segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Artigo "O espírita e a política" por Rogério Miguez


Compartilhamos com todos um interessante artigo da autoria de nosso confrade e colaborador Rogério Miguez, sobre um assunto de extrema urgência e ainda mais oportuno para todos nós, em vista do início de mais uma campanha eleitoral para os mais altos cargos públicos de nossa nação. Confiram e reflitam:


O espírita e a política


É interessante observar o comportamento da humanidade como um todo, revisitando regularmente antigas questões de interesse para mais uma vez rediscuti-las. Tudo indica ser este o processo de evolução.

Neste particular texto, a nossa atenção se volta para a parcela da humanidade espírita, embora ainda pequena, também não foge à regra. Como dito, de tempos em tempos, temas importantes, não há qualquer dúvida, ressurgem e mais uma vez iniciam debates e troca de argumentações no âmago dos seguidores de Allan Kardec.

Referimo-nos especificamente à posição do espírita em relação à sua possível atuação na sociedade como integrante nas estruturas político-partidárias. O renascimento do assunto, não há sombra de dúvida, se deve ao quadro pretensamente caótico enfrentado atualmente pela nação. Pela observação da experiência de cada um, parece ser um dos momentos mais agudos enfrentados não só pelos espíritas, bem como por todos nós brasileiros.

Aparentemente ninguém se entende e o suposto caos se apresenta insinuante: um prende daqui, outro solta dali; os escândalos se sucedem em todas as áreas – saúde, educação, segurança...; noticiário espetacular aponta diariamente corrupção nos três níveis da administração - municipal, estadual e federal, e mais, nas três esferas de poder - Judiciário, Executivo e Legislativo; personalidades insuspeitas do meio público acabam por aparecer nas manchetes dos principais meios de divulgação arroladas em situações indecorosas e imorais; parentes destas “figuras notórias” também insistem em surgir, aqui e acolá, envolvidos em desvios de toda a ordem; casos dos mais escabrosos estouram a todo o momento envolvendo desvios inimagináveis de recursos públicos, desta forma, nesta aparente desordem, como acontecerá a tão desejada e esperada Ordem e Progresso, inscrição luminosa a tremular em nosso Pavilhão Nacional?

O momento é convidativo ao reinício dos debates sobre a ausência quase absoluta de políticos espíritas eleitos pelo povo, os quais, segundo alguns, deveriam ocupar variadas posições-chave nos diversos setores da sociedade brasileira, como já fazem muitos seguidores de outras correntes religiosas. Estes últimos já formando bancadas e grupos, verdadeiras sociedades, decidindo sobre questões de interesse nacional, coletivo, entretanto, sob ponto de vista particularíssimo de suas próprias crenças.

É surpreendente o retorno de tal discussão no seio espírita.

Alguns, mais afoitos, relembram com insistência três personagens ímpares da história espírita: Bezerra de Menezes, Eurípedes Barsanulfo e Cairbar Schutel, entre outros, como exemplos de que o espírita pode e, principalmente, tem o dever de se alinhar de mãos dadas e lançar candidaturas políticas, antes do esgotamento das datas para registro dos candidatos, todos em uníssono prometendo de “pés juntos” usar as tribunas e cargos obtidos para acertar os rumos do país.

Quanta ilusão!

Para relembrar, ou mesmo informar aos mais atirados, os três espíritas anteriormente citados, antes de reencarnarem, já haviam construído uma fortaleza moral e ética, em vidas passadas, diminuindo sobremaneira a chance de se corromperem nos cargos ocupados provisoriamente. Acreditamos mesmo, poderem estes três baluartes ocupar qualquer posto sem se deixarem levar pelos apelos mundanos e indecorosos, teimando em surgir no meio político brasileiro. Adicionalmente, os dois primeiros deixaram os cargos políticos ao se tornarem espíritas, e, no caso de Cairbar, já não era mais Intendente de Matão há bom tempo (cargo equivalente ao de Prefeito) quando abandonou o catolicismo para adotar o Espiritismo, no ano de 1904.

Assim sendo, os três gigantes já mencionados não devem ser citados de modo algum, porquanto eles não servem como exemplos, considerando terem percebido conscientemente ou instintivamente não ser possível conciliar uma vida integralmente dedicada ao Espiritismo, consequentemente ao próximo, com atribuições político-partidárias.

Para aquele desejoso em se inspirar em algum político espírita para justificar a sua aspiração em servir nos quadros administrativos nacionais ou regionais, sugerimos destacar José de Freitas Nobre1, espírita detentor de alguns postos políticos durante bom tempo de sua existência, porém, sendo orientado sobre a sua atuação política por nada mais nada menos do que Emmanuel e Bezerra de Menezes.

Aliás, estamos usando impropriamente o vocábulo política, pois o que fazem atualmente os mandatários da nação, quase todos os detentores temporários do poder, não representa de fato condutas políticas, mas atitudes características da politicalha ou politicagem, tão bem definida pelo inesquecível Águia de Haia, Rui Barbosa, que deve estar também à frente dos Espíritos atentos ao que sucede à nação.

Dificílimo é adentrar o lamaçal sem se sujar, mas somos livres.

Antes de concluirmos, cabem algumas importantes lembranças aos postulantes2: a data-limite para filiação partidária e registro de partidos ocorreu em 7 de abril e, em 15 de agosto, se dará a data-limite para que partidos e coligações apresentem o requerimento de registro de candidatos junto à Justiça Eleitoral. Desta forma, só os espíritas hoje filiados a algum partido poderão se lançar candidatos, caso evidentemente convençam seus respectivos partidos de sua importância para o futuro do país.

Sendo assim, todos aqueles, se sentindo à vontade, convictos de poder navegar com segurança nos mares tempestuosos da politicalha brasileira, bem característica do momento, estão certamente convidados a dar um passo à frente, pleiteando suas candidaturas, pois a Doutrina nada proíbe, apenas esclarece. Além disto, aqueles que se autoavaliaram e concluíram estar no mesmo ou similar patamar moral e ético dos três grandes gigantes mencionados estão também conclamados a dar um passo à frente.

Ocorrendo esta decisão, seria de bom alvitre não realizar campanha política dentro da Casa espírita; tampouco preparar panfletos destacando suas opções de vida pelo Espiritismo vinculando a obtenção de votos à crença comum; muito menos solicitar votos dos espíritas pelos meios midiáticos disponíveis; jamais desfilar pelos salões da instituição espírita usando bótons e adesivos colados às vestimentas indicando a sua predileção partidária, isto tudo em respeito à própria Doutrina e por Allan Kardec.

É oportuno igualmente esclarecer sobre as expressões em itálico empregadas ao longo do texto, a saber: pretensamente caótico, suposto caos, aparente desordem, este emprego não se deveu ao acaso, porquanto foram usadas para enfatizar que tudo está sob controle e foi previsto por Allan Kardec. Para se convencer desta afirmação, basta ler ou reler detidamente o último capítulo de A Gênese – São chegados os tempos, e parafraseando o nosso inolvidável Mestre dos mestres, cuja vida impoluta jamais abrigou qualquer nuance de partidarismo, propomos: os que detiverem entendimento de entender, entenderão.

A cada qual pelas suas obras.

Rogério Miguez

Referências:
1 Disponível em: FEB Paraná Acesso em 06/07/2018.
2 Disponível em: eleições Acesso em 06/07/2018.

Um comentário:

  1. É oportuno notar que Kardec menciona no Livro dos Espíritos que o bom espírita é o bom cidadão. Por cidadão entende-se a pessoa livre. Não o súdito. O cidadão tem direitos e deveres com a sua cidade, é responsável por ela como os demais cidadãos. Portanto, obrigatória a participação do cidadão na política, pois é a através da politica que fazemos as leis e cuidamos da administração do estado. Se a pessoa não participa da vida política não é um cidadão. Não precisa ser candidato ou integrar partidos, mas precisa atuar politicamente. A política é o meio pacífico de se ajustar e negociar interesses e conflitos. Se o espírita é cidadão de fato, tem que fazer política, tem que expressar o que pensa e conversar com os outros. Orientar que não se fale de política nos centros é idiotice. Não se discute política nas reuniões mediúnicas, nas quais temos o objetivo de fazer contato com os espíritos desencarnados. Nas outras reuniões, as conversas de cunho político precisam ser feitas. Se algumas pessoas não são capazes de discutir calma e respeitosamente ideias com pessoas que pensam de modo diferente, não é problema do espiritismo,nem da casa espírita, mas, sim, destas pessoas. O centro espírita é uma sociedade civil independente, formada por seus sócios. E se, por maioria, os sócios decidirem que o centro irá receber candidatos para expor seus programas e pedir votos, por que não? As pessoas tem livre arbítrio e irão usá-los para aceitarem e rejeitarem as propostas. Se um ou mais diretores quiserem apoiar um candidato, os sócios terão direitos iguais para apoiarem seus candidatos. A questão que agora aflora é se os integrantes do centro são capazes de fazer isto com respeito mútuo. Se acharem que não são, o melhor é apenas orar. Política com P maiúsculo é para pessoas equilibradas e que tenham noção do que é a cidadania.

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