terça-feira, 12 de abril de 2011

ESPIRITISMO E SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL - POR ANDRÉ TRIGUEIRO

Por um centro espírita sustentável

Alguém dirá que não importa a forma de uma instituição espírita, o que conta é a qualidade dos serviços ali prestados nos dois planos da vida. De fato, dentre as funções mais importantes de um centro espírita destacaríamos a promoção dos valores cristãos através do exercício da caridade, do socorro aos necessitados, da divulgação da doutrina espírita e da educação mediúnica. Portanto, as instalações físicas da instituição e outros cuidados alusivos ao uso inteligente dos recursos  ficariam em segundo plano. Entretanto, tentarei aqui demonstrar que a preocupação com a sustentabilidade conspira em favor da redução dos custos de manutenção da instituição – algo vital para qualquer organização  filantrópica ou voluntária – e do exemplo que a casa espírita deve dar num momento em que experimentamos uma crise ambiental sem precedentes na história da Humanidade.
São muitas as vantagens ao alcance de quem tem a oportunidade de erguer uma nova construção para abrigar um centro espírita. Um projeto que contemple a entrada de luz natural reduz drasticamente o uso de energia para luminárias. Num país tropical, onde o sol brilha 280 dias por ano, em média, desperdiçar essa maravilhosa fonte luminosa é jogar dinheiro fora. Todas as lâmpadas devem ser  fuorescentes. Embora mais caro, este equipamento dura mais e consome bem menos energia ao longo de sua vida útil. Deve-se privilegiar a ventilação natural, de preferência conhecendo previamente a corrente dos ventos da região.
Numa construção sustentável, ventiladores ou aparelhos de ar-condicionado só precisam ser ligados quando há necessidade. Em algumas instituições, as despesas com equipamentos de refrigeração são expressivas, e poderiam ser melhor destinadas a outras frentes de trabalho e assistência. Todos os equipamentos elétricos e eletrônicos eventualmente adquiridos devem ter, de preferência, o selo Procel marcando a letra “A” de máxima eficiência energética.
A coleta de água de chuva a partir do telhado, acumulada na laje em uma cisterna, assegura a disponibilidade desse recurso para múltiplos usos. A instituição poderá continuar usando água clorada e potável para beber, cozinhar e tomar banho. Para todos os demais usos – limpeza de pisos e janelas, rega de jardim, vaso sanitário, desentupimento de ralos ou bueiros etc – a água da chuva poderá suprir a demanda sem custo  financeiro para a instituição.

É recomendável aposentar as válvulas e usar as chamadas ”caixas acopladas” nos vasos sanitários, que reduzem tremendamente a demanda por água. Há equipamentos que liberam três litros de água por descarga, o que já assegura o asseio devido sem riscos para a higiene. 
Em instituições espíritas que mantém atividades como creches, orfanatos ou asilos, onde o uso regular de chuveiros elétricos onera sensivelmente os custos mensais de manutenção, vale a pena encomendar um orçamento para a instalação de coletores solares.
São mais caros do que os chuveiros elétricos, mas dependendo da escala e do tamanho da conta de luz, a instalação dos coletores poderá ser compensada em dois ou três anos de uso. Depois, é só comemorar o que se deixa de pagar para a concessionária de luz e destinar esses preciosos recursos para outros  fins.
Promover a coleta seletiva é algo simples, fácil, e requer um planejamento prévio que identifique o local adequado onde serão armazenados provisoriamente os recicláveis até a chegada de uma cooperativa ou da própria companhia de limpeza urbana que levará, enfim, esses materiais para o lugar certo.
A reciclagem promove geração de emprego e renda e, via de regra, redução dos impactos ambientais graças ao reaproveitamento dos recursos naturais.
Em relação ao copinho plástico da água fluidifcada – um resíduo abundante e ao mesmo tempo desinteressante para boa parte dos catadores – recomendamos que cada instituição verifique a conveniência de promover o uso de canequinhas ou garranhas trazidas pelos próprios frequentadores ou a compra de copinhos de papel. Há ainda a opção de procurar no mercado alguém interessado em reciclar o plástico dos copinhos tradicionais.
Estimular o transporte solidário (caronas) entre voluntários e frequentadores, disponibilizar um bicicletário, adquirir móveis ou peças de madeira com certificado de origem para evitar o incentivo ao desmatamento ilegal da Amazônia são medidas igualmente simples e importantes para que não sejamos agentes da destruição e sim promotores da “vida em abundância”, tal qual nos ensinou o Mestre Jesus.
Tudo o que foi descrito aqui está em absoluta sintonia com a lei de Conservação, uma das leis morais apresentadas em O livro dos espíritos. Se o planeta é morada transitória e o nosso corpo é perecível, isso não invalida o compromisso ético que temos em relação ao uso inteligente e sustentável dos recursos que, por empréstimo, nos são oferecidos em favor de nossa evolução. Façamos bom uso deles a partir das rotinas da casa espírita.

Fonte: Correio Fraterno março-abril 2011
André Trigueiro é jornalista, apresentador do Jornal das Dez  e editor do programa Cidades & Soluções, na Globonews. www.mundosustentavel.com.br

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