Reformador destaca Kardec, o filme
Confira a entrevista com as citadas personalidades:
Reformador: O que chamou a sua atenção para contar a história de Allan Kardec?
Marcel Souto Maior: Fui movido por uma pergunta-chave: o que faz um professor cético mudar de vida e de nome, aos 53 anos, para dar voz aos Espíritos? Quis contar a história desta transformação radical – a do pesquisador cético, que se torna um missionário. O que o moveu? Que obstáculos – e preconceitos – ele enfrentou nesta caminhada?
O processo de escrita de uma biografia requer uma grande pesquisa. Nessa pesquisa você se identificou, de alguma forma, com Allan Kardec, no processo de Codificação da Doutrina Espírita?
Marcel Souto Maior: Sim. Eu me identifiquei com Kardec (ou com o professor Rivail) em dois pontos fundamentais: o cuidado com a pesquisa (precisamos estar sempre checando e “rechecando” informações para evitar erros) e o ceticismo (um dos traços marcantes de sua personalidade, como professor e pesquisador, na primeira etapa de sua vida). Moveu-nos um misto de curiosidade e de desconfiança.
Como é adaptar para o cinema a história do responsável por codificar a Doutrina Espírita?
Wagner de Assis: Por um lado, um novo desafio cinematográfico, com grande complexidade de realização, pois é um filme de época, cuja história se passa num outro país. Por outro lado, um respeito absurdo, uma humildade extrema e uma alegria imensurável. Não temos a pretensão de ser definitivos a respeito de Kardec. Há diversos trabalhos e estudos sobre ele e acho que devem ser feitos cada vez mais. Também não temos a pretensão de contar toda a sua vida, embora seja uma cinebiografia como gênero. Nós nos concentramos no que de mais importante aconteceu na vida dele. É um recorte, uma escolha e assim seguimos adiante. Vale lembrar também que não é um documentário, mas sim uma ficção, dramaturgia, que precisa respeitar algumas leis quando se conta uma história. O filme tem como base a forma como o Marcel Souto Maior escreveu a biografia.
Queremos contar um pouco da vida do professor Rivail para os que o conhecem, mas também para os que não o conhecem. Porque os primeiros sempre podem se surpreender com detalhes, aspectos humanos pouco comentados em geral. Os demais, com certeza, vão se surpreender muito ao encontrar um homem de seu tempo, um homem de ciências, um educador e professor à frente de seu tempo, e, acima de tudo, um homem de muita coragem e bom senso.
O que representa para você interpretar Allan Kardec?
Leonardo Medeiros: Sinto-me ao mesmo tempo imensamente agradecido e temeroso. Estou representando um ícone que faz parte da minha vida dentro de uma família espírita.
Como foi a escolha do elenco para este filme?
Wagner de Assis: Costumo dizer que é maravilhoso ver quando o filme tem vida própria e vai “escolhendo” os profissionais que nele tomarão parte. Claro que procuramos artistas que possam estar sintonizados com os personagens, na verdade sintonizados com pessoas que fazem parte de toda a história de Kardec. Mas a escolha em si tem sempre algo “mágico”, que foge aos aspectos puramente “acidentais”.
Um desses casos, por exemplo, foi Leonardo Medeiros. Nós nos conhecemos, falamos do projeto, lemos um pouco o roteiro e vimos claramente que ali havia um profissional absolutamente capaz de defender a história do professor Rivail na tela. Só depois é que, para nossa surpresa, soubemos de sua ligação com o tema, com a família do Eurípedes Barsanulfo. Isso é muito legal, mas de forma alguma representa um peso para a sua escolha. Assim o fizemos com todos do elenco. Os personagens vão se afeiçoando aos seus intérpretes e pronto. Ganham vida.
Rivail mudou de vida e de nome. Tornou-se Allan Kardec para dar voz aos Espíritos… A história de Kardec é a história de uma conversão, citou Marcel Souto Maior. O que podemos esperar desta adaptação nos cinemas?
Wagner de Assis: Uma jornada de transformação, movida por uma busca incessante pela verdade, com um pano de fundo de uma sociedade muito sofrida, com índices altos de suicídio, qualidade de vida baixíssima e uma guerra de ideologias. Não poderemos jamais entender o passado com os olhos do presente. Mas podemos delinear como era a Paris de 1850, por exemplo. E buscar entender o papel das instituições como a Ciência, a Igreja, o Estado francês, para que os personagens possam vivenciar os dramas, os receios, os sonhos daquela época. Esta é a história de um homem que aceitou recomeçar de certa forma uma nova vida depois dos 50 anos. Costumo pensar metaforicamente que ele descobriu um tesouro e quis compartilhar com o mundo. Mas, claro, tinha um preço muito alto. E ele pagou para ver.
Nosso Lar exigiu muita criatividade para criar detalhes que só existem no Mundo Espiritual. Qual é o desafio para a produção desta cinebiografia?
Wagner de Assis: Toda a composição de uma Paris que não existe mais. O filme se passa numa cidade que foi totalmente reformulada anos depois de nossa história. Filmamos “externas” em Paris para ter a luz da cidade, para ter o rio Sena, Notre-Dame, pontes históricas, mas há toda a necessidade de usar efeitos visuais e transformar aquela paisagem em algo que existiu há 160 anos. Além disso, temos também o desafio de atuação, de figurino, de fotografia críveis, que nos remetam àquele mundo. Nosso filme conta com o trabalho de profissionais altamente competentes, e o DNA de uma empresa como a “Conspiração”, que tem em seu currículo outras biografias muito bem contadas. Falo aqui também da produtora Eliana Soarez, do diretor de fotografia Nonato Estrela e do diretor de arte Claudio Amaral Peixoto. E, naturalmente, do roteirista que me ajudou a escrever a história, LG Bayão.
Que curiosidades das gravações podemos antecipar ao público?
Wagner de Assis: A maioria dos personagens é real. Todo mundo que existiu e de que temos notícia. Mas há algumas licenças para nos ajudar a contar a história de Rivail e do mundo em que ele viveu. Por isso temos alguns atores franceses em nosso elenco. Filmamos uma semana em Paris em lugares onde o próprio Kardec esteve, como o Palais Royal, onde ele instalou a primeira sede da Sociedade de Estudos Espíritas de Paris. Caminhamos em solo que realmente abrigou a História. Isto é muito rico para um filme.
Você diz não ter nenhuma religião, mas fascínio por este tema: a fé. Como as recentes biografias espíritas contribuíram com este olhar?
Marcel Souto Maior: Tenho fascínio mesmo pela fé e por este território invisível onde “vivos e mortos” se encontram. Neste ano estou revisitando alguns cenários – e também alguns personagens – destes 25 anos de pesquisas sobre Chico Xavier e também sobre outros universos religiosos (como o Centro de João de Deus, em Abadiânia). Estas viagens devem gerar meu próximo livro, uma mistura de retrospectiva e de diário de observação. As biografias espíritas me ajudam e me inspiram sempre.
Seu histórico conta hoje com 35 filmes e 17 prêmios. Seria a atuação em Kardec mais uma premiação destes esforços?
Leonardo Medeiros: Sem dúvida essa atividade vem coroar uma carreira de décadas de dedicação ao trabalho de ator. Sinto-me humildemente premiado.
Como foi a descoberta do parentesco com Eurípedes Barsanulfo?
Leonardo Medeiros: Desde que me lembro, as imagens e histórias de Eurípedes e Kardec embalam meu imaginário. Quem nasceu numa família espírita sabe do que estou falando. Dentro da família sempre foi muito natural falar do Eurípedes, que é irmão do meu avô materno, portanto meu tio-avô. Cresci no seio de uma família espírita e fui educado dentro dos preceitos éticos da Doutrina. Independentemente da minha crença, tenho imenso orgulho dessa herança.
De Chico Xavier a Allan Kardec. Podemos esperar mais um marco na adaptação de seu livro para as grandes telas?
Marcel Souto Maior: Com Chico e Kardec, acho que o ciclo se fechou, mas nunca se sabe. Estou sempre levando alguns sustos – e tendo algumas surpresas – ao percorrer este território. Aguardemos! Só o tempo dirá!
Fonte: FEB
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