Juiz canadense decide que mostrar o dedo do meio é legal e um "Direito dado por Deus"
Um decisão da justiça canadense virou notícia mundial em meio a uma campanha sorrateira, promovida há tempos pelas grandes mídias, em favor da banalização e contra toda e qualquer tipo de moral. Em uma sentença envolvendo um atrito entre vizinhos, um magistrado decidiu que "mostrar o dedo do meio é um direito dado por Deus". O portal de notícias da Globo - G1 divulgou essa notícia no Brasil e encheu a sua reportagem com imagens icônicas com esse tipo de ato e só faltou dizer que tudo isso é lindo e saudável. O que nós espíritas podemos refletir com isso? Aqui estão as nossas sinalizações.
O caso canadense
Primeiramente, vamos entender o que se passou no Canadá: duas famílias da cidade de Montreal e que são vizinhas uma da outra mantêm entre si uma intriga que já dura anos, apesar dos motivos aparentemente fúteis. No afloramento cada vez maior dessa desavença, principalmente pelos chefes da família: Neall Epstein e Michael Naccache, aconteceu de o primeiro ser preso em maio de 2021 depois que seu desafeto o denunciou alegando ter sido ofendido pelo vizinho, que lhe mostrara o dedo do meio de cada mão, um gesto tipicamente obsceno e em sinal evidente de ofensa moral. Cada um tem acusado o outro das mais diversas formas e tudo leva a crer que com um boa dose de veracidade; portanto, não há inocentes absolutos nessa história, e é bom que a justiça cuide tanto quanto o possa de punir a ambos, como sinal de repreensão veemente e sistemática — resposta que o Estado sempre deve dar em tais casos — inclusive para evitar uma tragédia.
Mas o que vem ao caso aqui, para nós, é o desdobramento da sentença mais recente, em 24 do útilmo fevereiro: o juiz da comarca de Quebec e que cuida do caso, Dennis Galiatsatos, inocentou Neall Epstein das ofensas cometidas e aproveitou para dissertar sobre a questão moral envolvente no processo: segundo o juiz, mostrar o dedo do meio a alguém é um direito "dado por Deus" que pertence a todos os canadenses. Acrescentou na sentença:
"Para ser bem claro, não é crime mostrar o dedo a alguém. É um direito dado por Deus e consagrado na Constituição que pertence a todo canadense de sangue quente. Pode não ser civil, pode não ser educado, pode não ser cavalheiresco. No entanto, não gera responsabilidade criminal."
Bem, não é de nossa alçada julgar o que deva ou não ser de direito para o povo do Canadá, mas, a título de reflexão filosófica, podemos tomar o caso como subsídio para o que é de nossa competência, justamente sobre a conduta pessoal que devemos ter. Então, o ponto central dessa questão é se temos mesmo o direito legal e irrepreensível de ofender ao nosso próximo: se sim, o fato de ser através de palavras ou gestos, realmente pouco importa; agora, se não nos é dado esse direito, por que o esforço para legitimar um gesto obsceno? Isso não equivale a praticamente incentivar que as pessoas usem normalmente de tais gestos?
Dedo do meio: um gesto realmente obsceno
Oferecer o dedo do meio é um gestão típico de imoralidade, de ofensa, de anarquia e de agressividade. Ele é realmente obsceno, indecente, da mais baixa qualidade, no sentido convencional de que atenta contra o pudor e se rebaixa à vulgaridade, talvez até mais gravemente do que um palavrão — que também é de uma grosseria lamentável.
Aliás, sobre palavrão, nós já tratamos aqui e vale a pena que o leitor dê uma olhada com muita atenção (veja aqui).
Em suma, os atos obscenos (palavrões e gestos) denotam uma grave inferioridade espiritual, como bem define a codificação do Espiritismo de Allan Kardec:
"Reconhecemos a superioridade ou a inferioridade dos Espíritos pela linguagem de que usam; os bons só aconselham o bem e só dizem coisas proveitosas; tudo neles confirma sua elevação; os maus enganam e todas as suas palavras trazem o cunho da imperfeição e da ignorância. Os diferentes graus por que passam os Espíritos se acham indicados na Escala Espírita. O estudo dessa classificação é indispensável para se apreciar a natureza dos Espíritos que se manifestam, assim como suas boas e más qualidades."O Livro dos Médiuns, 1ª parte, cap. IV, item 49, tópico 10
E não é menos oportuno lembrar as palavras do Cristo:
"A boca fala daquilo que está cheio no coração"Mateus, 12:34
De fato, a obscenidade tem três características básicas que acabam por revelar três formas típicas de um comportamento humano, um pouco mais ou um pouco menos presente naquele indivíduo que a pratica:
1) Instinto de violência: todo gesto obsceno e todo palavrão carrega consigo a marca da agressividade, da disposição de querer atacar e ofender ao semelhante, mesmo quando praticado em tom de "brincadeira". Na verdade, isso nunca é uma brincadeira, pois a verdadeira brincadeira é uma diversão mútua, portanto jamais poderá ser violenta; e instinto de violência é um dos sinais de quem ainda se aproxima dos estágios mais primitivos do Espírito;
2) Distúrbio sexual: a obscenidade é um traço marcante de quem não tem a mínima compreensão do valor da sexualidade e de quem provavelmente traz consigo traumas, frustrações e outros tipos de perturbação nesse sentido, porque quem realmente é bom nisso sabe que o sexo é uma coisa abençoada, quando praticado com amor e dignidade ao próximo, de modo que um Espírito minimamente elevado jamais usará a sexualidade como forma de expressar qualquer indignação.
3) Espírito de anarquia: é um sintoma saliente de quem é revoltado contra a ordem, contra a lei natural e todo e qualquer tipo de organização, espírito típico que incita o ateísmo, a libertinagem e a delinquência; tudo o que mais afasta o homem de Deus e da verdadeira felicidade.
Campanha pela banalidade
Como dissemos, há uma marcha em curso e engrossando suas fileiras mundo afora: é a campanha da banalidade, que luta para desmantelar e acabar com qualquer forma de ordem e orientação moral; são os Espíritos inferiores, cheios de trevas interiores cumuladas por anos, séculos e até milênios de atividades maléficas contra si e contra os demais; Espíritos que foram representados nos Evangelhos pela alegoria dos demônios e que agora querem arrastar os demais Espíritos fracos para as banalidades afim de tentarem — em vão — aliviar suas decepções fazendo uso do sofrimento dos outros.
Estes obsessores então disseminam sorrateiramente a ideia de que nada é imoral, que a obscenidade é uma linguagem descolada, uma válvula de escapa para seus sofrimentos, uma forma de "desabafar" as mágoas e que, portanto, faz bem, que é moderno, legal e bonito. E assim, estes espíritos perversos arrancam risos e aplausos de plateias cada vez maiores, que se entregam fracamente aos vícios morais.
Por fim, estes espíritos querem estabelecer a ideia de que não existe uma moral natural, que ninguém (Deus, principalmente) pode ditar regras a outrem; que cada um faz da sua vida o que bem quer ("Minha vida, minhas regras"). Há, além disso, um foco bem traçado, embora nem todos consigam ver: tenta-se invalidar toda e qualquer forma de religião, sob o subterfúgio de que as crenças são sempre e absolutamente formas opressoras sem nenhum benefício para a sociedade e por isso mesmo — dizem — elas devem ser banidas da vida moderna. No movimento espírita, a propósito, não falta quem defenda apenas o seu lado científico, e mesmo quanto ao seu caráter filosófico, sua filosofia serviria apenas para fins de epistemologia (sobre os limites do conhecimento); ardilosamente, querem então anular o lado moral do Espiritismo junto com sua essência religiosa. São Espíritos trevosos infiltrados no nosso meio para espalhar cizânia, discórdias e assim anular a semeadura da nossa Doutrina amada.
O truque da mídia (hoje francamente influenciada pelos obsessores) é — como se vê na matéria do portal G1) associar a obscenidade a campanhas legítimas e positivas para daí validar o erro no meio das coisas certas. Daí, tenta-se fazer crer que se o apelo for justo (lutar pelos direitos humanos, por uma melhor distribuição de renda, contra as injustiças civis etc.) então se pode usar gestos obscenos e palavrões, além de revoluções violentas e anárquicas.
Ora, seguir na contramão desse "modernismo" é então atravessar um campo de espinhos, pois, normalmente, o mais elegante que talvez alguém lhe diga é que você é um "careta", um "frescurento" e um "falso moralista". Atreva-se você a fazê-lo numa rede social, onde palavrões são recorrentes como forma de expressão "democrática": se o fizer, provavelmente sofrerá um virtual linchamento público.
Moral e Espiritismo
Numa sociedade em que tantas atrocidades são consentidas, não é bem o caso de pretendermos que alguém vá preso por "tão pouco", mas daí a legalizar a banalidade o bom senso dista um bocado, e não podemos perder de vista que há sim um bom senso. E mais que isso.
Em Espiritismo, o entendimento é translúcido: existe uma moral natural que rege tudo e todos, estabelecida por Deus e que é paulatinamente revelação à humanidade na medida que os homens progridem intelectualmente e podem melhor compreender essa natureza moral.
Não é, portanto, uma moral relativa, que cada consciência constrói como bem queira e a molda quando bem quer, mas uma moral estabelecida, eterna e superior a todas as vontades humanas, que diferencia os Espíritos mais evoluídos dos mais inferiores, como lemos em Kardec:
"A distinção dos bons e dos maus Espíritos é extremamente fácil; a linguagem dos Espíritos superiores é constantemente digna, nobre, repleta da mais alta moralidade, livre de qualquer paixão grosseira; seus conselhos exaltam a mais pura sabedoria e sempre tem por objetivo o nosso melhoramento e o bem da humanidade. A linguagem dos Espíritos inferiores, ao contrário, é inconsequente, às vezes vulgar e até grosseira; se às vezes eles dizem alguma coisa boa e verdadeira, muito mais vezes dizem falsidades e absurdos, por malícia ou ignorância; eles zombam da credulidade dos homens e se divertem às custas dos que os interrogam, lisonjeando sua vaidade, alimentando seus desejos com falsas esperanças. Em resumo, as comunicações sérias, em toda a acepção da palavra, só são dadas nos centros sérios, naqueles onde os membros estão reunidos por uma íntima comunhão de pensamentos em favor do bem."O Livro dos Espíritos, Allan Kardec - Introdução, item VI.
Importa, pois, termos uma postura espírita, plena em moral, decência e dignidade, como diz o Espírito André Luiz:
Nunca nos fartaremos de defender o caráter religioso da Doutrina Espírita, que Allan Kardec definiu como a revivescência do verdadeiro Cristianismo, dizendo que ser espírita é, em suma, ser um cristão. Diz a codificação kardecista que uma das prerrogativas do Espiritismo é semear o sentimento religioso em quem não o tem e fortificar o daquele que já está iniciado na fé. Kardec e os Espíritos amigos da codificação espírita nunca desabonaram as religiões; eles criticaram os excessos, o fanatismo, os abusos do clero etc., mas sempre ressaltaram a indispensável importância do elemento religioso para o processo de evolução do Espírito de modo a formar assim a própria religiosidade espírita, dotada naturalmente de amor e obediência a Deus, de uma Lei de Adoração e de uma definição inequívoca do que seja a verdadeira moral:
“A moral é a regra para se conduzir bem, quer dizer, a distinção entre o bem e o mal. Ela está fundamentada na observância da lei de Deus. O homem se conduz bem quando faz tudo pelo bem de todos, porque assim ele cumpre a lei de Deus.O Livro dos Espíritos - questão 629
Ora, a moral é sempre para o bem e contra o mal. Quanto às definições destes dois elementos, temos:
"O bem é tudo que está de acordo com a lei de Deus; o mal, tudo o que lhe é contrário. Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a lei de Deus. Fazer o mal é infringi-la."O Livro dos Espíritos - questão 630
Com isso, temos que falar sobre a moral, ainda que sob o risco de sermos taxados de falsos moralistas, e ainda que não sejamos nenhuma sumidade em moralidade, mas é que enquanto estamos falando e repetindo sobre o tema também nós estamos aprendendo, reaprendendo e reanimando nosso espírito para este propósito, procurando educar uns aos outros, em espírito de fraternidade e solidariedade, como Kardec nos educou a respeito:
"Há um elemento que costuma não se ponderado e sem o qual a ciência econômica não passa de uma teoria: é a educação; não a educação intelectual, mas a educação moral; não ainda aquela educação moral dos livros, mas a que consiste na arte de formar o caráter, aquela que cria os hábitos: porque educação é o conjunto dos hábitos adquiridos. Quando pensamos na massa de indivíduos lançados todos os dias na torrente da população, sem princípios nem freios e entregues aos próprios instintos, devemos nos espantar com as consequências desastrosas que disso decorrem? Quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem trará no mundo os hábitos de ordem e de previdência para si mesmo e para os seus, de respeito pelo que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar menos penosamente os maus dias inevitáveis. A desordem e a imprevidência são duas chagas que somente uma educação bem conduzida pode curar; aí está o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, a garantia da segurança de todos."O Livro dos Espíritos, - comentário sobre a questão 685-a.
Enfim, a maior missão do Espiritismo é nos educar moralmente, porque educação moral se ensina mesmo; esta é uma matéria imprescindível que todo bom centro espírita deve fomentar. Quando esta conscientização chegar no seu ápice, palavrões e gestos obscenos serão então considerados inaceitáveis pela sociedade, tal como hoje qualquer país iniciado na civilidade repudia o duelo, que nos tempos de Kardec era legal e recorrente.
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