SUS admite Terapias alternativas


O Ministério da Saúde anunciou nesta segunda-feira a inclusão de dez terapias alternativas ao Sistema Único de Saúde (SUS), dentre as quais a terapia por imposição de mãos — que normalmente os espíritas poderiam ler como passe magnético, o passe espírita, aquele tratamento comum nas casas espíritas.

Essa determinação pode ser lida com bastante ânimo pelos espíritas e demais espiritualistas como uma sinalização de uma aproximação mais séria entre a ciência (especialmente a medicina regular) e a espiritualidade.

Mas será mesmo que é isso?

Além da imposição de mãos, anunciou-se que o SUS também vai bancar tratamentos à base das seguintes técnicas: apiterapia, aromaterapia, bioenergética, constelação familiar, cromoterapia, geoterapia, hipnoterapia, ozonioterapia e terapia de florais. Esses procedimentos são chamados de Práticas Integrativas e Complementares (Pics), pois utilizam recursos terapêuticos baseados em conhecimentos tradicionais, voltados para curar e prevenir diversas doenças, como depressão e hipertensão.

De acordo com a pasta, evidências científicas têm mostrado os benefícios do tratamento integrado entre medicina convencional e práticas integrativas e complementares. Mas há resistências em toda parte em aceitar tal justificativa e especulações sobre esse modelo de política pública, tendo em vista a precariedade dos programas governamentais de saúde em nosso país.


Para Carlos Vital, presidente do Conselho Federal de Medicina, não há evidências científicas que comprovem a eficácia dos tratamentos alternativos e integrativos. “Essas práticas não têm base em evidências, portanto, oneram o sistema público e não deveriam ser incorporadas”, afirmou.

Vital disse ainda que os médicos só podem atuar na medicina com procedimentos terapêuticos que tenham reconhecimento na medicina convencional e comprovação científica. De acordo com ele, nenhuma dessas 29 práticas alternativas incorporadas pelo SUS são reconhecidas pelo CFM.

Ele diferencia, no entanto, a acupuntura como especialidade médica. “Essa prática é feita com base em evidências científicas e exige alto grau de complexidade”, afirmou o presidente do CFM.

Para Vital, se um paciente solicitar a um médico a prescrição de alguma dessas práticas integrativas, o ideal seria o profissional explicar e orientar o paciente sobre a medicina baseada em evidências. “O médico deve esclarecer sobre eficácia e as verdades científicas da medicina. O valor científico não existe na prática alternativa. Não é correto ele apoiar ou estimular seu paciente na busca das práticas alternativas.”

Uma questão imediata que deve ser tratada com muito cuidado é exatamente o gerenciamento dos agentes dessas terapias alternativas, ou seja, como selecionar esses "novos terapeutas"? Veja-se, por exemplo, no caso do magnetismo praticado no meio espírita: há uma certa polêmica sobre os métodos utilizados. Há instituições que consagraram certos procedimentos tão sistematizados que não falta quem diga que são "litúrgicos"; também é corrente a questão sobre o sistema prática do magnetismo que, segundo uns, é baseado na transferência de fluídos do passista (eventualmente com o concurso de Espíritos) para o paciente, tese absolutamente negado por outros, que defendem a ideia de que o Magnetismo Animal original de Mesmer — que Allan Kardec reputou ciência irmã do Espiritismo — não era essa (a dos fluidistas), mas a de que a ação curadora provém do impulso magnético positivo que o passista projeto diretamente no campo magnético do enfermo.

Aliás, é bem oportuno para os espíritas, sobretudo os dirigentes de casas espíritas, estudarem mais profundamente sobre a terapia do passe. Recentemente, inclusive, uma obra respeitável foi relançada propondo esse reexame: "Mesmer: a ciência negada do magnetismo animal", de autoria de Paulo Henrique de Figueiredo, que assim sintetiza:

Sobre o passe magnético, segundo o Espiritismo!
Para Mesmer, o passe era um instrumento do tratamento pelo Magnetismo Animal, que consistia em induzir pela saúde do magnetizador, por meio de sintonia, o ciclo natural da cura do paciente. Ou seja, ele mesmo se curava, a força da recuperação estando em seu próprio organismo. A sintonia se estabelece pela vontade e pensamento firmes do magnetizador, por meio de ondas do fluido cósmico universal. Semelhante a um efeito homeopático (tanto que Hahnemann adotou o passe mesmérico).
Todavia, já nos tempos de Kardec, muitos magnetizadores divergiam de Mesmer, acreditando num fluido (substância física) que saía de suas mãos, supostamente manipulado pelos movimentos diversos, atingindo o paciente como um jato! Essa ideia não é a original. Kardec estudou Mesmer (por mais de 35 anos!), investigou o assunto, e questionou os espíritos. Em “A Gênese”, conclui que Mesmer estava certo, a teoria fundamental é a do Fluido Cósmico Universal proposta por ele. Além de distinguir passe magnético, misto e espiritual.
Depois do século 20, porém, espíritas brasileiros inventaram de tirar fluidos ruins e jogar fora, depois pegar fluidos bons e jogar no paciente, imitando também antigos movimentos do passado. Não há nada disso na obra de Kardec nem de Mesmer, em lugar algum! É um sincretismo místico, como tantos, implantados na Doutrina Espírita original! Melhor a simplicidade verdadeira, que elaborações que nada contribuem, difamando a proposta original do Espiritismo. É preciso ler e estudar Mesmer e Kardec para tratar do assunto. Não há outro caminho!

Quanto ao sucesso das Pics propostas pelo Ministério da Saúde para o SUS, vamos aguardar para conferir.



Mas, a propósito dessa temática, disserta o estudioso espírita Jorge Hessen, tocando mais especificamente num aspecto inerente a essa proposta governamental, especto esse que merece a maior reflexão de nossa parte, qual seja o da correlação do passe e a gratuidade do serviço e detalhes afins.

Confira a crônica de Jorge Hessen:
O SUS, as terapias alternativas, o “passe”, as remunerações e o “dai de graça”  
O Ministério da Saúde promulgou a admissão de determinadas “terapias alternativas” ao Sistema Único de Saúde (SUS), dentre as quais a terapia por imposição de mãos (seria o Reiki oriundo do vitalismo, criado em 1922 pelo monge budista japonês Mikao Usui? Ou seria apenas a imposição de mãos sem apelo “religioso” e configurando apenas transfusão magnética tal como ocorre nas casas espíritas? Seria os dois? 
Além da tal imposição de mãos, o SUS também vai bancar tratamentos alternativos como apiterapia, aromaterapia, bioenergética, constelação familiar, cromoterapia, geoterapia, hipnoterapia, ozonioterapia e terapia de florais. Esses procedimentos são chamados de Práticas Integrativas e Complementares (Pics), pois utilizam recursos terapêuticos baseados em tradições populares, voltados para “curar” e prevenir algumas supostas doenças.
Sobre as tais “imposições das mãos”, será que é fator alvissareiro, será que poderá abrir as portas laicas e as mentes para a realidade inquestionável da força do chamado "passe espírita" ou melhor do passe gerido pelos espíritos? Ou será que uma prática tão sublime será banalizado?
O que podemos ponderar sobre tal complexo assunto?
Uma questão subjacente que deve ser abordada com muito cuidado é justamente o gerenciamento dos agentes dessas “terapias alternativas”, isto é, como escolher e nomear esses "profissionais"? Não se pode perder de vista que tais terapias serão aplicadas por “especialistas” contratados, portanto serão “profissionais” devidamente assalariados para tal função! Diante disso, considerando que haja passista espírita entre os terapeutas, respeitando os preceitos cristãos, recomendamos o alerta -“dai de graça o que de graça recebestes.”[1] 
Sobre esse assunto já li sugestões charmosas e outras um tanto quanto absurdas. Uma delas seria a possibilidade dos centros espíritas oferecerem os serviços de passes gratuitamente nas unidades do SUS. Mas, há os incautos que insinuam a destinação do eventual salário aos profissionais para as instituições beneficentes e/ou espíritas.  Ora isto seria um abjeto comércio dos dons mediúnicos. Recordemos que todo serviço espiritual gratuito é padrão da legítima prática espírita. 
Ante esse panorama que está sendo construído na área de saúde pública, certamente haverá “espíritas” que desculparão a própria consciência nutrindo o subterfúgio de que aplicar passe e ser remunerado pelo SUS não é comerciar a caridade do passe. Possivelmente haverá esvaziamento da voluntária doação gratuita do passe nas casas espíritas, pois os passistas “desempregados” estarão disputando vagas no SUS. E se forem contratados, na melhor das hipóteses, estarão cansados à noite para a tarefa espírita. Ou, ainda, na pior da hipóteses, poderão disputar parte do valor que deverá ser revertido a eles próprios que também têm dificuldade financeira. 
Sabemos que há alguns hospitais que ainda não consentem a aplicação de passes quando confrades espíritas visitam os enfermos nas enfermarias. Talvez proíbam por prevenção ideológica ou preconceito médico e ou religioso. Seguramente, diante dessa nova norma do governo, creio que essa oposição poderá ser atenuada. Ou por outro lado, talvez o empecilho aumente, pois, considerando que o serviço será remunerado (pelo SUS), não será fácil convencer que "passistas" profissionais não terão a ideia brilhante de entrar na justiça do trabalho pedindo vínculo empregatício com os hospitais que permitirem o gesto "caridoso". Tudo é possível. O tema é complexo e vai muito além do que talvez estejamos avistando. 
Quem sabe a ação constituída pela chamada liderança espírita junto ao governo seja oportuna nesta circunstância. Afinal de contas o atual governo está bradando por terapêuticas alternativas pelo SUS. Diante de tal desafio, será que o espírita terá capacidade de aprovisionar, de graça, e com preparação organizada dos passistas a fim de formalizar as normas oficiais de procedimento sob o princípio do voluntariado perante os hospitais?
Jorge Hessen
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Referência:
[1] Mateus, 10:8

Fonte: Veja


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