A família Solichon e o Espírito Gustave Lenormand: personagens da Revista Espírita



As pesquisas espíritas continuam a todo o vapor, partindo de diversas frentes de trabalho, cada uma se valendo também do compartilhamento das demais descobertas. É assim que chegamos a mais uma publicação interessante compartilhada na fanpage Variações Intuitivas no Facebook, dirigida pelo nosso confrade Leonil Marques, de Belo Horizonte, Minas Gerais. Nessa postagem, temos algumas pistas sobre certos personagens espíritas, presentes na obra de Allan Kardec, além de sua conexão com a História da França, notadamente no capítulo da Revolução Francesa, que sabidamente repercute em todo o globo terrestre.


A família Solichon e o Espírito Gustave Lenormand

1. Para fomentar a pesquisa ou o estudo, eis as identificações dos personagens: Jean Baptiste Solichon (Lyon, 1796 - Paris, 27/01/1878) [1]; Collette Stéphanie Solichon, filha do precedente e de Marie Joseph Flavie Baudry (Lille, 1820 -  Paris, 10/03/1891) [2]; Gustave Lenormand (Paris, 1850 - 10/01/1851) [3] e Luís XVII, Louis-Charles de France (Versalhes, 1785 - Prisão do Templo, 1795). [4]

2. O sr. Solichon integrou, desde o início, o grupo particular de Allan Kardec, tornando-se membro da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas - SPEE, e sua filha, Stéphanie já era médium associada quando, em 30 de setembro de 1858, foi apresentada como aspirante a membro titular.


Registro de óbito: 1874, 10 arrond. N. 364, pág. 19. Jean Baptiste Solichon (Lyon, 1796 - Paris, 27/01/1878). Morreu aos 80 anos, na rue Mazagran, 4, Paris.

2.1 Tal como Kardec, desde 1818, Solichon teve conhecimento da existência da antiga Sociedade dos Espiritualistas (assim nomeada em 1788, por Mercier), sucedida pelos Teósofos (1800) e da seita dos Martinistas, “que também pretendia estabelecer relações com os Espíritos, por meios que os iniciados se comprometiam a manter em segredo.” (Revista Espírita - outubro, B 02/09/1859)

3. Como ressabido, Kardec verificava a identidade dos Espíritos consultando-os através de dois ou mais médiuns, valendo-se também de um médium vidente e indagava a opinião dos Espíritos sobre os acontecimentos passados, presentes e futuros, como a notícia publicada no jornal O Século (Le Siècle) de 13 de janeiro de 1860, a respeito de Chateaubriand e sua opinião sobre o poder temporal da Igreja e do Papa. [5]

3.1 Nota-se que Chateaubriand havia se comunicado espontaneamente, pelo médium mecânico Roze, na sessão de 20 de janeiro de 1860, sobre o Tempo Presente. Em 28 de janeiro de 1860, terça-feira, na casa do Sr. Solichon, sendo médium a Srta. Solichon, Allan Kardec indagou ao Espírito Chateaubriand, que foi embaixador em Roma de 1828 a 23/08/1829, acerca dos acontecimentos e sobre o papado. (Obras Póstumas, 2ª Parte. Capítulo 15. 'Acontecimentos. Papado')

4. Solichon foi o primeiro indicado para a comissão de controle da Caixa do Espiritismo, formada em fevereiro de 1860, juntamente com “Thiry, Levent, Mialhe, Krafzoff e sra. Parisse.” Em novembro de 1860, se demitiu dessa comissão, “por motivo das viagens que o afastam de Paris durante a maior parte do ano”. Em 20 abril de 1860, foi lida uma “comunicação obtida numa outra reunião espírita e assinada por Joana d’Arc. Contém excelentes conselhos aos médiuns sobre as causas que podem aniquilar ou perverter suas faculdades mediúnicas.” Joana d’Arc havia marcado o encontro e pediu fosse a comunicação levada à SPEE, pois recepcionada “num pequeno círculo íntimo do bairro de Luxemburgo”, no qual comparecera o sr. Solichon. Será que a médium foi Stéphanie em vez de Hermance de L. J.? (Revista Espírita de maio 1860: 'Os médiuns').

Na sessão particular de 18 de maio de 1860, houve a recepção mediúnica de “Quatro ditados espontâneos, recebidos simultaneamente”, sendo “o terceiro, pela Srta. Stéphanie S..., de um Espírito familiar morto há alguns anos e que em vida se chamava Gustave Lenormand. É um Espírito ainda pouco adiantado, de caráter alegre e espirituoso, mas muito bom, muito prestativo e que, em várias famílias, onde aparece muito, é considerado como um amigo da casa. Um dia havia dito que viria caçar os maus Espíritos.” (Revista Espírita - junho 1860) [6]

Sessão particular de 6 de julho de 1860, “Quatro ditados espontâneos são obtidos: (...) o quarto pela Srta. Stéphan., sobre A cada um a sua tarefa, assinado por Gustave Lenormand.”

G. L. foi evocado na sessão de 13 de julho de 1860, sem notícia do assunto tratado, nem indicação do médium.

Na sessão particular de 20 de julho de 1860, foram “obtidos cinco ditados espontâneos: (...) e o quinto sobre o Concurso dos médiuns, assinado por Gustave Lenormand. Durante a sessão ouviram-se batidas muito distintas perto da Srta. Stephan. Era o Espírito de Gustave que, como disse, queria constrangê-la a escrever coisas com que ela pouco se importava. Pensou que era um meio de provocar perguntas que a obrigariam a vir à mesa, desejando ele mesmo dar uma comunicação por seu intermédio.” (Revista Espírita - agosto 1860)

Na sessão geral de 24 de agosto de 1860, “três ditados espontâneos são obtidos: ... e o terceiro pela Srta. Stéphanie, assinado por Gustave Lenormand.” (Revista Espírita - setembro 1860)

5. Nas comunicações de julho de 1860, Gustave Lenormand teria informado ser a reencarnação do rei-menino Luís Carlos, o Luís XVII, morto aos dez anos, na prisão do Templo. Segundo carta de Amélie para o marido serviram como médiuns Marie Schmidt e Stéphanie Solichon. A médium Srta. Parisse, procurada pela Srta. Solichon para evocação, teria obtido uma resposta negativa, mas ela própria, médium intuitiva, acreditava na falsidade de tal atribuição. A senhora Allan Kardec (Amélie) escreveu ao marido, concordando com “a opinião” da srta. Parisse, acrescentando: “Não creio que um Espírito que deve ser avançado possa voltar a ser o que Gustave era no início.” [7]


Luís XVII, Louis-Charles de France (Versalhes, 1785-Prisão do Templo, 1795).
Fonte: Simple English Wikipedia, the free encyclopedia.

Assinale-se, contudo, que em 11 e 18 de maio de 1860, a Sra. e Srta. Parisse, respectivamente, receberam comunicações espontâneas assinadas por Luís, nada mais constando dos boletins das sessões. (Revista Espírita - junho 1860)[6]

5.1 A respeito das comunicações mediúnicas atribuíveis ao rei-menino, nada poderia ser publicado, seja por questões políticas, seja pelo escândalo perante a opinião pública, considerando que apenas com “exame de DNA”, em 2003, atestou-se que o coração removido do corpo e os restos mortais enterrados no cemitério de Sainte-Marguerite, em Paris, eram de Luís XVII.

5.2. Em 4 de janeiro de 1861, fez-se a “leitura de uma graciosa e encantadora comunicação no velho estilo da Idade Média, recebida pela Srta. S…” (Revista Espírita - fevereiro 1861).

Em abril de 1861, a SPEE concedeu ao sr. Solichon o título de membro honorário, com isenção das taxas, e sua filha “permaneceu como único membro titular”. [8]

Na Revista Espírita de abril 1862, há comunicação através da Srta. Mlle Stéphanie, de “Um Espírito amigo sincero da médium e do Diretor da Revista Espírita”, discordando da menção do “dogma da Imaculada Conceição” na questão dos Anjos rebeldes. [9]



Revista Espírita editada por Allan Kardec

Foi a única médium de Paris a atender ao apelo de Allan Kardec, respondendo à sexta questão proposta para o controle do ensino dos Espíritos. Deduz-se que o amigo da médium e de Allan Kardec, seja o amigo de todos: Gustave Lenormand. 

6. No concurso dos médiuns, ambos têm sua tarefa específica. O colóquio das médiuns Stéphanie e Schmidt parece-nos de resultado satisfatório: Luís XVII e Gustave Lenormand pode ser uma só personalidade espiritual.

Luís Carlos de Bourbon, em decorrência da revolução de 1789, viveu com seus familiares até agosto de 1792; esteve encarcerado e desde julho de 1793 estava sob a tutela de um sapateiro analfabeto, que o maltratava terrivelmente, porque seus familiares ficaram presos e o pai executado em 21 de janeiro de 1793. 

Naturalmente alegre e dedicando-se ao cultivo de flores, tornou-se uma criança triste e adoentada, e forçado a se embriagar pelo casal tutor, não recebendo nem alimentação nem instrução suficientes e ainda torturado para depor contra sua mãe, Maria Antonieta, executada em 16 de outubro de 1793.

Destarte, não era Espírito avançado, como supôs a esposa de Kardec, sendo, hipoteticamente, “o que Gustave era no início” da existência, sobretudo se Gustave Lenormand morreu ainda criança, como sugere a carta de Amélie Boudet.

Acreditamos que Gustave Lenormand morreu como criancinha e voltou à mesma personalidade e aparência anterior de Luís XVII, com força espiritual para caçar espíritos inferiores, protegendo várias famílias com sua bondade, mas necessitando, às vezes, proceder como Espírito batedor, porque ainda pouco adiantado, mas muito prestativo como Espírito familiar, em diversas casas.

Leonil Marques
fonte: Variações Intuitivas

Referências:

[1] Jean Baptiste Solichon (Lyon, 1796-Paris, 27/01/1878). M. Solichon, 80 ans, rue Mazagran, 4. https://www.retronews.fr/journal/l-estafette-1876-1914/4-fevrier-1878/1101/4317189/3

- Mesmo endereço em 1867 e 1868, com a senhora Solichon e em 1874, casa do sr. Solichon e venda em 1881.

a) José Duarte Ramalho Ortigão escreveu que, por ocasião da Exposição Universal de 1867 (abril-novembro), esteve alojado na “maison meublée” gerenciada pela dona Solichon, onde também moravam Albert Wolff, redator do jornal Fígaro, e o dramaturgo Lambert Thiboust, falecido em 10 de julho de 1867.

b) Para informações consulte a Sra. Solichon, n. Rua Mazagran, 4. In Galignani's messenger, 1868-junho-05. https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k68431594/f4

c) M. Joseph Honoré Cornilion, rentier, demeurant à Paris, rue Mazagran, 4, chez M. Solichon. In Gazette des tribunaux, 1874-agosto-05 https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k68042143/f4

d) Imóvel foi vendido pela filha em 1881, para a Sra. Picard. https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k56648285/f8

e) Jeanne Marie Piard, “maitresse d’hôtel meublé”, demeurant à Paris, rue Mazagran, 4 https://www.retronews.fr/journal/le-droit/17-avril-1886/1837/3663031/4

Registro de óbito: 1874, 10 arrond. N. 364, Pág. 19. Recorte: https://archives.paris.fr...

[2] Collette Stéphanie Solichon, filha do precedente e de Marie Joseph Flavie Baudry (Lille, 03/05/1820 - Paris, 10/03/1891) [CSI] 19 arr Mlle Solichon, 70 ans, rue Compans, 33: https://www.retronews.fr/journal/la-liberte-1865-1940/17-mars-1891/1701/3347823/4

Registro de óbito: 1891, 19 arrond. N. 586, pág. 16. Recorte: https://archives.paris.fr...

[3] Gustave Lenormand (Paris, 1850-10/01/1851). Rue Saint-Ambroise, 7.

Registro de óbito reconstituído. 8º arrond. Página 30. Recorte: https://archives.paris.fr...

[4] https://pt.wikipedia.org/wiki/Luís_XVII_de_França - Luís XVII (27/03/1795 - 08/06/1795). Recorte.

[5] https://www.retronews.fr/journal/le-siecle/13-janvier-1860/93/854825/1

[6] https://www.retronews.fr/journal/la-revue-spirite/1-juin-1860/1829/3285089/6

[7] Carta de Amélie Gabrielle Boudet para Allan Kardec - 14/09/1860, Acervo AKOL: https://projetokardec.ufjf.br/item-pt?id=191

[8] Caderno de cartas 1859-1861. Carta de 4 de abril de 1861. Acervo AKOL: https://projetokardec.ufjf.br/item-pt?id=280

[9] https://www.retronews.fr/.../1-avril-1862/1829/3285237/19 


Nossas considerações

Não se discute a importância de lermos a Revista Espírita, cirada por Allan Kardec e por ele editada de 1858 até o fascículo de abril de 1869; é por este periódico principalmente que podemos acompanhar o desenvolvimento das pesquisas doutrinárias do codificador espírita, em continuidade ao seu trabalho de líder do Movimento Espírita, tendo assim um apanhado mês a mês do contexto da sua época. O detalhe aqui é que, para uma melhor leitura, faz bem conhecermos os personagens citados e a relação entre os artigos publicados na revista kardequiana. Por isso, valorizamos e divulgamos as pesquisas que nososs confrades têm feito no intuito de contextualizar aquele cenário, para melhor compreendermos o Espiritismo — que não é meramente uma doutrina fechada em sua teoria, mas um movimento, uma articulação que une os bons Espíritos e homens de boa vontade.

Continuamos acompanhando as pesquisas. Fiquem conosco e estejam bem informados.

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