Arte, nudismo, pedofilia, censura e outras polêmicas
Assistimos nos últimos dias a um acirrado debate público, de “pessoas comuns” nas redes sociais a “personalidades” do universo das artes e de categorias diversas, sobre vários temas tradicionalmente polêmicos, agora postos em voga em consequência de um série de eventos que vieram à tona em setembro de 2017, começando basicamente por uma revolta popular contra a exposição de arte QueerMuseu no salão Santader Cultural da cidade de Porto Alegre, logo após um vídeo amador denunciar pela internet a presença de crianças em meio ao público dessa exposição, que teria conteúdo inadequado para o visitante infantil, a exemplo de quadros com cenas de sexo explícito, com orgias, inclusive com animais (zoofilia), além de cenas supostamente sugestivas à pedofilia. Essa mesma exposição também conteria “obras de arte” de conteúdo criminoso, conforme prescreve o artigo 208 do Código Penal, que criminaliza o ato de vilipêndio a objetos de culto religioso. No caso da amostra QueerMuseu, questiona-se, por exemplo, um quadro com inscrições “vagina” e “língua” em hóstias (usada no Catolicismo para o culto da eucaristia).
Exposição QueerMuseu no Santander Cultural de Porto Alegre-RS. |
Logo em seguida ao caso QueerMuseu, foi alvo de revolta popular a performance denominada La Bête (A Besta, traduzido do francês) exibida no MAM - Museu de Arte Moderna de São Paulo, cuja “expressão artística” é simplesmente a exibição de um ator totalmente nu e passivo no meio de um salão, para livre apreciação e interação. O caso ganhou dramaticidade quando foi exibida nas redes sociais, em tom de protesto, imagens de uma garotinha “interagindo” (tocando) o corpo nu do artista, o que, na interpretação de juristas, ferem o Código Penal no artigo 234 que trata dos crimes de ultraje público ao pudor, bem como — especialmente falando da presença de menores a essa amostra —, transgride os dispositivos dos artigos 240 e 241, do ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente.
Criança assiste à mostra La Bête |
Em paralelo a essa discussão no âmbito criminal, também subiu ao palco a controvérsia sobre a utilização de recursos públicos — notadamente a Lei Rouanet — para o financiamento desse tipo de arte. Financiamento de consideráveis valores, diga-se de passagem, com o agravante de conjecturada promoção ideológico e partidária. Tais “patrocínios com erário público” são bastante questionáveis, sobretudo se levarmos em conta a crise dos serviços públicos fundamentais nos setores de educação e saúde.
Por outro lado, perplexos com essa reação pública, artistas, críticos de arte e personalidades de diversas categorias manifestaram veemente repúdio contra o que eles titulam de “censura”, “ignorância”, “intolerância” e “perseguição à arte”, exigindo os valores da “liberdade de expressão”, inerente à expressão artística que, segundo alegam, é amparado pelo artigo 5°, inciso IX, da Constituição brasileira. Os “defensores da arte livre” reagiram com veemência contra a decisão do Banco Santander de suspender a exposição no Rio Grande do Sul e contra os protestos populares. Diversas celebridades se pronunciaram nas mídias em defesa da “descriminalização da arte”. Um grupo desses defensores almeja até transformar esse apelo em projeto de lei que garanta imunidade aos artistas para se manifestarem, através de suas obras, sem serem molestados pelos que chamam de “moralistas conservadores”.
Como se observa, toda a polêmica envolve diversas questões graves, complexas, cujos pontos de vistas — muitas vezes, saturados de opiniões passionais, habitualmente arrastam seus partidários a atitudes radicais. Ponderando que tais fatos estão presentes no cotidiano da vida social, os espíritas somos convidados a uma reflexão sobre tal discussão, o que nos remete a uma análise obsequiosa sobre os múltiplos universos da arte, liberdade, censura, nudismo, pedofilia, tolerância religiosa, etc.
É o que propomos bancar neste ensaio, que, manifestamente, não responde categoricamente pelo Espiritismo, porém pelo nosso ponto de vista — embora almejamos declaradamente nos amparar nos preceitos e apelos dessa Doutrina de Luz que professamos com satisfação.
Choque de opiniões
No meio dos protestos populares contra a polêmica aqui em debate se encontram amiúde os mais diversos “achismos” sobre a questão, mormente daqueles que se escandalizam com a sugestão de uma postagem nas redes sociais da internet e saem compartilhando sua ira sem maiores conhecimentos sobre os fatos.
Também há as vociferações dogmáticas de religiosos imponderados que, crendo agirem sob procuração divina, disparam seus anátemas às cegas. Num debate franco, pessoas despreparadas assim perdem a causa com facilidade, pois faltam às suas opiniões argumentos sólidos para justificar suas posições, dando ensejo aos seus oponentes na discussão. E os mais maliciosos sabem muito bem se aproveitar dessas brechas contra aqueles outros, que serão naturalmente taxados de ignorantes, por não compreenderem arte e nem conseguirem balizar suas ideias e crenças.
Do outro lado dessa polêmica, os defensores da liberação geral — notadamente artistas, críticos e profissionais de arte — valem-se de conceitos sobre arte e tudo o mais de que se utilizam para a expressão artística (por exemplo, nudismo, sexo, elementos religiosos, etc.) em suas obras mediante os valores de sua compreensão.
Ou seja, essas obras de artes refletem o entendimento de seus autores e são interpretadas pelos seus admiradores de acordo com o grau de entendimento deles sobre os valores utilizados na obra. De alguma forma, eles são ativistas de suas crenças e de seus conceitos sobre os temas utilizados em suas obras. Portanto, antes de se discutir sobre essa ou aquela obra de arte, é preciso que se considere sobre os conceitos ali empregados.
O primeiro ponto crítico é justamente o conceito de arte que esses artistas têm, bem como o escopo de uma obra de arte. Em geral se propõe que o artista não deva ter limites e, inclusive, que a arte é historicamente uma via comum de vanguarda e transgressão, feita para escandalizar e romper barreiras (conservadorismo) e fazer avançar a modernidade. Nesse contexto, o artista é uma espécie de desbravador. Essa tese costuma ser empregada como válvula de escape para justificar possíveis extrapolações legais.
A questão que aqui se apresenta é se essa modernidade seja de fato progresso. Será que tudo que é moderno é evoluído? E será que em nome desses valores artísticos se pode tudo?
Dr. Cesar Matsui |
Bem, não vamos nos ocupar aqui quanto às implicações jurídicas envolvendo essa polêmica toda, embora julgamos válido convidar a todos para apreciar as ponderações de um especialista, através do artigo Liberdade de expressão como método para a prática de crimes, assinado pelo advogado Dr. Cesar Matsui.
Contudo, além disso, convém considerarmos que, no mundo ainda moralmente deficitário como a Terra, dentro do curso evolutivo, estamos suscetíveis às fraquezas e apelos materiais, pelo que podemos compreender a evidência de artistas corrompidos pelos mais ardilosos interesses e ofuscados pelas improfícuas ideologias, cabendo-nos questionar: onde está genuinamente o espírito da “arte pura”?
Contextualizemos a temática. Será que a nudez da performance La Bête é reprodução legítima do chamado “nu artístico”? A sua proposta consegue representar o nu natural a exemplo de algumas culturas indígenas? Admitamos que sim, que o artista que elaborou “essa arte” e o ator que a encenou concebam assim, porque eles se inspiram na “inocência” da nudez natural — e que até haja desinteresse no prêmio em dinheiro envolvido. Mas, pensemos no efeito prático de uma “obra de arte” desse jaez: que tipo de sentimentos ela despertará no público? O resultado colimado será semelhante à “pureza” de sentimento que o artista expressou?
Ah, não! — Falarão os defensores da arte livre — Isso não é da conta do artista e a arte em si não tem obrigação de uma utilidade prática e tampouco responsabilidade pelos desdobramentos que venham a se dá a partir de sua produção!
Será que é assim mesmo?
Poderão, ainda, dizer que, no caso de artista expressar cenas deprimentes de zoofilia e demais orgias em suas obras, além do mais, aberrações que conspurcam o sentimento e a razão, nada mais faz do que delinear a vida real; Que diariamente crianças estão expostas ao nudismo em diferentes situações, desde às das obras clássicas (como a escultura de David de Michelangelo), até o dos sites pornográficos, facilmente acessíveis na internet debaixo da saia das mães e das barbas dos pais.
David, obra de Michelangelo |
Essa justificativa parte do mesmo princípio adotado pelos arautos da descriminalização das drogas: se, afinal, já é uso corrente clandestinamente, por que não as legalizar logo? Essa analogia, aliás, não foi trazida aqui fortuitamente, pois é fato que a história recente tem associado o ativismo artístico com os vieses da anarquia e do brado quimérico da sonhada “liberdade absoluta”, em cuja esteira as drogas e entorpecentes simbolizam a conquista.
O artista consagrado pela fama, se assenta na vanguarda destes pleitos com seus discursos tendenciosos, sugerindo a construção de uma sociedade sem lei, sem ordem institucional, sem rumo. O princípio desse raciocínio anárquico é simples: nada no mundo é perfeito e tudo é desordem, logo, não se deve admitir qualquer ordem nem tampouco levar a sério qualquer princípio moral, já que, se a sociedade moralista é “podre e hipócrita”, destarte, os conceitos morais são inválidos.
Todavia, para não cairmos em divagação nessa nossa análise, tendo em vista a complexidade dos desdobramentos, precisamos mirar o que consideramos o cerne da questão tratada. Em suma, o ponto capital para nossa reflexão aqui proposta, acerca da questão levantada, é ajuizarmos sobre o que verdadeiramente é a arte.
Proposição espírita para o assunto
Sob o ponto de vista de todas as ideologias, crenças e ceticismos, qualquer reflexão que se faça a respeito dos temas aqui tratados estará sujeita ao nível de abrangência das expectativas, que fundamentalmente se limitam às impressões sensoriais, relativamente influenciadas pelo fisiologismo, ou pelos imperativos dos atrativos materiais.
Nossa reflexão não se baseará nos valores terrenos utilitaristas. O espírita, tem à sua disposição um compêndio de conceitos filosóficos muito consistentes para analisar as questões sociais em seus múltiplos apelos. Desta feita, ao apreciar o valor das coisas, levará em conta a transitoriedade desses valores imediatos, porém, sem subestimá-los. Entretanto, necessariamente, priorizará os valores espirituais que são imperecíveis. Sempre apoiados na certeza da a multiplicidade das vidas terrenas pela lei de reencarnação.
Em síntese, um materialista ou alguém que ignore os preceitos espíritas analisarão a polêmica em questão, sob o viés dos estreitos julgamentos conforme convenções terrenas, sempre sob a perspectiva da unicidade da vida terrena, e, no quanto aos espiritualistas tradicionais, avaliarão o tema controverso aqui, consoante a crença do juízo inapelável após a morte. Já o espírita considera os valores espirituais e a continuidade da experiência corpórea através das reencarnações.
Conceituação de Arte terrena
As convenções sociais nem sempre (ou quase nunca) se alinham com os valores espirituais. O que é legal nos códigos dos homens pode não ser adequado nas esferas extrafísicas e vice-versa. Concentremo-nos e arrazoemos, pois, sobre o conceito de Arte , embora este seja um terreno um tanto abstrato, subjetivo, sensível ao tempo e às influências culturais, controverso até mesmo entre os “especialistas”.
Geralmente define-se a arte terrena como uma via de expressão formal de sentimentos e ideias do artesão através de uma linguagem artística, que nem sempre tem utilidade prática, visando suscitar a admiração da platéia. Detalhemos aqui a “expressão formal” como obra de arte que precisa ter uma forma acabada, definida e perceptível (por exemplo: uma escultura, uma composição musical, uma peça teatral, dentre outros); esse objeto é então uma representação, um símbolo ou reflexo palpável do imaginário do artista sobre o que ele nutre dos próprios sentimentos, acreditando e ou desejando comunicar seus princípios , crenças e valores morais a exemplo das apologias ideológicas, dos protestos aos sistemas, das proposições de novos conceitos, informar alguma coisa ou até mesmo doutrinar, etc.); nos horizontes da “linguagem artística” incluímos os conceitos de estética (da beleza, não do objeto em si, pois que pode ser um objeto sem beleza mas de como o artista o compôs, e da aplicação das técnicas e habilidades do artista para a confecção da obra; uma obra pode ter diretamente uma utilidade prática, como uma roupa, uma ponte, uma ferramenta, ou ser apenas uma peça de apreciação (um quadro, uma poesia, etc.) e diversão (um filme, uma charge, etc.); o artista se expressa por suas obras para despertar no observador admiração, no sentido de espanto, emoção frente a algo que não se espera, dado que um dos critérios para avaliar uma obra de arte é sua originalidade. A partir desse “susto inicial”, o espectador então é livre para interpretar a representação artística (em sintonia ou não com o que o artista almejou expressar) e deixar aflorar sentimentos e emoções próprias acerca de temas propostos na obra (satisfação, medo, indiferença etc.).
Utilidade e utilização das artes
Há quem proponha haver uma espécie de “arte pura”, pela qual o artista se expressa, para valorizar suas habilidades (capacidades, técnicas) e demonstrar possibilidades artísticas, bem como para promover a beleza das coisas (novamente, não dos objetos em si, mas da forma como eles foram compostos pelo artista), sem qualquer intenção ideológica fora do próprio universo artístico. Nesse sentido, o “verdadeiro artista” produz sua obra primordialmente por amor à Arte — ainda que ela seja patrocinada.
Entretanto, e historicamente está comprovado, que as artes têm sido utilizadas como instrumentos para os mais variados propósitos além dos valores artísticos. Valem-se das artes para fins de doutrinação e propagação das religiões, para apologia de ideologias políticas, de causas sociais, para fins comerciais, etc. E a própria subjetividade das obras de arte dá certa imunidade a essas pretensões, pois, por exemplo, um quadro de um ser humano desnudo pode suscitar diversas interpretações, pelo que, quando lhe convier, o autor poderá dizer que se trata sim de uma propaganda ao erotismo, ou pode alegar que se trata de apologia ao naturalismo, ou ainda dizer que não existe em sua obra qualquer propósito e se trata apenas de uma “arte pura”. Tudo isso é possível pelo artifício formal de nem sempre a “mensagem real” que motiva o artista estar explícita na sua composição.
Essa ambiguidade típica do universo artístico nos remete a um quadro exposto no QueerMuseu onde está retratada uma cena de sexo explícito envolvendo três indivíduos. Que mensagem e que valores artísticos estão ali embutidos que mereçam patrocínio do dinheiro dos contribuintes brasileiros, que quase sempre desconhece o emprego desse dinheiro em tal “obra de arte”?
E não percamos de vista que artistas, críticos de arte e celebridades em geral defendem imunidade total aos artistas, em nome da Arte!
Mas será que no bojo de tudo quanto se pode considerar como sendo “arte”, teremos de admitir irrestritamente toda manifestação supostamente cultural? Será que poderíamos considerar obras de arte os bailes funks saturados de erotismos e palavrões, os filmes repletos de violência, as pichações criminosas nos muros alheios e tudo o que fira valores de fé como os símbolos de algumas religiões?
A utilização das artes como meios de informação, propagação e cultura não apenas nos parece legítima como também parece necessária para a promoção de novas aprendizagens e novos saberes. E fazemos votos que, por exemplo, o Movimento Espírita saiba fazer bom uso desse recurso, porquanto o Espiritismo é uma fonte fecunda de sublime inspiração para os artistas sensíveis às grandezas espirituais.
Mas a isenção de responsabilidades dos ativistas é inadmissível...
A Arte ante os valores espirituais
Quem somos nós para arrazoarmos categoricamente, em nome dos bons Espíritos, os conceitos de Arte ante os valores e recomendações espirituais? Alguém sensato não ousaria. Entretanto, podemos propor reflexões sob as pressuposições concernentes ao tema, apoiados nas mensagens advindas dos sábios habitantes do além-túmulo. Além disso, podemos também recorrer aos notáveis pensadores espíritas (encarnados).
Ouçamos Léon Denis:
“A beleza é um dos atributos divinos. Deus pôs nos seres e nas coisas esse encanto misterioso que nos atrai, nos seduz, nos cativa e enche a alma de admiração, às vezes de entusiasmo. A arte é a busca, o estudo, a manifestação dessa beleza eterna da qual percebemos, aqui na Terra, apenas um reflexo. Para contemplá-la em todo o seu esplendor, em todo o seu poder, é preciso subir de grau em grau em direção à fonte de onde ela emana, e isso é uma tarefa difícil para a maioria entre nós. Pelo menos, podemos conhecê-la pelo espetáculo que o Universo oferece aos nossos sentidos e também pelas obras que ela inspira aos homens de gênio”
Léon Denis (O Espiritismo na Arte, Parte 1)
Léon Denis |
Naturalmente não concebemos os valores artísticos sem um propósito objetivo, ainda que nos limites da dimensão de mera opinião; urge haver em cada obra de arte um elevado propósitos além, é claro, do movido escopo de “encantamento” da platéia; É necessário estar ínsito em cada peça artística um intuito de instrução e animação dos admiradores às tais virtudes. Uma obra qualquer nos planos de suas concretudes e ou abstrações precisa deslumbrar e seduzir positivamente, até porque as chamadas “obras de arte” que proponham finalidades opostas às virtudes do bem culminam por despertar efeitos psicoemocionais indesejáveis, portanto tais obras não podem representar uma arte elevada.
Como se não bastassem os escusos propósitos “artísticos” aqui apontados, ocorrem também impregnações de fluidos deletérios que envolvem as tais obras expostas, quando advindas de autores descompromissados com o bem, e obviamente tais obras podem influenciar fluidicamente os seus deslumbrados apreciadores. Não é concebível imaginar, por exemplo, a sublime composição musical Ária na Corda Sol de Bach, executada com amor, desprovida de uma carga fluídico e magnética elevada; ora, como resultado, um concerto com um repertório dessa qualidade, interpretado por músicos comprometidos com a causa elevada, é um verdadeiro banho magnético que favorece àqueles que tiverem maior sensibilidade musical.
Se nada deva se dar sem um propósito, os autores não podem escapar das responsabilidades pelas baixezas que queiram imprimir em seus trabalhos e, de outra forma, também não ficam sem recompensa os esforços dos artistas verdadeiramente inspirados pelas coisas superiores. Nada passa sem resposta: nenhuma baixeza passa incólume, assim como nenhuma vibração positiva fica órfã de uma resposta das forças espirituais.
Outra questão que não devemos perder de vista é que a direção que caminha para a elevação e aperfeiçoamento das coisas aponta para a sublimação das expressões e caminha em direção às artes. Quer dizer, quanto mais elevados os Espíritos, mais artísticas serão as suas manifestações. Daí, podemos visualizar que nos mundos superiores a linguagem seja sempre poética, ornada de ritmo, rima e melodia. Cremos que os Espíritos superiores não falam, simplesmente, mas cantam, e encantam; que ao invés de tão somente andarem, eles desfilam e voejam; que os seus trajetos deixam rastros impregnados de cores brilhantes e fragrâncias agradáveis; que suas formas-pensamentos sejam como que pinturas vibrantes e quadros vivos, cenas ricas de coreografia.
Portanto, a arte é abundante nos mundos superiores e todos os seus habitantes são artisticamente refinados. Por conseguinte, a arte humana não passa de um arremedo de cópia imperfeita do original do além, razão pelo qual os artistas terrenos nada mais são do que singelos recrutas da Arte Maior.
Allan Kardec, codificador do Espiritismo |
A Doutrina Espírita e as artes
A Doutrina Espírita é a escola da evolução, que nos prepara teoricamente para penetrarmos nas leis da excelsa natureza e nos enseja ensaios da prática elevadas aqui mesmo na Terra. Quem compreende a essência doutrinária antecipa-se, vivenciando interiormente o estágio inicial da felicidade póstuma, irradiando-a, tornando progressivamente sensível essa realidade altiva. Com efeito, num silogismo válido, o Espiritismo há que se ocupar das artes, que, como vimos, é inerente às coisas da espiritualidade maior, que por sua vez é o assunto do objeto espírita.
A propósito, faz-nos bem recordar o Espírito Rossini. Diante de Allan Kardec, na Sociedade parisiense de estudos espíritas, ele manifestou-se mediunicamente atendendo ao convite para dissertar sobre Música — a primeira das artes — segundo o entendimento espiritual. Ele que havia sido um dos grandes gênios da música erudita italiana, agora, recém-desencarnado, discorre sobre o papel espírita para a ressignificação da arte musical e, por extensão, de todos os campos artísticos na Terra, como elemento didático e revolucionário para a reforma moral da Humanidade:
"Ah, sim! O Espiritismo terá influência sobre a música! Como não poderia ser assim? Sua chegada transformará a arte, depurando-a. Sua origem é divina, sua força o levará a toda parte onde haja homens para amar, para elevar-se e para compreender. Ele se tornará o ideal e o objetivo dos artistas. Pintores, escultores, compositores, poetas irão buscar nele suas inspirações e ele lhas fornecerá, porque é rico, é inesgotável.”
Rossini (Obras Póstumas, Allan Kardec - 1ª Parte, “Música espírita”)
Para que essa transformação moral se opere na sociedade, se faz urgente que optemos pela melhor classificação das obras de arte e qualifiquemos nossas capacidades e sensibilidades artísticas. Por oportuno, vale indagar: a que tipo de arte estamos dando priorizando? Que espécie de músicas ouvimos? A que conteúdos cinematográficos temos assistido? Quem são os artistas que temos prestigiado? Quais temas têm inspirado nossas preferências artísticas?
Talhadas essas reflexões, e sem e querer proferir a palavra final sobre o temário aqui exposto, fazemos um convite à tolerância e espírito de caridade diante de todos, mesmo que discordando pontualmente de uns e de outros acerca de dilemas conceituais e ajuizamentos de valores morais. No final da contas, a é mesmo nas as incongruências artísticas ensejam experimentações e crescimento espiritual para todos nós. E estejamos convictos de que, ao cabo de tudo, prevalecerá a força maior, que é a que converge todas as criaturas para o Criador nas esteiras da evolução espiritual. E acima de tudo, não percamos o foco elementar: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
Ery Lopes , ótima temática. Compartilhei o seu texto nas minhas redes sociais. Parabéns!
ResponderExcluirO que sabemos sobre a arte na espiritualidade? O óbvio é que os que estão aqui vieram de lá e os que lá estão foram daqui. Logo, a cultura espiritual é o reflexo das culturas humanas. Todas elas. A ocidental, a oriental, a antiga, a moderna, a vanguardista. O que podemos discutir aqui são nossos pontos de vistas enquanto cidadãos deste país e da ONU à qual estamos ligados. Temos todos o direito de discutir e escolher as artes que nos interessam, que nos agradam e nos convém. Estas escolhas, no entanto, para efeito público, estão sujeitas às Leis. Nada mais que isto. As Leis que escolhemos para vivermos juntos e nos governarmos. As novidades que alteram os costumes, com o tempo, como foi na história passada, serão reguladas por novas Leis. Discutir este assunto espiritualmente é bobagem.
ResponderExcluirObrigado pelo artigo. Esclarecedor e inesgotável o tema.
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