"Chico Xavier: Denúncia de adulterações em livros psicografados divide comunidade espírita", matéria é destaque nos canais de notícias da Globo
Os leitores do jornal O Globo e do canal de notícias G1 foram surpreendidos nesta quinta-feira com uma matéria em destaque envolvendo o nome de Chico Xavier, tratando do caso em que "Denúncia de adulterações em livros psicografados divide comunidade espírita".
Em resumo, um grupo de confrades espíritas estão se queixando das sequentes alterações que a equipe editorial da FEB, a Federação Espírita Brasileira, tem feito ao longo dos anos nas obras literárias psicografadas pelo querido médium mineiro; por conta disso, inclusive, esse grupo até acionou a justiça civil, pois esses confrades consideram que se trata, não apenas de alterações, mas sim adulterações, por serem prejudiciais ao contexto das obras.
A seu turno, a FEB reconheceu as alterações e as justifica com o argumento de que são simplesmente ajustes necessários de ortografia e adequação semântica, sem nenhum prejuízo para o entendimento da mensagem.
Como spoiler, o quadro abaixo mostra alguns exemplos das alterações verificadas nas obras mediúnicas reeditadas pela FEB:
Como de fato a questão foi parar na justiça comum, o andamento do processo até agora está numa fase de tentativa de conciliação entre as partes, no sentido de se verificar uma melhor solução "pacífica" para o imbróglio.
Nossa opinião
Pela verificação que fizemos das alterações, consideramos que o acusação de "adulterações" seja um tanto pesada demais, pois nisso, naturalmente haveríamos de considerar o dolo, a intenção deliberada de prejudicar alguém (o entendimento do texto, a imagem do médium ou do Espírito comunicante etc.) e custa-nos crer que alguém da FEB pretendesse tal façanha.
Em contrapartida, se não verificamos nenhum espírito de maldade nessas alterações, é flagrante em alguns casos a "infelicidade" — no mínimo — que os editores tiveram ao trocar determinados vocábulos e expressões; e isso para não dizermos "falta de senso literário", capacidade mesmo.
É bem verdade que certas alterações se impõem pela necessidade gramatical: os textos oriundos da mediunidade de Chico Xavier são do século XX e o Brasil foi signatário de uma revisão ortográfica na língua portuguesa acordada em 1990 e que passou a entrar em vigor em 2009 (Saiba mais aqui).
As mudanças foram profundas: exclusão do trema em palavras bastante usuais (exemplo: tranqüilo = tranquilo; conseqüência = consequência etc.), retirada de acentuação em palavras terminadas com "eia" (idéia = ideia, colméia = colmeia etc.) e "oico" (heróico = heroico, estóico = estoico etc.), junção de termos compostos antes hifenizados ou separados (super amigos = superamigos, macro-sistema = macrossistema etc.), dentre outras regras redefinidas. Logo, a revisão ortográfica é uma ação legítima, como todas as editoras o fazem, mesmo com os títulos clássicos da nossa biblioteca.
Mas o caso das "revisões semânticas" é mais delicado. Não ignoramos que em todos os vernáculos há determinados termos que realmente perderam o seu sentido original por completo. A palavra "socialismo" hoje em dia não é mais usada no seu sentido primeiro, como referência à vida social, o convívio mútuo; ela é empregada sempre dentro de um contexto que envolve a ideia revolucionária e o movimento político dela oriundo. Portanto, não cabe mais utilizá-la naquela conotação inocente, a não ser com uma explicação — por exemplo, através de uma nota de rodapé. Outros vocábulos inocentes, no seu sentido original, ganharam conotações bem diferentes (sobretudo nas conversações coloquiais), embora continuem sendo reconhecidas e empregadas também no primeiro sentido. É o caso do adjetivo "ordinário", cuja significação autêntica equivale a "comum", "conforme o costume" e "regular", mas que atualmente é usado noutro contexto, referindo-se a coisas de pouco valor, vulgares, obscenas etc. Ainda assim, todo bom leitor conhece e normalmente sabe diferenciar bem as duas versões, porque ambas significações são fartamente usadas. Neste casos, nem precisa de nota de rodapé; o próprio leitor fará a diferenciação pelo contexto.
Sendo assim, cabe à FEB uma melhor gestão destas alterações, e seria muito nobre de seus dirigentes atuais reconhecerem os possíveis erros pontuais nessas alterações, providenciando em seguida — imediatamente, melhor dizendo — as devidas correções.
Ocorre que, conforme apuramos, faltou diálogo franco e objetivo entre as partes envolvidas, aliás, parecendo-nos mais por culpa da FEB, já que há anos essa questão vem sendo debatida e a entidade até então não teve a habilidade para solucioná-la de modo a dizimar o desentendimento. O resultado foi o caso ser encaminhado para os tribunais e a questão virar mais um escândalo nacional — o que nada contribui para o Espiritismo; mas, ao contrário, só serve de munição para aqueles que desejam banalizar o nosso pobre movimento espírita.
A FEB foi muito beneficiada pela obra mediúnica de Chico Xavier, tanto em termos financeiros quanto em termos de status; em razão disso, pensamos que sobre ela pesa uma grande responsabilidade. E, infelizmente, a História registra que a entidade não tem feito, sempre, jus aos recursos de que dispõe. Mas, não é o caso de ela dever ser escrachada, como pretendem alguns. É o típico caso daquela velha expressão: "ruim com ela, pior sem ela".
Então, vibremos para que a coisa se resolva da melhor e mais rápida forma possível.
Independentemente dos equívocos apontados, que não me parecem ter intenção de prejudicar o texto, entendo que em tudo que envolva a Doutrina Espírita, antes de tudo é imperioso que encontremos o equilíbrio nas discussões. Acredito que mais grave do que as alterações ocorridas é o desfecho escandaloso ocorrido...Não podemos conceber isso no ambiente em que pregamos harmonia e não a praticamos. Luiz Guimarães - Recife.
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