sábado, 1 de abril de 2017

1 de Abril: aniversário de fundação da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas


Em 1 de abril de 1858 foi fundado o que podemos considerar o primeiro centro espírita do mundo a ser formalmente regulamentada: a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritos, sob o empreendimento de Allan Kardec.


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Discorrendo sobre essa "Sociedade dos Espíritos", o escritor Marcel Souto Maior textualiza em seu livro Kardec, A Biografia:

Muito mais discreta e desinteressada do que o colega escocês [o médium Daniel Dunglas Home], Ermance Dufaux continuava a pôr no papel mensagens assinadas por São Luís. Sua autobiografia póstuma fora proibida pelo governo, mas nada impedia, por enquanto, que o santo se manifestasse na Revista Espírita. Parábolas sobre orgulho, preguiça e inveja, assinadas por ele, foram estampadas na nova publicação, acompanhadas de diálogos com o próprio rei santificado. Agora, porém, Ermance já não escrevia tanto. As mensagens dos espíritos saíam de sua boca a jato, e quem estivesse a seu lado durante estes ditados “do além” precisava escrever rápido para acompanhar a velocidade dos discursos.

Kardec deu destaque à jovem, como objeto de estudo, já nos primeiros artigos da revista:
A princípio era boa médium psicógrafa e escrevia com grande facilidade; pouco a pouco se tornou médium falante e, à medida que esta nova faculdade se desenvolveu, a primeira se atenuou. Hoje a senhorita Dufaux escreve pouco e com dificuldade, mas o que é original é que, falando, sente a necessidade de estar com um lápis à mão e de fingir que escreve.
Detalhes como estes chamavam a atenção de leitores ávidos por evidências da vida depois da morte e levavam à casa de Kardec colaboradores interessados em estudar a nova ciência e atuar como intermediários do além.

Quinze pessoas, em média, passaram a participar de reuniões privadas, toda terça-feira, no apartamento de Kardec e Amélie na rua de Martyrs, número 8. Mas em pouco tempo o número de visitantes dobrou e a sala ficou acanhada para tanta gente e tantos fenômenos.

Os frequentadores mais assíduos propuseram, então, ratear os custos do aluguel de um novo espaço. Kardec aceitou a oferta e decidiu formalizar a sociedade, com o aval do Estado.

Batizada de Círculo Parisiense de Estudos Espíritas, esta associação, ainda um tanto improvisada nos primeiros meses de 1858, tornara-se o embrião da primeira Sociedade Espírita do mundo. O processo de legalização da entidade foi conduzido com todo o cuidado e contou com o decisivo apoio dos Dufaux num período de alta tensão em Paris.

A capital da França estava sob a sanção da Lei de Segurança Geral, promulgada após um atentado sofrido por Napoleão III, em 14 de janeiro de 1858. O responsável pela tentativa de assassinato, o revolucionário Félix Orsini, já estava preso, prestes a ser condenado à guilhotina, e a ordem do governo era clara: vigilância máxima para evitar novos ataques. De acordo com as novas leis, que vigorariam por doze anos, o ministro do Interior poderia, por exemplo, exilar qualquer cidadão francês suspeito de conspirar contra a segurança do Estado. Reuniões privadas, como as organizadas por Allan Kardec, eram, portanto, vistas com reserva e suspeita. O mais seguro era obter uma autorização legal para não correr riscos desnecessários.

Amigo do prefeito de polícia, o sr. Dufaux encarregou-se da petição e garantiu às autoridades o caráter apolítico dos encontros semanais no então recém-batizado Círculo Parisiense de Estudos Espíritas. Logo depois, instruído pelo pai de Ermance, Kardec enviou outra solicitação ao “Sr. Prefeito de Polícia da Cidade de Paris”:
Os membros fundadores do Círculo Parisiense de Estudos Espíritas, que solicitaram junto a vós a autorização necessária para constituir-nos em Sociedade, temos a honra de pedir-vos que consintais permitir-nos reuniões preparatórias, enquanto esperamos a autorização regular.
O texto se encerrava com duas assinaturas do mesmo homem: “(...) tenho a honra de ser vosso muito humilde e muito obediente servidor, H. L. D. Rivail, dito Allan Kardec.”

No dia 1º de abril de 1858, três meses depois do lançamento da Revista Espírita, a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas passou a ocupar, com autorização do Estado, um endereço próprio: um salão alugado, por um ano, no Palais-Royal, na galeria Valois. Aquele seria o palco de sucessivos diálogos com o invisível, descritos em edições cada vez mais populares da Revista Espírita, a tribuna de Allan Kardec. Foi nas páginas da publicação, em maio, que o professor festejou a constituição da nova associação parisiense:
A Sociedade, cuja formação temos o prazer de anunciar, composta exclusivamente de pessoas sérias, isentas de prevenções e animadas do sincero desejo de esclarecimento, contou, desde o início, entre os seus associados, com homens eminentes por seu saber e por sua posição social. Estamos convictos de que ela é chamada a prestar incontestáveis serviços à constatação da verdade.
Kardec assumiu a presidência do grupo e nomeou, então, São Luís “presidente espiritual” da Sociedade. Uma das mensagens assinadas pelo santo serviria de guia para os trabalhos de intercâmbio com o além:
— Tudo pesar e amadurecer; submeter ao controle da mais severa razão todas as comunicações que receberdes; não deixar de pedir, desde que uma resposta vos pareça duvidosa ou obscura, os esclarecimentos necessários para vos convencer.
Entre os membros fundadores de carne e osso, médiuns como os senhores Rose, Alfred Didier, D’Ambel, Leymarie e Delanne, e as senhoritas Eugénie, Hue e Stephanie, além da atuante sra. Costel. Entre os visitantes invisíveis mais assíduos, além de São Luís, destacava-se Erasto, discípulo e colaborador do apóstolo Paulo de Tarso nos tempos de Cristo, responsável agora por orientações incisivas como esta:
— Não temais desmascarar os embusteiros.
Estimulado pelas vendas de O livro dos espíritos, pelo número crescente de assinantes da Revista Espírita e pela adesão de novos sócios contribuintes à Sociedade recém-fundada, o professor passou a dedicar cada vez mais tempo à sua missão ou combate.

Logo Rivail seria uma sombra de Kardec, a cada dia mais atuante e confiante.

Com informação e divulgação, acreditava, seria possível vencer os preconceitos contra o espiritismo e provar ao mundo que, em torno das esfuziantes e polêmicas mesas girantes, havia um mundo novo a se revelar.

Quem sabe aconteceria com o espiritismo o que já se dava com sua “ciência irmã”, o magnetismo?

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