quinta-feira, 7 de abril de 2022

Eutanásia, suicídio e despreparo ante a morte: uma preocupante campanha pela legalização da morte assistida avança pelo mundo

Um grupo de cientistas se reuniu para investigar o que significa morrer nos tempos atuais. Ao final da pesquisa, essa Comissão sobre o Valor da Morte apresentou um relatório cuja síntese é que "Há algo de errado quando lidamos com a morte e precisamos fazer alguma coisa para mudar isso".

O estudo foi publicado no jornal científico The Lancet, sob sugestivo título "Trazendo a morte de volta à vida" (clique aqui para ver a publicação, em inglês).

"A história de morrer no século 21 é cheia de paradoxos", dizem os cientistas, que completam: "Enquanto muitas pessoas recebem tratamentos excessivos e fúteis nos hospitais, longe da família e da comunidade, outra parcela da população não tem acesso a nenhum tipo de terapia, nem para aliviar a dor, e morre de doenças preveníveis."

Entre as maiores "preocupações" apontadas pela Comissão está o claro despreparo dos sistemas de saúde e profissionais da área médica em lidar com o fenômeno moderno da "morte prolongada": antes, as pessoas morriam mais cedo e de forma abruptas; hoje, por conta dos recursos da medicina, as doenças são mais tratáveis e e mesmo para os males crônicos a vida a morte é prolongada. E aí entra toda uma questão ética sobre manter ou não uma vida "artificial".

A Folha de São Paulo replicou uma reportagem da BBC de Londres tratando exatamente dessa publicação científica, inclusive a entrevista com a médica inglesa Libby Sallnow, uma das integrantes da referida Comissão. (ver a reportagem da Folha)

Por outro lado, temos assistido também a diversas iniciativas mundo afora em favor da abreviação da vida, a chamada "morte assistida", comumente dita eutanásia.

Recentemente, o ator francês Alain Delon (86 anos) publicou uma mensagem de despedida e revelou, através do filho, o interesse em ingressar na morte assistida (Ver aqui). Delon é um dos artistas mais consagrados na França, Europa e mesmo no universo cinematográfico mundial; sua iniciativa tem bastante peso por ser um influenciador natural. Além disso, sua "despedida" evoca isso:

“Gostaria de agradecer a todos que me acompanharam ao longo dos anos e me deram grande apoio, espero que futuros atores possam encontrar em mim um exemplo não só no local de trabalho, mas na vida de todos os dias, entre vitórias e derrotas. Obrigado, Alain Delon.”

Alain Delon

Em alguns países a abreviação da vida é um ato legal. Na Holanda, o procedimento já é cultural, embora sua legalização tenha ocorrido há não muito  tempo: 1 de abril de 2002 (veja aqui). Em geral, as pessoas não querem sofrer fisicamente nem passar pelos transtornos da velhice, além de causar importunação aos familiares. A cultura então é "morrer com dignidade", ou seja, a grosso modo os homens não querem ficar fracos e as mulheres não querem ficar feias. Viver dignamente, nesse contexto, é estar em boa forma física, em condições de praticar a vida material.

Camiseta com os dizeres 'Morrer com dignidade deveria ser minha escolha', na Sociedade Holandesa de Eutanásia Voluntária... Fonte UOL

Mais recentemente os holofotes se voltaram para um caso marcante na Colômbia: um homem ingressou no processo pela eutanásia mesmo sem ter nenhuma doença terminal. Victor Escobar Pablo foi a óbito em 7 de janeiro deste 2022, com apenas 60 anos de idade. Ele não estava em pleno vigor; tinha uma doença pulmonar obstrutiva crônica, era dependente de oxigênio e tinha sequelas agravadas por dois acidentes vasculares cerebrais e um acidente de trânsito ocorrido durante a juventude. Como não era um caso terminal, precisou oficializar um pedido judicial para abreviar a vida. Conseguiu, justificando-se não desejar conviver com a dor. (ver a reportagem da BBC)

Como descrito no relatório da Comissão sobre a morte no século 21, a medicina está prolongando a vida, sem o que, em casos como o do colombiano, em tempos não muito distantes, a morte imediata era certa. Mas as pessoas não estão sendo educadas a conviver com esse tipo de "vida assistida", a caminho da morte, para saberem conviver com a dor e as inconveniências da vetustez.

E a quem caberia esse papel?

Talvez a Filosofia. Mas quem se ocupa com Filosofia hoje em dia?

As religiões? Mas as religiões tradicionais estão mais preocupadas com as suas liturgias e preservação dos dogmas do que educação moral!


Abreviação da vida segundo o Espiritismo

Eis que a Doutrina Espírita vem nos auxiliar no exame dessa questão delicada. Suas disposições são lógicas e não dogmáticas: não basta dizer é certo ou errado, como a dizer é bendito ou pecado; é preciso explicar o ato.

Sem titubear, o Espiritismo reprovam a abreviação da vida — o que não passa de um eufemismo para o que em bom português diremos suicídio. Pela codificação kardequiana, temos já no livro inicial da doutrina uma definição sem hesitação para tal problemática (questões 943 e seguintes de O Livro dos Espíritos). Em suma, a interpretação é esta:

Quando uma pessoa vê diante de si um fim inevitável e horrível, será culpada se abreviar de alguns instantes os seus sofrimentos, apressando voluntariamente sua morte?
“É sempre culpado aquele que não aguarda o término que Deus marcou para sua existência. Aliás, quem poderá estar certo de que um socorro inesperado não venha no último momento, independentemente das aparências?”
— Em circunstâncias comuns, entendemos que o suicídio seja condenável; mas, estamos figurando o caso em que a morte é inevitável e em que a vida só é encurtada de alguns instantes...
“Isso é sempre uma falta de resignação e de submissão à vontade do Criador.”

O Livro dos Espíritos, Allan Kardec - questões 953 e 953-a

O LIVRO DOS ESPÍRITOS

Há os atenuantes, é claro. Há os casos em que a pessoa recai num estado de perturbação, inclusive por incentivo alheio  a quem também incide parte da responsabilidade do ato criminoso. Todavia, quase sempre se vê na eutanásia e nos suicídios em geral uma fraqueza moral e falta de espiritualização em não ver a necessidade da ancianidade e todos os seus desafios no curso natural da vida carnal para benefício do Espírito. Viver a decrepitude é, portanto, uma condição que atende à sabedoria, bondade e justiça divina, embora nem sempre possamos compreender essa necessidade. Este é um ponto capital a ser considerado, contra o qual, a propósito, nada podemos fazer senão aceitar e confiar em Deus.

Fugir dessas provações é então contrair um débito consigo mesmo, a ser imprescindivelmente reparado — imediatamente no plano espiritual, mas às vezes também prolongado às reencarnações seguintes.


Educação para a dor e a morte

Obviamente que a Revelação Espírita não se limita a censurar a abreviação voluntária da vida; ela nos ensina a compreender essa necessidade e também nos fortalece diante dos desafios de atravessar a dor e as amarguras da velhice.

A compreensão implica observarmos o panorama geral da coisa, abrangendo os desígnios para a natureza espiritual, e não apenas as condições da vida terrena. Ora, a pessoa estando na situação de dor física constante, ou diante de qualquer problema crônico, e sem nenhuma perspectiva de solução, é natural e talvez até instintivo que ela queira "se livrar" de tal situação; em termos normais, a morte parece ser uma solução lógica e viável, ainda mais assistida com os recursos modernos da medicina, para se morrer sem dor. Entretanto, temos que ter em mente que a situação carnal não é absoluta, que além das condições de nosso mundo material há as implicações espirituais. Desta maneira, ver-se-á que não é vantagem proceder pela abreviação da vida. Por isso a necessidade de propagarmos esses valores espíritas, porque nada melhor do que o Espiritismo para nos apresentar as condições da natureza espiritual e as consequências do suicídio.

Além dessa compreensão sobre a natureza espiritual, o Espiritismo vem nos oferecer ferramentas para fortalecer nosso Espírito e aliviar o sofrimento, muitas vezes inevitável, decorrente das condições físicas de doença ou outros problemas. A começar pela prece e a magnetização, a Doutrina dos Espíritos muito tem a oferecer aos desesperados. Frequentemente, basta só um pouco de esforço e o alívio vem de pronto. O entendimento das leis divinas — sobretudo quanto às condições possíveis da vida futura  e uma oração verdadeira dá ao Espírito uma força inimaginável que se sobrepõe a qualquer obstáculo da vida material, pois Deus não daria um fardo maior do que nossas capacidades.

Enfim, vemos o quanto o Espiritismo faz falta no mundo e, portanto, o quanto temos de trabalhar para levá-lo às pessoas. É nosso compromisso. Cuidemos de promover essa doutrina esclarecedora e consoladora.

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Um comentário:

  1. A posição descrita no livro dos espíritos refere-se a um conhecimento de quase dois séculos atrás. Não é digno tratar os textos espíritas trazidos pelos espíritos através dos mediuns como palavra sagrada, como palavra imutavel. Em várias obras espíritas, muitas, é comum lermos a palavra intervenção e no sentido dos espíritos aliviarem pessoas que sofrem. Intervir na assistência à morte, ao desencarne como nós espíritas costumamos dizer, será benéfico se as circunstâncias clinicas do paciente recomendarem. Qual seja, quando a ciência médica não encontrar outros meios de evitar o sofrimento da pessoa. Neste caso, a assistência é uma caridade. Meu entendimento espiritual sobre a morte é de que sem o corpo o espírito se desfaz da ligaçao corpo fisico com corpo espiritual. No entanto, toda morte fisica tem uma causa e na maioria dos casos é traumática. O trauma permanece na memória da mente do espírito desencarnado e a pessoa precisa ser assistida para que o trauma seja atenuado e desapareça. Sem assistência o trauma dependerá da reação natural da mente do desencarnado e os casos conhecidos através de relatos mediúnicos revelam que as reações variam de pessoa para pessoa. Qual seja, é um fenômeno semelhante ao que temos e vivemos com o corpo físico. Se somos assistidos e os medicos conhecem as causas e os remédios nós nos curamos rapidamente. Se ficamos por conta da natureza, sofremos mais tempo. A Natureza age sempre. Ao estudar os fenômenos da natureza nós aprendemos a lidar com ela e a intervir para termos uma vida melhor e mais conforto. Na questão da eutanásia, a palavra de quem conhece as doenças, as dores, as alternativas e as consequências é dos médicos, daqueles que estudam para curar e ajudar os outros. Não é questão sagrada.

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