"O impacto dos arquivos pessoais na historiografia: um estudo de caso sobre o legado de Allan Kardec na era digital", por Adriana Gomes e Adair Ribeiro Jr.




Desde o lançamento do Projeto Allan Kardec, nós temos enfatizado nossa satisfação por esta iniciativa e, por isso mesmo, nosso apoio, através da divulgação dos materiais que estão enriquecendo esse projeto, além de publicarmos o resultado das nossas pesquisas a partir do acervo lá disponibilizando, apresentando assim uma contextualização dos documentos originais de Allan Kardec que integram tal projeto. Saiba mais sobre o Projeto Allan Kardec.

Para agora, nosso destaque relacionado a esta iniciativa é o artigo O impacto dos arquivos pessoais na historiografia: um estudo de caso sobre o legado de Allan Kardec na era digital, assinado por Adriana Gomes e Adair Ribeiro Jr. A apresentação (Resumo) deste trabalho diz o seguinte:

"Este artigo investiga o impacto dos arquivos pessoais na reconfiguração dahistoriografia, destacando a relevância desses acervos em um contexto de transformações digitais. Baseando-se em reflexões de Derrida e Foucault, questiona a objetividade tradicional. Utilizando o arquivo pessoal de Allan Kardec, o da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas e a Revista Espírita como exemplos, o artigo explora a importância de documentos acessíveis por meio do Projeto Allan Kardec e do Museu Allan Kardec Online (AKOL). Inicia com discussão teórico-metodológica, analisando a produção do arquivo de Kardec e sua influência no corpus doutrinário do espiritismo, com destaque para a sistematização de supostas mensagens espirituais. Utiliza fontes primárias, incluindo manuscritos, para compreender uma das obras de Kardec, a produção de A Gênese e a continuidade da doutrina após a sua morte."

O artigo foi publicado pela Horizonte - Revisa de Estudos de Teologia e Ciências da Religião da PUC/Minas, vol. 22, nº 67, referente ao periodo jan./abr. deste 2024.


Quanto aos autores, Adriana Gomes é doutora em História Política e Mestra em História Política e Cultura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Adair Ribeiro Júnior é mestrando em Ciência da Religião, Pontifícia Universidade Católica-PUC/SP. Graduado em Engenharia Naval pela Universidade de São Paulo -USP. Além disso, ele é um dos principais idealizadores do referido Proejto, justamente por proprietário de grande parte dos documentos históricos de Kardec que compõem a coleção recentemente recuperada, e que agora ele, Adair Ribeiro Júnior, está compartilhando livremente conosco.


A íntegra do artigo pode ser acessada por este link e nós recomendamos fortemente a sua leitura. De nossa parte, faremos apenas um resumo muito breve deste trabalho, que consideramos de grande valia para melhor conhecermos o contexto histórico do Espiritismo, especialmente no que tange às intenções do codificador espírita em preparar para a posteridade um acervo documental da sua doutrina.

Para começar, frisamos a preocupação dos autores do artigo em valorizar a técnica historiográfica, que é um justo norteamento para a composição das ideias da arte da História, no sentido de fundamentar o que está sendo publicado e de prevenir o achismo e interpretações pessoais vazias; noutras palavras, é a valorização do aspecto científico no trato com os fatos, na busca por um melhor entendimento sobre os elementos históricos. Ainda a este respeito, os autores lembram que "o próprio Kardec iniciou a prática de preservar seus documentos pessoais, com o intuito de possibilitar que gerações vindouras tivessem acesso aos métodos e ao complexo processo de elaboração dos livros que constituem a estruturação da doutrina espírita."

Allan Kardec

O artigo detalha como o Museu AKOL adquiriu seu acervo e os desdobramentos naturais dessa aquisição: a conservação física dos documentos, tradução, contextualização e publicação através do portal da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF-MG, que mantém o valoroso Projeto Allan Kardec. Mostra e explica, por exemplo, como os manuscritos de Kardec revelam a sua estratégia para se organizar diante de milhares de documentos, através de anotações adjacentes, como códigos de classificação dos temas tratados, do grau de relevancia das menagens mediúnicas, correlação com outros assuntos e indicação para publicação em futuros livros ou na Revista Espírita etc. Isso é o que hoje nós chamamos de "metadados" (metadata, em inglês).

Anotações adjacentes de Kardec codificando seus documentos

Como uma demonstração prática dos metadados anotados por Kardec, os autores contam que: "Algumas comunicações incluem uma marcação de uma classificação -B (bon-bom), TB (très bon-muito bom) ou TTB (très très bon-muito,  muito  bom) -aparentemente refletindo a qualidade do conteúdo dos ensinamentos transmitidos pelo suposto espírito."

Não foi esquecida a análise do modus operandi kardequiano para a elaboração dos seus livros e as devidas atualizações; isso inclui o cuidado do codificador até no preparo dos manuscritos que seriam enviados aos tipógrafos para a montagem da obra: "Assim, quando Kardec elaborava os ‘originais’ para serem publicados, estes deveriam ser redigidos de maneira legível e correta, do contrário a correção das provas poderia ser difícil e exigir um alto custo de retrabalho."  contam os articulistas.

O artigo igualmente analise o cenário pós-kardec e o legado do codificador espírita nas mãos da Viúva Kardec, Amélie Boudet, bem como os seus sucessores.

Amélie-Gabrielle Boudet (Viúva Kardec)

Com isso, vemos a justeza do artigo em evidenciar a importância dos arquivos pessoais de Kardec para o estudo historiográfico do Espiritismo, conforme também fica claro por este recorte do mencionado trabalho:
"Esses arquivos proporcionam uma visão única dos processos de registro, classificação e análise das comunicações espíritas, fundamentais para o método experimental de Kardec. A sistematização de Kardec na organização das mensagens espirituais destaca a importância fundamental dessas comunicações na  construção do espiritismo. Seu método experimental envolveu a coleta, seleção, classificação, análise e interpretação de mensagens, essenciais para o estudo de manifestações físicas e inteligentes. A Revista Espírita desempenhou um papel crucial como  laboratório para estudos mediúnicos, difusão de conhecimentos e troca de informações."


Em suma, está mais do que claro que vale a pena reservarmos um tempinho para conferirmos o artigo O impacto dos arquivos pessoais na historiografia: um estudo de caso sobre o legado de Allan Kardec na era digital, de Adriana Gomes e Adair Ribeiro Júnior.


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