"Nada é por acaso", um filme exageradamente espírita, ou não?

Assistimos ao filme Nada é por acaso, um drama adaptado do livro homônimo de Zibia Gasparettodirigido por Márcio Trigo e lançado no Brasil em novembro do ano passado, fortemente divulgado como um filme espírita. E talvez aí esteja exatamente o grande "problema" deste trabalho: os simpatizantes do Espiritismo e do espiritualismo em geral certamente gostaram (alguns até adoraram), mas o público normal do cinema nem tanto; os críticos não hesitaram em massacrar a produção sob a alegação de que ficou "espírita demais" — aliás, já desde a campanha de divulgação do filme. Pesando bem as coisas, podemos dizer que a produção até que não ficou muito a desejar, mas poderia ser bem melhor, inclusive se não fosse tão "militantemente espírita".


Sinopse

De um aparente golpe fortuito do acaso os personagens principais da trama vão se encontrando em torno de um interesse em — e necessidade de — conhecer o Espiritismo a fim de cada qual resolver seus dramas particulares, os quais, na verdade, estão interligados por conta de uma programação espiritual justamente voltada para a resolução de pendências reencarnatórias.

A jovem advogada Marina (Giovanna Lancellotti) começa a reorganizar a vida, enquanto carrega um mistério sobre a aquisição repentina de uma boa posição social depois de uma infância pobre. Ela então conhece e se envolve emocionalmente com Rafael (Rafael Cardoso), um terapeuta espírita (ou, talvez melhor dito, espiritualista) que a encaminhará a um centro espírita a fim de tratar um irmão dela, cujo "mal" se revela ser mediunidade. No processo de se conhecerem melhor, Rafael fica intrigado com o "mistério" que a moça esconde.

Acontece que Rafael é amigo (e terapeuta informal) de Henrique (Tiago Luz) que é assombrado por um passado que tem a ver com sua crise conjugal com Maria Eugênia (Mika Guluzian), uma "riquinha" complexada com suas limitações e as expectativas da bem-sucedida mãe. Além disso, o ameaçado casamento de Eugênia e Henrique põe em risco toda a sustentação dos negócios da família por conta da origem de uma criança, supostamente um filho deste casal.

A partir daí, os dramas se cruzam e então se desenrola o desfecho da história, que implica no cumprimento de um planejamento espiritual para solucionar todos os mistérios, cujas raízes vêm de uma reencarnação pregressa de que os mesmos personagens faziam parte.


Nossa avaliação

A crítica profissional reflete a opinião do público comum, ou seja, dos amantes de cinema: a produção é uma descarada "panfletagem religiosa" muito forçada. Em dado momento do enredo, por exemplo, a propaganda de livros é explícita. Ademais, esse público não espírita vê um flagrante e exagerado apelo moralista: o filme é uma palestra religiosa encenada  diria-se. Logo, como um produto cinematográfico, a produção peca desde o princípio e compromete sua reputação.


Propaganda doutrinária explícita

Por outro lado, esse "pecado" pode ser considerado uma dádiva ao diretor e às demais pessoas que investiram no filme: se a estratégia de marketing representa bem o objetivo maior da produção, então só temos que parabenizar pela iniciativa arrojada em levar ao cinema — com afirmação — o ideal de semear uma mensagem espiritualista, ainda que sob o risco da condenação popular e de ferir concepções modernistas, ou pós-modernistas, que tanto espetam a moral, principalmente acerca de temas sensíveis como aborto, que é um dos "problemas" relacionados em Nada é por acaso.

Ora, afinal o que se espera da arte (a verdadeira arte) senão a semeadura de virtudes espirituais? Se hoje ela está contaminada de banalidade, imoralidade e ativismos outros bastante destrutivos, é preciso que pessoas corajosas ofereçam sua alternativa, baseando-se me valores elevados. Os espíritas sinceros — de que tanto a obra kardequiana fala — devem ter essa audácia e fortalecer iniciativas tais de modo a assumirem o que a Doutrina Espírita espera de nós. Ou nos acovardaremos diante de um mundo de perdição que estão nos vendendo por aí?

Sim, talvez esse Nada é por acaso tenha ficado apelativo demais; talvez o roteiro pudesse ser mais discreto etc. Contudo, não é o caso de negarmos a essência da mensagem. A reencarnação é um fato e precisa ser propagada para que as pessoas entendam que seus dramas atuais são oriundos de uma questão maior do que as circunstâncias da vida material; que nada realmente é por acaso, tudo tem um propósito e passa por uma realidade espiritual, porque somos Espíritos e porque existe uma lei maior, de uma natureza superior  que é a lei de Deus; que essa lei implica numa moral, num modelo de conduta tal que fora dela só se encontra sofrimento, desgraça e desespero.

Tudo isso é muito piegas e antiquado? — sim, para quem vive sob o regime do materialismo prático. Quem assume uma postura dessas, uma postura verdadeiramente espírita, certamente corre o risco de ser "cancelado" deste mundo pós-moderno. E a escolha é de cada um. Mas é bom que as pessoas tenham a chance de conhecer a outra proposta, a proposta espírita, não materialista, resgatando a mensagem do Cristo Jesus: Aquele que quiser salvar sua vida neste mundo, pelos valores materialistas em voga na sociedade comum, este se perderá; e aquele que depositar sua fé e sua coragem nos valores do alto, este ganhará a vida, uma vida plena.


A "questão Gasparetto"

Também vale comentar a questão de muitos espíritas não verem com bons olhos o trabalho de Zibia Gasparetto. Como é sabido, Nada é por acaso é o título de um livro dito mediúnico cuja autoria é atribuída ao Espírito Lucius, e é um dos tantos sucessos literários da médium. Um sucesso que, aliás, incomoda muita gente por conta de ela ter assumido publicamente que usufruía financeiramente de sua mediunidade.

Saiba mais sobre Zíbia Gasparetto clicando aqui.


Zíbia recebeu instrução kardecista e chegou a ser trabalhadora da FEESP - Federação Espírita do Estado de São Paulo, mas depois "desistiu" do Espiritismo e passou a se intitular espiritualista, alegando, dentre outras coisas, que sofria censura dos ex-confrades por conta de supostos "erros doutrinários" contidos em seus livros. No entanto, o "mau exemplo" da apropriação financeira dos dotes mediúnicos sempre foi mesmo o maior entrave aí.


Em razão da reputação não muito boa de Zíbia Gasparetto, muitos espíritas torcem o nariz para suas obras e, por conseguinte, assim o fizeram quanto ao referido filme.

De nossa parte, reafirmamos: deixando de lado as fraquezas pessoais — pelas quais cada qual responderá, inexoravelmente —, preferimos ponderar que Zíbia Gasparetto deixou sim uma grande contribuição para a propagação dos ensinamentos espirituais e, certamente, fez positivamente a diferença em muitas vidas, consolou a tantos e revivesceu a fé de muita gente, abrindo passagem para que essas consciências comecem a compreender os valores espíritas.

Assim sendo, o filme Nada é por acaso deve ter feito e ainda há de fazer muita gente refletir mais sobre as coisas espirituais, muito além dos apelas da mesquinha vida materialista tão propagada em nossos tempos.

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