quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Artigo "Lei de Ação e Reação NÃO é Lei de Causa e Efeito" por Jorge Medeiros



Recebemos a sugestão do artigo a seguir e julgamos muito interessante para nossa reflexão, tanto que aqui o compartilhamos com todos. Como o próprio título deixa claro, o texto "Lei de Ação e Reação NÃO é Lei de Causa e Efeito", redigido por Jorge Medeiros, estudante de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro, oferece as justificativas para distinguirmos os diferentes conceitos expostos, mas que comumente são postulados pelo senso comum como ideias semelhantes.

Confira as ricas análises e deixe seu comentário a respeito.


Lei de Ação e Reação NÃO é Lei de Causa e Efeito

O primeiro procedimento adotado por Allan Kardec na abertura da gigantesca obra da Codificação foi se preocupar com as questões filosóficas, desta forma, o mestre inaugura a Doutrina dos Espíritos em seu primeiro parágrafo:
“Para se designarem coisas novas são precisos termos novos. Assim o exige a clareza da linguagem, para evitar a confusão inerente à variedade de sentidos das mesmas palavras." O Livro dos Espíritos - Introdução.
Pode-se notar que evitar ambiguidades era uma das tarefas a ser cumpridas.

Para minha surpresa, ao pesquisar para este artigo, não encontrei, formalmente, em nenhuma parte da Codificação ou na Revista Espírita a definição Lei de causa e efeito. Encontramos o axioma (*): para todo efeito existe uma causa e não há causa sem efeito. Essa máxima vulgarizada nas obras do mestre como um princípio, foi transformada em lei por espíritos pós-codificação, isto é, a partir deste axioma se torna, facilmente, dedutível a lei implícita. A Lei de causa e efeito, ensinada por alguns espíritos tem um caráter moral e também físico; ao agirmos no universo, cada ato tem uma consequência, cada gesto, cada pensamento se reflete no universo micro e macro cósmico. O fato de refletir não traz a ideia de uma reação imediata e implacável, por exemplo, quando alguém deseja um mal, o objeto receptor, não tem a obrigação de devolver o mal na mesma moeda, desta forma, uma ação pode desencadear infinitas possibilidades de consequências.

Confunde-se a 3ª Lei de Newton, que é uma restrita lei física, já que as leis de Newton não valem nos limites quânticos nem relativísticos, com o princípio de causa e efeito. Define Newton, em sua obra Principia, o princípio da Ação e reação:
A qualquer ação se opõe uma ação igual, ou ainda, as ações mútuas de dois corpos são sempre iguais e se exercem em sentidos opostos.
Se um dedo aperta uma pedra, a pedra apertará o dedo, se um cavalo puxa uma corda, a corda puxará o cavalo. Aplicado ao pé da letra, em todas as situações ocorreriam da mesma forma; como exemplo, se uma pessoa te feriu, ela deverá ser, por você, ferida da mesma forma e com a mesma intensidade. Outra questão é que a lei de ação e reação atua em corpos diferentes e nunca se anulam. A reação sendo “positiva ou negativa” nunca poderia anular a ação, logo, o mal nunca poderia anular o bem.

O princípio de causa e efeito, ensinado pelos espíritos, diz que quando há abuso do livre-arbítrio, a causa e o efeito estão na pessoa; quando se faz o bem, a causa está em na pessoa, e o efeito também. Quando afirma-se: Aquilo que plantar, isso mesmo irá colher. O que significa colher? Sofrer as consequências do ato, sendo este bom ou mau. Sabemos da misericórdia Divina que perdoa e ensina, não sendo necessário que uma pessoa que matou tenha que morrer nas mesmas circunstâncias. Mesmo se fosse, não seria uma aplicação da lei de ação e reação, sendo a lei de Talião, proclamada por Moisés, mais próxima deste princípio.

Causa e efeito material: Poderia usar infinitos exemplos, porém, contentar-me-ei apenas com um: se uma pessoa de tez branca ficar exposta à irradiação solar, sem proteção alguma, por horas e horas, ela estaria sujeita a dois tipos de efeitos possíveis: os efeitos determinísticos que são os que aparecem imediatamente, como queimadura e insolação, e os efeitos estocásticos que podem se manifestar ou não, como o câncer.

Causa e efeito moral: sabemos que os efeitos estocásticos podem estar relacionados com os problemas morais, pois somos seres trinos (espírito, perispírito, corpo-físico). Uma pessoa que matou não tem a necessidade de morrer, podendo passar por dificuldades e saldar sua dívida. Quando alguém nos deseja o mal, podemos anular os efeitos, em nós, pela oração e prática no bem, mas os efeitos no agente cabe, a ele mesmo, minimizá-lo pela reforma interior.

Lei do Carma: Alguns espíritos espíritas, como Bezerra de Menezes, utilizaram essa expressão, mas não é um termo do vocabulário Kardequiano, visto que o codificador conhecia a expressão, mas não utilizou devido às suas formas de serem interpretadas. Ensina-nos Herculano Pires:
A palavra carma (em sânscrito karma ou karman e em pali kamma) utilizada na Índia e por muitas correntes filosóficas religiosas, significa em primeira instância “ação”, “trabalho” ou “efeito”. No sentido secundário, o efeito de uma ação, ou se preferirmos, a soma dos efeitos de ações (vidas) passadas se refletindo no presente.
Na concepção hindu, carma quer dizer “destino” (canga) determinado ou fixo, ou seja, aqueles cujos atos foram corretos, depois de mortos renascerão através de uma mulher brâmane (virtuosa), ao passo que aqueles cujos os atos foram maus, renascerão de uma mulher pária (castas inferiores) e sofrerão muitas desgraças, acabando como simples escravos. (2)
A lei do carma aproxima-se da interpretação da Lei de ação e reação, porém, mesmo essa “lei”, nunca será igual à lei Newtoniana.

Nós, espíritas brasileiros, temos facilidade em aceitar conceitos novos e sofrermos influência das novidades ou tendência a agregar a nossa cultura a termos estrangeiros ou alienígenas à codificação. Esse é um erro que cometemos, muitas vezes repetimos frases de efeito, máximas e nem nos detemos em reflexões, para após essas reflexões e um estudo baseado na codificação tirarmos consequências. Mesmo que esses termos sejam velhos como a história, devemos ter cuidado. O cuidado não significa um vão preciosismo, sendo um zelo sem sectarismo.

A Lei de causa e efeito é totalmente conforme o Espiritismo, já a lei de ação e reação está totalmente disforme aos princípios que o Espiritismo veio proclamar. Fujamos dos modismos e abracemos a simplicidade, para, desta forma, errarmos menos.

(*) O termo axioma é originário da palavra grega αξιωμα (axioma), que significa algo que é considerado ajustado ou adequado, ou que tem um significado evidente. A palavra axioma vem de αξιοειν (axioein), que significa considerar digno. Esta, por sua vez, vem de αξιος (axios), significando digno. Entre os filósofos gregos antigos, um axioma era uma reivindicação que poderia ser vista como verdadeira sem nenhuma necessidade de prova.

_Lei, no sentido científico, é uma regra que descreve um fenômeno que ocorre com certa regularidade.

_Princípio: Lei fundamental.

Jorge Medeiros
estudante de Física (UFRJ)


Referências bibliográficas

1. Allan Kardec: O Livro dos Espíritos, O que é o espiritismo, A Gênese, O Livro dos médiuns, O Céu e o Inferno, Obras póstumas, o Evangelho segundo o espiritismo, O principiante espírita, Manual prático de médiuns e evocadores, O espiritismo na sua mais simples expressão, Revista Espírita - 12 volumes.

2. O Verbo e a carne - Herculano Pires

3. Sabedoria do Evangelho - 8 volumes - Carlos Torres Pastorino.

4. Física básica - Lucie, Pierre. Editora Campus Ltda.

5. SIR Isaac Newton - Os pensadores. Editora abril cultural.

6. Ação e reação - André Luiz FEB.



2 comentários:

  1. O AUTOR DIZ: "Para minha surpresa, ao pesquisar para este artigo, não encontrei, formalmente, em nenhuma parte da Codificação ou na Revista Espírita a definição Lei de causa e efeito.” [...]

    EM PRIMEIRO LUGAR, realmente não havia necessidade da definição formal de "lei de causa e efeito" por tratar-se de conceito há muito estabelecido. Pode-se dizer que era quase senso comum. Quem mais se aprofundou no estudo dessas leis foram os escolásticos. Pena que a escolástica, a verdadeira foi abandonada na formação das novas gerações. Por este motivo, hoje essa lei parece algo estranho, quando na verdade basta procurar nos antigos ensinamentos de lógica que nos depararemos com ela a todo momento. Não havia necessidade de Kardec definir aquilo que já havia sido definido ha pelo menos uns oitocentos anos.

    E CONTINUA: “[...] Encontramos o axioma (*): para todo efeito existe uma causa e não há causa sem efeito.”.

    O QUE SIGNIFICA “PARA TODO EFEITO EXISTE UMA CAUSA? significa que se algo foi feito (ex-facto), isto é, foi “feito para fora”, ou seja, saiu da sua causa e se manifestou na existência, é por que estava latente em algum lugar ou coisa. Se vejo um fato imediatamente entendo que para ele existe uma causa que o gerou. Se o fato aconteceu, se PATENTEOU-SE, é porque já estava LATENTE em algum lugar ou coisa. Todo efeito já estava latente em alguma causa.

    O QUE SIGNIFICA “NÃO HÁ CAUSA SEM EFEITO? Significa que toda causa produz efeitos, pois os efeitos já estão implícitos na causa. Agora, isso não quer dizer que os efeitos sejam aleatórios. A patência dos efeitos se dá quando as condições extrínsecas à causa são favoráveis.

    E SEGUE DEPOIS: “Essa máxima vulgarizada nas obras do mestre como um princípio, foi transformada em lei por espíritos pós-codificação, isto é, a partir deste axioma se torna, facilmente, dedutível a lei implícita.”.

    LAMENTO INFORMAR QUE A RELAÇÃO DE CAUSA E EFEITO não foi transformada em lei por espíritos pós-codificação. Uma lei universal não pode ser criada por seres contingentes, ainda que sejam espíritos superiores. CAUSA E EFEITO pode ser, sim, um axioma, ou seja, um princípio que não necessite de explicação, de tão evidente! Mas um axioma não pode ser transformado em lei. Na verdade, são as leis que podem ser entendidas como axiomas.
    O significado de “lei” é que certos efeitos estão “fechados” dentro de determinados limites, dadas certas condições, não podendo ultrapassá-los. Quer dizer, leis são determinadas, tem um circulo de abrangência. A etimologia de lei está no vocábulo “Lex”, que tem origem na raiz indo-europeia “lec”, que tem o sentido de fechar, estar fechado, encerrado: os efeitos estão encerrados na causa! Estão IMPLICITOS na causa!
    O termo implícito vem de do latim PLIC, ou seja, dobrar. Assim, implícito significa que os efeitos estão por dentro da causa (IN), “dobrados”, envolvidos na causa. Por isso que para entender um efeito precisamos EX-PLIC-á-lo, ou seja, trazê-lo para fora, abstraindo-o da causa. Por isso precisamos dar “EXPLICações”.

    A lei de causa e efeito é um PRINCÍPIO UNIVERSAL. Isto significa que está presente no universo, mas que também é uma lei inerente a ele.

    É dito no Livro dos Espíritos que as LEIS MORAIS são LEIS NATURAIS. Logo, se são naturais, são leis inerentes à criação, porquanto NATURAL significa “algo que foi criado”. Assim, a lei de causa e efeito, que subordina também a dimensão moral dos entes, é uma lei inerente à criação.

    Só Deus é não-criado, portanto, ele não se subordina à lei de Causa e Efeito.

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