"O Pensamento é matéria? É quântico?", por Alexandre Fontes da Fonseca


A questão sobre o pensamento ser matéria é analisada aqui sob enfoque doutrinário e científico. Analisaremos os conceitos associados à palavra “pensamento” distinguindo a ideia de informação associada à origem do pensamento, da ideia de matéria associada ao produto e veículo de transmissão do mesmo. Explicaremos a afirmativa de André Luiz de que o pensamento é matéria. Mostraremos, com base na Doutrina Espírita, que o processo de transmissão de pensamento não é um fenômeno quântico no sentido da não-localidade.

Boa parte das dúvidas e polêmicas sobre determinado assunto decorre do entendimento diversificado que as pessoas possuem sobre o que está sendo estudado ou debatido. Isso nos remete à questão sobre a clareza da linguagem enfatizada por Kardec e pelos Espíritos superiores na Codificação. No item I da Introdução de O Livro dos Espíritos [1], a respeito dos vocábulos espírita e espiritismo, Kardec diz: “Para se designarem coisas novas são precisos termos novos. Assim o exige a clareza da linguagem, para evitar a confusão inerente à variedade de sentidos das mesmas palavras.” (Grifos nossos). Os Espíritos superiores, em resposta à questão número 28 de O Livro dos Espíritos [1], disseram que “As palavras pouco nos importam. Compete-vos a vós formular a vossa linguagem de maneira a vos entenderdes. As vossas controvérsias provêm, quase sempre, de não vos entenderdes acerca dos termos que empregais, por ser incompleta a vossa linguagem para exprimir o que não vos fere os sentidos.” (Grifos nossos). 

Neste artigo, sob a orientação acima dos Espíritos superiores, pretendemos analisar uma questão de enorme interesse no Movimento Espírita que é o pensamento. Analisaremos diversas explicações dadas pelo codificador para o pensamento e sua forma de transmissão. Explicaremos com base na Doutrina Espírita, a afirmativa de André Luiz de que o pensamento é matéria. Discutiremos se o pensamento ou sua forma de transmissão seriam quânticos no sentido de possuírem características não-locais.


O “PENSAMENTO” SEGUNDO A DOUTRINA ESPÍRITA

Na Codificação, podemos distinguir dois significados diferentes para a palavra “pensamento”. Um deles relaciona a palavra pensamento à ideia de informação enquanto que o outro relaciona o pensamento à ideia de matéria. Ambas situações não significam que o pensamento apareça definido como sendo somente informação ou somente matéria. Ressaltamos a existência dessas duas características do pensamento (informação ou matéria) em diversos comentários e explicações doutrinárias, e apesar da diferença substancial entre elas, analisamos a origem de cada uma esclarecendo as controvérsias decorrentes do entendimento equivocado dessa questão. Transcreveremos algumas citações de Kardec separando-as em dois grupos de acordo com o conceito associado à palavra pensamento.


1 – PENSAMENTO – INFORMAÇÃO

De O Livro dos Espíritos [1] destacamos as seguintes passagens: 

Item V da Introdução: “Em certos casos, as respostas revelam tal cunho de sabedoria, de profundeza e de oportunidade; exprimem pensamentos tão elevados, tão sublimes, que não podem emanar senão de uma Inteligência superior, impregnada da mais pura moralidade.”

Item XIII da Introdução: “Os Espíritos superiores não se preocupam absolutamente com a forma. Para eles, o fundo do pensamento é tudo.”.

Frase contida no primeiro parágrafo da questão 100 sobre Escala Espírita: “Para eles, o pensamento é tudo.”

Comentário de Kardec à questão 462: “Se fora útil que pudéssemos distinguir claramente os nossos pensamentos próprios dos que nos são sugeridos, Deus nos houvera proporcionado os meios de o conseguirmos, como nos concedeu o de diferençarmos o dia da noite. (...)” 

Comentário de Kardec à questão 662: “O pensamento e a vontade representam em nós um poder de ação que alcança muito além dos limites da nossa esfera corporal. (...)” 

Questão 835: Será a liberdade de consciência uma consequência da de pensar?
“A consciência é um pensamento íntimo, que pertence ao homem, como todos os outros pensamentos.”

Do Livro A Gênese [2], destacamos as seguintes passagens:

Item 14 do Cap. XIV: “Para os Espíritos, o pensamento e a vontade são o que é a mão para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem àqueles fluidos tal ou qual direção, os aglomeram, combinam ou dispersam, organizam com eles conjuntos que apresentam uma aparência, uma forma, uma coloração determinadas; (...). É a grande oficina ou laboratório da vida espiritual. (...) Por análogo efeito, o pensamento do Espírito cria fluidicamente os objetos que ele esteja habituado a usar.”

Item 16 do Cap. XIV: “Sendo esses fluidos o veículo do pensamento e podendo este modificar-lhes as propriedades, é evidente que eles devem achar-se impregnados das qualidades boas ou más dos pensamentos que os fazem vibrar, modificando-se pela pureza ou impureza dos sentimentos.”

Todos os grifos em negrito foram feitos por nós. 


2 – PENSAMENTO – MATÉRIA 

De O Livro dos Espíritos [1] destacamos as seguintes passagens:

Item XIV da Introdução: “Livres da matéria, a linguagem de que usam entre si é rápida como o pensamento, porquanto são os próprios pensamentos que se comunicam sem intermediário.”

Questão 89: Os Espíritos gastam algum tempo para percorrer o espaço?
“Sim, mas fazem-no com a rapidez do pensamento.”

Comentário de Kardec à questão 92a: “Cada Espírito é uma unidade indivisível, mas cada um pode lançar seus pensamentos para diversos lados, sem que se fracione para tal efeito. Nesse sentido unicamente é que se deve entender o dom da ubiquidade atribuído aos Espíritos. (...)”

Questão 282: Como se comunicam entre si os Espíritos?
“Eles se veem e se compreendem. A palavra é material: é o reflexo do Espírito. O fluido universal estabelece entre eles constante comunicação; é o veículo da transmissão de seus pensamentos, como, para vós, o ar o é do som. É uma espécie de telégrafo universal, que liga todos os mundos e permite que os Espíritos se correspondam de um mundo a outro.”

Questão 437: “(...) Quando duas pessoas se comunicam de uma cidade para outra, por meio da eletricidade, esta constitui o laço que lhes liga os pensamentos. Daí vem que confabulam como se estivessem ao lado uma da outra.” 

Nono parágrafo da questão 455 sobre o resumo teórico do sonambulismo, do êxtase a da dupla vista: “(...) comunicação que se estabelece pelo contato dos fluidos, que compõem os perispíritos e servem de transmissão ao pensamento, como o fio elétrico. (...)” 

Do Livro A Gênese [2], destacamos as seguintes passagens:

Item 40 do Cap. I: “O estudo das propriedades do perispírito, dos fluidos espirituais e dos atributos fisiológicos da alma abre novos horizontes à Ciência (...). Tais são, entre muitos, os fenômenos (...), da transmissão do pensamento, (...)” 

Item 23 do Cap. II: “As propriedades do fluido perispirítico dão-nos disso uma ideia. Ele não é de si mesmo inteligente, pois que é matéria, mas serve de veículo ao pensamento, às sensações e percepções do Espírito. Esse fluido não é o pensamento do Espírito; é, porém, o agente e o intermediário desse pensamento. Sendo quem o transmite, fica, de certo modo, impregnado do pensamento transmitido. Na impossibilidade em que nos achamos de o isolar, a nós nos parece que ele, o pensamento, faz com o fluido, que com este se confunde, como sucede com o som e o ar, de maneira que podemos, a bem dizer, materializá-lo. Assim como dizemos que o ar se torna sonoro, poderíamos, tomando o efeito pela causa, dizer que o fluido se torna inteligente.”

Item 17 do Cap. XI: “O fluido perispirítico constitui, pois, o traço de união entre o Espírito e a matéria. Enquanto aquele se acha unido ao corpo, serve-lhe ele de veículo ao pensamento, para transmitir o movimento às diversas partes do organismo, as quais atuam sob a impulsão da sua vontade e para fazer que repercutam no Espírito as sensações que os agentes exteriores produzam. Servem-lhe de fios condutores os nervos como, no telégrafo, ao fluido elétrico serve de condutor o fio metálico.”

Item 13 do Cap. XIV: “Os fluidos espirituais, que constituem um dos estados do fluido cósmico universal, são, (...), a atmosfera dos seres espirituais; o elemento donde eles tiram os materiais sobre que operam; o meio onde ocorrem os fenômenos especiais, perceptíveis à visão e à audição do Espírito, mas que escapam aos sentidos carnais, impressionáveis somente à matéria tangível; o meio onde se forma a luz peculiar ao mundo espiritual, diferente, pela causa e pelos efeitos da luz ordinária; finalmente, o veículo do pensamento, como o ar o é do som.” 

Item 15 do Cap. XIV: “Sendo os fluidos o veículo do pensamento, este atua sobre os fluidos como o som sobre o ar; eles nos trazem o pensamento, como o ar nos traz o som. Pode-se, pois, dizer, sem receio de errar, que há, nesses fluidos, ondas e raios de pensamentos, que se cruzam sem se confundirem, como há no ar ondas e raios sonoros. Há mais: criando imagens fluídicas, o pensamento se reflete no envoltório perispirítico, como num espelho; toma nele corpo e aí de certo modo se fotografa. (...) Desse modo é que os mais secretos movimentos da alma repercutem no envoltório fluídico; que uma alma pode ler noutra alma como num livro e ver o que não é perceptível aos olhos do corpo.” 

Item 20 do Cap. XIV: “É que, com efeito, o pensamento é uma emissão que ocasiona perda real de fluidos espirituais e, conseguintemente, de fluidos materiais, de maneira tal que o homem precisa retemperar-se com os eflúvios que recebe do exterior.”

Item 9 do Cap. XV: “Em muitos passos do Evangelho se lê: «Mas Jesus, conhecendo-lhes os pensamentos, lhes diz...» Ora, como poderia ele conhecer os pensamentos dos seus interlocutores, senão pelas irradiações fluídicas desses pensamentos e, ao mesmo tempo, pela vista espiritual que lhe permitia ler-lhes no foro íntimo?” 

Todos os grifos em negrito foram feitos por nós. A seguir analisaremos cada um dos grupos 1) e 2) sobre o significado do pensamento empregado nos mesmos. 


A ANÁLISE DO PENSAMENTO: INFORMAÇÃO VS. MATÉRIA

Uma análise cuidadosa das citações apresentadas nas seções 1 e 2 mostra a dificuldade em definir-se, de modo preciso, o que é o pensamento. Quando, por exemplo, lemos o comentário de Kardec à questão 662 (LE) em que: “O pensamento e a vontade representam em nós um poder de ação (...)” e lemos a resposta dos Espíritos para a questão 835: “A consciência é um pensamento íntimo, que pertence ao homem, como todos os outros pensamentos.”, vemos que o pensamento é um atributo do princípio inteligente do Universo que se exterioriza como “um poder de ação”, ou uma força que, diferente das outras forças da natureza, está associada à uma consciência. O mesmo pode ser inferido do comentário de Kardec feito no item 14 do Cap. XIV de A Gênese: “Para os Espíritos, o pensamento e a vontade são o que é a mão para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem àqueles fluidos tal ou qual direção, (...)”. Ou seja, o pensamento é uma força que além de representar a consciência, imprime direção aos fluidos. Não pretendemos, neste artigo, analisar o que seria o pensamento ao nível do princípio inteligente, ou imaginar que tipo de força o pensamento poderia ser. Vamos, aqui, analisar o aspecto inteligente (informação) e fluídico (material) associado ao pensamento.

Quando lemos na Introdução de O Livro dos Espíritos que os Espíritos superiores exprimem “pensamentos elevados” e que para eles o “fundo do pensamento é tudo”, percebemos que o significado da palavra pensamento poderia ser substituída, sem perda de significado, pela palavra ideia ou informação: “ideias ou informações elevadas”; “o fundo da ideia é tudo”. 

Portanto, quando a palavra “pensamento” tem significado de “informação”, ela representa, simplesmente, a exteriorização da inteligência que é um atributo exclusivo do princípio inteligente do Universo: o Espírito.

Por outro lado, quando lemos na Introdução de O Livro dos Espíritos que para os espíritos livres da matéria: “são os próprios pensamentos que se comunicam sem intermediário.”, a ideia de informação começa a dar lugar para uma ideia de “objeto” ou “algo” que pode interagir mutuamente. Nas palavras de Kardec, em comentário à questão 92a: “Cada Espírito é uma unidade indivisível, mas cada um pode lançar seus pensamentos para diversos lados, (...)”, vemos que a ideia de informação está acompanhada da ideia de “algo” que pode ser lançado “para diversos lados”. Em princípio, poderíamos pensar que esse “algo” é a própria informação, mas a expressão “para diversos lados” transmite uma ideia de espaço que não faz sentido para um objeto abstrato como o conceito isolado de informação. Informação, em si, não é uma coisa que ocupa espaço. O que ocupa espaço e pode ser “lançado” em qualquer direção é algo físico que contém e transmite uma informação. 

A explicação para essa sutileza nos conceitos pode ser encontrada na resposta à questão 282: “(...) A palavra é material: é o reflexo do Espírito. O fluido universal estabelece entre eles constante comunicação; é o veículo da transmissão de seus pensamentos, como, para vós, o ar o é do som. É uma espécie de telégrafo universal, que liga todos os mundos e permite que os Espíritos se correspondam de um mundo a outro.” Nas questões 437 e 455 encontramos uma explicação ainda mais explícita da característica material do pensamento: questão 437: “(...) Quando duas pessoas se comunicam de uma cidade para outra, por meio da eletricidade, esta constitui o laço que lhes liga os pensamentos. Daí vem que confabulam como se estivessem ao lado uma da outra.” Nono parágrafo da questão 455: “(...) comunicação que se estabelece pelo contato dos fluidos, que compõem os perispíritos e servem de transmissão ao pensamento, como o fio elétrico. (...)”. Agora sim, percebemos claramente esse outro significado associado à palavra “pensamento”. O pensamento, em sua origem, consiste na ideia ou informação íntima do Espírito, fruto de sua inteligência, que pretende, então, transmiti-la a outro(s) Espírito(s). Para atingir esse objetivo, através de sua vontade, ele age sobre os fluidos, alterando-os. O Fluido Universal faz o papel de meio de propagação desses fluidos assim como “o ar o é o do som” ou como “o fio elétrico” faz com a comunicação via eletricidade. O que ocupa o espaço e pode ser “lançado para diversos lados” é o fluido alterado ou influenciado pelo pensamento do Espírito. Esse fluido contém a informação ou ideia gerados pelo Espírito através de sua inteligência e o Fluido Universal o transporta de um lugar para outro. 

É o próprio Kardec quem conclui o assunto no item 23 do Cap. II de A Gênese: “As propriedades do fluido perispirítico dão-nos disso uma ideia. Ele não é de si mesmo inteligente, pois que é matéria, mas serve de veículo ao pensamento, às sensações e percepções do Espírito. Esse fluido não é o pensamento do Espírito; é, porém, o agente e o intermediário desse pensamento. Sendo quem o transmite, fica, de certo modo, impregnado do pensamento transmitido. Na impossibilidade em que nos achamos de o isolar, a nós nos parece que ele, o pensamento, faz corpo com o fluido, que com este se confunde, como sucede com o som e o ar, de maneira que podemos, a bem dizer, materializá-lo. Assim como dizemos que o ar se torna sonoro, poderíamos, tomando o efeito pela causa, dizer que o fluido se torna inteligente.” Estas duas últimas frases são bem claras: podemos “dizer que o fluido se torna inteligente” ou “que podemos, a bem dizer, materializar o pensamento”. Kardec fez essa análise que ora enfatizamos nesse artigo ao dizer que “Esse fluido não é o pensamento do Espírito; é porém, o agente e o intermediário desse pensamento.” Porém, sabendo que é impossível separar a ideia de informação gerada na mente de um Espírito do fluido que o transmite para outros Espíritos, Kardec explica porque os pensamentos podem ser chamados de materiais.

Lembrando dos comentários de Kardec e dos Espíritos superiores destacados na Introdução deste artigo, é preciso que nós tenhamos em mente toda essa discussão sobre a diferença entre informação e veículo de transmissão da informação para entendermos porque podemos dizer que o pensamento é matéria. Assim, toda vez que lermos ou ouvirmos alguém comentar essa afirmativa, lembraremos que não é a informação em si que é material, mas o veículo que a transporta para todos os lugares.

Assim, se torna fácil compreender o sentido usado por André Luiz na obra Mecanismos da Mediunidade [3], ao dizer no item “Corpúsculos Mentais” do Cap. IV que: “Como alicerce vivo de todas as realizações nos planos físico e extrafísico, encontramos o pensamento por agente essencial. Entretanto, ele ainda é matéria, (...)”. Portanto, André Luiz fala das características dos fluidos que transportam o pensamento e as aplica no estudo dos processos mediúnicos.


AFINAL, O PENSAMENTO É QUÂNTICO?

Aproveitando a temática sempre atual sobre o pensamento, vamos analisar aqui se o pensamento teria propriedades quânticas. André Luiz, na obra acima referida [3], afirma que a matéria fluídica se estrutura de modo análogo à matéria densa cujos átomos, por sua vez, são formados por partículas subatômicas. Ele propõe a título de analogia que ocorrem com os fluidos processos análogos aos que ocorrem com a matéria densa. Assim, André Luiz afirma que os princípios de emissão de luz espiritual são análogos aos da emissão da luz material, que decorre de determinadas propriedades quânticas. Até aqui, não temos nenhuma objeção lembrando, apenas, que André Luiz foi muito cuidadoso no prefácio do seu livro [3] ao dizer que estava tomando emprestado os conceitos científicos terrestres sabendo que a ciência do amanhã pode substituir a ciência conhecida hoje. 

Em uma série de “aulas” sobre Ciência e Espiritismo que temos publicado no Boletim do GEAE [4] (Boletins números de 483 até o atual), analisamos algumas possíveis contribuições que a Física pode oferecer a alguns temas de interesse para o Movimento Espírita, apontando algumas dificuldades e equívocos comuns em matéria de Ciência. Todo o material do Boletim do GEAE [4] pode ser consultado e estudado gratuitamente e convidamos os leitores a analisarem o material que expusemos nas aulas de número 6 até 12 (Boletins do GEAE de números 488 a 494). O leitor encontrará nessas referências alguns conceitos básicos para poder analisar melhor a questão que apresentaremos a seguir. 

Vamos analisar a proposta de que o processo de transmissão de pensamento é não-local. De modo a facilitar o entendimento, resumiremos as características e propriedades da chamada não-localidade entre duas ou mais partes de um sistema quântico:

Instantaneidade (cuja ideia é diferente de muito rápido);
Não depende da distância entre os objetos;
Não se utiliza de nenhum meio físico, como o som se utiliza do ar para ser transmitido;
Não serve, isoladamente, para enviar informação de um lugar a outro;
Somente se verifica em sistemas isolados do resto do mundo. 

Um fenômeno de ligação entre dois objetos será não-local se todos esses itens forem satisfeitos ao mesmo tempo. Segundo Kardec na questão 282 de O Livro dos Espíritos, “O fluido universal estabelece entre eles constante comunicação; é o veículo da transmissão de seus pensamentos, como, para vós, o ar o é do som.” Portanto, o item 3 não é satisfeito no processo de transmissão do pensamento. Como o objetivo dos fluidos é servir de veículo de transmissão da informação contida no pensamento (Kardec, item 23 do Cap. II de A Gênese: “Esse fluido não é o pensamento do Espírito; é, porém, o agente e o intermediário desse pensamento.”) o item 4 acima também não é satisfeito. Como todos os Espíritos estão imersos no Fluido Universal, emitindo e recebendo os pensamentos de outros Espíritos, de acordo com a sintonia de cada um, o processo de transmissão de pensamento não é um fenômeno que ocorre entre dois ou mais Espíritos isolados do resto do Universo. Portanto, o item 5 também não é satisfeito. De modo a vermos que a velocidade do pensamento não é infinita e, portanto, não se transmite de modo instantâneo, vamos analisar a questão 89 de O Livro dos Espíritos, a respeito da velocidade de deslocamento dos Espíritos: “Os Espíritos gastam algum tempo para percorrer o espaço? Sim, mas fazem-no com a rapidez do pensamento.” (Grifos em negrito são nossos). Ao dizer que os Espíritos “gastam, SIM, algum tempo para percorrer o espaço”, os Espíritos dizem que seu deslocamento não é instantâneo. Ao comparar a rapidez dos Espíritos com a do pensamento, deduz-se que o pensamento não pode ser transmitido de modo instantâneo porque senão os Espíritos não gastariam tempo nenhum para percorrer o espaço e a resposta seria autocontraditória. Portanto, o item 1 acima não se verifica. Apenas o item 2 seria verificado já que podemos, pelo pensamento, transmitir nossas ideias ou informações a qualquer lugar no Universo já que, segundo os Espíritos superiores, o Fluido Universal está presente em todo o Universo.

Desde que é necessário que todas as características enumeradas acima sejam verificadas de modo que um dado fenômeno possa ser considerado não-local, concluímos que o fenômeno da transmissão de pensamentos não é um fenômeno quântico no sentido da não-localidade.


CONCLUSÕES

Neste artigo, analisamos as características do pensamento sob aspectos doutrinários e científicos. Destacamos na Codificação diversas citações de Kardec e dos Espíritos superiores que enfatizam tanto o significado de informação como o significado de matéria para a palavra pensamento. Verificamos que a informação contida no pensamento é o produto da utilização do Espírito do atributo da sua inteligência. No entanto, para transmitir essa informação à outros Espíritos, a informação deve se associar a fluidos que, então, são transmitidos pelo Fluido Universal assim como o som é transmitido pelo ar. Nesse aspecto, o pensamento se torna algo material pois apenas os fluidos podem ter a propriedade de ocupar espaço e serem transmitidos. 

Aproveitamos o ensejo para analisar se o fenômeno de transmissão do pensamento possui a propriedade quântica de não-localidade. Com base na Codificação, mostramos que esse fenômeno não é não-local porque não satisfaz a todas as condições necessárias para que um fenômeno tenha essa característica. 

É relativamente comum a ideia de que os efeitos físicos são os fenômenos que irão comprovar a existência da alma e a realidade espiritual para a Humanidade. Contudo, sem discordar em absoluto dessa ideia, acreditamos que os efeitos inteligentes podem realizar um papel muito mais importante nesse aspecto do que imaginamos. A inteligência humana é eficiente na invenção de formas de simular qualquer tipo de fenômeno mas questões de ordem inteligente e do sentimento jamais podem ser imitadas por meio de truques. Por essa razão, o aspecto – informação associado aos fenômenos espíritas devem ser mais explorados pois através dos valores da informação obtida nos fenômenos espíritas é que poderemos discernir o fruto da inteligência humana de outras inteligências superiores. Sugerimos, a respeito disso, a leitura do interessantíssimo artigo de Ademir Xavier Jr. [5] sobre o papel da informação na estruturação do Universo.

Alexandre Fontes da Fonseca


Referências:

[1] A. Kardec, O Livro dos Espíritos, Editora FEB, 76a Edição (1995). 

[2] A. Kardec, A Gênese, Editora FEB, 36ª Edição (1995). 

[3] A. Luiz, Psicografia de Francisco C. Xavier, Mecanismos da Mediunidade, Editora FEB, 11a. Edição (1990). 


[5] A. Xavier Jr. 2004, A Importância da Informação na Estruturação Inteligente do Universo, Boletim do GEAE 485. Pode ser encontrado no link da referência [4].

Fonte: Jornal Espírita, nº 361 e 362

Comentários

  1. Bom dia a todos(as) irmãos (as),
    excelente artigo! Uma ótima análise sob os aspectos doutrinário e científico deste assunto tão importante- o PENSAMENTO, que, por diversas vezes e pessoas menos esclarecidas ou precipitadas, acabam tirando conclusões tão distorcidas da verdade dos fatos.
    Tenho acompanhado e lido os artigos deste irmão de caminhada, Alexandre Fontes da Fonseca, que sempre traz muita lucidez científica em seus trabalhos de análise da DE assim como tanto valoriza o aspecto doutrinário desta luz de doutrina. Parabens ao autor e responsáveis por este canal de informação (LuzEsperita). A cada vez que leio artigos com profundida e lucidez de conceitos como este, mais avanço um pouquinho na minha evolução espiritual intelectual e porque não dizer também moral, uma vez que esta via de regra ou quem sabe, sempre, vem após a primeira.
    Obrigado pela luz que tudo isto tem me proporcionado.

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