Kardec editando A Gênese: manuscritos originais comprovam revisões da 5ª edição
Os manuscritos que comprovam que Allan Kardec estava fazendo a revisão de A Gênese e que fez alterações que constam da 5ª edição (1869), em artigo publicado por Adair Ribeiro, curador do Museu Virtual do Espiritismo.
CONTEXTUALIZAÇÃO
No jornal Le Spiritisme (cujo responsável era Gabriel Delanne) da primeira quinzena de dezembro de 1884 [1], nas páginas 7 e 8, Henri Sausse publicou um artigo denominado “Une Infamie” (Uma Infâmia) onde relata as comparações que efetuou entre a 5ª edição de A Gênese e a publicada em 1868, descrevendo todas as modificações constatadas nos diferentes textos desta obra.
Henri Sausse resolve fazer isso após o testemunho verbal de um suposto amigo pessoal de P. G. Leymarie, que confidenciara que este havia feito modificações na obra A Gênese (Le Spiritisme – primeira quinzena de fevereiro de 1885 – página 6) [1].
Gostaríamos de lembrar que Leymaire assumiu a Librairie Spirite, em substituição ao Sr. Bittard, em junho de 1873 (Revista Espírita de junho 1873) [2]. Ele já havia assumido a direção da Revista Espírita em junho de 1871, juntamente com a administração da Société Anonyme (Sociedade Anônima), com a renúncia do Sr. Desliens (Revista Espírita de setembro de 1871) [3].
Também vale lembrar que o relacionamento de Leymarie com o Sr. Guérin, discípulo de J. B. Roustaing, só se iniciou em 1879 (Revista Espírita de abril de 1879; Revista Espírita de maio de 1879 e FROPO, Berthe – Beaucoup de Lumière - 1884) [4] [5] [6] [7].
Henri Sausse relatou, no referido artigo, 126 passagens modificadas, alteradas ou suprimidas. Afirma que todas as partes do livro haviam sofrido mutilações graves. E deixa as perguntas: "Agora, me direis, quem são os culpados? Qual foi o motivo dessas manobras?". No final do artigo, afirma que, com a supressão do item/parágrafo 67 do Capítulo XV, deixava ver, de maneira muito clara, "para quem Allan Kardec havia sido vendido", e que "todos os espíritas saberiam a quem se aplicava parte daquele texto suprimido".
A resposta à acusação de Sausse é publicada na Revista Espírita de 15 de dezembro de 1884 [8], em um artigo denominado Suite de “Fictions et Insinuations” (não confundir com Fictions et insinuations. Réponse à la brochure "Beaucoup de Lumière") [9], onde é afirmado que a revisão da 5ª edição de A Gênese havia sido feita pelo próprio Allan Kardec, em 1868, e que um pedido de informações, por parte de Henri Sausse, se feito, antecipadamente, teria dissipado suas dúvidas sobre o tema. Em sua defesa, a Sociedade Científica do Espiritismo, da qual Leymarie era administrador na época, apresenta os depoimentos do Sr. Joseph Rousset, que confeccionou as matrizes de impressão, e do Sr. Rouge, proprietário da tipografia, com o relato sobre as tiragens das edições.
Essa resposta gerou a tréplica de Henri Sausse, que foi publicada no artigo "Correspondência" no Le Spiritisme da primeira quinzena de fevereiro de 1885, onde Sausse afirma que as informações foram passadas por um amigo pessoal de Leymarie, fervoroso adepto de J. B. Roustaing, na frente de muitas testemunhas, e que foi dito por esta pessoa que as obras de Allan Kardec não eram tão perfeitas, já que Leymarie fora obrigado a fazer correções em A Gênese.
Na sequência, na Revista Espírita de 15 março de 1885 [9], Desliens, secretário-geral de Allan Kardec, apresenta os seus esclarecimentos sobre o caso, no artigo “La Genèse d’Allan Kardec”, confirmando que todas as modificações haviam sido feitas por Allan Kardec, além de eximir P. G. Leymarie de haver tido qualquer ingerência em todo esse processo.
Na Revista Espírita de 15 de março de 1887 [10] é publicado um artigo denominado “Previsões e Revelações” que relata que as notas referentes a não publicada obra “Livro das previsões e revelações concernentes ao espiritismo”, além de correspondências e manuscritos espíritas que tinham importância – e que haviam sido entregues pela senhora viúva Allan Kardec à Sociedade Anônima - estavam no cofre da sociedade desde 1873.
Neste artigo consta a informação da reprodução de textos de dois manuscritos – um deles denominado “A Gênese”, escritos totalmente à mão por Allan Kardec, um datado de 22 de fevereiro de 1868 e outro de 4 de julho de 1868.
Estes mesmos manuscritos foram também reproduzidos no livro Obras Póstumas de 1890 [11].
Simoni Privato - em seu livro O Legado de Allan Kardec, Capítulo 21 - constatou que existem diferenças entre os dois textos publicados na Revista Espírita e em Obras Póstumas, referentes a estes citados manuscritos.
Privato apontou as divergências de textos entre as duas publicações do manuscrito “A Gênese”, supostamente atribuído ao Dr. Demeure, datado de 22 de fevereiro de 1868. Além disso, a pesquisadora efetuou análises sobre os conteúdos da comunicação nas duas versões em que ela foi publicada, tendo apontado incoerências e afirmando que o texto constante deste manuscrito não estaria relacionado com os que o Dr. Demeure costumava tratar nas comunicações publicadas por Allan Kardec (O Legado de Allan Kardec – página 393-394).
Simoni Privato, no referido capítulo 21 de seu livro, também fez análises das duas versões publicadas do manuscrito datado de 4 de junho de 1868 – publicado em Obras Póstumas com a denominação de “Meus trabalhos pessoais – Conselhos diversos”. E concluiu que, mesmo na hipótese que uma das versões publicadas dos textos deste manuscrito (que cuida da revisão do livro A Gênese) seja fidedigna, isso não seria prova que Allan Kardec tenha realizado modificações no conteúdo da obra.
OS ARQUIVOS DE ALLAN KARDEC
A manutenção dos registros para a posteridade – as fontes primárias – era considerado de extrema importância por Kardec. Em várias passagens da Revista Espírita, encontramos relatos que estes arquivos estavam sendo organizados, desde cedo, para serem preservados para a posteridade:
- Na Revista Espírita de setembro de 1860 – “...o original, em vez de ser posto de lado, está cuidadosamente conservado nos arquivos da Sociedade. Não publicamos esse volumoso documento porque, em primeiro lugar, se tivéssemos de publicar tudo quanto nos mandam, talvez nos fossem necessários dez volumes por ano; e, em segundo lugar, porque cada coisa deve vir a seu tempo.” [12]
- Na Revista Espírita de junho de 1862 - Assim se Escreve a História! – “Por isso deixarei memórias circunstanciadas sobre todas as minhas relações e todos os meus negócios, sobretudo no que respeita ao Espiritismo, a fim de poupar aos cronistas futuros os equívocos em que muitas vezes caem, por terem confiado nos boatos dos doidivanas, das más-línguas e das pessoas interessadas em deturpar a verdade, às quais deixo o prazer de deblaterar à vontade, para que mais tarde se torne mais evidente a sua má-fé.” [13]
- Na Revista Espírita de setembro de 1862 - Resposta ao Convite dos Espíritas de Lyon e de Bordeaux – “...quando escreve que sobre as quinhentas assinaturas que subscrevem o convite: Conservá-las-ei preciosamente, porque um dia farão parte dos gloriosos arquivos do Espiritismo.” [14]
- Na Revista Espírita de maio de 1864 – “O que dará a essa história um caráter particular é que, em vez de ser feita, como muitas outras, dos anos ou dos séculos fora do tempo, com fé na tradição e na lenda, ela se faz à medida que os eventos acontecem, baseando-se em arquivo existente no mundo, que possuímos, proveniente de correspondência incessante, vinda de todos os países onde se implanta a doutrina... Esses arquivos serão, para o futuro, a luz que dissipará todas as dúvidas, a mina onde os comentadores futuros poderão colher com certeza. Como vedes, senhores, esse trabalho é de grande importância no interesse da verdade histórica; a nossa própria Sociedade nele está interessada, em razão da parte que ocupa no movimento.” [15]
- Na Revista Espírita de setembro de 1867 – “Essa espontânea concentração de forças dispersas deu lugar a uma amplíssima correspondência, monumento único do mundo, quadro vivo da verdadeira história do Espiritismo moderno, onde se refletem ao mesmo tempo os trabalhos parciais, os sentimentos múltiplos que a Doutrina fez nascer, os resultados morais, as dedicações, os desfalecimentos; arquivos preciosos para a posteridade, que poderá julgar os homens e as coisas através de documentos autênticos. Em presença desses testemunhos inexpugnáveis, a que se reduzirão, com o tempo, todas as falsas alegações da inveja e do ciúme?” [16]
- “Em 21 de janeiro de 1883, tive a dor de perder minha amiga!!” - se referindo à morte de Amélie Boudet - “Entretanto, o que me fez estremecer de indignação (no contexto do desenrolar do assunto do executor do testamento da Sra. Kardec) foi assistir a um verdadeiro auto de fé. O Sr. Vautier (Presidente da SPEE, administrador da Sociedade Anônima e aliado de Pierre Gaëtan Leymarie) queimou pilhas de papéis e de cartas. Quantas comunicações e quantas anotações deixadas pelo mestre foram destruídas.”... - “O que eles fizeram? Grande Deus!!” [17]
No Livro Autonomia - A história jamais contada do Espiritismo, de Paulo Henrique de Figueiredo, encontramos que das pesquisas e das entrevistas realizadas por Canuto Abreu com os pioneiros do Espiritismo (Gabriel Delanne, Jean Meyer, Paul Leymarie, Camille Flammarion, Henri Sausse, Léon Denis, Gustave Geley, entre outros), realizadas entre 1920 e 1922:
- Constatou que, depois de demorado processo judicial, ao longo de quase dez anos, o arquivo pessoal de Kardec foi entregue aos herdeiros de Amélie Boudet.
- Descobriu que uma parte do acervo da SPEE foi destruída após uma criminosa fogueira logo após a morte da Sra. Kardec;
- Constatou que uma parte dos documentos remanescentes se dispersou, sendo partes vendidas a colecionadores nacionais e estrangeiros;
- Constatou que outra parte dos documentos ficou com amigos e adeptos próximos de Kardec;
- Uma parte considerável de manuscritos passou às mãos da madame Leymarie, após a morte de P. G. Leymarie, que Canuto teve acesso na Livraria Leymarie (ao precioso armário de nogueira, com o remanescente do acervo de Kardec, além de objetos pessoais do mestre);
Ainda no livro Autonomia, quando em 1950, encontramos que Canuto Abreu retornou à Paris tentando buscar a devida validação e cunho de autenticidade aos referidos documentos localizados para legitimar as suas pesquisas da primeira visita de 1920 a 1922. Ele descobriu em suas pesquisas nesta segunda visita, que:
- A Livraria localizada à rua Saint Jacques estava fechada e em liquidação judicial;
- A Maison Spirites, fundada, em 1923, por Jean Meyer, Gabriel Delanne, Léon Denis e outros, havia abrigado todas as peças e documentos restantes de Kardec e da Doutrina Espírita, inclusive o armário de nogueira com parte dos dossiês e objetos pessoais de Kardec e da SPEE. Mas, durante a invasão e ocupação, a Maison havia sido saqueada pelos nazistas;
- Uma parte dos documentos não havia se perdido. Ela havia sido encaminhada para o escritório das “Editions Jean Meyer” e da Revista Espírita, logo após a desocupação. Canuto tentou contato com Jean Meyer para tratar do assunto da parte destes documentos, mas não houve sucesso em obter maiores informações;
- A parte dos documentos e manuscritos que estavam com Paul Leymarie foi confiada a Canuto Abreu, que os trouxe ao Brasil. Este acervo de Canuto Abreu encontra-se em posse do CDOR-FEAL;
Existem fortes indícios de que a parte do acervo que Canuto Abreu teve acesso na livraria Leymarie quando de sua primeira viagem à Paris entre 1920 e 1922, sejam os documentos de Philippe Chigot (filho de Michel Chigot, que a adquiriu na Livraria Leymarie em 1957). A existência destes documentos e manuscritos veio ao conhecimento público em agosto de 2018, quando foram colocados no perfil do Facebook de Philippe Leymarie (nome do perfil de Philippe Chigot). Este acervo foi adquirido por pesquisadores brasileiros e esta sendo apresentado no museu virtual AKOL - AllanKardec.online.
Entre os dois acervos mencionados existem centenas e centenas de documentos e manuscritos que, neste momento, estão sendo catalogados, transcritos e traduzidos. Nem tudo foi perdido e/ou destruído. E, aos poucos, estes acervos estão se tornando públicos, para conhecimento dos pesquisadores. Parte da memória de Allan Kardec, de Amélie Boudet e do Espiritismo foi preservada. Novos e muitos elementos de pesquisa para todos os pesquisadores da história do Espiritismo são apresentados na medida de suas transcrições e traduções.
Alguns destes manuscritos fazem menção ao livro A Gênese.
Após a “descoberta” da 5ª edição de 1869 do livro A Gênese pelo CSI do Espiritismo, que coloca em reanálise todas as pesquisas até então efetuadas, surgem vários documentos e manuscritos que alteram, ou no mínimo, colocam em cheque várias das conclusões efetuadas sobre as alterações dos textos da edição revisada, corrigida e aumentada desta obra. [18]
OS MANUSCRITOS PRESERVADOS SOBRE A GÊNESE E AS FONTES PRIMÁRIAS QUE REVELAM A VERDADE DOS FATOS
O manuscrito de 22 de fevereiro de 1868 (vide fotos) - escrito de próprio punho por Allan Kardec
O manuscrito datado de 22 de fevereiro de 1868 "Conseils sur La Genèse", do médium A. Desliens, da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, comprova que Allan Kardec recebeu conselhos sobre a revisão da obra A Gênese, onde destacamos no seu conteúdo:
- Que a obra revisada deveria sofrer certas reorganizações que a tornarão valiosa sob o aspecto metódico.
- Que fossem revisadas certas comparações dos primeiros capítulos (O Espírito não quis indicá-los de uma maneira mais especial, mas afirmou que relendo cuidadosamente os capítulos 2 e 3, eles certamente iriam saltar à vista).
- Sobre a reimpressão que Kardec iria fazer (lembrando que o manuscrito é datado de 22/02/1868), o mestre pergunta se haveria de acrescentar algumas coisas, sem aumentar o volume, e se o Espírito achava que existiriam peças que poderiam ser removidas sem inconvenientes. E recebe a resposta de que não havia absolutamente nada para tirar da doutrina, e que Kardec poderia, sem inconvenientes, condensar mais certas ideias que não precisam de desenvolvimento para ser entendidas, pois já teriam sido esboçadas em outro lugar. O Espírito afirma que Kardec poderia fazer isso, facilmente, no retrabalho da obra.
- O Espírito instrui Kardec que deveriam deixar intactas todas as teorias que aparecem pela primeira vez aos olhos do público; para não tirar nada das ideias. E que Kardec poderia apenas para podar aqui e ali, desenvolvimentos que não acrescentavam nada à clareza. Afirma que Kardec será mais conciso, sem dúvida, mas igualmente compreensível, e é assim, era certo, que o mestre poderia adicionar elementos novos e urgentes.
- Kardec recebe o conselho de que aquela revisão era um trabalho sério, e o Espírito, ainda, o aconselha a não esperar muito para realizá-lo.
- Kardec é orientado a começar a trabalhar rapidamente (lembrando, novamente, que o manuscrito é datado de 22/02/1868), e instruído para ter o seu tempo para que as ideias fossem mais nítidas e para que o seu corpo se beneficiasse por estar menos cansado.
- Kardec faz considerações de que as vendas (referência à 1ª edição que estava sendo comercializada em 06/01/1868, e, provavelmente, da 2ª edição lançada em fevereiro do mesmo ano) estavam rápidas até aquele momento (lembrando novamente que o manuscrito é datado de 22/02/1868) e que o mestre acreditava que a 3ª e a 4ª edições levariam mais tempo para fluir. E, como se levava algum tempo para a revisão e a reimpressão, Kardec pergunta ao Espírito quanto tempo, aproximadamente, ele teria antes de agir, para não ser pego de surpresa. A resposta é de que ele deveria esperar um fluxo rápido (provavelmente se referindo à comercialização das 3ª e 4ª edições), pois, como já havia sido dito o livro seria um sucesso entre seus sucessos, tanto sucesso filosófico quanto material. O Espírito afirma a Kardec que eles estavam certos na previsão que fora dada, e, finalmente, instrui o mestre que ele estivesse pronto o tempo todo, e que ele deveria agir mais rápido do que ele pensava (a elaboração da revisão do livro A Gênese).
Diferente da informação que constou na Revista Espírita de março de 1887 e no livro Obras Póstumas de 1890, não existe no manuscrito a informação do Espírito que faz a comunicação para Desliens. A tabela em anexo apresenta a transcrição do manuscrito e os textos que constaram na Revista Espírita e no livro Obras Póstumas. Vale lembrar que a pesquisadora Simoni Privato se valeu daquelas informações para chegar a algumas de suas conclusões. Portanto, em virtude desta fonte primária revelada, uma reanálise de algumas conclusões se faz necessária.
O manuscrito de 18 de julho de 1868: "Correction de la Genèse" - Correções efetuadas de próprio punho por Allan Kardec (vide fotos)
Este manuscrito também é do médium A. Desliens, relativo a uma comunicação recebida do Espírito do Sr. Didier, comprova que Allan Kardec estava efetuando a revisão do livro A Gênese, onde destacamos no seu conteúdo:
- O Espírito do Sr. Didier disse a Kardec que estava falando em nome dos demais Espíritos e que eles o haviam ajudado na revisão o máximo que puderam. E que Kardec, tanto por ele mesmo e pelas sugestões recebidas pelos Espíritos, havia conseguido tornar esses capítulos mais rápidos, sem ter alterado nenhuma ideia essencial (vale lembrar que este manuscrito é datado de 18/07/1868, e as informações do manuscrito informam sobre as ajudas recebidas dos Espíritos na revisão efetuada).
- Didier instrui que estes seriam prolegômenos interessantes, sem dúvida, mas, no entanto, que Kardec se beneficiaria de um exame sério, com a eliminação de desenvolvimentos que não seriam de necessidade absoluta, e assim, o mestre conseguiria condensar uma quantidade maior de materiais no mesmo espaço. O Espírito orientou Kardec que, assim procedendo, seria mais substancial e permaneceria muito explícito.
- O Espírito de Didier instruiu o mestre a proceder da mesma maneira que ele estava fazendo, e que assim sendo, fariam um bom trabalho. Orientou Kardec a não negligenciar as pequenas brochuras, mas que somente após A Gênese (a revisão da obra) eles falariam sobre isso.
O manuscrito de 1° de agosto de 1868: Espírito Galileu pelo médium Sr. A. Desliens - com correções no texto de Allan Kardec (vide fotos)
Este manuscrito apresenta vários ensinamentos que foram dados pelo Espírito de Galileu, através do médium A. Desliens, após a sua evocação pelo querido mestre Allan Kardec.
Nesta psicografia, são transmitidas informações sobre o universo, os vários tipos de nebulosas, as limitações existentes na ciência e na inexistência de instrumentos, ainda, suficientemente poderosos para as devidas análises, na época da comunicação.
O Espírito Galileu, em seus ensinamentos, sugere que Allan Kardec acrescente informações no livro (A Gênese): “Eu gostaria muito que você acrescentasse também algumas reflexões à passagem que concerne à teoria do aumento de massa ou de volume da Terra”. (vide parte em negrito na transcrição e na tradução, em anexo)
Galileu sugere que a ideia, relativa à teoria do aumento de massa ou de volume da Terra, deveria ser combatida e deveria ser argumentado contra ela na sua obra, com suficiente autoridade. (vide parte em negrito na transcrição e na tradução, em anexo)
Galileu apresenta nos seus ensinamentos, ao contrário da referida teoria do aumento do volume da Terra, que os mundos se esgotariam ao envelhecer e tenderiam, como bem já havia indicado um dos instrutores espirituais de Allan Kardec, a se dissolver no éter para servir de elemento de formação de outros universos (vide parte em vermelho na transcrição e na tradução). Galileu continua dizendo que: “algumas instruções sobre esse assunto não estariam fora de lugar. Quanto ao outro capítulo do livro (não sabemos a qual Capítulo Galileu se refere neste trecho), dou minha adesão ao conjunto, mas quanto aos detalhes uma opinião particular só pode ter o peso das instruções dos Espíritos mais competentes.” (vide trecho em negrito na transcrição e na tradução, em anexo).
O Espírito Galileu continua seus ensinamentos dizendo que, na opinião dele, certamente, todos os corpos se desgastariam por esta fricção. O movimento incessante do globo no espaço teria por efeito diminuir constantemente a massa, mas de uma maneira suficientemente insensível para que isso não fosse percebido. E, continua, “a existência dos mundos do seu sistema. Primeiro período. Condensação da matéria durante o qual o volume diminui consideravelmente. É o período da infância. Solidificação por contração da casca. Eclosão dos germes, desenvolvimento da vida até a aparição do tipo mais perfeito. Nesse momento o globo está em toda a sua plenitude. Ele perde, mas muito pouco, seus elementos constitutivos; depois à medida que seus habitantes progridem ele passa ao período decrescente durante o qual ele perde não somente por causa do atrito, mas também por causa da desagregação das suas moléculas.” (vide trecho em vermelho na transcrição e no manuscrito).
Os trechos dos ensinamentos de Galileu foram inseridos na 5ª edição do livro A A Gênese, no item/parágrafo 15 do Capítulo IX, com o subtítulo “Aumento ou diminuição do volume da Terra”. (vide fotos)
Além disso, estes ensinamentos foram inseridos em um artigo denominado “Aumento e Diminuição do Volume da Terra - A PROPÓSITO DE A GÊNESE”, na Revista Espírita de setembro de 1868 [19]. Neste estudo, Allan Kardec faz considerações sobre a teoria de que o globo poderia aumentar pelo afluxo da matéria cósmica interplanetária, que recolhe através de seu percurso no espaço, e que depositaria incessantemente novas moléculas em sua superfície. Afirma que esta doutrina nada teria de irracional, porquanto, neste caso, o crescimento se daria por adjunção e superposição, como para todos os corpos orgânicos. Mas, faz reflexões sobre onde pararia esse crescimento. E afirma que a teoria seria ainda muito hipotética para ser admitida como princípio. Em contraponto, continua dizendo que esta teoria seria um sistema combatido por sistemas contrários, porque, segundo outros, a Terra, em vez de adquirir, consumiria, por efeito de seu movimento, isto é, abandonaria no espaço uma parte de suas moléculas e, assim, em vez de aumentar, ela diminuiria de volume.
Para dar respostas entre estas duas teorias, visto que a ciência positiva ainda não havia se pronunciado, e provavelmente não o faria tão cedo, por falta de meios materiais de observação, Allan Kardec apresenta a comunicação datada de julho de 1868, recebida na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, pelo médium A. Desliens, e assinada pelo Espírito Galileu. Curiosamente, o manuscrito inédito que apresentamos é datado de 1º de agosto de 1868, e apresenta os mesmos conteúdos tratados pela comunicação informada na Revista Espírita. Teria havido um equívoco com relação à data? Existiriam mais manuscritos tratando do mesmo assunto?
Independentemente disso, a existência desta fonte primária confirma que a alteração - ocorrida na 5ª edição de A Gênese (1869-1872) – páginas 201 a 204 do original em francês - foi efetuada por orientação obtida através de uma evocação efetuada na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, e foi dada a Allan Kardec pelo Espírito Galileu, através do médium A. Desliens. Ou seja, a inclusão do subtítulo - Aumento ou diminuição do volume da Terra – e do item/parágrafo 15 do Capítulo IX na 5ª edição de A Gênese está plenamente coerente com o desenvolvimento de toda a Doutrina Espírita de Allan Kardec, e seguiu as orientações do Espírito Galileu que foi dada neste inédito manuscrito.
O manuscrito de 22 de setembro de 1868: A. Desliens - dos Espíritos Demeure e de Arago - com correções no texto de Allan Kardec (vide fotos)
Neste manuscrito são passadas instruções a Allan Kardec, pelo Espírito Arago, sobre alterações a serem realizadas em A Gênese, inclusive com o exato local onde as alterações deveriam ocorrer. As sugestões efetuadas pelo Espírito Arago constaram das alterações que foram introduzidas na 5ª edição de A Gênese.
Arago aconselha Allan Kardec (vide parte em negrito no manuscrito) a não avançar para além do que era reconhecido pela ciência naquele momento, a fim de não deixar margem à acusação de não se apoiar em hipóteses não suscetíveis de demonstração. O Espírito orienta que no estado atual das coisas, aquela passagem toda inteira de A Gênese seria a expressão da verdade científica.
Finalmente, Arago pede para Kardec que mantivesse a informação que lhe era passada, tal qual (vide novamente o trecho em vermelho no manuscrito), na sua próxima edição; e para não temer chamá-lo de novo, se considerasse que quaisquer conhecimentos do Espírito pudessem lhe ser úteis de algum modo. Este trecho do manuscrito deixa claro que Allan Kardec estava preparando uma nova edição do livro A Gênese.
O referido trecho foi acrescentado na nova edição – a 5ª edição de A Gênese. A comprovação da origem desta alteração é revelada através deste manuscrito datado de 22/09/1868.
A informação a qual Arago orientou Kardec para ser acrescentada está publicada na 5ª edição de 1869 e de 1872, de A Gênese, nas páginas 196 e 197 do original em francês, no Capítulo IX – Revoluções do globo (Revoluções Periódicas), precisamente na nota de rodapé de número 2, do item/parágrafo 8. (vide trecho em vermelho na transcrição/tradução do manuscrito – foto em anexo):
Apesar das diferenças existentes, entre os textos do manuscrito publicados na citada Revista Espírita e no livro Obras Póstumas, ambas as versões recomendam que Allan Kardec revise o conteúdo do livro A Gênese, conforme escreve a pesquisadora Simoni Privato na página 403 de O Legado de Allan Kardec. Mas, a pesquisadora conclui que as afirmações sobre a revisão não seriam claras, mas imprecisas, genéricas e ambíguas.
CONCLUSÃO
Com a descoberta de novos documentos, manuscritos e fontes primárias do Espiritismo, relativas ao período de 1857-1869 – parte deles aqui apresentados - as conclusões feitas até o presente momento sobre as alterações ocorridas na 5ª edição de A Gênese merecem ser, no mínimo, revistas, reanalisadas e repensadas.
Em especial na datação da publicação da edição de 1869, que pesquisas recentes, colocam como sendo entre abril de maio daquele ano. Lembrando que era a Senhora Kardec – Amélie Boudet - a única responsável legal por todas obras do mestre, inclusive a Revista Espírita, até a criação da Sociedade Anônima em julho de 1869 (vide Revista Espírita de maio de 1869 - Caixa Geral do Espiritismo - DECISÃO DA SENHORA ALLAN KARDEC)
Quando surgem novas fontes primárias como as que mostramos aqui, que indicam que Allan Kardec estava fazendo as revisões do livro A Gênese e, como de fato comprovado, as fez nos respectivos pontos evidenciados pelos manuscritos apresentados, todos os pesquisadores e estudiosos do Espiritismo deveriam tomar conhecimento desta e das demais pesquisas já realizadas e em curso, para caminharmos juntos na busca da verdade.
Gostaríamos de convidar a todos os pesquisadores e estudiosos do Espiritismo que analisem todos os documentos, manuscritos e fontes primárias que estão sendo apresentados. E, a partir deles, verifiquem os novos fatos que se apresentam e reflitam sobre as novas conclusões decorrentes das pesquisas que estão sendo realizadas. Sem qualquer personalismo e ideologia, visando somente a busca da verdade em favor da Doutrina Espírita.
Agradecimentos aos sites ODK - http://www.obrasdekardec.com.br, Portal Luz Espírita - http://www.luzespirita.org.br/ e CSI do Espiritismo.
Referências:
Comentários
Postar um comentário