Neste 2 de novembro, como soe acontecer todos os anos, vivemos um feriado cuja motivação é a de se reverenciar os mortos.
A tradição é muito antiga e é o dia onde, em maior número, as pessoas se dispõem à visitação das necrópoles.
Nesta ocasião, o Poder Público e também empresas privadas que administram cemitérios, até mesmo por pressão da comunidade, buscam dar mais atenção à conservação de túmulos, promover limpeza, pintura e outras providências reclamadas e que nunca passam desapercebidas.
Embora não façamos visitas tão freqüentes à necrópole da cidade, vez por outra adentramos ao cemitério para dar uma olhada nos túmulos de parentes, amigos, vultos do movimento espírita e cidadãos que conhecemos.
Sem querer fazer apologia à visitação de cemitérios, temos a lamentar certos descasos que testemunhamos na contemplação de alguns desses locais.
Muitas sepulturas deteriorados, diversas sem vestígio de limpeza e um sem número de outras que não trazem qualquer referência ao ser humano cujo corpo decomposto ali se encontra depositado.
É triste esse abandono que vale por atestado de falta de cidadania e de respeito àqueles que nos antecederam na viagem de retorno à pátria dos imortais.
Não devemos perder de vista a indisfarçável agressão ao meio ambiente que é, ou devia ser, uma preocupação a ser considerada por todos nós.
O Espírita e o respeito aos mortos
Na nossa maneira de ver os cuidados que acima relatamos devem ser comuns a espíritas, católicos, budistas, evangélicos, judeus, e a cidadãos de qualquer outra crença ou seita religiosa.
Zelar por aquele espaço é obrigação do particular e do Poder Público.
Como espíritas sabemos perfeitamente que o espírito que animou o corpo, já reduzido a pó e cujos restos se encontram na intimidade de um tumulo, ali não permanece jungido a espera de visitação. Mas isto não significa que a alma desencarnada seja insensível às almas amigas que buscam reverenciá-las ainda que à beira de uma tumba da qual não estão fazendo efetivamente a sua morada.
Certamente, vão se aproximar dos visitantes, recolher as preces sinceras que partem dos corações sensíveis, vão abraçá-las, encorajá-las, chorar juntas, oscularem-se, consolarem-se.
É bem verdade que os estados espirituais não são os mesmos, as reações não são iguais e as vibrações podem não ser das melhores. Mas a lembrança, com certeza, nunca vai ser pior que o abandono.
Em O Livro dos Espíritos na questão 320 quando Allan Kardec pergunta se os Espíritos se sensibilizam quando lembrados por aqueles que lhe foram caros na Terra respondem: “Muito mais do que podeis supor. Se são felizes, esse fato lhes aumenta a felicidade. Se são desgraçados, serve-lhes de lenitivo”.
Nas perguntas seguintes sobre o tema aduzem os espíritos:
“Os espíritos acodem nesse dia ao chamado dos que na Terra lhes dirigem seus pensamentos, como o fazem noutro dia qualquer.” (Q. 321).
“Nesse dia, em maior número se reúnem nas necrópoles, porque então também é maior, em tais lugares, o das pessoas que os chamam pelo pensamento. Porém, cada Espírito vai lá somente pelos seus amigos e não pela multidão dos indiferentes.” (Q. 321-a)
“Aí comparecem sob a forma que tinham quando encarnados”. (Q. 321-b)
Na questão 322 Allan Kardec questiona como se comportam aqueles esquecidos, cujos túmulos ninguém vai visitar, e se experimentam algum pesar por verem que nenhum amigo se lembra dele, ao que os espíritos respondem:
“Que lhes importa a Terra? Só pelo coração nos achamos a ela presos. Desde que ai ninguém mais lhe vota afeição, nada mais prende a esse planeta o Espírito, que tem para si o Universo inteiro.”
Prosseguindo até a questão 329 de O Livro dos Espíritos, onde Allan Kardec ouve os espíritos sobre a Comemoração dos Mortos e Funerais, chegamos à conclusão de que devemos respeitar aqueles que ainda tem esse costume, as vezes muito freqüentes, aproveitando o ensejo, quando possível, para falar-lhes respeitosamente sobre a imortalidade da alma, sobre a proximidade dos desencarnados com os que aqui permanecem e sobre a possibilidade concreta de ajudarem-se mutuamente.
Ressaltar sobre o valor da prece que deve ser exercitada em beneficio dos desencarnados, não exclusivamente em cemitérios, mas no nosso dia a dia através do pensamento de gratidão adornado por gestos altruístas que lhes possam agradar.
O que queremos dizer nestas singelas palavras é que não devemos desmerecer aqueles que ainda precisam dessa manifestação exterior como forma de validar ou de materializar esse sentimento de apreço e gratidão àqueles que já partiram e que em seus corações deixaram a marca indelével da saudade.
Embora no meio espírita seja prática quotidiana orar por encarnados e desencarnados, respeitemos esse costume que enseja a aproximação entre aqueles que se amam nas duas humanidades que se entrelaçam.
A divulgação espírita nos cemitérios
Algumas entidades e órgãos espíritas aproveitam o Dia de Finados para fazer distribuição de mensagens espíritas nas portas dos cemitérios.
Um dos pioneiros nesse forma de divulgação foi Cairbar Schutel que fazia questão de se deixar fotografar junto das sepulturas para atestar sua convicção na imortalidade da alma.
Cairbar Schutel com companheiros espíritas distribuindomensagens no cemitério de Matão, SP
Foto: O Clarim
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