Projeto Allan Kardec: "Rascunho de carta para o senhor Edoux - 15/04/1864"
Prosseguindo nossos estudos sobre os manuscritos que estão sendo publicados pelo Projeto Allan Kardec (saiba mais aqui), estudos esses que iniciamos analisando o documento "Evocação - 1860" (ver aqui) e que agora destaca o "Rascunho de carta para o senhor Edoux", datado de 15 de abril de 1864, oriundo do acervo particular do Dr. Canuto Abreu, que foi entregue à FEAL e agora foi disponibilizado pela Universidade Federal de Juiz de Fora, estando acessível no site oficial do referido projeto.
Vamos contextualizar o documento com a ajuda dos metadados de Carlos Seth da fanpage CSI do Espiritismo.
Como o próprio título evidencia, trata-se de um rascunho, escrito por Allan Kardec, de uma correspondência para o Sr. Edoux, ressaltando que era uma prática do codificador espírita guardar em seus arquivos uma cópia das cartas que ele remetia, claro, para fins de controle pessoa e para servir de fontes de pesquisas futuras, no intuito de se compreender o contexto daquilo que se estava tratando ali.
O correspondente de Kardec, Evariste Edoux era médium e diretor do jornal La Vérité, de que temos algumas referências na Revista Espírita (ver aqui). Ver também mais alguns detalhes sobre ele na página 75 do Almanach spirite pour 1865 (disponível online aqui). O periódico que ele dirigia, em Lyon, cuja coleção está disponível no site da Gallica e também no portal IAPSOP, teve sua estreia em 22 de fevereiro de 1863, publicado semanalmente e custava 15 centavos. Mais tarde mudou seu título para La Tribune Universelle, journal de la libre conscience et de la libre pensée. conforme nota de Kardec na Revista Espírita de Abril de 1867 (conferir aqui).
Paris 15 avril 1864.
Mon cher Monsieur <Edoux>,
J’ai lu avec beaucoup d’intérêt les derniers n.os de La Vérité, et celui surtout où vous réfutez l’abbé Barricand. En vous remerciant bien sincèrement de ce que vous y dites à mon sujet, je vous félicite de la modération que vous avez apportée dans votre polémique, et ne saurais trop vous engager à persévérer dans cette voie ; c’est celle qui contrarie évidemment le plus nos adversaires, car ils voudraient nous voir sortir des bornes et font tout ce qu’ils peuvent pour nous entraîner sur leur terrain. C’est à nous de ne pas nous laisser prendre au piège. Comme vous le dites avec <avec> beaucoup de justesse, en discutant le Spiritisme au point de vue exclusivement doctrinal, M. l’abbé Barricand <il> est dans son droit, et puisqu’il prend à partie La Vérité, il est permis de lui répondre ; il est du devoir surtout de relever les erreurs volontaires ou involontaires qu’il pourrait commettre, tout en restant dans la limite des convenances, lors même qu’il s’en écarterait ; c’est le meilleur moyen de mettre le bon droit de votre côté.
J’ai adressé à Lyon par le courrier d’hier un certain nombre d’exemplaires de mon nouvel ouvrage : L’Imitation de l’Évangile. Il y en a un pour vous qui vous sera remis par M.r Villon auquel j’ai adressé le paquet. Vous y trouverez je pense des éléments pour réfuter M.r Barricand.
Des inadvertances de l’imprimeur ont nécessité la réimpression de certaines parties, ce qui a causé un retard imprévu dans la mise en vente.
Courage, mon cher Monsieur, et croyez à mon bien sincère dévoûment,
A.K.
Paris, 15 de abril de 1864.
Meu caro senhor <Edoux>,
Li com muito interesse os últimos números de La Vérité, e principalmente aquele em que o senhor refuta o abade Barricand. Agradecendo-lhe muito sinceramente o que nele o senhor disse a meu respeito, felicito-o pela moderação que imprimiu à sua polêmica, e não poderia insistir demais em pedir-lhe para perseverar nesse caminho. É assim que se mais contraria os nossos adversários, pois eles gostariam de nos ver sair dos nossos limites, e fazem tudo o que podem para nos arrastar ao terreno deles. Cabe a nós não nos deixarmos cair na armadilha. Como o senhor disse com muita justeza, o senhor abade Barricand, ao discutir o Espiritismo do ponto de vista exclusivamente doutrinário, está no seu direito e, visto como se refere à La Vérité, é permitido lhe responder. É sobretudo um dever mostrar os erros voluntários ou involuntários que ele possa ter cometido, tudo dentro do limite das conveniências, mesmo quando ele delas se afaste; é o melhor meio para ter a razão do seu lado.
Remeti a Lyon, pelo correio de ontem, um certo número de exemplares de nossa obra mais recente: A Imitação do Evangelho. Um deles é para o senhor e lhe será entregue pelo senhor Villon, a quem enviei o pacote. Penso que o senhor encontrará nela elementos para refutar o senhor Barricand.
Alguns descuidos do impressor exigiram a reimpressão de certas partes, o que causou uma demora imprevista para o lançamento da obra.
Coragem, meu caro, e acredite no meu sincero devotamento,
Allan Kardec
Clique aqui para ver o manuscrito no Portal Allan Kardec.
O Padre Barricand, professor na Faculdade de Teologia de Lyon, começou no Petit-Collège uma série de lições públicas sobre, ou melhor, contra o magnetismo e o Espiritismo. O jornal la Vérité, em seu número de 10 de abril de 1864, analisa uma sessão consagrada ao Espiritismo e levanta várias asserções do orador. Promete manter os leitores ao corrente da continuação, ao mesmo tempo em que se encarrega de refutá-las, o que, não temos dúvida, fará maravilhosamente, a julgar por seu começo. O decoro e a moderação de que deu provas até hoje em sua polêmica nos dão a certeza de que não mudará nesta circunstância, mesmo que o seu contraditor mude,
“À saída do curso, tivemos ligeira conversa com o Padre Barricand que, aliás, nos recebeu de maneira muito cortês. Nosso objetivo era oferecer-lhe uma coleção do Vérité, para facilitar-lhe meios de falar dele à vontade.”
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