidades e para falar a verdade foi o que acabou me enfraquecendo.
Vocês evitam em falar de sexualidade como se não fossem fruto dela e por isso mesmo desconhecem seus insondáveis mistérios. Quanto o sexo é forte e proeminente nos humanos, por ele se perdem, se matam e se endividam ainda mais.
Jogamos marido contra mulher e vice versa ao apresentar-lhes outra pessoa aparentemente mais interessante e como são fracos pelo sexo adentramos aos lares, desestabilizamos mentes e corações, pois com a volúpia do desejo cego vão em busca do prazer efêmero. Brigas e desavenças alteram a rotina do lar. E para mim está muito bem desta forma.
Em determinada ocasião Maria encontrou um homem de caráter duvidoso e interesseiro, envolveram-se numa relação ruim desde o princípio apenas com poucos momentos bons. Não conseguia entender porque se interessara por um homem que não tinha nada a ver com ela, não era bonito, nada a agradava e porque gostava dele?
O rapaz anda bem acompanhado de espíritos apegados a materialidade, ao sexo especialmente e só fizeram botar fermento nessa relação. Tudo o que sentiam e viviam era sempre demais, forte e intenso o que dificultava a administração das emoções por parte dos dois. E desse modo essa relação quebrava as pernas dela, termo que ela própria definia. Saudades demais, amor demais, falta demais.
Lógico que peguei carona, passei a sorver as vibrações dessa relação. Fiz os dois de marionetes e o que cedesse primeiro as minhas sugestões eu estava sempre no lucro. Ela era a durona, logo a mais resistente, mas ainda assim não desistia de influenciá-la a fim de manter acesa a chama da paixão entre eles, assim quando ele se aproximasse ela cedia com maior facilidade. Fazia um pensar no outro dia e noite se bobeasse dormiam e acordavam com os pensamentos interligados.
Teve um dia que foi inusitado e fácil demais, ele chegou do centro espírita em estado de graça, muito em paz e com a sensação do dever cumprido, quando ela se deitou eu me deitei ao seu lado na forma do moço, ela identificou a sua presença, o seu cheiro juntou-se a mim, se confortou e assim dormimos juntos naquela noite. Tirei-a nos braços antes até de dormir. Lógico que Maria acordou mal e ao se recordar do ocorrido ficou aborrecida consigo pelo erro que cometeu.
Desejavam-se sexualmente com intensidade claro, pois a intensidade era sempre de nossa parte. Ele não correspondia exatamente ao que ela desejava, mas ganhava em algo que Maria dominava de diferente dos outros. Ela com a libido muito acima do normal nas mulheres, era de fato diferente de tudo o que ele já tivera de experiência e ai ele se amarrou. Era o que sempre quisera numa mulher, mas que nunca achou que teria, ficou surpreso, encantado e enfeitiçado como brinde nosso. Pensava ele que pelo fato de Maria ser espírita não fosse tão despachada com o sexo, jurava ele que jamais imaginava que fosse assim e foi a surpresa que o impactou.
Sei que não posso ser detalhista nessa questão, mas tentarei dar uma idéia geral das ações com a sexualidade. Muito embora ficassem surpresos em saber como agimos nessa questão.
Bem, como tudo era demais nessa relação ao menor pensamento que eles tinham aproveitávamos para entrar e aumentar e assim os dois nos serviam mesmo com os poucos encontros sexuais. A maior parte do sexo estava na cabeça deles.
Ele se deliciava pelo que tinha conhecido e vivido sexualmente com Maria. Satisfazia a si próprio nas necessidades do sexo e como a permuta não era direta, ou seja, corpo a corpo, coração a coração e mente a mente, entrava eu lá com toda volúpia que me cabia para do sexo me alimentar, como se ela conosco estivesse.
Quando era Maria a saciar a si mesma na sede do sexo eu então me deleitava. Mente aberta, foco disperso, chegava eu pertinho dela a lembrar-lhe o rapaz e o que tinham vivido. Muitas vezes ela se saciava pela minha inspiração e não porque estava com vontade.
Esse já era um hábito dela só que muito esporádico e sob a minha influência a prática tornou-se mais freqüente e então as coisas pioraram para mim, pois ela não mais aceitava as minhas sugestões.
Percebera o quanto enfraquecida ficava, irritada, sentia-se minada em suas energias. Cheguei a plantar uma espécie de micro magneto em sua genitália pela parte interna quando do momento de auto saciação. Este possuía atração que buscava mais ainda pelo sexo, além de baixar a rotação dos chacras inferiores, desarmonizando os outros como conseqüência.
Visto que percebera algo errado, cessou a prática, procurou equilibrar-se e se livrar dessa “energia” estranha que se instalara em seu baixo ventre. E voltamos então as preces, muitas preces, súplicas aos benfeitores para que não sentisse esse desejo e que não pensasse em sexo de maneira tão exagerada. Suplicava Maria por não possuir tamanho interesse pelo sexo, até pela vida solitária que tinha e isso piorava demais o controle das energias sexuais.
Numa dessas noites ao dormir, pediu aos seus mentores a levar-lhe ao estudo, a um tratamento e ao trabalho se condições tivesse. Foi então levada a um posto assistencial médico-espiritual e numa ação que perdurou pela noite, foi retirado o meu pequeno e hábil magneto. Ela se recordou deste socorro em forma de sonho.
Fechadas as portas do sexo tinha que abrir outras e então passado dois anos sugeri que um e-mail fosse enviado ao moço do passado e foi o que bastou, acho que uns 30 dias depois já estavam um nos braços do outro a trocar juras de amor e matar as saudades. E como ele a enfraquecia pelo descompasso das emoções por tudo ser demais entre eles, para mim foi só alegria.
Alegria que durou bem pouco. Como ela estava relativamente mais equilibrada, vigilante, fé mais fortalecida, autoestima e amor próprio em alta, meus planos não foram longe, encontram-se pessoalmente apenas duas vezes e sem sexo, pois se isso tivesse acontecido me serviriam por muito mais tempo.
Ela se entregou ao Nazareno pela incerteza da relação e da situação com a afirmação categórica de que só ficariam juntos se fosse o melhor para todos os envolvidos no que foi prontamente atendida. Ele, o mesmo homem de caráter duvidoso, imprevidente e imaturo deu um tiro no próprio pé e foi pego em mentira, em atitudes de má fé e dessa forma perdi o meu álibi.
Ela se assustou com tamanha audácia do homem, tremeu, mas entendeu o recado do Nazareno – ele não é o melhor para ela. Seu coração parece que gelou em indiferença por ele, como se nada houvesse acontecido, não nutria por ele nem raiva e nem amor. Como alguém pode se tornar nada para o outro? Isso me intrigou.
Eu continuo a trabalhar nos pensamentos deles, para que, quem sabe haja uma recaída, afinal depois do ocorrido ele tentou investir, após o erro fatal.
Antes deste episódio, peguei-a no trânsito, mulherzinha impaciente. Era fácil desequilibrá-la até que percebeu o olhar e as palavras de súplica de seu filho para não arrumar confusão no trânsito. O olhar do menino tocou-lhe a alma e foi o que bastou para empenhar todos os esforços para o auto-controle e paciência no trânsito.
No centro também coloquei uns contra os outros, disseminei a discórdia, aumentei as dificuldades, incitei os melindres e egos, fomentei o desânimo. Piorava em tudo a sua chegada no centro, fazia-a se perder num caminho que estava acostumada a fazer e tratava da falta dos trabalhadores.
Ensinava-a pensar assim: até onde vale a pena todo esse esforço; porque tenho que passar por isso; será que vale a pena aguentar melindres, folgas e desaforo de alguns trabalhadores – aqueles espíritos de porco que estão em todos os lugares, os que buscam justificar suas faltas, erros e o pouco comprometimento na figura do seu líder.
Ela passou me perceber com clareza nessa altura da história, lógico que me mostrava na melhor forma masculina, afinal não queria que percebesse a minha forma mais repelente, mas percebia pelo teor das minhas vibrações. Odiava que rezasse por mim, ela queria conversar comigo e eu me recusava, mas mesmo assim ela me falava pelos cotovelos. Tinha vezes que ela chorava muito dirigindo ou ao banho para que não fosse percebida especialmente pelos filhos.
Querem saber se eu me comovia ao vê-la no desespero e chorando?
Honestamente, no começo nem um pouco, gostava muito, dava-me prazer ver essa cena patética. Passado os anos o mesmo prazer me abandonou, tinha até ímpetos de acolhê-la ao meu colo, confortá-la e encorajá-la e como a prática do mal ainda é predominante partia em retirada a fim de não me comover.
Nesses momentos era bonito de ser ver o amparo espiritual que vinha ao seu encontro, o padre alemão, o preto e o amigo alemão. Ela os percebia e numa simbiose energética se fechavam a fim da recomposição bioenergética. Maria sentia como que abraçada a um corpo físico e ali ela se recostava e aos poucos ia se apaziguando.
Um dia ela estava dirigindo, percebeu-me e começou a falar comigo, mentalmente é claro, muito embora por vezes articulasse palavras e gestos, se esquecendo que eu sou só espírito. Perguntou o meu nome e disse que isso pouco importava, mas que podia me chamar de Humberto, nome que eu gostava e ela também. Perguntou-me porque eu não vinha com ela, porque não entregava os pontos e passava para o lado do bem. Disse ser eu uma boa criatura e que Deus me receberia amorosamente e poderia então ajudar aos outros em lugar de atrapalhar e estar feliz.
Lógico que recusei, mas confesso que o astral inferior me encanta menos. Não tenho laços de afeto ou desafetos com essa mulher, muito embora passamos a criar laços com os anos de convivência mais ou menos próximo. Estou apenas no cumprimento do meu dever.
Quem está quebrando as minhas pernas agora é ela pelo quanto que tenho observado, quanta resistência e quanta fé a salvar essa mulher. Sinto-me até covarde, um ataque vil a uma pessoa com uma vida tão difícil, com tantas adversidades e com o coração a sangrar e doer sai a servir em nome do Nazareno.
Certa vez, Maria a militar pelo espiritismo em conversa com um companheiro de causa ele disse-lhe em meio ao assunto: quero ver um trabalhador sair para testemunhar a fé e servir Jesus com a barriga vazia e faltando as coisas na casa dele. E Maria pensava, mas não falou.
Quantas vezes eu fui ao centro a pé porque não tinha dinheiro. Quantas vezes os meus filhos me pediam um pacote de biscoito e eu não tinha para comprar. Quantas vezes levava eles comigo a pé ou em ônibus lotado. As roupas que eles usavam eram a maioria doada. Presentes de natal por alguns anos só tiveram porque a madrinha de um comprava para a outra. As minhas roupas eram as mesmas de anos atrás e as novas eram doadas por algumas amigas do centro.
Maria era mãe e pai de um casal de filhos e a segunda criança era uma menina especial, colocou-a de pé e até os dias atuais padece pelas características específicas de uma criança especial.
Eu acabava, mutilava mesmo sem dó e nem piedade o amor próprio e a autoestima dela. Já disse que essa mulher é muito bonita e elegante, pois elegância nada tem com a pobreza. Consegui por períodos fazê-la acreditar que é feia, corpo não desejável, incapaz, fracassada e que nenhum homem se interessaria por ela e até hoje ela luta arduamente para crer no contrário.
A mãe e os irmãos só foram pegar a menina especial aos 6 meses de vida. Não facilitavam em nada a vida dela, não ajudavam a cuidar das crianças e quando a moça que cuidada dos filhos dela faltava, Maria também se ausentava do trabalho, com uma mãe e duas irmãs em casa sem trabalhar.
Nos trabalhos por onde passou, quando começa a aparecer desapareciam com ela, ficava esquecida, passava despercebida. Sua vida profissional fora naturalmente prejudicada por conta dos filhos. Como cumprir horários e compromissos de trabalhos e administrar, casa, filhos e escola. Podia ter crescido, mas nessa condição, impossível era.
E hoje penso em como continuar esse assédio se já não sou o homem duro de outrora, se me sinto vil e covarde?
Ela está cansada e vem como sempre buscando sobreviver. Busca, procura e estuda formas de sair dessa situação e tem como aliado a força do seu pensamento. Nos últimos tempos tem vigiado e orado sobremaneira para que o seu cérebro produza respostas de felicidade e as portas para mim vêm se fechando. E esse relato não é uma despedida, mas o princípio de um arrependimento na certeza que me resta partir, pois aqui não haverá mais lugar para mim.
Como o lobo perde o pelo, mas não perde o vício, estou entre lá e cá. Conheci melhor a doutrina dos discípulos do Nazareno, o Kardec e os seus seguidores. Ainda não posso partir e continuo a trabalhar nos pensamentos de Maria.
Arujá, SP - junho, 2011
Este texto mostra bem o que acontece em nossas vidas. Em muitas passagens é minha vida que li. Vou imprimir e distribuir aos colegas no CE.
ResponderExcluirEste texto mostra bem o que acontece em nossas vidas. Em muitas passagens é minha vida que li. Vou imprimir e distribuir aos colegas no CE.
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