Eutanásia, suicídio e despreparo ante a morte: uma preocupante campanha pela legalização da morte assistida avança pelo mundo
Um grupo de cientistas se reuniu para investigar o que significa morrer nos tempos atuais. Ao final da pesquisa, essa Comissão sobre o Valor da Morte apresentou um relatório cuja síntese é que "Há algo de errado quando lidamos com a morte e precisamos fazer alguma coisa para mudar isso".
O estudo foi publicado no jornal científico The Lancet, sob sugestivo título "Trazendo a morte de volta à vida" (clique aqui para ver a publicação, em inglês).
"A história de morrer no século 21 é cheia de paradoxos", dizem os cientistas, que completam: "Enquanto muitas pessoas recebem tratamentos excessivos e fúteis nos hospitais, longe da família e da comunidade, outra parcela da população não tem acesso a nenhum tipo de terapia, nem para aliviar a dor, e morre de doenças preveníveis."
Entre as maiores "preocupações" apontadas pela Comissão está o claro despreparo dos sistemas de saúde e profissionais da área médica em lidar com o fenômeno moderno da "morte prolongada": antes, as pessoas morriam mais cedo e de forma abruptas; hoje, por conta dos recursos da medicina, as doenças são mais tratáveis e e mesmo para os males crônicos a vida a morte é prolongada. E aí entra toda uma questão ética sobre manter ou não uma vida "artificial".
A Folha de São Paulo replicou uma reportagem da BBC de Londres tratando exatamente dessa publicação científica, inclusive a entrevista com a médica inglesa Libby Sallnow, uma das integrantes da referida Comissão. (ver a reportagem da Folha)
Por outro lado, temos assistido também a diversas iniciativas mundo afora em favor da abreviação da vida, a chamada "morte assistida", comumente dita eutanásia.
Recentemente, o ator francês Alain Delon (86 anos) publicou uma mensagem de despedida e revelou, através do filho, o interesse em ingressar na morte assistida (Ver aqui). Delon é um dos artistas mais consagrados na França, Europa e mesmo no universo cinematográfico mundial; sua iniciativa tem bastante peso por ser um influenciador natural. Além disso, sua "despedida" evoca isso:
“Gostaria de agradecer a todos que me acompanharam ao longo dos anos e me deram grande apoio, espero que futuros atores possam encontrar em mim um exemplo não só no local de trabalho, mas na vida de todos os dias, entre vitórias e derrotas. Obrigado, Alain Delon.”
Em alguns países a abreviação da vida é um ato legal. Na Holanda, o procedimento já é cultural, embora sua legalização tenha ocorrido há não muito tempo: 1 de abril de 2002 (veja aqui). Em geral, as pessoas não querem sofrer fisicamente nem passar pelos transtornos da velhice, além de causar importunação aos familiares. A cultura então é "morrer com dignidade", ou seja, a grosso modo os homens não querem ficar fracos e as mulheres não querem ficar feias. Viver dignamente, nesse contexto, é estar em boa forma física, em condições de praticar a vida material.
Mais recentemente os holofotes se voltaram para um caso marcante na Colômbia: um homem ingressou no processo pela eutanásia mesmo sem ter nenhuma doença terminal. Victor Escobar Pablo foi a óbito em 7 de janeiro deste 2022, com apenas 60 anos de idade. Ele não estava em pleno vigor; tinha uma doença pulmonar obstrutiva crônica, era dependente de oxigênio e tinha sequelas agravadas por dois acidentes vasculares cerebrais e um acidente de trânsito ocorrido durante a juventude. Como não era um caso terminal, precisou oficializar um pedido judicial para abreviar a vida. Conseguiu, justificando-se não desejar conviver com a dor. (ver a reportagem da BBC)
Como descrito no relatório da Comissão sobre a morte no século 21, a medicina está prolongando a vida, sem o que, em casos como o do colombiano, em tempos não muito distantes, a morte imediata era certa. Mas as pessoas não estão sendo educadas a conviver com esse tipo de "vida assistida", a caminho da morte, para saberem conviver com a dor e as inconveniências da vetustez.
E a quem caberia esse papel?
Talvez a Filosofia. Mas quem se ocupa com Filosofia hoje em dia?
As religiões? Mas as religiões tradicionais estão mais preocupadas com as suas liturgias e preservação dos dogmas do que educação moral!
Abreviação da vida segundo o Espiritismo
Eis que a Doutrina Espírita vem nos auxiliar no exame dessa questão delicada. Suas disposições são lógicas e não dogmáticas: não basta dizer é certo ou errado, como a dizer é bendito ou pecado; é preciso explicar o ato.
Sem titubear, o Espiritismo reprovam a abreviação da vida — o que não passa de um eufemismo para o que em bom português diremos suicídio. Pela codificação kardequiana, temos já no livro inicial da doutrina uma definição sem hesitação para tal problemática (questões 943 e seguintes de O Livro dos Espíritos). Em suma, a interpretação é esta:
Quando uma pessoa vê diante de si um fim inevitável e horrível, será culpada se abreviar de alguns instantes os seus sofrimentos, apressando voluntariamente sua morte?
“É sempre culpado aquele que não aguarda o término que Deus marcou para sua existência. Aliás, quem poderá estar certo de que um socorro inesperado não venha no último momento, independentemente das aparências?”
— Em circunstâncias comuns, entendemos que o suicídio seja condenável; mas, estamos figurando o caso em que a morte é inevitável e em que a vida só é encurtada de alguns instantes...
“Isso é sempre uma falta de resignação e de submissão à vontade do Criador.”O Livro dos Espíritos, Allan Kardec - questões 953 e 953-a
Há os atenuantes, é claro. Há os casos em que a pessoa recai num estado de perturbação, inclusive por incentivo alheio — a quem também incide parte da responsabilidade do ato criminoso. Todavia, quase sempre se vê na eutanásia e nos suicídios em geral uma fraqueza moral e falta de espiritualização em não ver a necessidade da ancianidade e todos os seus desafios no curso natural da vida carnal para benefício do Espírito. Viver a decrepitude é, portanto, uma condição que atende à sabedoria, bondade e justiça divina, embora nem sempre possamos compreender essa necessidade. Este é um ponto capital a ser considerado, contra o qual, a propósito, nada podemos fazer senão aceitar e confiar em Deus.
Fugir dessas provações é então contrair um débito consigo mesmo, a ser imprescindivelmente reparado — imediatamente no plano espiritual, mas às vezes também prolongado às reencarnações seguintes.
Educação para a dor e a morte
A posição descrita no livro dos espíritos refere-se a um conhecimento de quase dois séculos atrás. Não é digno tratar os textos espíritas trazidos pelos espíritos através dos mediuns como palavra sagrada, como palavra imutavel. Em várias obras espíritas, muitas, é comum lermos a palavra intervenção e no sentido dos espíritos aliviarem pessoas que sofrem. Intervir na assistência à morte, ao desencarne como nós espíritas costumamos dizer, será benéfico se as circunstâncias clinicas do paciente recomendarem. Qual seja, quando a ciência médica não encontrar outros meios de evitar o sofrimento da pessoa. Neste caso, a assistência é uma caridade. Meu entendimento espiritual sobre a morte é de que sem o corpo o espírito se desfaz da ligaçao corpo fisico com corpo espiritual. No entanto, toda morte fisica tem uma causa e na maioria dos casos é traumática. O trauma permanece na memória da mente do espírito desencarnado e a pessoa precisa ser assistida para que o trauma seja atenuado e desapareça. Sem assistência o trauma dependerá da reação natural da mente do desencarnado e os casos conhecidos através de relatos mediúnicos revelam que as reações variam de pessoa para pessoa. Qual seja, é um fenômeno semelhante ao que temos e vivemos com o corpo físico. Se somos assistidos e os medicos conhecem as causas e os remédios nós nos curamos rapidamente. Se ficamos por conta da natureza, sofremos mais tempo. A Natureza age sempre. Ao estudar os fenômenos da natureza nós aprendemos a lidar com ela e a intervir para termos uma vida melhor e mais conforto. Na questão da eutanásia, a palavra de quem conhece as doenças, as dores, as alternativas e as consequências é dos médicos, daqueles que estudam para curar e ajudar os outros. Não é questão sagrada.
ResponderExcluir