Dirigente Espírita, edição set-out. de 1997 (USE-SP)
Anos depois, acontecendo Nestor Masotti chegar à presidência da FEB, iniciou-se as conversações em torno de uma parceria, resultando daí a cessão do Museu, mais os bens a ele destinado pelo seu fundador, em favor da Federação, que então se encarregaria de administrar e investir no projeto. Por motivo de saúde, Masotti acabou licenciando-se do seu mandato, mas o acordo continuou em andamento através de seu sucessor, César Perri de Carvalho. O acordo enfim foi oficializado em 2012 e o museu reinaugurado em 2013, sob a curadoria de Oceano Vieira de Melo, então renomeado para "Museu e Biblioteca Espírita de São Paulo".
Peças do Museu Espírita de SP
Nesse ínterim, aventou-se a ideia de juntar ao Museu Espírita de São Paulo o projeto do Instituto Canuto Abreu, há tempos idealizado pelos familiares do memorável pesquisador Espírita que empresta o nome para o instituto, então sob os cuidados do seu neto Lian Abreu Duarte — que atuou como representante da família. Aliás, muito já se falava no acervo espírita de Canuto Abreu; sabia-se de sua grande coleção de manuscritos do próprio Allan Kardec (muitos deles inéditos) além de edições raras de livros e periódicos históricos para o Espiritismo.
Lian em primeiro plano e no detalhe, com o avô Canuto Abreu
Finalmente, feitas as tratativas, o combinado era o de se criar naquele local uma ala especial onde seria exposta a coleção histórica de documentos espíritas do Dr. Canuto. Sem dúvidas, uma grande aquisição para o Museu e a tão almejada oportunidade de, enfim, os estudiosos e pesquisadores espíritas se debruçarem sobre aquele extraordinário tesouro para a Historiografia da nossa doutrina.
Aos 94 anos de idade, o Dr. Paulo Toledo Machado faleceu em 14 de setembro de 2018, deixando dois filhos e seis neto.
Quanto ao projeto de acoplar o Museu Espírita com a coleção do Dr. Canuto, entretanto, este não se desenvolveu no ritmo satisfatório para todas as partes; descontentes com o não cumprimento de certas exigências, a família desfez o acordo e recolheu sua coleção — que, como é sabido, acabou sendo emprestada aos cuidados da Fundação Espírita André Luiz - FEAL, em 2018, e mais adiante viria a servir de base para o lançamento do Projeto Allan Kardec da Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais.
Fachada da sede do Museu e Biblioteca Espírita de São Paulo (2021)
Concluída a reforma básica, o local dispôs de uma ala para a exposição de seu acervo e um pequeno auditório, que leva o nome Francisco Cândido Xavier, onde regularmente se promovia palestras públicas aos sábados, até 2019, quando as atividades presenciais foram suspensas por conta da pandemia do Covid-19. A entidade também mantém o site oficial com o seguinte endereço: www.museuespirita.org.
O ALERTA NO MEIO ESPÍRITA PAULISTA
Deu-se, por conseguinte, que no último final de semana que recebemos uma mensagem de alerta que a FEB estaria vendendo alguns imóveis que recebera de doação e entre estes aqueles provindos do Dr. Paulo Toledo Machado, incluso o do Museu Espírita, que, por conta disso, estaria em risco de ser fechado. A Federação estava então convocando os membros efetivos de seu conselho para uma Assembleia Geral Extraordinária, a ser realizada online na manhã do feriado de 15 de novembro, justamente para deliberar a questão.
O alerta era claro: "O destino do Museu Espírita de São Paulo está definido: caminha-se para sua extinção, uma vez que de fato está fechado há alguns anos. Seu acervo deverá ser transferido para a sede de Brasília e lá sepultado em um mausoléu qualquer; é o que preveem algumas fontes internas da FEB." — exclama o artigo do blog Expediente-on-line. A razão e urgência da venda seriam por conta de dificuldades financeiras vividas pela Federação.
Conversamos com César Perri (ex-presidente da FEB e justamente quem oficializou o acordo com o fundador do Museu para a cessão da instituição à Federação) que nos confirmou o recebimento da convocação da Assembleia, já que ele, sua esposa e seu filho são membros votantes daquele conselho. Também preocupado com o destino do Museu, César Perri ainda relatou como se realizou a reunião deliberativa, precisamente na data agendada, à qual ele, além de levantar várias questões objetando a proposta original apresentada, ofereceu outra, a de negociar a transferência do acervo pertencente ao Museu Espírita para as dependências e os cuidados do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo Eduardo Carvalho Monteiro - CCDPE-ECM, com sede também na cidade paulistana. Segundo o ex-presidente, "A proposta não foi aceita e justificaram que manterão o acervo e a Assembleia autorizou para a FEB negociar com construtora a alienação dos três terrenos do Museu, para uma empresa construir um edifício, com direito a futuras salas", conforme o artigo publicado no último dia 16 (Novos rumos para o Museu Espírita de SP?)
A VERSÃO FEBIANA
Em comunhão de pensamentos, o curador do Museu, Oceano Vieira de Melo e alguns integrantes da FEB nos asseguraram uma versão bem distinta: em primeiro lugar, e acima de tudo, a extinção da instituição fundada pelo Dr. Machado não está em cogitação, bem como a transferência do seu acervo para fora da cidade de São Paulo. "Muito pelo contrário — Oceano nos informou: agora é que podemos estar certos da continuação do Museu, porque o planejamento é ganharmos, no mesmo local e num ambiente modernizado, instalações apropriadas para a manutenção das mesmas atividades do Museu e outras mais, inclusive com recursos para sua manutenção."
O mesmo compromisso foi assumido por Geraldo Campetti, um dos atuais vice-presidentes da FEB, que acrescenta: "Todos nós só temos a ganhar com isso". Explicou-nos que nada há definido ainda; a deliberação votada é para autorizar uma negociação, que deverá ser apreciada posteriormente; o que existe sim — diz ele — é um interesse por parte de empreendedores imobiliários, coisa comum, de fato, mas com a proposta de harmonizar a construção de edifícios ali, reservando um espaço para as novas e modernas instalações do Museu, com uma compensação financeira vantajosa para, inclusive, a manutenção da entidade espírita, pelo que, não haveria razão para se preocupar com o rumo do acervo.
Quanto aos outros patrimônios, Campetti justifica que a venda é uma necessidade, até pela dificuldade de administrar a sua manutenção física e os cuidados com a burocracia de aluguéis etc., não havendo aí nenhum prejuízo para trabalhos doutrinários, já que são imóveis residenciais.
NOSSA OPINIÃO
Fossem os imóveis postos à venda pela FEB somente de caráter patrimonial, sem nenhum vínculo com qualquer atividade doutrinária, nada teríamos a comentar sobre, pois que representaria uma decisão puramente administrativa e, muito provavelmente acertada: Allan Kardec, Chico Xavier, Divaldo Franco e outros dirigentes espíritas receberam doações diversas e os converteram em moeda, aplicando-a em projetos produtivos — seja de âmbito social, seja doutrinário; não nos parece mesmo fazer sentido manter propriedades residenciais, que exigem toda uma burocracia administrativa.
Todavia, no tocante ao imóvel do mencionado Museu, a coisa é diferente: estamos falando de uma instituição doutrinária e de um acervo que é de interesse para o Espiritismo — sem contar o valor afetivo que a casa encerra, fruto de todo um esforço, o sonho de uma vida do casal que a fundou e patrocinou, inspirado num sonho do próprio codificador espírita Allan Kardec. A propósito, quase nada sabíamos do Dr. Paulo Toledo Machado e de sua inspiradora dedicação à causa de nossa Doutrina; a grata satisfação de conhecer esta obra nos leva a preparar um verbete com seu nome para a nossa Enciclopédia Espírita Online, que anunciaremos em breve. Pensamos, neste caso, que este é um patrimônio do movimento espírita, especialmente também dedicado à cidade de São Paulo, tanto que o nome da cidade consta na própria designação da fundação. Logo, faz bem pensarmos que o Museu permaneça na sua localidade natal.
Desta feita, consideramos justas as preocupações devotadas ao futuro do Museu, a destinação do seu acervo e a sua estadia na cidade paulistana. Convém à FEB afiançar a todos, com toda a transparência possível, o compromisso — moral, inclusive — assumido ao receber aquele patrimônio, de não fechar as portas do Museu, de promover a exposição do seu acervo e mantê-lo na cidade de origem, não necessariamente no mesmo endereço e nas mesmas instalações atuais, na Rua Guaricanga, 357, bairro da Lapa.
Somos da opinião, aliás, que a dita especulação imobiliária seja algo perfeitamente legal, normal e até positiva para a revitalização urbana, como acontece em todo o mundo, desde que atenda ao bem comum. Havendo então uma proposta que atenda às expectativas que listamos para a continuidade dos trabalhos do Museu, então devemos mesmo apoiar tal iniciativa.
Se a FEB está passando dificuldades financeiras (o que não seria nada anormal, dado a crise econômica mundial, ainda mais agravada com a pandemia da Covid-19, e a própria renovação tecnológica e a reformulação das mídias) nós temos a lamentar com isso, porque — por mais imperfeito que seja esse trabalho, como alguns o dizem — ela presta um serviço histórico ao Espiritismo, sem o qual não imaginamos a sobrevivência do movimento espírita; foi a FEB que catalisou as mais significativas iniciativas que fizeram do Brasil o solo mais fértil para as sementes da Terceira Revelação — isso para não dizer o único (pelo que nos consta, em nenhum outro país do mundo o percentual de espíritas e simpatizantes alcança dois dígitos da sua totalidade populacional); foi a FEB quem perseverou nas reedições das obras básicas da codificação kardequiana, dos clássicos de Léon Denis, Gabriel Delanne e outros, e deu ensejo para as obras inigualáveis de Chico Xavier, Yvonne A. Pereira etc. Se a gestão da entidade não está a contento, qual outra é exemplo para nós? Nem a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas de Kardec nem a Sociedade Anônima de Madame Kardec escaparam das fraquezas humanas. Se não pudermos colaborar efetivamente com a gestão atual por meios mais diretos, ao menos podemos vibrar para que essa diretoria seja bem inspirada no exercício de seu mandato, reparando possíveis equívocos e potencializando as boas atividades da casa. Ademais, nosso confrade de Brasília, Jorge Hessen nos faz observar um detalhe igualmente relevante: em torno da FEB há trabalhadores, e por trás deles famílias, que sobrevivem do trabalho lá gerado.
O que mais almejamos é que a nossa doutrina seja propagada pelos mais diferentes meios, dentre os quais um museu parece-nos de extrema importância, para ajudar a preservar a memória histórica do Espiritismo — como almejava Kardec. E o sentido desta propagação não por vaidade ideológica, mas por acreditarmos que a nossa doutrina é a melhor escola para a espiritualização da nossa gente; que se ela fosse o guia de conduta geral e a fonte de inspiração para todas as atividades da vida humana, nosso mundo seria muito melhor. Não importaria então que as pessoas se convertessem e se declarassem espíritas, mas que abraçássemos os valores espirituais, as virtudes que o Espiritismo nos oferece como modelo de prática cotidiana.
Que maravilhoso seria, por exemplo, que fossem reunidas e colocadas para exposição pública as coleções do Museu Espírita, do Dr. Canuto Abreu, do Museu AKOL, do CCDPE-ECM e outras tantas, num esforço em conjunto para a elaboração de eventos promocionais nesse sentido, quem sabe até eventos itinerantes, em outras cidades e estados do Brasil. Será que é tão difícil assim?
Continuaremos acompanhando o caso, vibrando para que nenhuma porta espírita se feche e que os dirigentes espíritas estreitem os laços entre si.
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Em vista da área total das propriedades envolvidas na operação, é forçoso lembrar que a amplitude das novas instalações sugere a possibilidade de, além de abrigar o acervo atual, contar com dependencias adequadas a receber pesquisadores e estudantes, num incentivo decidido ao progresso da doutrina espírita, que sempre teve no estudo e na pesquisa suas mais importantes características.
ResponderExcluirDesejo luz e a conservação dos arquivos históricos!
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