A Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec era quase que completamente desconhecida na Espanha até o início da década de 1860. Dominada pelo catecismo católico, bruto, arrogante e ameaçador, o país de Cervantes tinha do Espiritismo somente a ideia falsa de ser uma espécie de seita satânica que arrastava as almas para o inferno. Terror e temor eram as palavras de ordem.
Aconteceu, porém, que um velho amigo de Kardec encontrava-se em Barcelona e então ajudou a trazer as luzes da Revelação Espírita para as terras espanholas: Maurice Lachâtre era profissional das artes gráticas, editor de dicionários e enciclopédias e hábil comerciante de livros e revistas. A partir daí, traçou-se uma estratégia para trazer obras kardecistas para os espanhóis, em associação com um pequeno núcleo de estudos espíritas ali já existente, sob a direção de José Maria Fernández Colavida — que ficou conhecido como "O Kardec espanhol".
Cerca de 300 obras estavam chegando no porto de Barcelona quando o bispo local, Dom Antonio Palau y Térmens, avisado daquela remessa, usou de sua autoridade (e autoritarismo) e evocou as normas do Tribunal da Santa Inquisição da Igreja Católica e confiscou aquele montante de livros e revistas e ordenou a sua queima em praça pública, para que tal ato servisse de exemplo e recado: que eles não tolerariam o Espiritismo na Espanha.
Mas, o feitiço se virou contra o feiticeiro e a queima das obras espíritas, realizada em 9 de outubro de 1861, acabou por se tornar um marco da popularização do movimento espírita não só em Barcelona, mas em toda a Espanha, pois o povo em geral se revoltou contra a intolerância católica; os jornais mais liberais ecoaram esse grito de revolta e reproduziram o clamor das massas em frente à fogueira que dizimou as obras vindas da França: "Abaixo a Inquisição!"
Quer saber mais sobre o Auto de Fé de Barcelona? Então veja o verbete correspondente na nossa Enciclopédia Espírita Online. Você vai saber, por exemplo, o que aconteceu com o bispo Dom Palay: seu encontro com Allan Kardec durante uma aparição sua numa sessão da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Aliás, reeditamos este verbete para acrescentarmos informações colhidas na recente pesquisa feita sobre Maurice Lachâtre, conforme publicado em Maurice Lachâtre: entre a publicidade e as controvérsias, de Ery Lopes e Wanderlei dos Santos.
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