sexta-feira, 11 de novembro de 2016

A Proclamação da República do Brasil e o Espiritismo


Temos neste dia 15 de novembro, mais um feriado cívico comemorativo da Proclamação da República do Brasil, ocorrida em 1889, quando um levante político-militar instaurou o novo sistema de governo nacional na forma de república federativa presidencialista em substituição ao modelo de monarquia constitucional parlamentarista, mantido pelo Império do Brasil, que tinha como seu monarca D. Pedro II.

Monumento ao líder republicano brasileiro Benjamin Constant
no Campo de Santana (Praça da República no Rio de Janeiro)

Liderados pelo Marechal Deodoro da Fonseca, um grupo militar tomou o Campo de Santana (Praça da República), no Rio de Janeiro, então capital do Império, anunciando a destituição do trono do Imperador e o início do Governo Provisório Republicano, para o qual Deodoro da Fonseca ocuparia a Presidência da República, tendo como vice o Marechal Floriano Peixoto, e Benjamin Constant Botelho de Magalhães, Quintino Bocaiuva, Rui Barbosa, Campos Sales, Aristides Lobo, Demétrio Ribeiro e o almirante Eduardo Wandenkolk como seus ministros.

"Proclamação da República", 1893, óleo sobre tela de Benedito Calixto

A queda do Império e a instauração da República ocorreram por diversos fatores. Para começar, havia um descontentamento geral com o governo imperial, especialmente pela gritante divergência social, em que se tinha um povo massacrado pela baixa qualidade de vida e os revoltantes privilégios cedidos pela corte a alguns nobres em nome da soberania nacional.

Mas havia mais: o episódio histórico conhecido como "Questão Religiosa" (entre católicos e maçons) já preconizava a queda de D. Pedro II e seus protegidos, incluindo a Igreja Católica. Nos anos 1870 a Maçonaria ganhava força no meio militar e acadêmico, apavorando o clero católico. Os maçons defendiam novos valores morais e sociais, dentro os quais a tolerância religiosa a outras denominações que não àquela que seguia o Papa de Roma. Eles também patrocinariam o movimento pela libertação dos escravos negros — que viria a ocorrer em 1888.

Foi bem nessa época conturbada da História do Brasil que por aqui aportou o Espiritismo, cuja doutrina vinha ao encontro dos grandes apelos nacionais: reprogramação de valores, como liberdade, justiça e tolerância religiosa. Não por acaso, as ideias espíritas floresceram primordialmente no meio militar e acadêmico — e, portanto, o seio da Maçonaria. Porém, o que a historiografia regular não conta é que a influência da Doutrina Espírita nas campanhas abolicionistas e republicanas foi muito mais forte do que se pode imaginar.

Os nossos livros escolares atuais ignoram o fato de que as ideias kardecistas dariam aos abolicionistas e republicanos uma motivação por demais relevantes, em vista do bem comum nacional, haja vista as degradantes condições de vida das massas — especialmente no caso dos escravos. Além disso, a doutrina codificada por Kardec vinha satisfazer racionalmente o eco misterioso ressoado pelos fenômenos espirituais que se espalhavam nas terras tupiniquins. Manifestações mediúnicas de toda ordem tomavam conta dos noticiários e rodas de conversas.

A historiadora Mary Del Priore descreve em minúcias em seu livro Do Outro Lado: A História do Sobrenatural e do Espiritismo (ver resenha aqui) como a versão brasileira das Mesas Girantes se introduziu rapidamente na nossa cultura local e ainda como foi marcante o papel de ativistas espíritas nos acontecimentos políticos e sociais daquela passagem de Império para República. Dentre esses ativistas espíritas, ela destaca personagens como Quintino Bocaiuva (ministro do Governo Provisório Republicano), Ewerton Quadros (um dos fundadores da Federação Espírita Brasileira), Saldanha Marinho (influente advogado, político e grão-mestre maçom), o barão de Porto-Alegre e o Dr. Bezerra de Menezes.
"Se a sociedade da segunda metade do século XIX se queria racional e embalada pelo sonho do progresso em todos os domínios, o sentido do maravilhoso e do sobrenatural continuava, porém, a latejar. No Brasil, mais ainda. O legado das religiões afro e o universo mítico que já envolvia o imaginário dos brasileiros representavam a união entre a modernidade europeia e científica, e a secularização. Os efeitos da ciência moderna estariam em união com a experiência religiosa." (Do Outro Lado: A História do Sobrenatural e do Espiritismo, Mary Del Priore: cap. 4: Os inimigos do além.

Aqueles extraordinários acontecimentos assustavam o povo em geral e ao mesmo os enchia de esperança: enfim, seria os céus protestando contra as injustiças em favor do clamor popular? Não, era mais uma etapa da evolução espiritual da Humanidade se descortinando; era a espiritualidade nos convidando a avançar para a Nova Era. Assim, o Espiritismo vinha contribuir com as reformas de nossa nação.

D. Pedro II
o imperador destituído do trono
Indiretamente, Allan Kardec e o Espiritismo foram umas das alavancas renovadoras do progresso brasileiro. É bem verdade que a Lei Áurea não foi um primor de programa social, uma vez que os negros alforriados não receberam a assistência necessária para que se integrassem adequadamente ao restante da sociedade. Também a República que sucedeu ao reinado de D. Pedro II não trouxe a tão almejada igualdade social, tampouco os nossos representantes ditos "republicanos" mostraram-se menos ávidos em cobrar dos trabalhadores o sustento de seus privilégios. Contudo, a abolição da escravatura e a proclamação da República foram sim dois passos para o progresso, quando já não se fazia sustentável as antigas posições e dava ao povo a chance de, através da democracia geral, ter um papel mais ativo na administração pública e ao mesmo tempo o desafio de conduzir o país sem mais poder tudo culpar o imperador (que, obviamente, não era o único, e talvez nem o maior, responsável pelas mazelas da população). Então, ainda que na prática a troca de regime de poder não tenha sido vantajosa (como de fato vemos o pouco progresso do regime democrático no conserto das diferenças sociais), era preciso vir a democracia para pôr à prova as capacidades dos reclamantes.

Não se pode desprezar a concepção de que, com relação ao processo de transição de governo brasileiro naquele final de século XIX, a influência espírita tenha sido também benéfica para a conservação da tranquilidade geral. Sem provocar derramamento de sangue e sem maiores transtornos, o imperador D. Pedro II aceitou resignado a sua destituição.

De fato, faz parta da essência da Revelação Espírita as transformações sociais e políticas. A evolução dos povos e promoção do bem-estar das nações são consequências naturais que se espera desde quando as pessoas operam em si as reformulações morais. Não dizemos isso em função das transformações regimentais, ou seja, não cabe a Doutrina Espírita levantar a bandeira de um regime de governo ou ideologia política, mas sim erguer alto e firme a bandeira dos princípios éticos — sobretudo a da Caridade —, pois que, onde houver consciências evoluídas, quaisquer que sejam os regimes, haverá progresso; do contrário, onde houver mentes ignorantes e corrompidas, nenhuma instituição conseguirá promover a paz, por mais justas e sábias que sejam suas leis, porque os usurpadores sempre encontrarão uma maneira de burlar a ordem.

Que mais este feriado cívico nos inspire o devido amor à nossa Pátria e ao pensamento estadista (sem o ufanismo extremista) de convicção altruísta, em prol do bem-estar comum, sem perdermos de vista os planos da espiritualidade para fazer do Brasil o coração do mundo e a Pátria do Evangelho, conforme a mensagem de Humberto de campos, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier (ver aqui). E nós, brasileiros e espíritas, mais do que qualquer um, devemos sempre ter em mente a imensa responsabilidade que temos perante essa expectativa dos Espíritos guardiões de nossa Humanidade. Eduquemo-nos para essa honrosa convocação e cuidemos de nosso Brasil.

11 comentários:

  1. Maravilhosa essa explicação dos fatos sucedidos naquele 15 de novembro. Os livros didáticos nunca falariam dessa motivação por desconhecer e por não aceitar, caso tivessem conhecimento.
    Para mim foi muito bom saber, pois já li o livro citado e , se antes á sentia enorme admiração por Pedro II, ao saber que era um espírito nobre destacado para levar o Brasil ao ponto que alcançou, a partir daí, me senti um pouco "ofendida" com a proclamação da república.
    Mas sabendo que era parte de uma programação de evolução, meu sentimento se acalma. Obrigada por mais essa informação.

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    1. Tudo mentira... sou espírita e pergunto a todos os espíritas que comentam aqui: QUAL FOI O PROGRESSO QUE A REPÚBLICA TROUXE AO BRASIL? Na verdade a proclamação da República não tem nada haver com evolução da pátria, mas sim com a maquinação espiritual do mal, contra o anjo Ismael e contra os planos de Jesus para o Brasil!

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    2. Anjuaral, bom dia.
      Sou espírita e compartilho com você suas ideias. Sei que ainda existe a família real brasileira, no entanto, não sei se seria interessante voltar a Monarquia ao Brasil depois de quase 130 anos de República. Sinto pelo golpe em 1989, pois o Brasil deixou de ter estabilidade política. Talvez uma República parlamentarista e com uma federação de verdade seria melhor.
      Já procurei sobre a influência do Espiritismo na "Proclamação" da República e apenas encontro o livro "Brasil, Pátria do Evangelho, Coração do Mundo", em que diz que o fato foi uma superação política.
      Assim sendo, estou aguardando a próxima superação, pois todos sabemos que estabilidade é o que nunca tivemos da República brasileira.

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  2. Muito interessante a análise feita, embora julguemos que seria interessante maior aprofundamento das influências do Espiritismo e dos espíritas nessa transformação do regime político no Brasil.
    Importante, no entanto, o texto para as devidas reflexões.

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  3. Quer dizer então que os ideais espíritas contribuíram para a derrocada do Brasil, pois foi exatamente isso que aconteceu. Não há que se falar em clamor popular contra o Império pois nao foi o que de fato ocorreu. Tudo aconteceu na surdina. E muito menos há que se falar em insustentabilidade do regime monárquico, vide tantos países que já vinham dentro de regimes monárquicos há muito mais tempo que o Brasil e que , PASMEM, o são até hj e sem prejuízo no seu desenvolvimento, sendo muito muito mais evoluídos em todos os aspectos do que nossa Republiqueta que nos foi enfiada goela abaixo.

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    1. Muito bem Andressa Prado... você falou toda a verdade!

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  4. Qualquer um com o mînimo de bom-senso sabe que a república é um regime falido e não trouxe nenhum progresso para a nação brasileira. E o autor do texto ainda tem coragem de dizer que o espiritismo "ajudou" a propagar os ideias republicanos. Pelo amor da deus, vai estudar história! A república afundou o Brasil na merda, isso sim

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  5. Ainda teremos um sistema mais evoluído... Acredito.

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  6. Vários historiadores sérios sem o viés ideologógico estão reescrevendo baseado em documentos no Brasil e na Europa a verdadeira história do Brasil e a grandeza que foi o periodo imperial. O Brasil era a nação mais desenvolvida das américas e estava buscando indices europeus de desenvolvimento com avanços gigantescos no ensino, direitos civis, liberdade, ciência e infra-estrutura. O golpe da república simbolizou um grande retrocesso. Teodoro da Fonseca pegou o Brasil no primeiro mundo e jogou no terceiro mundo, acabou a estabilidade a justiça e a paz, o Brasil de fato nunca se recuperou desse golpe visto que até hoje com o advento da república o país nunca mais teve estabilidade política. Não foi organizado por Jesus no plano espiritual esse golpe, tivemos foi a queima de um carma coletivo que dura até hoje.
    Obs. A família imperial era abolicionista. José Bonifácio, tutor dos dois imperadores era abolicionista. O problema da escravidão eram os oligarcas e os latifundiários que exploravam esse trabalho, o imperador por ser "democrata" e respeitava as decisões nacionais sem imposição ajudou a construir as bases da abolição e sabia que seria deposto pela burguesia oligarca caso abolice a escravidão e por amor ao Brasil correu o risco e pagou o preço.
    Tudo que estou relatanto aqui já é provado recentemente por estudiosos sérios.

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  7. O autor desconhece a doutrina espírita, desconhece o sistema político, e não houve proclamação, ouve o primeiro golpe de estado do Brasil. O kardecismo está longe disso tudo.

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