"Reuniões mediúnicas virtuais são inconvenientes?", reflexões sobre a nota da FEB


A Federação Espírita Brasileira publicou no dia 12 deste mês de maio, 2020, um ofício assinado por Jacobson Sant´Ana Trovão, coordenador nacional da Área da Mediunidade – FEB/CFN, sob o título "Inconveniências das reuniões mediúnicas virtuais", o que já tem gerado certa repercussão, contra e a favor das anotações e recomendações oferecidas pela FEB.

Em suma, os apontamentos da federação são:
  1. A aparelhagem eletrônica que ainda se tem no plano físico é por demais grosseira para servir de intermediária das vibrações sutis da esfera espiritual e confere uma falsa sensação de segurança.
  2. A ausência de apoio presencial da equipe mediúnica aos médiuns psicofônicos e aos dialogadores impede que o transe mediúnico ocorra com a segurança desejável, uma vez que, durante o transe, o médium afasta-se parcialmente do corpo físico, pelo processo de desdobramento espiritual. Nessa situação de baixa tensão psíquica e de estreitamento do campo conscientizal, pode ocorrer algum incidente relacionado à manifestação do Espírito comunicante, que pode gerar má repercussão no psiquismo e/ou corpo físico do medianeiro, que está entregue a si mesmo, sem apoio de terceiros.
  3. O lar não oferece as barreiras vibracionais protetoras e homogêneas encontradas nos Centros Espíritas, o que pode representar um estado de vulnerabilidade aos familiares encarnados. Trata-se de uma situação efetivamente delicada, que dificulta a ação dos benfeitores espirituais contra a invasão de Espíritos levianos ou dos perturbadores, antes, durante e após a sessão mediúnica. Por mais que os protetores espirituais se habilitem para formar tais barreiras, elas somente seriam eficazes se o lar efetivamente estivesse comprometido com a tarefa de se tornar local para a prática mediúnica, o que não é o caso. A sala mediúnica, entretanto, é preparada com grande antecedência e ali permanecem presentes vigilantes espirituais, prontos a intervir se alguma anomalia ocorrer. É sempre oportuno rever este esclarecimento de Manoel Philomeno de Miranda:
    "Uma reunião mediúnica de qualquer natureza é sempre uma realização nobre em oficina de ação conjugada, na qual os seus membros se harmonizam e se interligam a benefício dos resultados que se perseguem, quais sejam, a facilidade para as comunicações espirituais, o socorro aos aflitos de ambos os planos da vida, a educação dos desorientados, as terapias especiais que são aplicadas, e, naquelas de desobsessão, em face da maior gravidade do cometimento, transforma-se em clínica de saúde mental especializada, na qual cirurgias delicadas são desenvolvidas nos perispíritos dos encarnados, assim como dos liberados do corpo, mediante processos mui cuidadosos, que exigem equipe eficiente no que diz respeito ao conjunto de cooperadores do mundo físico." (FRANCO, Divaldo Pereira. Sexo e obsessão. Pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. 8.ed. 3. imp. Salvador: Leal, 2019, cap. 5, p. 79-80.)
  4. 4) A influência do meio é, pois, fator relevante e está, necessariamente, relacionada à qualidade da prática mediúnica. Conhecedores da sua importância, os integrantes da reunião mediúnica séria aprendem a agir de forma integrada, unidos entre si como em um “feixe”, no dizer do Codificador, que afirma: “Uma reunião é um ser coletivo, cujas qualidades e propriedades são a resultante das de seus membros, formando uma espécie de feixe. Ora, quanto mais homogêneo for esse feixe, tanto mais força terá.”
  5. Recordemos que as entidades desencarnadas enfermas atraídas para um lar que se presta a realizar uma sessão mediúnica irradiam naturalmente no ambiente seus fluidos deletérios, que podem ser assimilados pelos moradores, causando perturbações diversas. Toda cautela é recomendável no esforço de realizar reunião mediúnica virtual, para a qual não estamos adequadamente preparados, e, também por desconhecermos quais cuidados seriam necessários e as implicações que poderiam decorrer de tal ação.
  6. O bom senso nos leva ao entendimento de que os benfeitores espirituais, sabendo da impossibilidade da realização da reunião mediúnica, pela suspensão das atividades decorrentes do momento social que se atravessa, em hipótese alguma, conduziriam entidades desencarnadas enfermas para se sintonizarem com os médiuns psicofônicos e demais trabalhadores do grupo mediúnico, estando cada um isolado em suas respectivas residências
  7. A mediunidade exercida no lar é um retorno às práticas superadas, pois desde muito os Espíritos Superiores têm ensinado que o Centro Espírita é o local favorável à reunião mediúnica: “No templo espírita, os instrutores desencarnados conseguem localizar recursos avançados do Plano Espiritual para o socorro a obsidiados e obsessores. [...].”
  8. Mesmo no Mundo Espiritual, quando se realizam sessões de intercâmbio com apoio em aparelhos e equipamentos variados, não se dispensa a formação do grupo presencial, pois a proximidade física auxilia na proximidade psíquica.
  9. É possível que, nas reuniões mediúnicas virtuais, ocorra maior desgaste psicossomático dos médiuns, em especial dos psicofônicos, indicados para atender Espíritos necessitados de auxílio. Seja na manifestação de entidades elevadas ou não, exige-se da equipe espiritual uma maior veiculação de ectoplasma e outros elementos fluídicos para a sustentação do transe e posterior recuperação fluídica dos médiuns. Se tal reposição fluídica não for feita pela falta de estrutura do lar ou do próprio medianeiro, podem surgir prejuízos que serão repercutidos na sua saúde.
  10. Importa avaliar que a suspensão das atividades práticas convida à reflexão e ao pleno domínio dos médiuns, aprendizado útil ao seu desenvolvimento mediúnico. Além do mais, a pessoa não é médium apenas em dia e horas específicos. A influência dos Espíritos acontece ininterruptamente, de forma sutil ou ostensiva. Sendo assim, o médium deve manter-se atento diuturnamente. Nunca é demais lembrar o que consta em O livro dos espíritos, questão 459, em que Kardec interroga aos orientadores espirituais: Os Espíritos influem em nossos pensamentos e atos? A resposta foi: “Muito mais do que imaginais, pois frequentemente são eles que vos dirigem.”
  11.  O auxílio aos Espíritos que sofrem ou que fazem sofrer pode ser prestado por meio da prece e irradiações mentais (vibrações espirituais). Afirma o Espírito Efigênio Vitor: “Em verdade, contudo, por meio da oração, convertemo-nos em canais do socorro divino, apesar da precariedade de nossos recursos [...].“
  12. Além do mais, a simples manifestação mediúnica não garante que desencarnados seriam, efetivamente, beneficiados, como esclarece o benfeitor Emmanuel:
    "Nas reuniões doutrinárias, os médiuns são úteis, mas não indispensáveis, porque somos obrigados a ponderar que todos os homens são médiuns, ainda mesmo sem tarefas definidas, nesse particular, podendo cada qual sentir e interpretar, no plano intuitivo, a palavra amorosa e sábia de seus guias espirituais, no imo da consciência." (XAVIER, Francisco Cândido Xavier. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 29. ed. 1 imp. Brasília: FEB, 2013, q. 375, p.243.)
  13. Os benfeitores espirituais sabiam previamente da ocorrência do momento mundial que se atravessa, mas em momento algum estimulariam alternativas contrárias às normas dispostas na Obra da Codificação, em especial O livro dos médiuns, sobre a necessidade da formação presencial ou virtual de grupo mediúnico para prestar socorro aos enfermos dos dois planos da vida. Abrir precedentes é dar exemplo negativo à coletividade, que o espírita sincero deve de todo evitar.
  14. Finalmente, recordemos que ser dócil e obediente às leis, como no caso que se desenvolve na Terra, é demonstração de humildade e de segura elevação espiritual, evitando buscar alternativas para a realização de sessões mediúnicas, como sessões virtuais que desatendam às orientações dos Mentores Luminares.
Leia a publicação da FEB na íntegra.


NOSSA OPINIÃO

A tecnologia oferece seus escolhos, sem dúvidas, mas tem muito mais a oferecer positivamente. De modo que, certamente, não pode ser descartada, nem mesmo no terreno da mediunidade. O caso é, pensamos, de orientar a prática, não a de censurá-la.

Igualmente pensamos que não podemos engessar o canal mediúnico através de uma pretensa "institucionalização", condicionando-o á casa espírita ou qualquer outra entidade. Não se duvida que uma boa instituição espírita oferece mais recursos e mecanismos de segurança para o exercício da comunicação com os Espíritos; mas, definitivamente, isto não é em absoluto. Aliás, vamos dizer, "escorado" na equipe, certos participantes podem até se acomodar, pensando se valer de uma proteção externa oferecido pelos confrades e entidade que frequenta.


Além disso, a mediunidade caseira não apenas é admitida na Codificação Espírita como também é encorajada; em O Livro dos Médiuns (cap. XVII), por exemplo, Allan Kardec ensina o roteiro para os ensaios da psicografia, por considerar este o gênero mais conveniente e prático de intercâmbio espiritual.

Médiuns respeitáveis têm exercido sua mediunidade em domicílio e até em lugares muito pouco favoráveis, justamente para que aí se manifeste as potências espirituais. Chico Xavier, por exemplo, entrava em transe mediúnico e por eles prestava grandes serviços onde quer que estivesse. E não se pode querer ser um Chico Xavier? Ora, se Jesus disse que, com fé, podemos fazer até mais do que o Cristo, por que não podemos pretender ser um bom médium, independentemente do local de atuação?


Não é o método nem as condições físicas que mais implicam na mediunidade, pois não há barreiras materiais que possam se opor aos Espíritos superiores: a questão capital é a intenção dos evocadores e a utilidade do pretendido intercâmbio. Não se poderia condenar sequer "a brincadeira do copo", como metodologia, ou o da tiptologia, como no fenômeno das Mesas Girantes; mesmos esses instrumentos primitivos, se comparado à praticidade da psicografia, poderiam ser aplicáveis sem problema algum considerando a honestidade das intenções e a prudência na efetivação da evocação, tal como o Espiritismo nos ensina.

A força do pensamento transcende distâncias e pode se valer habilmente dos meios tecnológicos para reunir confrades realmente unidos por um ideal justo e oportuno em face das potências mediúnicas. Não é este o propósito dos pesquisadores envolvidos com a TCI - TransComunicação Instrumental? Por que não a aparelhagem ligando Terra e plano espiritual? Por que não pensarmos que no futuro poderemos ter um dispositivo celular que faça chamadas para o além por holografia?

O que se é de lamentar é a banalização desses recursos, a espetacularização da fenomenologia e a autopromoção dos que se atrevem a brincar com a espiritualidade. Mas, ainda assim, tais ocorrências não deixam de ser ensaios, e as consequências que lhes venham recair são também ensejo para  o seu aperfeiçoamento.

Repetimos, pois, que o caso é de melhor formação para a prática, e não o de proibição, que, aliás, é inócua, do ponto de vista que não se pode impedir.

Confira também a conversa entre os confrades Ruy Marcelo e Jorge Medeiros, intermediada por Eric Pacheco, via Youtube:


E você? O que acha dessa questão?

Comentários

  1. Devido aos serviços prestados pela FEB ao espiritismo brasileiro eu sempre fico com um pé atrás, basta lembrar que a FEB somente retirou de seu Estatuto o estudo do rousteinguismo como base doutrinária do espiritismo em agosto de 2019.
    Quanto ao assunto em si, não acho que seja uma questão de se é possível ou não fazer uma reunião mediúnica à distância, mas sim de conveniência frente à situações adversas.

    O fato de uma comunicação mediúnica ser através do circuito mente-a-mente, perispírito-a-perispírito já me faz pensar no motivo de ser mencionado no primeiro item do comunicado como inconveniente o fato de uma reunião mediúnica ser feita através de aparelhos eletrônicos grosseiros para a intermediação de vibrações sutis da esfera espiritual (...), pois se assim fosse, não seria mais uma reunião mediúnica, na acepção da palavra. O trabalho dos pesquisadores de TCI, tais como Sonia Rinaldi, Hernani G. Andrade, dentre outros é focado numa linha direta na comunicação com os desencarnados, sendo uma alternativa à mediunidade.
    Talvez a reunião virtual seja mais para colocar as pessoas em contato visual, conversa e troca de impressões do que especificamente para que a mediunidade seja feita através do computador.

    A ubiquidade dos espíritos auxiliadores da sessão mediúnica teria que ser bastante limitada, ombreando com a limitação da matéria densa para não poderem recolher os fluidos dos médiuns, que trabalham sincronizados, porém separados fisicamente, que têm como foco e objetivo único um mesmo trabalho específico naquele momento. Não teriam mais a velocidade do pensamento para se locomoverem.
    O mesmo se aplica aos espíritos que trabalham nas barreiras fluídicas em torno dos médiuns. Estes só conseguiriam fazer bem a assistência se estivessem em local específico (centro espírita, igreja etc)? Se assim fosse, também cairia por terra a questão da seriedade e recolhimento íntimo no objetivo do trabalho espiritual, pois o que mais importaria seria o local.

    Gostaria de chamar a atenção para três pontos:
    No item 11 utilizaram de uma obra de Chico Xavier para falar da precariedade de recursos dos espíritos para a boa realização das atividades mediúnicas. A frase me parece um tanto deslocada de contexto, fazendo parecer que toda atividade de ajuda espiritual é, a priori, deficiente, quando na verdade o Espírito está demonstrando humildade para com o trabalho prestado. Utilizando-me também de outra obra do mesmo autor, nos é informado que numa casa onde se faça o evangelho no lar com seriedade, os espíritos dela se utilizam para levar outros desencarnados que necessitem de uma palavra edificante ou mesmo um tratamento psíquico, logo não é só no centro espírita que as ajudas espirituais podem ser realizadas.
    No item 13 falam na inexistência de menção à formação virtual (sic) de grupo mediúnico no Livro dos Médiuns!! Isso não era uma realidade daquele tempo! Onde o caminhar par e passo com a ciência, pregada por Kardec??? Fora a presunção de dizerem que os Espíritos superiores não pensariam em alternativas para o trabalho mediúnico durante a situação adversa que vivemos.
    Finalmente no item 14 há uma clara pregação de obediência passiva, nos mesmos moldes das religiões heterônomas, estando em desacordo com o que prega o espiritismo sobre livre arbítrio, livre pensar e evolução.

    Creio que o maior problema das sessões mediúnicas virtuais seja o uso indiscriminado e banalizado de tal alternativa, causando uma certa preguiça dos assistidos em visitar ou frequentar uma casa espírita, realizarem sua reforma intima, dedicarem-se à própria espiritualidade e outras atitudes negligentes para consigo mesmos; daí para começarem a acender velas virtuais e ouvirem palestras enquanto dormem é um piscar de olhos.

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  2. Concordo com a opinião do Luz Espirita.

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  3. Eu penso que, ao engessarmos o processo em um único local, causa o êxodo da mesma forma que já acontece, onde há muita cerimônia e dogmas, há exôdos.
    Infelizmente vejo a motivação para a volta aos templos em muitas religiões, mesmo sendo óbvio que a movimentação e contato pode causar muita transmissão do covid. Estamos com a chance de aprender a encontrar Deus e a Harmonia em nosso lar, aprender a conviver em família e cultivar a simplicidade, longe de motivação de consumo e de burburinhos.
    Respeito as entidades e a experiência, mas já sabemos que: A PANDEMIA SURGIU PARA DESACELERARMOS E NOS CONHECER.

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