domingo, 25 de novembro de 2018

Artigo "Por que Geração Nova? - O réquiem de Rivail como o mapa de renovação moral da Humanidade" por Marcelo Henrique


Temos a satisfação de compartilhar com todos o seguinte artigo, gentilmente ofertado por Marcelo Henrique para a divulgação em nosso Portal, cuja temática nos remete ao capítulo das esperanças e consolações da codificação espírita e nos estimula a uma posição mais proativa diante de nossos compromissos e capacidades espirituais.


Marcelo Henrique é carioca, residente em Florianópolis-SC, mestre em Direito e atua como auditor fiscal do Tribunal de Contas de Santa Catarina. Divulgador espírita, é também diretor do Grupo Espiritismo com Kardec.

Vejamos o artigo, para nossa reflexão:



"Por que Geração Nova?"
O réquiem de Rivail como o mapa de renovação moral da Humanidade"

Ao findar sua última (e densa) obra, dentro das consideradas fundamentais, Allan Kardec encerra “A Gênese” com o título “A Geração Nova”, no capítulo “Os tempos são chegados”. O mais científico dos livros do professor francês, que descortina aspectos relacionados à origem do(s) mundo(s) e trabalha aspectos de fundamentação e crítica lógica sobre os “feitos” do homem Jesus de Nazaré, não deixa, assim, de tratar de questões que são objeto das religiões em geral, ainda que a interpretação dada por Rivail, com a participação seleta de Individualidades Superiores, alcance um viés bem diferente. 

De início, a expressão “Os tempos são chegados”, dita há praticamente dois mil anos, teve serventia e aplicação para os homens daquele tempo. E atravessou séculos, igualmente oportuna e prescritiva. Assim como, se bem entendida atualmente, nos oferece uma diretriz genuinamente espírita para o viver: a progressividade individual e coletiva, o rechaço à expressão destino programado (a não ser que entendamos “destino” como a felicidade, ou seja, o objetivo maior que alcançará, cada um, após as múltiplas existências) e a condição de artífice pessoal desta felicidade, por cada uma das ações humano-espirituais. Chegados são (e serão) os tempos para semear e colher, para usar o livre arbítrio, para raciocinar e decidir, considerando a não-retroação e a perspectiva, sempre aberta, de construção e reconstrução de si mesmo. 

Nesse sentido, Kardec é pontual: “A maneira pela qual se opera a transformação é muito simples e, como se vê, ela é toda moral e se mantém entre as leis da natureza”. O Codificador, sempre atento, assim, desmistifica e naturaliza os processos de progressividade espiritual, afastando qualquer condição distintiva entre os seres, que não seja o da própria individualidade e o mérito em ter se adiantado, por seu esforço, em relação aos demais. A naturalidade do processo, deste modo, está na submissão permanente do ser às Leis Espirituais (Divinas, Universais) e a impossibilidade de lograr qualquer vantagem ou proveito que não esteja enquadrado nestas leis, ao contrário dos “jeitinhos” e das “farsas” tão comuns ao mundo material, em que as congêneres normas humanas não são, ainda, aperfeiçoadas e não refletem, portanto, a harmonia que vige no Universo. 

É o próprio mestre lionês quem conceitua a “geração nova”, valendo-se do conjunto de informações que, naqueles quase doze anos de produção espírita (e quase quinze de contato com a fenomenologia espiritual), foram sistematicamente apresentados à Humanidade (do seu e dos tempos vindouros). Sim, aquilatamos “A Gênese” como o valoroso réquiem de Rivail, em uma maturidade espiritual e espírita acentuada e flagrante, com um conjunto de informações e vivências que o permitiu manter, sempre, a lógica racional e o bom senso – suas marcas indeléveis – no trato de quaisquer questões, à frente de seu tempo, contrapondo-se à fé cega vigente entre muitos de seus pares e ainda visível em muitos dos que se dizem espíritas, posto que aferrados e apegados à “letra que mata” e não ao “espírito que vivifica”. 

Para Karcec, “A nova geração, devendo fundar a era do progresso moral, distingue-se por uma inteligência e uma razão geralmente precoces, somadas ao sentimento INATO do bem e das crenças espiritualistas. É o sinal incontestável de um certo grau de adiantamento ANTERIOR. Não será composta exclusivamente de Espíritos eminentemente superiores, mas dos que, tendo já progredido, estão dispostos a assimilar todas as ideias progressivas e aptos a secundar o movimento regenerador”. 

Nota-se, desde logo, a necessidade de dois requisitos fundamentais para os artífices da GERAÇÃO NOVA: inteligência e razão. Ou seja, luzes espirituais para entender a dinâmica das leis, afastar-se da dogmática interpretativa (que se mistura e considera informações e “crenças” generalizadas, as quais estão distanciadas da chamada lógica espírita e que, portanto, encontram “fáceis explicações” baseadas na fé e nas interpretações pessoais, baseadas nas vivências e nos conceitos desenvolvidos encarnações afora), assim como, para situações novas, isto é, aquelas que não tenham constado dos livros da Filosofia Espírita (1857-1869), podem ser entendidas “à luz do Espiritismo” desde que, e somente se, forem utilizados os princípios e os fundamentos espíritas para seu descortino. 

Meu querido e inesquecível amigo Jaci Régis, em um de seus maravilhosos textos, provocativos em essência e que ainda motivam a perspicácia interpretativa dos espíritas da “Geração Nova”, certa feita afirmou: “apenas 5% dos espíritas pensam, refletem e contribuem intelectualmente para o crescimento doutrinário”, quando disserta sobre a alegação da existência de um “tríplice aspecto da Doutrina Espírita”, já que neste cálculo jaciano, 4% se dedicaria à filosofia e 1% à ciência, ficando os 95% restantes envolvidos em “questões religiosas” ou de estrita religiosidade. E conclui, ele: “o religioso por supor que as verdades já foram todas reveladas, não exercita a pesquisa, nem a dúvida, fonte de questionamentos e progresso” (REGIS, Jaci. O terceiro aspecto. NOVAS IDEIAS: Textos reescritos. Santos: ICKS, 2007). 

Esta dogmatização do Espiritismo, que se centra em Kardec e não permite novas incursões em pesquisas, experimentos e raciocínios é, em si, contraditória, porque, ao impedir que sejam “discutidos” ou, até, “contestados” os textos kardecianos, tomando-os como uma “bíblia” ou “a palavra dos Espíritos Superiores”, ao mesmo tempo, inclui como obras “subsidiárias” ou “complementares” – estes dois termos transitam com alguma naturalidade entre instituições, federações, médiuns e destacados dirigentes – as produções mediúnicas brasileiras, sobretudo aquelas ditadas por meio dos mais produtivos médiuns em nosso país, desde a década de 20, mas também inclui manifestações de “oradores consagrados”, os quais, além das participações em seletos eventos, alguns para multidões passivas, ainda recebem o acréscimo da reprodução de palestras ou entrevistas, por vídeos disseminados à vontade nas redes sociais. 

O “velho” e bom Herculano Pires, nossa sempiterna referência após Kardec, já teria, antes de 1979, ano de seu desencarne, afirmado: “FALA-SE MUITO EM ESPIRITISMO, MAS QUASE NADA SE SABE A SEU RESPEITO. Kardec afirma que a força do espiritismo não está nos fenômenos, como geralmente se pensa, mas na sua filosofia, o que vale dizer na sua mundividência, na sua concepção da realidade. [...] Os adversários do espiritismo desconhecem tudo a respeito e fazem tremenda confusão. Os próprios espíritas, por sua vez, na sua esmagadora maioria, estão na mesma situação. [...] Os adversários partem do preconceito e agem por precipitação. Os espíritas, em geral, fazem o mesmo: FORMULARAM UMA IDEIA PESSOAL DA DOUTRINA, um estereótipo mental a que se apegaram. A maioria, dos dois lados, se esquece desta coisa importante: o espiritismo é uma doutrina que existe nos livros e precisa ser estudada (PIRES, Herculano. INTRODUÇÃO À FILOSOFIA ESPÍRITA. Capítulo 2. Filosofia e Espiritismo. São Paulo: Paidéia, 2005. Nossas as marcações). 

Assim sendo, seja na “vida real”, isto é as vivências cotidianas em instituições espíritas, mormente nos grupos de estudo e nas reuniões públicas (palestras), tem-se um sem-número de neófitos espíritas, que sequer conhecem o conjunto das obras, grande parte deles “erigido” à condição de palestrante, divulgador ou “facilitador” de um grupo de estudos em face da (aparente) erudição que apresentam ou ainda porque, em suas falas, permeiam afirmações pessoais intercaladas por expressões atribuídas ou ditas (escritas) por Kardec, pelos Espíritos Superiores ou por algum escritor de renome, ou, também, com a expressão (fácil) que “coloca na boca” de alguém algo que ele jamais disse ou escreveu. Fala-se, por exemplo, que “fulano disse isso”, “beltrano escreveu aquilo”, ou que a “última mensagem dada pelo espírito X, por meio do médium Y, afirma tal ou qual”. 

Assim como nas redes sociais é muito comum vermos belos banners ou cartazes com frases interessantes e oportunas, e a assinatura deste ou daquele vulto histórico ou personagem da Humanidade e, depois, alguém informar que aquela personalidade jamais disse ou escreveu tal pensamento e que o mesmo teria sido dito por outro, não tão expoente assim, tem-se um sem número de frases atribuídas a Kardec, a Chico Xavier, aos espíritos da mediunidade brasileira e ao próprio professor Herculano. 

E a massa vai aceitando e repetindo, assimilando e reproduzindo, distanciando-se, assim, do chamado “método kardeciano” de investigação lógica e raciocínio aplicado, para se transformar, meramente, em reprodutores de máximas e axiomas ou, para nos valermos de outra formidável expressão herculanista, comportando-nos como “papagaios de tribuna” que apenas repetem frases de efeito e citações – até sem sinergia e pertinência, entre si. 

Por vezes, eu – e, penso, você também – está “cansado” do padrão “exposição doutrinária” tradicional das instituições espíritas. Voltando a Jaci (obra citada), repicamos: “A massa que procura um centro raramente pensa na Doutrina Espírita, quer receber um alívio, real ou hipotético, desvendar mistérios, receber uma comunicação de um ente querido ou orientação para suas vidas, vindas do além” e “vão a centros que, praticamente, foram criados para atender a esses desejos. Para isso, toleram, quando existem, as palestras RÁPIDAS e DE ESTRUTURA MORALISTA”. 

Então, são muito raras, diz Regis, as instituições que se centram nos estudos e na dinâmica compreensão da Doutrina, os quais atraem os que querem, de fato, conhecer o Espiritismo e esclarecer as (muitas) dúvidas que decorrem das leituras individuais. Este público – que vem aumentando, é só perceber nas discussões das redes sociais, por exemplo, ou nos depoimentos de pessoas que deixaram de frequentar as instituições tradicionais, calcadas neste modelo acima descrito – está cansado de “centros prestadores de serviços”. Esse padrão religioso, de “templo”, “casa de oração e caridade”, “igreja” ou “entidade religiosa” é majoritário e predominante em nosso país porque – inspirando-nos em conhecida e repetida propaganda de uma das maiores indústrias de biscoitos do país – “é melhor porque atrai mais gente e atrai mais gente porque é melhor”, num padrão de consolo rápido e instantâneo, “ensinando” as pessoas a se conformarem com suas vidas (e as agruras que nelas existem). Jesus não foi um conformado com o status quo. Kardec não se conformou com o padrão de interpretação de mensagens espirituais. Herculano não quedou em conformidade com os absurdos e as adulterações de livros e a imposição de elementos estranhos à filosofia espírita. Jaci não ficou impassível diante do extremo e excessivo padrão de religiosismo imposto às instituições pelos organismos federativos. E querem que os espíritas sejam apenas “brandos e pacíficos” e conformados à mentalidade de rebanho. 

Por fim, como incentivo para esta “Geração Nova” que aí está e que tem nos surpreendido pela dinâmica e pelo entusiasmo em MUDAR o que está aí, a décadas ou mais de século, posto, em termos de “padrão” de organização e desempenho institucional, inclusive em homenagem ao grupo “Espiritismo COM Kardec”, que já se aproxima, um ano e meio depois de sua criação, ao sétimo milhar de participantes, gosto sempre de repetir a advertência fraternal dos Espíritos Superiores a Kardec (e a nós), acerca da necessidade de influenciação no Progresso, a partir do despertamento individual para alcançar o coletivo (e considere-se, com pertinência, um dos principais “coletivos” em que estamos inseridos, a casa espírita ou o próprio movimento espírita que é o somatório das casas individuadas), aposta na resposta ao item 932, de “O livro dos espíritos”: “Os maus são intrigantes e audaciosos; os bons são tímidos”. Veja-se que a tonalidade de “mal” (os maus) pode alcançar infinitas contexturas. Aqui, em nosso artigo, o mal está associado à secularização e instituicionalização religiosa do Espiritismo, freando a marcha progressiva e impedindo que o mesmo seja entendido e praticado por aqueles que não se conformam ao pensamento de crença. Mas os Espíritos Superiores não vaticinam qualquer resultado final, pelo contrário, no que prescrevem, finalizando tal resposta: “Estes [os bons, os interessados, os despertos], quando o quiserem, assumirão a preponderância”. 

Chegou o tempo (Jesus) de eles (nós) assumirmos a preponderância, como membros que desejamos ser desta “Geração Nova”!
Marcelo Henrique

Marcelo Henrique é carioca, residente em Florianópolis-SC, mestre em Direito e atua como auditor fiscal do Tribunal de Contas de Santa Catarina. Divulgador espírita, é também diretor do Grupo Espiritismo com Kardec.

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