sexta-feira, 19 de abril de 2024

160 anos "O Evangelho segundo o Espiritismo", por Rogério Miguez

 

Continuando a nossa série pelos 160 anos do lançamento de O Evangelho segundo o Espiritismo de Allan Kardec, com artigos especiais a respeito desta marca histórica, envolvendo nesta festividade a participação de grandes divulgadores do Espiritismo no Brasil e no exterior.

Hoje, reproduzimos aqui o artigo do nosso confrade Rogério Miguez, originalmente publicado na revista Reformador da Federação Espírita Brasileira, edição deste mês de abril. A excelsa mensagem é a da revivescência do Cristo através da obra kardequiana.

Confira abaixo!


Jesus ressuscitou mais uma vez há 160 anos
Rogério Miguez

Embora tenha sido muito breve, a vida do Cristo é tão importante para a Humanidade que provocou a divisão da História, aceita por grande parte dos cristãos. Para muitos, e contam-se em várias centenas de milhões, passaram a contar os tempos antes e depois do seu nascimento em Belém, representando esta cisão pelas conhecidas abreviações: a.C. e d.C.

Sejam seguidores ou não, crentes ou descrentes, existe uma preocupação ímpar em debater sobre esta singular personagem.

Sua existência ainda é questionada por alguns estudiosos e eruditos, mas para aqueles que passaram a segui-lo, ou pelo menos tentam acompanhá-lo de perto, Ele não só existiu, como reapareceu, radiante de vida, retornou da sepultura, após ter sido crucificado de forma trágica, em um episódio singular de que não se tinha notícia até então, fato registrado por alguns Evangelistas. O evento passou a fazer parte das festividades cristãs com o nome de Páscoa Cristã.

Jesus voltou, segundo alguns, pelo mecanismo da ressurreição, podendo ser definida pelo retorno à vida de um habitante do reino dos mortos, contudo, portando o mesmo corpo humano antes utilizado, mas totalmente restaurado, um conceito comum nas religiões abraâmicas, representando ponto de crença central no Cristianismo. A crença na ressurreição, difere da lei da reencarnação. A última prevê o retorno do Espírito à uma nova existência, mas com um novo corpo totalmente diferente.

Acredita-se que Jesus, além de retornar ressuscitado, ter também ressuscitado alguns personagens de sua época enquanto cumpria a sua inigualável missão, tais como Lázaro e a filha de Jairo. Narrativas insólitas nos obrigando a perguntar por qual razão não se repetiram ressurreições, exceto nestes relatos contidos no Novo Testamento?

Suas aparições pós-morte, como exemplos: à Maria de Magdala, aos Apóstolos e aos discípulos na estrada de Emaús, conforme Ele mesmo havia previsto, demonstraram serem verdadeiras as suas palavras sobre a imortalidade. Foi o testemunho máximo da perpetuidade da nossa vida no seio da eternidade. Provaram que existe a vida eterna, um postulado apresentado pelo Cristo durante sua existência  uma verdadeira Lei de Deus , que vinha sendo repetido em algumas ocasiões aos discípulos, registradas também pelos Evangelistas.

A surpresa foi enorme, pode-se imaginar, de todos os que o viram e puderam interagir com Ele por alguns poucos dias. Sua presença  ressuscitado , encheu os Apóstolos de ânimo, renovou a esperança de seus muitos seguidores, e porque não dizer de toda a humanidade, fortalecendo a fé vacilante de todos os seus devotos.  Caso Ele não tivesse retornado do reino dos mortos, o seu Apostolado teria sofrido rude revés, pois este foi um dos principais eixos de sua proposta renovadora: a existência da continuidade da vida, a tão desejada e buscada imortalidade. E mais, sua mensagem se perderia, a Boa Nova estaria enfraquecida em suas bases.

A morte havia sido por fim vencida! E Ele triunfou sobre ela!

Entretanto, embora venha sendo venerado em incontáveis Templos e Igrejas por séculos, suas ideias são pouco compreendidas e, acima de tudo, seus exemplos, não são seguidos. De ordinário, foram esquecidos, a ponto de quando um indivíduo deseja repetir as suas condutas neste tempos modernos, viver parcialmente como Ele viveu, é visto com estranheza e desconfiança.

Entretanto, muitos desejariam ter vivido naqueles memoráveis tempos, quando, na Terra, por aqui caminhou este Espírito puro, relativamente perfeito, o próprio Governador do orbe, o chamado filho do Homem. Os cristãos modernos dariam tudo, para ouvir algumas palavras do meigo Rabi. Partilhar um pedaço de pão, por menor que fosse, sentado à mesa com o Cristo equivaleria estar no Paraíso.

Quantos cristãos imaginam que se houvesse uma máquina do tempo capaz de levá-los em viagens ao passado, dariam tudo para serem conduzidos àqueles dias gloriosos, e pudessem escutar, ao vivo, as palavras do Senhor, se movimentando por aquelas regiões inóspitas e áridas, contudo, mesmo naquele ambiente rude, poderiam beber da água que estanca a sede definitivamente, de modo a nunca mais experimentarem a secura nos lábios.

Entretanto, tudo se foi. Tudo acabou. Apenas os registros de alguns Evangelhos mantém a memória daqueles fatos inusitados e surpreendentes, para alguns verdadeiros milagres, maravilhando todos aqueles que tiveram o especial privilégio de testemunhar, in loco, os surpreendentes atos da vida de Jesus.

Todavia, os mais atentos, e por infelicidade são pouquíssimos, perceberam que podem compartilhar das ideias e ideais do Cristo, na sua pureza máxima, e, sobretudo, da correta interpretação dos relatos sobre as suas condutas, desde o século retrasado, quando na localidade denominada de Cidade Luz, uma coincidência e tanto  a charmosa Paris , foi publicado um singular livro recuperando, recordando e explicando as máximas morais do Cristo, incluindo suas reais aplicações às diversas circunstâncias da vida, lançando intensa luz sobre as imortais lições crísticas. Este livro se intitulou: O evangelho segundo o espiritismo, que neste mês de abril comemora o 160° aniversário de sua publicação.

Por estas razões, a publicação desta obra, em abril de 1864, pode-se afirmar sem sombra de dúvida, representa outra ressurreição do Cristo, mas não semelhante àquela que aconteceu há dois mil anos, por tão pouco tempo e, em especial, para alguns  não , neste novo ressurgimento os ideais do Cristo estão, mais uma vez, à disposição da Humanidade na integralidade, contudo, sem alterações, inclusões, supressões, como sabemos que aconteceram nas traduções dos Evangelhos, em seus textos originais, ao longo do tempo.

A pureza do pensamento do Mestre dos mestres foi mantida e preservada neste livro, em todas as suas edições, com interpretações e elucidações preciosas que ainda não haviam sido trazidas à lume no mundo, ainda escondidas em alguns ensinos Dele.

As intrigantes e variadas Parábolas, sábio instrumento usado por Jesus para ensinar as massas, foram relembradas e comentadas de forma perfeita e, principalmente, interpretadas, não deixando mais dúvidas sobre qual é o verdadeiro fundo moral de cada uma, destacando, desta forma, a beleza do particular ensinamento contido nas respectivas narrativas.

Pode-se reviver falas memoráveis do Cristo explicadas dentro do espírito da verdade e do sentimento, não mais segundo as letras frias de alguns textos evangélicos. Foram recuperados vários discursos escritos sobre os principais temas abordados pelo Cristo, que Ele tanto gostaria que todos ouvissem e, especialmente, praticassem, visando a conquista da própria redenção.

Uma obra metodicamente organizada, bem ao estilo do compilador e Codificador Allan Kardec  a terceira das obras básicas publicadas , e, nos dizeres de seu próprio autor:

[...] reunimos, nesta obra, [compilação] os artigos que podem compor, a bem dizer, um código de moral universal [Codificador], sem distinção de culto. Nas citações, conservamos o que é útil ao desenvolvimento da ideia, pondo de lado unicamente o que se não prende ao assunto. [1]

Dentro deste espírito, o sábio de Lyon, apresenta na filosofia espírita que não há nada que possa superar os ensinos de Jesus, fazendo ressurgir, outra vez, a moral crística na sua mais pura expressão, quando afirma, primeiro no início de O livro dos Espíritos:

A moral dos Espíritos Superiores se resume, como a do Cristo, nesta máxima evangélica: Fazer aos outros o que quereríamos que os outros nos fizessem, isto é, fazer o bem e não o mal. [2]

Em seguida, agora na Conclusão da referida obra, adiciona:

Não, o Espiritismo não traz moral diferente da de Jesus. [3]

E, como se não bastasse, na derradeira publicação constituindo, por assim dizer, o Pentateuco espírita, confirma categórico:

A moral que os Espíritos ensinam é a do Cristo, pela razão de que não há outra melhor. [4] 

Infelizmente, mesmo com mais uma ressureição do Cristo agora em pleno século XIX, e, transcorridos mais de dois mil anos desde o seu nascimento, o Cristianismo ainda apresenta escassas colheitas de luz, pois a Humanidade ainda insiste em permanecer nas sombras da ignorância dos seus ensinos e na prática generalizada do destempero moral.

Henri Dominique Lacordaire, aflito, expressa a sua perplexidade por meio de uma comunicação mediúnica contida na obra em análise, indagando em 1863:

Oh! meu Deus, será preciso que o Cristo volte novamente à Terra para ensinar aos homens as tuas leis, que eles esquecem? [5]

Se este sábio e caridoso religioso dominicano estivesse conosco no século XXI, talvez se surpreendesse, pois o Cristo já voltou à Terra, contudo, de novo, os homens não se mostram muito inclinados a assimilar e incorporar a sua Doutrina de amor às próprias existências.

E o roteiro básico delineado pelo Divino Amigo não deixa dúvidas: elevação pelo sacrifício, amor em qualquer circunstância.

Há 160 anos Jesus ressurge mais uma vez!

Mas não com o mesmo corpo físico que ocupou durante a sua breve passagem pela Terra, definição propriamente dita do fenômeno da ressurreição, possibilidade negada de forma categórica pela Ciência, mas por intermédio de outro revestimento, outro corpo, formado pelas obras que compõem o Espiritismo  o Consolador Prometido , através de pensamentos, raciocínios, explicações, um verdadeiro corpo doutrinário, eterno, que não pode ser crucificado, muito menos torturado, e que permanecerá conosco pelos tempos afora.

É muito importante ressaltar e ratificar que, como revelou o Espiritismo [6], quando Jesus ressurgiu, não o fez com o mesmo corpo físico recém deixado na Terra, ao invés, se apresentou pela tangibilidade de seu perispírito, uma das várias propriedades deste também chamado corpo bioplasmático. Além de torná-lo tangível, o seu corpo fluídico também reproduzia a mesma aparência do correspondente corpo biológico de Jesus, há pouco sepultado, tornando o Mestre agora um ser fluídico.

O Governador do planeta espera pacientemente que, com a chegada da Terceira Revelação no século XIX, o homem também promova, por fim, a sua própria ressurreição moral, para sairmos da morte espiritual em que nos encontramos, pois os tempos são chegados e por aqui  na Terra , permanecerão apenas aqueles que desejarem seguir seus passos tão bem lembrados e explicados pela Doutrina dos Imortais, em particular, pelo O evangelho segundo o espiritismo.

A nossa homenagem a este extraordinário livro não estaria completa se não endereçássemos também algumas sinceras palavras ao autor da Doutrina  Hypolite Léon Denisard Rivail   que, através de seu meticuloso e incansável trabalho, ressuscitou nosso guia e modelo, o Humilde Carpinteiro. Mais conhecido por Allan Kardec, também permanece em nossos corações e, por isso, expressamos nesta hora da tanta incerteza por que atravessa esta Casa Celestial, a nossa imensa gratidão, igualmente neste mês de abril, que também marca de forma indelével o surgimento do Espiritismo.

Ressuscitando Jesus, a Doutrina Espírita abriu novos e promissores horizontes, os quais, apesar das muitas dúvidas e sombras que ainda nos cercam, podem nos ajudar sobremaneira a seguir fortalecidos e intimoratos em nossa marcha evolutiva, rumo ao Pai de Todos.

O Sermão do Monte foi anunciado de novo, com seus hinos de esperança, e aqui nos encontramos ao pé daquele monte, outra vez, com os olhos voltados para o Mestre nos aguardando até o fim dos tempos, hipnotizados por aquelas mágicas palavras, para quem possuir ouvidos de ouvir, ouça!


REFERÊNCIAS:

[1] KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro.  131. Ed. 6. Imp. [Edição Histórica]. Brasília, DF: FEB, 2015. Introdução.

[2] KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 3ª Edição Comemorativa do Sesquicentenário. Brasília, DF: FEB, 2007. Introdução.

[3] _______._______. Conclusão. it. VIII.

[4] _______. A gênese, os milagres e as predições segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 53. ed. 1. imp. [Edição Histórica]. Brasília, DF: FEB, 2013. cap. I. it. 56.

[5] KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 131. ed. 6. imp. [Edição Histórica]. Brasília, DF: FEB, 2015. Bem-aventurados os pobres de espírito. cap. VII. it. 11.

[6] _______. A gênese, os milagres e as predições segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 53. ed. 1. imp. [Edição Histórica]. Brasília, DF: FEB, 2013. cap. XV. it. 64-67.


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Lembrando que a obra O Evangelho segundo o Espiritismo de Allan Kardec está disponível livremente disponível para download na nossa Sala de Leitura.


Veja aqui os artigos anteriores da série especial 160 anos do lançamento de O Evangelho segundo o Espiritismo.

Continue conosco e acompanhe os próximos artigos da série.

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