terça-feira, 3 de maio de 2022

O código secreto de Chico Xavier


Um confrade nosso nos enviou uma mensagem contando a experiência que teve, em desdobramento espiritual, em um encontro com Chico Xavier, que lhe contou detalhes do seu trabalho atual no plano espiritual. Será verdade mesmo? Veja mais a seguir.

Mas, a propósito disso, continuando nossa série 20 anos de saudades do inesquecível Chico, que desencarnou em 2002, vamos colocar em destaque uma deliberação sua, pouco antes de retornar à pátria espiritual, com o objetivo de evitar especulações acerca de possíveis mensagens mediúnicas assinadas com o seu nome: para tanto, ele teve a ideia de criar um código secreto que o identificaria quando ele, verdadeiramente ele, pudesse se comunicar com os médiuns. Além disso, temos aqui um ótimo ensejo para analisarmos duas questões adjacentes, mas muitíssimo importante para o movimento espírita: a banalidade das mensagens mediúnicas (ou pseudomediúnicas) e o entrave causado pela desconfiança generalizada da mediunidade.


O código secreto

Segundo a biografia As Vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior (Editora Planeta do Brasil, 1994), a deliberação de estabelecer uma senha de identificação surgiu da seguinte maneira:
Uma de suas principais preocupações era impedir que impostores divulgassem, após sua morte, supostas mensagens transmitidas por ele. Temia que, em busca de projeção, médiuns se apresentassem como porta-vozes de seu espírito. Para evitar fraudes, Chico combinou um código secreto com três pessoas de sua confiança: o médico e amigo Eurípedes Tahan Vieira, o filho adotivo Eurípedes Higino dos Reis e Kátia Maria, sua acompanhante nos últimos anos de vida. Três informações deveriam constar da primeira mensagem enviada do além.
Na tarde anterior à própria morte, Chico confirmou o código com Eurípedes Tahan e avisou:
— Vocês saberão quem sou eu.
Traduzindo: depois de morto, Chico revelaria um dos seus segredos mais bem guardados: quem ele teria sido na última encarnação.
As Vidas de Chico Xavier, Marcel Souto Maior - cap. I

Eurípedes Higino, Dr. Tahan Vieira e Kátia Mria

Geraldo Lemos conta numa entrevista (veja aqui) que essa preocupação do Chico se deu especialmente quando ele veio a saber que um dito "médium", desinformado de que Chico ainda estava vivo, publicara uma comunicação espiritual assinada por um "Chico Xavier".

Portanto, três informações distintas, cada uma confiada exclusivamente a uma pessoa e a combinação de que, ao se comunicar, o Espírito de Chico Xavier colocaria na mensagem todas as três informações, compondo assim o código identificador. Um plano engenhoso, sem dúvida, que acabou não se efetivando, ou seja: nenhuma das tantas psicografias atribuídas a Chico que vieram logo em seguida ao seu passamento foram legitimamente reconhecidas pelo trio detentor da chave para identificar o tal código secreto.

E o "problema" agora é que duas daquelas três pessoas já partiram desta vida carnal: Kátia Maria faleceu em 18 de dezembro de 2012, aos 59 anos de idade; o Dr. Tahan morreu em 17 de outubro de 2017 nos seus 81 anos de vida. E pelo que se sabe, nenhum deles revelou a sua peça do código. Ainda entre nós, o filho adotivo, Eurípedes Higino, confirma a história da senha secreta.

Veja a reportagem do programa Fantástico da Rede Globo:


Mais sobre o código pelo vídeo a seguir.


Em considerando essa engenhosidade, e dado que nenhuma das mensagens foram autenticadas pelos amigos de Chico, temos que o Espírito Chico Xavier recolheu-se ao silêncio, certamente por uma boa razão e não por ter esquecido da sua gente; é certo que ele teria muito o que nos dizer, mas a justeza das coisas parece mesmo aconselhar que seja assim.

Mas não em definitivo, por certo.


Banalidade de mediunidade

Não fosse o conhecimento público dessa senha secreta, muito provavelmente teríamos assistido a uma avalanche de mensagens e até livros portanto o nome de Chico Xavier como seu autor espiritual, com as mais fantásticas revelações sobre sua vida (suas reencarnações, por exemplo), sobre seus amigos espirituais (Emmanuel, André Luiz...), sobre questões doutrinárias e, enfim, sobre o mundo espiritual. Numa palavra, banalidade da mediunidade e do próprio nome de Chico.

Não é raro que psicografias e outras formas de manifestações mediúnicas sejam divulgadas envolvendo celebridades que acabaram de morrer. O fenômeno é absolutamente possível e é fartamente registrado, por exemplo, pela Revista Espírita de Allan Kardec, transcrevendo comunicações recebidas nas sessões da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Numa dessas ocorrências, deu-se que um dos membros, enfermo e prevendo sua morte próxima, deixou por escrito o seguinte pedido a Kardec:
Caro e respeitável Presidente,
Em caso de surpresa pela desagregação de minha alma e de meu corpo, tenho a honra de vos lembrar um pedido feito há cerca de um ano: o de evocar o meu Espírito o mais imediatamente possível e tantas vezes quanto julgardes conveniente, para que, membro muito inútil de nossa Sociedade durante a minha presença na Terra, para algo lhe possa servir no além-túmulo, dando-lhe os meios de estudar fase por fase, nessas evocações, as diversas circunstâncias que se seguem ao que o vulgo chama morte, mas que, para nós, espíritas, não passa de uma transformação, sob as vistas impenetráveis de Deus, mas sempre útil ao fim que se propõe.
Sanson
Revista Espírita, Allan Kardec - maio, 1862: 'Exéquias do Sr. Sanson'
Ocorrido o óbito, o pedido foi acatado ─ e a evocação respondida. Sanson manifestou-se inclusive durante o seu velório, bem como na mesma noite após o sepultamento dos seus restos carnais.

Saiba mais sobre a SPEE.

Todavia, é preciso notar aqui alguns detalhes capitais: primeiramente devemos considerar que Sanson era uma pessoa bastante espiritualizada, educada para a morte e para o despertar no plano espiritual; que sua morte era iminente, devido o agravamento de sua enfermidade; que havia uma prévia concordância para a evocação; e que esta evocação tinha um propósito útil de servir aos estudos espíritas dos demais membros da SPEE.

Nós não dizemos que sejam falsas todas essas mensagens ditas mediúnicas e supostamente ditadas por personalidades famosas (artistas, políticos, esportistas etc.) ─ inclusive porque não temos como provar a possível falsidade delas. Mas é de se estranhar a facilidade com que elas ocorram, muitas vezes sem uma conexão direta entre o Espírito e o médium. É diferente quando um parente muito próximo do falecido vai até um médium e solicita a evocação do seu ente querido; neste caso se vê um elo forte que justifique a manifestação.

Realmente, esse tipo de banalidade deprecia o Espiritismo, porque a associação da mediunidade com a nossa doutrina é automática. É o que se chama de "mediunismo", na linguagem de Emmanuel ─ o mentor espiritual de Chico Xavier.


Entrave da desconfiança da mediunidade

A banalidade da mediunidade causa uma desconfiança generalizada e configura um sério entrave à prática mediúnica verdadeira e digna. E agora, quem poderá acreditar quando o Espírito Chico Xavier realmente se comunicar?

Desde o Cristo, corroborado pela Codificação Espírita, há a preocupação com os falsos profetas, com as entidades que tramam e atuam contra a espiritualização da humanidade. Desta maneira, não é de estranharmos que estes atentem contra o progresso do Espiritismo atuando na degradação da prática mediúnica, desacreditando médiuns pela banalização de mensagens, muitas vezes falsamente ditas mediúnicas. Então, quando muitas vezes uma pessoa séria e dedicada à causa doutrinária espírita apresenta uma comunicação de valor, ela é chacoteada ─ até mesmo pelos próprios confrades, por causa dessa desconfiança generalizada.

Dissemos que um confrade nosso relatou um encontro espiritual com Chico Xavier. Pois bem, por que deveríamos ridicularizar sua narração? Por que não considerar que ele realmente tenha vivido uma experiência real? Quem pode dizer que Chico Xavier não tenha mesmo se encontrado com nosso confrade no relatado desdobramento?

Só para constar, eis o relato que recebemos do nosso confrade Daniel Macedo:
Prezados confrades do Portal Luz Espírita. Eu estou me dirigindo a vocês como fazíamos nos anos sessenta e nos tratávamos por confrades, que a gente entendia como se fossemos próximos como irmãos na doutrina. Confesso que na maioria das vezes era um tratamento formal, pois amigos e irmãos a gente trata pelo nome, não é verdade?

Hoje dirijo-me a vocês para reportar um encontro espiritual que tive com o Chico Xavier e que foi surpreendente. Eu havia tido outro a três anos atrás com ele e o Emanuel, mas foi para pessoal e para me dizer que eu deveria publicar o livro. Eu havia escrito e guardado, pois achava que não valia a pena a publicação.

No encontro de agora não havia nenhum propósito em relação a mim e ao Chico, não que eu tenha notado. Apenas aconteceu. Fui visitar um grande complexo médico hospitalar do meio espiritual e durante a visitação encontrei o Chico trabalhando nele. Ao nos vermos, ele me recebeu com a amabilidade de sempre. Contou que estava trabalhando, disse que trabalhar faz parte da vida humana e ele, como qualquer outra pessoa, tinha que trabalhar para o seu sustento. E disse que adorava trabalhar, lhe faz bem, se sente útil. O referido complexo hospitalar não é espírita. É laico! Não pertence a nenhuma religião e acolhe pessoas de todas as crenças. Chico, portanto, é um funcionário. E por incrível que pareça, exerce funções de escriturário, semelhante às que exercia quando estava encarnado e trabalhando. A conversa foi breve e nos despedimos.

Quando eu iniciei o caminho de volta, ainda no meio espiritual, fiz o trajeto com um rapaz de lá, que me assistiu durante a visita. E durante o caminho tivemos uma conversa interessante. O moço fez questão de dizer que o Chico é reconhecido e admirado pela sua obra, é considerado um herói, uma pessoa especial. Poderia viver cercado de benefícios e honrarias pelos seus seguidores e admiradores. No entanto, fez questão de enfatizar o moço, ele se comporta de maneira simples, se igualando aos outros tantos funcionários e com o público em geral e com os que necessitam de assistência. Ele continua a sua obra doutrinária na seara espírita e o faz sem pedir qualquer deferência, sem nada exigir. Continua sendo o mesmo Chico que conhecemos aqui, simples, acessível, humilde. A humildade é o seu maior traço, é o que o distingue. O moço ainda completou: atualmente Chico está escrevendo. De agora em diante ele não será o psicógrafo, mas o autor.

Nota: na vez anterior que estive com ele o Chico estava morando numa casa anexa a um grande Centro Espírita do meio espiritual e junto com o Emanuel. 
Cada qual faça sua análise sobre o relato.

Com tristeza, vemos na atualidade do nosso movimento espírita que essa desconfiança quanto à mediunidade tomou conta de quase todo mundo. Quem então se habilita confortavelmente a mostrar aos colegas de sua casa espírita uma comunicação de Kardec, Léon Denis, São Luís, Sócrates, Santo Agostinho e outras personalidades?

Será preciso nascer um novo Chico Xavier ou um Jesus, alguém que faça maravilhosos prodígios para resgatar a confiança geral no intercâmbio mediúnico?

O desafio é, então, não aceitar tudo e, por outro lado, não acreditar em nada. Para tanto, é sempre oportuno ler e reler e estudo o manual prático da mediunidade escrito por Allan Kardec: O Livro dos Médiuns.


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Um comentário:

  1. Caros confrades do Luz Espírita. Tenho lido regularmente as publicações desse notável Portal de ensino e divulgação da Doutrina Espírita.
    Li o artigo em pauta, e confesso um pouco de estranheza no conunicado do nosso caro cofrade.
    Todavia, como sempre tenho feito, certas notícias, eu as aceito com reservas, até que o assunto seja devidamente tratado e concluído como autêntico.
    Fraternalmente.
    Ruy

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