sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

"Jesus, Governador da Terra" por Rogério Miguez


Compartilhamos com todos mais um valiosíssimo artigo a fim melhor de desenvolvermos nossos estudos e pesquisas doutrinárias e para a boa propagação das ideias do Espiritismo.


"Jesus, Governador da Terra"
por Rogério Miguez
rogmig55@gmail.com

Paira uma dúvida sobre a afirmação de ser Jesus o Governador do planeta Terra, alega-se ter sido este título informado por apenas um Espírito, no caso Emmanuel, e pela primeira vez, até onde sabemos em A caminho da luz,[1] não recebendo esta proposta o crivo da unanimidade quando se apresentam ideias novas, princípio este tão importante, bem defendido e convenientemente explicado pelo Codificador. Por conta deste entendimento, alguns observam a tese com certa reserva.

Considerando a inexequibilidade de Allan Kardec ter abordado e registrado tudo em poucos livros, não é pelo fato dele não ter escrito categoricamente ser Jesus o Governador deste orbe, ou expressão equivalente, que Ele não o possa ser, porquanto, por outro lado, ele também não expressou de forma inequívoca a impossibilidade.

Analisemos estas referências espíritas em ordem cronológica crescente, obtidas até o momento:

1861: O livro dos médiuns [2] - quando o Codificador descreve os existentes sistemas conhecidos, naquela época, para explicar os fenômenos espíritas. Entre todos destacamos este em particular: “Sistema uniespírita ou monoespírita – Uma variedade do sistema otimista consiste na crença de que um único Espírito se comunica com os homens, sendo esse Espírito o Cristo, que é o protetor da Terra [...]” (Grifo nosso).

Há uma interessante observação a ser feita nesta primeira referência. Ao final do parágrafo, quando foi escrito ser Jesus o protetor da Terra, se levanta uma dúvida: são os adeptos da teoria uniespírita ou monoespírita, cogitando ser Jesus o ocupante desta posição, ou seria o próprio Kardec, já considerando esta possibilidade? Do texto podem-se inferir as duas hipóteses. Entretanto, mesmo supondo não ser a opinião de Kardec, durante o advento da Doutrina, não se pode negar, já existiam aqueles acreditando ser Jesus o protetor da Terra, ou seja, esta designação já vinha sendo usada e divulgada, é fato;

1864: Revista Espírita [3] – em função de Allan Kardec ter incluído um texto mediúnico nesta obra espírita, mensagem esta fazendo alusão ao princípio em análise, nos faz crer que ele estaria dando o seu aval à informação lá escrita, ainda mais se considerarmos quem escreveu – Hahnemann (Médium: Sr. Albert): “[...] Essas obsessões frequentes terão, também, um lado muito bom, porque, penetrado pela prece e pela força moral, é possível fazê-las cessar e adquirir o direito de expulsar os Espíritos maus e, pelo melhoramento de sua conduta, cada um buscará adquirir o direito que o Espírito de Verdade, que dirige este globo, conferirá quando for merecido [...]” (Grifo nosso).

Christian Friedrich Samuel Hahnemann, o criador da Homeopatia, como sabemos, foi um dos vários Espíritos Superiores que apoiaram Allan Kardec na elaboração da Doutrina, além disso, imaginamos não haver necessidade de discorrer sobre a identidade do Espírito de Verdade como o próprio Jesus Cristo;

1868: A gênese [4] – desta obra podemos retirar o seguinte: “[...] Chegados ao ponto culminante do progresso [os Espíritos], gozam da suprema felicidade. Admitidos nos conselhos do Onipotente, conhecem-lhe o pensamento e se tornam seus mensageiros, seus ministros diretos no governo dos mundos, tendo sob suas ordens os Espíritos de todos os graus de adiantamento.” (Grifo nosso).

Como se depreende do texto, Espíritos alcançando o ápice da evolução, como Jesus, passam a exercer tarefas na direção dos muitos mundos existentes, tudo indica ser uma Lei de Deus;

1884: Le Spiritisme (O Espiritismo) [5] – periódico quinzenal editado por Gabriel Delanne: lá se encontra na seção Bibliografia a divulgação do livro: Le 
Christ esprit protecteur de la Terre (Cristo espírito protetor da Terra), escrito por Antoinette Bourdin, ou seja, mais uma fonte indicando que esta propositura sobre Jesus era conhecida e já vinha sendo divulgada;

1898: Cristianismo e espiritismo [6]  de Léon Denis – neste livro, o Apóstolo do Espiritismo nos dizeres de Gaston Luce, seu biógrafo, registrou: “[...] Ainda hoje, ele [Jesus] preside aos destinos do globo em que viveu, amou, sofreu. Governador espiritual deste planeta, veio, com seu sacrifício, encarreirá-lo para a senda do bem, e é sob a sua direção oculta e com o seu apoio que se opera essa Nova Revelação [...]” (Grifo nosso);

2017: Cairbar responde [7] – recentemente, outro luminar, agora no Plano Espiritual, Cairbar Schutel, participou de esclarecimentos por meio da mediunidade de Altivo Pamphiro, médium também já desencarnado, a propósito da criação do site IRC. Espiritismo, hoje Espiritismo.net. Os textos oriundos das reuniões realizadas com Cairbar Schutel, foram consolidados nesta obra. Quase ao término do livro, indagam Cairbar exatamente sobre este assunto. O “Bandeirante de Matão” não questiona o uso da expressão fazendo comentários interessantíssimos, tais como:
  • O uso do termo Governador pode sugerir alguém expedindo decretos, este entendimento não faz nenhum sentido;
  • Só há a figura deste Governador, em virtude de o planeta ser novo, precisando de acompanhamento de um, como diríamos, Espírito mais elevado;
  • Dia virá quando a Terra abrigará Espíritos bem mais evoluídos, quando este tempo se der qual será a necessidade de um Espírito, no caso, puro como Jesus, dirigir o planeta?;
  • Ele pode deixar esta missão a qualquer hora, caso isto se dê, outro de igual elevação naturalmente o substituiria, porém, não o faz, pois ainda estamos bem imperfeitos;
  • Se Ele fosse insubstituível, pergunta-se: Quem governou o planeta quando Ele aqui encarnou? – Outro Espírito puro!
Não há dúvida ter Cairbar dado estes poucos esclarecimentos, certamente levando em conta a nossa ainda limitada capacidade de compreensão.

Em resumo: há a possibilidade de Kardec ter se dirigido a Jesus como protetor da Terra; Hahnemann, por sua vez, chamou-o de diretor do globo; enquanto Léon Denis, Governador espiritual deste planeta; as três qualificações sugerem a mesma ideia, ou seja, de um Espírito encarregado de conduzir o orbe em seu processo de evolução, até quando não sabemos.

Por analogia, se assemelharia em ponto imensamente maior a figura do protetor individual de todos nós, contudo, Jesus seria o Protetor de bilhões de Espíritos encarnados e desencarnados, regendo simultaneamente o processo de evolução da Terra, e mais, faz parte da missão do protetor acompanhar o seu protegido desde o nascimento, desta forma, nada mais natural ter Jesus acompanhado e se incumbido do processo de criação do planeta, conforme Emmanuel assim descreve em A caminho da luz. Adicionalmente, como sabemos, há protetores para os Espíritos, famílias, sociedades, cidades, nações; por qual razão não haveria um Espírito encarregado de proteger a própria Terra?

Agora, examinando com atenção o Novo Testamento [8], podemos encontrar o seguinte versículo: “Tenho também outras ovelhas que não são deste aprisco; é preciso que eu conduza também a elas [...]” (João, 10:16). Qual o real significado destas palavras? Teria Jesus outras responsabilidades como condutor e orientador de outros mundos? A Terra não seria o único orbe dirigido por Jesus!? Ou o Cristo se referia às ovelhas de outras civilizações e culturas espalhadas pela Terra? Conforme informado anteriormente em A gênese [9], os Espíritos puros “[...] se tornam seus ministros diretos [de Deus] no governo dos mundos [...]”. 

Enquanto discípulos ainda imaturos, ofuscados com a luminosidade de Jesus buscam sem sucesso entender aquele ainda para tantos incompreensível, por força de sua conduta imaculada; murmuram aqui e ali impropriedades sobre Jesus Cristo aos ouvidos displicentes e ociosos da turba desavisada; aturdem-se pelas palavras justas de um Espírito puro, por excelência, os desafiando há mais de dois mil anos na mudança de conduta, visando acertar o passo no trilho divino; continuam levianamente a questionar a “realeza” do Mestre, os seus ensinos permanecem como o único Caminho, como a integralidade da Verdade e como a exuberante e perene Vida.

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REFERÊNCIAS:
[1] XAVIER, Francisco C. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel. 38. ed. 5. imp. Brasília: FEB, 2016. cap. 1 – A Gênese Planetária.

[2] KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2016. Pt. 1, cap. 4, it. 48.

[3] ______. Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos. ano 7, n. 1, jan. 1864. Um caso de possessão – Senhorita Julie, p. 32 e 33. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 3. ed. 1. reimp. Brasília: FEB, 2009.

[4] ______. A gênese. Trad. Guillon Ribeiro. 53. ed. 4. imp. (Edição Histórica). Brasília: FEB, 2016. cap. 11, it. 28.

[5] DELANNE, Gabriel. Le Spiritisme. Primeira quinzena de março de 1884. p. 11. Disponível em: https://sites.google.com/spiritisme.net/encyclopedie-spirite/revues-spirites/revue-le-spiritisme Acesso em: 25 jun. 2018.

[6] DENIS, Léon. Cristianismo e espiritismo. Trad. Leopoldo Cirne. 17. ed. 4. imp. Brasília: FEB, 2016. cap. 6 – Alteração do Cristianismo. Os dogmas. p. 72.

[7] COELHO, Mário. Cairbar responde. Pelo Espírito Cairbar Schutel. 1. ed. 
Rio de Janeiro: CELD, 2017. cap. 9, p. 208 a 210.

[8] DIAS, Haroldo D. (Trad.). O novo testamento. 1. ed. 4. imp. Brasília: FEB, 2016. O Bom Pastor, p. 429. 

[9] KARDEC, Allan. A gênese. Trad. Guillon Ribeiro. 53. ed. 4. imp. (Edição Histórica). Brasília: FEB, 2016. cap. 11, it. 28.

Fonte: Reformador - edição de Janeiro de 2019

2 comentários:

  1. Mas, se Ele mesmo disse diante de Pilatos: "Meu reino não é deste mundo, se Meu reino fosse deste mundo, a minha gente houvera combatido para impedir que eu caísse nas mãos dos judeus. Mas meu reino ainda não é aqui"...Como seria Ele o governador da Terra? E o capítulo II do Evangelho Segundo o Espiritismo, fala sobre isso sem dizer que Ele seria o governador da terra...

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  2. J.B. Roustaing, em OS QUATRO EVANGELHOS, menciona várias vezes Jesus como "protetor e governador do planeta". Parece-me que o Espiritismo brasileiro herdou esse termo por seu viés católico desde o início.

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