quarta-feira, 20 de julho de 2022

Chico Xavier no jornal francês Le Monde: "Um homem insignificante"

Como temos feito desde o começo deste ano, colocamos mais uma vez Chico Xavier em destaque especial nas nossas postagens da série 20 anos de Saudade por ocasião do vigésimo  aniversário do retorno à Pátria Espiritual do querido médium e humanista espírita, falecido em 30 de junho de 2002 (saiba mais aqui).

E por conta desta passagem jubilosa, trazemos aqui uma matéria internacional a respeito, uma crònica publicada no jornal Le Monde de Paris, França, em 12 de maio último, sob o título "Um homem insignificante", ou, no original em francês: "Un homme insignifiant", que você pode acessar clicando aqui, tendo a assinatura do cronista Jean-Pierre Langellier (ver seu perfil no facebook).

Por nossa vez, reproduzimos aqui a irretocável tradução feita por nosso confrade espírita Alexandre Caroli, originalmente publicada no portal Vinha de Luz:


Um homem insignificante
Jean-Pierre Langellier

Os brasileiros o consideram o maior homem que o país já conheceu. Ele não deve seu renome nem à política, nem à música, nem ao futebol. Chico Xavier (1910-2002) foi o mais surpreendente médium do século XX. Segundo uma enquete de popularidade feita em 2006 pela revista Época, ele está na dianteira, com duas vezes mais votos do que o segundo colocado, o ás da Fórmula 1, Ayrton Senna, morto numa corrida em 1994.

Chico Xavier nasceu há cem anos. Esse aniversário suscita inúmeras homenagens. O filme, que leva seu nome e narra sua vida, dirigido pelo brasileiro Daniel Filho, conquistou o novo recorde de bilheteria para uma produção nacional. Quatro outros filmes serão lançados em 2010.

Criança mestiça, muito pobre para ir à escola, adulto com físico ingrato, acometido por uma catarata crônica e uma calvície precoce que o obrigam a usar óculos escuros e uma peruca. Chico Xavier se tornou um verdadeiro ídolo, objeto de culto popular.

Graças, certamente, a seus dons misteriosos, foi promovido a apóstolo do espiritismo brasileiro. Mas também por causa de sua vida exemplar, sem falhas, a de um homem puro, honesto, desinteressado, trabalhador incansável e profundamente altruísta. Muitos dos seus compatriotas veem nele sinais de santidade.

Chico Xavier nasce numa família de nove filhos em Pedro Leopoldo, Minas Gerais. Sua mãe é lavadeira, seu pai vende bilhetes de loteria. Ambos são analfabetos. Aos quatro anos, ele ouve vozes e “recebe” suas primeiras aparições. Ele perde sua mãe e vive dois anos com uma maldosa “madrinha”, que o maltrata, veste-lhe uma camisola e conclui que ele “tem o diabo no corpo”.

De volta à casa de seu pai, casado novamente, ele se levanta à noite, fala com os fantasmas e, de manhã, dá notícias de familiares falecidos a seu incrédulo círculo de conhecidos. Ele se consola rezando diante do túmulo de sua mãe, com quem ele tem o primeiro de inúmeros diálogos. Aos nove anos, ele começa a trabalhar como tecelão à noite, continuando o dia na escola primária.

Aos 12 anos, ele escreve uma redação perfeita, ditada – ele revela à professora – por um “homem de um outro mundo”. Cinco anos depois, ele tem sua primeira experiência espírita, vendo a cura de sua irmã, que sofria de delírio obsessivo. Ele se inicia na doutrina espírita, fundada pelo francês Allan Kardec (1804-1869), da qual ele será, durante 75 anos, o infatigável propagador. Uma noite, ele descobre a psicografia. Ele escreve, ditadas por um espírito, 17 páginas em alta velocidade, sem hesitação nem rasuras. Ele sabe doravante quem ele é: um médium, intercessor entre dois mundos, porta-voz dos espíritos sobre a Terra, embaixador do além.

Em 1931, o jovem “vê” Emmanuel, seu mentor espiritual, o amigo invisível que o aconselhará ou lhe chamará a atenção ao longo de sua vida. Em 1932, ele publica sua primeira obra, Parnaso de além-túmulo, um conjunto de 59 poemas de grande qualidade atribuídos a 14 escritores mortos, que provoca interesse e surpresa.

De agora em diante, a escrita é sua companheira. De seu cérebro em incessante erupção, sairão 451 livros, dos quais 39 editados postumamente. Até hoje, somente no Brasil, 50 milhões de exemplares foram vendidos. Chico Xavier lhes recusa a autoria. A cada um desses títulos, ele associa o nome do espírito que guiou sua mão.

Ele doa a integralidade dos direitos autorais a centenas de associações de caridade que ele patrocina. Ele vive com seu baixo salário de funcionário do Ministério da Agricultura, fiel aos princípios monásticos – pobreza, obediência, castidade – caros à Igreja Católica, da qual ele se afastou, embora afirmando permanecer “cristão”. Ele pratica a autodepreciação, descreve-se como “menos do que nada”, um homem “de uma absoluta insignificância”, “simples servidor” de seus benfeitores espirituais. O contrário de um visionário ou de um profeta.

A partir dos anos 1960, ele “recebe” cada vez mais “cartas” endereçadas pelos espíritos às suas famílias. Cerca de dez mil no total. Sua autoridade é tal que, em 1979, uma de suas “mensagens pessoais”, juntada aos autos de um processo criminal, permite inocentar um jovem acusado de ter matado seu melhor amigo. O morto havia afirmado ao médium que sua morte fora acidental.

Em 1971, Chico Xavier é recebido em um famoso programa de TV: a audiência naquela noite atinge um índice que nunca foi superado. Em 1981, o Brasil se mobiliza para que ele obtenha o prêmio Nobel da Paz. Em vão. Sob a égide do médium, o Brasil se torna a pátria adotiva do espiritismo, sua terceira religião: 20 milhões de simpatizantes, entre os quais 2,3 milhões de adeptos.

Durante décadas, especialistas, médicos, jornalistas, normalmente céticos, vão a Pedro Leopoldo, depois a Uberaba, onde ele vive desde 1959, para observar, escutar ou tentar desmascarar sua suposta impostura. Todos voltam incomodados: perplexos, chocados ou convertidos. Todos reconhecem sua extrema humanidade.

Chico Xavier vive seus últimos anos recluso. Seus adeptos param em frente à sua casa para captar energias positivas. Ele adoraria – diz a seus amigos – desprender-se em um dia de alegria. Desejo realizado: ele morre, ou melhor, “desencarna”, em 30 de junho de 2002, quando o Brasil, em festa, comemora seu título de campeão do mundo de futebol.

É, portanto, um reconhecimento digno de nota, vindo de um jornal de renome global e laico, num texto que retrata com fidelidade os traços mais marcantes do amado Chico Xavier.

Nossos cumprimentos a Jean Pierre Langellier e ao jornal Le Monde.

E a Chico Xavier, o nosso inesgotável "Muito obrigado!"


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