Setembro Amarelo: Suicídio de jovens e uma dose de "choque de realidade"
Se você é bem próximo de um adolescente (seu filho, sobrinho, neto etc.) e este apresenta ou já apresentou alguma manifestação minimamente favorável à ideia de suicídio, este recado é para você: é hora de uma boa reflexão sobre a possibilidade de uma dose de "choque de realidade".
Sim, é crescente o número de suicídio entre jovens, adolescentes e até crianças. Esta é uma terrível realidade de nossos dias e precisa ser encarada com muita seriedade e competência. Quanto à seriedade, diremos que envolve uma conscientização de que é preciso fazer algo, muito mais do que rezar, inclusive; sobre competência, enfatizamos que nenhuma terapia puramente psicológica ou psicanalista é suficiente: está é uma questão claramente espiritual e requer ser tratada com espiritualidade. E para tal fim, ignoramos outra doutrina que ofereça as ferramentas mais adequadas que o Espiritismo.
Lancemos então nosso olhar sobre o estilo de vida atual.
Realidade atual: materialismo prático
Salvo raríssimas exceções, os lares estão revestidos de um materialismo prático — embora muitos se declarem espiritualistas, crentes em Deus, cristãos até; tudo aí gira em torno das necessidades da vida atual, sob a ilusão da matéria, no ideário de que se é o corpo, que seu status social neste classifica seu verdadeiro valor e todas as decisões do cotidiano miram basicamente o bem-estar físico e material; quando se vai à missa, culto ou se pratica qualquer tipo de religiosidade, faz-se isso normalmente sob a perspectiva de estar cumprindo um "dever burocrático", como "bater o ponto", julgando-se ficar quite com suas "obrigações espirituais" e com Deus. Materialismo puro! O resultado disso é ausência de espiritualidade e, dessa forma, vazio existencial ou, pelo menos, grande fragilidade psíquica e emocional. Daí, qualquer probleminha é suscetível de se tornar uma desgraça — uma porta para o suicídio.
Crescendo num lar como este, que será das crianças?
Muitos teólogos — incluso "pensadores espíritas" — têm se preocupado de modo demasiado com o número cada vez mais alto de pessoas que se declaram ateias e, mais explicitamente, materialistas (materialistas no sentido clássico de materialismo = ideia de que tudo o que existe é tão somente originário da matéria e de seus efeitos fisioquímicos e, por exclusão, a negação de qualquer espiritual.). Esses teólogos e demais espiritualistas, portanto, têm se incomodado muito com estes índices, muito em função da crença de que a negação daqueles ditos ateus e materialistas seja uma "ofensa a Deus", uma "blasfêmia". Não é difícil imaginar haver aí certo rancor — ou coisa pior, tipo ódio mesmo — dos "tementes a Deus" contra os "hereges"; na Idade Média, algo assim era facilmente resolvido com uma fogueira em uma praça pública de um país dito cristão. Na cabeça destes, é preciso combater o ateísmo, é preciso combater o materialismo. Neste caso, o materialismo teórico.
De nossa parte, porém, pensamos que tão grave quanto o materialismo teórico é materialismo prático, pois, de que vale dizer-se espiritualista, deísta, cristão e comportar-se como um materialista?
Mas, voltemos a olhar as crianças e jovens.
Sofisticação intelectual, mas esvaziamento da vivência
Pergunte a qualquer criança, adolescente ou jovem de hoje sobre o que ela realmente gostaria de ser, em termos de ocupação, profissão; fora os que gostariam de simplesmente serem ricos para não precisarem fazer nada, nossa aposta é a de que quase todos dirão que gostariam de ser um dos chamados "influensers", ou "influenciadores digitais", como os blogueiros, youtubers e controladores de mídias de internet. No caso dos meninos, mais voltados para o mundo dos games, os jogos eletrônicos; já entre as meninas, para o universo da estética e da "azaração", do comportamento das relações amorosas e coisas afins.
Não vamos desprezar a utilidade do mundo game, nem beleza e tampouco das experimentações sociais, contudo, tudo isso não é muito pouco em relação aos nosso compromissos espirituais?
Sim, porque, em geral, são valores de bem pouco valor, pautados em uma virtualização da vivência, alicerçados em uma realidade fictícia, ilusória e alienatória — além de efetivamente viciante. De repente, com o advento da internet e massificação das mídias sociais, a vida dos jovens — principalmente estes, mas não apenas — passou a ser centralizada no que está "rolando" online.
Mas o ponto capital no qual almejamos tocar é este: qualquer destas opções supracitadas requer uma mínima perícia que as gerações anteriores ao mundo digital sequer faziam ideia, enquanto que as crianças comuns de hoje, desde a fase pré-adolescente já dominam com medonha disposição. Os games que os meninos de hoje em dia jogam são extraordinariamente realistas, sofisticados, requerendo dos jogadores habilidades excepcionais, tais como atenção, agilidade física, estratégia, memória e capacidade de escolhas efetivas e bem rápidas. Enquanto isso, no reino encantado das meninas, a coisa também não é menos avançada não: é todo um cabedal de recursos intelectuais impressionantes, porque é preciso lidar com várias combinações de formas, cores, tamanhos, ramificações de possibilidades e etc. Ou seja: os menininhos e menininhas de hoje têm um desenvolvimento consciencial já bem avançado em relação mesmo ao padrão que era a fase juvenil da geração de seus pais.
Alguns vão dizer que é um desenvolvimento precoce demais, uma "forçação de barra" e até extremamente prejudicial. Mas, em Espiritismo, nós aprendemos que à medida que os mundos evoluem, o período da infância de seus habitantes vai diminuindo e o despertar consciencial se desabrocha cada vez mais rapidamente. Este é um fenômeno normal. E a nossa sociologia já está registrando isso na Terra de forma muito palpável. Então, já dá para cobrarmos mais responsabilidades dos jovens sim! Um menino que sabe "zerar um jogo" (vencer todas as fases do jogo) de nosso tempo também já está habilitado a muitas tarefas da vida real, incluso tarefas domésticas; as meninas que já sabem teorizar métodos e métodos de embelezamento corporal e tão consultoria amorosa pela internet também já podem assumir maiores responsabilidades na convivência real.
Filhos novos, Espíritos velhos
Esse cenário nos remete a uma obra clássica da literatura espírita brasileira: o livro Nosso Filhos são Espíritos, do saudoso Hermínio C. Miranda. Ora, nossas crianças não têm nada de "anjinhos inocentes" e puros de coração; eles são Espíritos velhos, de muitas vivências, muitos deles trazendo de forma latente bastante malícia, artimanhas e inclinação para o acomodamento à boa-vida material. Se os pais lhes derem essa folgam, eles deitam e rolam mesmo! Nas palavras de Hermínio:
Ah bom, e não só precisam ser satisfeitos pelos pais, precisam ser aceitos e reconhecidos dentro do mundo fictício em que vivem: o mundo digital. Daí, diante de qualquer infortúnio no reino virtual (o que ocorre com frequência, porque o bullyng é uma tônica da fase juvenil em nossa sociedade), esse mundo desaba — e de novo vem a negação em viver a vida real e, por conseguinte, o perigo do suicídio. Tudo isso porque são mentalidades, embora de sofisticado conhecimento, bastante frágeis emocionalmente, facilmente traumatizáveis.
Educação espiritual e choque de realidade
Está claramente faltando educação espiritual em nosso mundo atual. O materialismo — como já dissemos aqui — domina nossa sociedade. E as estatísticas mostram que cada vez menos os jovens se interessam por espiritualidade, e por com isso se afundam cada vez mais num vazio existencial.
Diante desse cenário, cumpre a todos os mais conscientes se esforçarem mais na semeadura das virtudes eternas e, especialmente nós espíritas, cuidarmos com maior atenção ainda das nossas crianças, sem forçar a barra, mas também sem subestimar suas capacidades. É preciso lhes falar da essência da vida, de onde viemos e para onde vamos, da realidade da morte e da reencarnação, dos verdadeiros super-heróis (as pessoas que dão a vida para uma causa justa) e dos compromissos que temos como Espíritos que somos aqui reencarnados para evoluir etc.
E para os que apresentam quaisquer tendências para o suicídio — especialmente aqueles que o fazem como chantagem emocional — aplicar uma boa dose de choque de realidade, falando-lhes das consequências desse ato, inclusive traçando-lhes o quadro fantástico — e terrível — do despertar daquele que fugiu da arena das provas físicas, do sofrimento perispiritual, da angústia causada pelo remorso, da possibilidade do ataque de Espíritos obsessores e zombeteiros, que não perdoam os suicidas; é bom lhes falar ainda das gravíssimas consequências do suicídio para as futuras reencarnações, notadamente na incidência de deformidades físicas de nascença etc. Por mais assustador que possa parecer tal quadro, não é menos monstruoso do que seria para os pais assistirem aos mesmos filmes e séries a que a turminha mais nova já está acostumada.
Em contrapartida, faz bem repensarmos toda a nossa forma de viver, de interagirmos familiarmente, estabelecendo uma melhor convivência com as crianças e jovens e participando mais de perto da vida deles. Vale também compartilhar com eles um pouco de game, um pouco de experimentações estéticas, um pouco de interação online etc. Ou seja, um pouco de tudo que seja bom; mas trazer também as crianças e jovens um pouquinho mais para o mundo real. Compartilhar serviços domésticos, experimentar juntos novas receitas de culinária, fazer pequenos reparos e melhorias na casa também conta; visitas externas (museus, monumentos e parques) são boas pedidas, sempre com boa troca de ideias, aproveitando para comentar com eles notícias e assuntos mais sérios, colocando em debate as opiniões de cada um etc., jamais perdendo a oportunidade de lhes lembrar que somos todos Espíritos e que aqui estamos para tocar nossa obra evolutiva pessoal.
Numa palavra: é preciso espiritualizar, fortificar a consciência com base nos valores eternos da espiritualidade — virtudes morais.
Quem sabe, possa ser uma boa hora para a leitura de outro clássico espírita: Memórias de um Suicida, ditado pelo Espírito Camilo Cândido Botelho, pela psicografia de Yvonne A. Pereira. Senão, talvez ainda melhor a família toda se reunir para ouvir a radionovela dessa obra disponível em vários canais da internet.
Enfim, pouco importa o que já fizemos contra o materialismo e o contra o suicídio: é preciso fazer mais — e melhor. Sejamos todos inspirados pelos bons Espíritos e motivados pela necessidade gritante de nossa realidade.
Se você concorda com essas sugestões, deixe seu comentário; se descorda, deixe sua versão também. Faz parte da dialética da vida.
A propósito, aproveitamos para convidar a todos para um evento especial para o próximo domingo (26 deste setembro) exatamente a respeito do tema tratado aqui:
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