"Natal e a diferença entre Jesus e Deus" por Daniel Strutenskey de Macedo


Temos recebido um grande volume de mensagens dos nossos confrades, simpatizantes do Espiritismo e até de pessoas declaradamente "antipáticas" à nossa causa espírita. São desde pedidos de oração (especialmente para o  nosso programa Evangelho no Lar Online), sugestões e críticas sobre nossas publicações, perguntas doutrinárias, suporte para se inscrever na nossa plataforma de cursos online (PEADE) etc.

Infelizmente, não temos colaboradores suficientes para responder a todos imediatamente, mas procuramos não deixar ninguém sem um mínimo retorno. Por essa razão, esta também é uma oportunidade para pedirmos desculpas àqueles que nos escrevem, sobretudo tratando de questões mais urgentes.

Além disso, faz bem esclarecermos que não desprezamos nenhuma correspondência, mesmo que sejam críticas, as mais duras inclusive: elas são igualmente dignas de apreciação, posto sermos todos aprendizes da Boa Nova.

Em meio a essa diversidade, temos a grata satisfação de recebermos também ótimos textos, no estilo de artigos, crônicas, poemas etc. Apenas para ilustrar a qualidade dessas letras a nós ofertadas, compartilhamos aqui o ensaio a seguir, que julgamos válido para a reflexão de todos. (Destaques em negrito por nossa conta)



Natal e a diferença entre Jesus e Deus

Na época em que Jesus nasceu a religião não era somente um caminho e uma esperança, um sentimento de fé, mas era a Lei que determinava a ordem estabelecida na nação, no reino físico da referida nação. Os países não tinham uma constituição, não possuíam leis civis que organizassem a vida em sociedade, não havia uma justiça civil organizada. Era o rei que definia tudo e que mandava em tudo. E o rei de Israel era ao mesmo tempo o chefe supremo da igreja. Não era sem motivo que os judeus consideravam o seu Deus, Jeová, o Deus dos Exércitos. Quer dizer, dos exércitos deles, do povo judeu.

Pelos motivos expostos acima, ninguém poderia mudar as leis e alterar a ordem das coisas sem mudar as Leis Divinas trazidas pelos profetas. As leis escritas pelos profetas é que determinavam o que era certo e o que era errado, o que era bom e o que deixava de ser, o que era crime e o que não era. Enfim, era ela que determinava os costumes e a justiça da época. Davi, o divino poeta, autor de salmos maravilhosos, casou-se com a filha do rei depois de atender ao pedido do futuro sogro. Seu sogro lhe pediu que Davi trouxesse setenta órgãos masculinos (pênis e saco escrotal) e Davi matou setenta guerreiros inimigos para atender a exigência do Rei. Esta era a realidade da época. Matar os inimigos de Israel era da vontade de Jeová, pois Jeová era o rei deles, exclusivo, era o rei da nação judaica e não dos outros povos.

O Deus de Jesus é universal e orienta as pessoas a perdoar os inimigos. É um Deus de fraternidade.

Na época e nos séculos anteriores aos da disputa de poder entre os judeus, eram as leis das sagradas escrituras que determinavam tudo. Por isto, para mudar alguma coisa os políticos da época buscavam textos sagrados que fossem de encontro àquilo que eles pretendiam. E quando não achavam, inventavam. Criavam textos e faziam de conta que os tinham encontrado em antigos pergaminhos escritos por Jeremias, Isaias e outros profetas admirados. Era assim que davam validade sagrada aos seus argumentos. Nesta época não tínhamos conhecimentos científicos e técnicos para testar os documentos e saber se eram originais ou não. A validade era dada pelos interessados que tivessem mais poder no momento. Quem ler o velho testamento verá que são as palavras dos profetas que defendem ou atacam um rei e que é a partir delas que um rei permanece ou outro assume o trono.

A causa de Jesus e do grupo que o apoiava era de provocar uma mudança de costumes, de princípios, de crenças e de valores. E assim como os demais, o grupo cristão também utiliza a palavra de profetas anteriores, a palavra sagrada de que viria um novo Messias, o qual mudaria tudo. O grupo cristão precisava da palavra sagrada para ter legitimidade, para ser acreditado pelo povo. Jesus precisava ser o Messias. Como sabemos, ele foi perseguido pelos judeus que tinham o poder e pelos seus aliados romanos. Nesta época, Israel tinha Herodes como rei, o qual tinha um acordo com os romanos e pagava impostos a eles para se manter no poder. O povo pagava os impostos triplamente: para o rei Herodes, para a igreja judaica e para os romanos.

Jesus não poderia dizer que era um homem que desejava justiça e fraternidade, que todos fossem iguais, que não mais houvesse escravidão. Ele não seria ouvido. Era preciso que ele fosse o novo Messias, que ele tivesse origem divina como previu o profeta Isaias. Este é o motivo e a razão pela qual Jesus se declara filho de Deus. Era necessário. E como filho de Deus ele muda a concepção de Deus. O Deus cristão não é mais o Deus dos Exércitos, não é mais um deus exclusivo do povo judeu, mas torna-se pai, pois o verdadeiro pai protege, perdoa, auxilia. E torna-se um deus pai universal, de todos os povos. Leiam a carta de Paulo onde ele diz aos Hebreus. Antes era a Lei (a lei judaica) e com a lei havia o pecado (pecado significava delito e quem cometesse um delito era castigado), mas agora o justo viverá de fé em Nosso Senhor Jesus Cristo. Com esta carta, Paulo aboliu a lei anterior e disse ao povo que almejava por justiça que agora ele viveria sob uma nova ordem, uma nova lei, uma lei justa.

Sabemos através da História que o cristianismo não vingou completamente, mas ele foi um novo fermento de princípios, crenças e valores que alimentou as gerações futuras e foi, aos poucos, transformando o mundo. E ainda transforma!

O que é Deus? Deus para a ciência é a causa da existência do Universo. Para as pessoas de fé é uma esperança, uma promessa, uma vida eterna no futuro. Como Jesus e os seus profetas falavam com Deus? Através do Espírito Santo. Qual seja, através de espíritos que falavam através deles e traziam as palavras da nova ordem, da nova Lei, que era a Lei de Justiça e Fraternidade de Jesus, de João Batista e de outras pessoas envolvidas na mesma causa. Se considerarmos a vida espiritual e o contato estreito de Jesus e dos apóstolos com os espíritos será lógico admitirmos a vida eterna e assim considerá-la uma vida real, uma vida maior, uma vida divina. Por este ângulo, todos somos filhos de Deus. Não foi á toa que Jesus disse que éramos todos irmãos! Como Jesus, somos todos filhos de Deus!

Ainda hoje é complicado separarmos Jesus de Deus, pois a maioria das pessoas ainda está presa às ideias antigas, do velho testamento, que é de um tempo em que vigorava a injustiça e a escravidão. Os textos bíblicos são confusos, são complexos, são contraditórios, são escritos em linguagens simbólicas, são difíceis de serem compreendidos. Então, por isto, a gente deixa que Jesus e Deus continue sendo a mesma pessoa.

Daniel Strutenskey de Macedo


Apenas uma palavrinha sobre o texto do nosso confrade Daniel: enquanto muitos (os religiosistas) prendem-se na supervalorização literal dos chamados textos sagrados (isso vale tanto para a Bíblia quanto para o Alcorão e todos os demais manuais de fé, inclusos os livros didáticos das ciências), outros acabam por desprezar toda e qualquer obra similar; se não for o caso de total desprezo, pelo menos este segundo grupo tende a menosprezar tais obras, seja porque elas sejam confusas, contraditórias, enigmáticas etc. Assim, nos pareceu tender o texto acima, ao que, por nossa vez, no mínimo, pensamos ser mais prudente colocar essa "sabedoria das antigas" na conta dos mistérios, os quais talvez não estejam tão longe de serem melhor compreendidos. Quiçá tudo o que nos parece místico hoje, por exemplo a numerologia e a simbologia de que as ditas escrituras sagradas estão impregnadas, não tenha mesmo um significado concreto, inclusive solidarizando todas as grandes obras do gênero (Bíblia, Alcorão, Vedas, Mahabharata etc.)! Apesar disso, a mensagem central do artigo aqui transcrito consagra uma ideia que claramente está alinhada com a Revelação Espírita: a distinção entre Jesus e Deus, bem como o papel de cada um, bem definido pela Boa Nova trazida pelo Cristo (o Messias).

A reprodução deste texto também é exemplar para dizermos que nem sempre vamos estar de acordo com absolutamente tudo de um texto ou uma tese qualquer apresentada, mas isso não implica que em tudo essa ideia seja desprezada e que nós podemos conviver pacificamente com as diferenças, crescendo juntos, através dessa dialética, pelo estudo, pesquisa e diálogo, à caminho do melhor entendimento das coisas.

Este é o espírito da coisa para nós: nós é sobre perfeccionismo, mas progresso contínuo.

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